O Primeiro Serafim Brasileira

Autor(a): Anosk


Volume 2

Capítulo 113: Lorde Adalhard

O grupo todo se dividiu por elementos, com Shiina e Feng Ping lutando juntos e o resto travando suas próprias batalhas individualmente.

Luna e Aegreon eram os que mais precisavam ficar longe de Sariel para não interferir em suas magias.

A princesa avançou contra um grupo de devotos segurando sua espada coberta por gelo e cortou na direção de um deles.

Para sua surpresa, seu golpe não apenas foi refletido — batendo em algo bem duro — como até mesmo a roupa requintada que o alvo vestia permaneceu intacto.

“Como?”, perguntou-se surpresa.

Era possível que estivessem usando armadura por baixo das roupas, mas como nem mesmo foi capaz de rasgar o tecido?

Imediatamente usou Alteração e percebeu que até mesmo as roupas eram feitas de criaturas mortas do elemento Gelo, portanto a eficácia de sua magia era drasticamente reduzida.

— Não será tão fácil, senhorita — disse seu oponente confiantemente atacando com sua espada.

Luna tentou se defender de vários devotos e esqueletos ao mesmo tempo, mas era uma tarefa árdua enquanto limitava seu uso de magia.

Feng Ping, Shiina e Leif não possuíam esse problema e usavam mais poder, derrotando vários ao mesmo tempo.

Contudo, se diminuísse a temperatura do local — ou se Aegreon aumentasse com seu fogo — a tática de Sariel não daria certo.

A princesa tentou várias vezes atravessar a armadura dos devotos com sua espada e magias, mas era inútil, sua arma era uma simples espada de aço, e não uma arma lendária como a glaive do viajante, a espada longa de Indra, a lança do Pilar do Vento ou a foice do Pilar da Conjuração.

Vendo-se cercada e batendo contra pedra, guardou sua espada e preparou seus punhos.

Mirando no alvo mais próximo, socou um devoto com toda a força no estômago, fazendo-o voar como um raio pelo salão e bater contra a parede, caindo morto no chão.

O som de seu punho atingido só não reverberou devido às outras lutas, contudo, aqueles que estavam próximos ouviram claramente o som semelhante ao de um trovão.

Os devotos cessaram os ataques por um breve momento, sentindo-se intimidados pelo olhar frio de Luna.

A princesa os encarou e simplesmente disse: — Quem é o próximo?

Dito isso, todos atacaram ao mesmo tempo novamente, e Luna usou toda experiência adquirida pelo treinamento de Sariel, conseguindo, apenas com sua força física, esmagar os esqueletos das criaturas e lutar contra dezenas de inimigos de todos os lados ao mesmo tempo.

É claro, sem magia estava fadada a ser atingida, mas podia se curar ao mesmo tempo que lutava. 

A Seita era mais do que organizada, enviando as pessoas com resistências e armaduras corretas para lidar com os elementos de cada um.

Contudo, logo a luta deixou de ser uma dificuldade pelo poder de uma única pessoa.

Um único jato de água comprimido poderoso cortou ao meio dezenas de devotos e criaturas que cercavam Luna, abrindo um espaço e aliviando um pouco sua batalha.

Quando olhou para trás, percebeu Sariel dentro de um cubo grande de água — cujo tamanho era o suficiente para tocar as duas paredes da sala — e disparando inúmeros feixes por toda a sala.

Ondas enormes buscavam e arrastavam os devotos para fora, enquanto tentáculos de água agarravam e arrastavam alguns para dentro para, no momento que adentravam o cubo, seus corpos serem esmagados por uma pressão absurda.

Escapar dos jatos era impossível, e se defender era pior ainda, pois cortavam qualquer coisa com facilidade.

Os únicos que sobreviviam eram devotos com armaduras de criaturas de Água, assim como esqueletos.

Apesar de seu poder, muitos devotos entravam em seu cubo para lutar contra ele, portanto tinha de lidar com seus próprios problemas também.

A luta parecia estar controlada, com cada vez mais inimigos caindo, mas logo a Seita se provou inteligente.

Os que não possuíam pedaços de criaturas de água começaram a transformar os cadáveres de seus companheiros em armadura.

Com essa camada extra de proteção, agora o dano que recebiam do viajante era reduzido.

“Maldição... Era claro que fariam isso”, praguejou Sariel.

Contudo, a vantagem ainda estava do lado do grupo.

A batalha continuou por mais um tempo, quando, subitamente, todos os devotos pararam de atacar, recuaram e olharam para um mesmo ponto.

No fim do salão, onde havia um imponente trono de ossos e dois corredores logo ao lado, estavam duas figuras de pé observando a situação.

Um deles — o mais chamativo — era alto, possuía longos cabelos grisalhos, bigode fino e olhos vermelhos como sangue.

Suas vestes eram ainda mais elaboradas, com um grande manto preto por fora, mas vermelho por dentro, um sobretudo — com a mesma cor da capa — com vários detalhes de esqueletos e padrões semelhantes a sangue e por baixo, na região do tórax, era possível ver uma bela armadura de ossos com vários detalhes entalhados.

Vestia luvas de ossos na aparência de grandes garras, e não havia outro lugar que sua armadura aparecesse, dando a entender que deixá-la visível — assim como as luvas — fora uma decisão puramente estética.

Seu olhar varreu todos como se os desprezasse, como se tivesse certeza de que era o ser superior a quem todos deviam lealdade.

E de fato, todos os devotos se ajoelharam assim que o percebeu.

O outro se assemelhava bastante ao que possivelmente era o líder da Seita, mas seus cabelos eram escuros e lisos, e sua expressão era neutra e plena, mas possuía um sorriso suave, como se estivesse entretido.

Sariel, ao ver aquelas duas figuras com Alteração, pôde perceber que o poder individual de ambos rivalizava ao de um Pilar.

Sem pensar duas vezes, lançou um poderoso jato de água concentrado na figura central, que apenas ergueu sua mão e bloqueou a magia.

O choque fez suas vestes balançarem furiosamente, mas seu olhar de desprezo se mantinha inalterado.

Surpreso, o viajante parou seu golpe e encarou o homem com atenção.

Mantendo a calma, a figura encarou o salão lentamente, e os devotos, mesmo ajoelhados e com a visão no chão, podiam sentir seu olhar passar por eles.

Após o que pareceu horas, com uma voz grave, elegante e carregada de arrogância, disse: — Por acaso vão me fazer esperar mais?

Todos tremeram, e logo um deles tomou a responsabilidade.

— Lorde Adalhard, esses intrusos apareceram subitamente em nosso lar. Tentamos lidar com eles, mas são muito fortes — disse um devoto com a voz tremendo de medo.

— É claro que são fortes, dois deles são do Conselho, enquanto um é um Volátil e outro é um anjo — disse com uma leve irritação. — Por acaso acharam que seriam capazes de lidar com isso sozinhos? Por que não me notificaram? Ou desejam tanto assim morrer?

Aquelas palavras fizeram todos congelarem. Mesmo que apenas tivesse feito uma simples pergunta, aquilo demonstrava que estava insatisfeito com o acontecimento.

E se havia algo que Adalhard detestava, era falhas.

O lorde encarou o devoto que havia falado mais cedo e, subitamente, sangue cobriu seu corpo, rasgando sua carne, esmagando seus ossos e rasgando seus órgãos para fora.

Sem nem resistir, caiu morto e totalmente desfigurado no chão.

Todos os devotos tremeram e usaram todas suas forças para que o medo não os derrubasse, algo que certamente descontentaria Adalhard.

O lorde encarou o grupo a seguir e, com uma voz mais cortês, disse: — Antes que eu os mate, irei me apresentar. Chamo-me Adalhard, o lorde deste castelo, e este ao meu lado é meu filho, Ubel.

— Sua falsa cortesia é desnecessária — disse Feng Ping. — És um tirano que se disfarça com uma máscara de nobreza.

Humpf! Esperava bons modos vindo do Conselho... — bufou Adalhard. — Bem, se desejam tanto morrer assim, então que seja.

Subitamente, uma grande onda de sangue se ergueu e se chocou contra o cubo de água de Sariel, e todos os devotos voltaram a atacar.

O lorde avançou contra Feng Ping e Aegreon, com sangue rodeando seu corpo formando enormes garras escarlates, com todos os elementos de Combate, além de Conjuração, brilhando intensamente.

Uma armadura de sangue também o cobria, mas flutuava ao seu redor, permitindo que sua mobilidade se mantivesse a mesma e ainda ganhasse proteção extra.

Seus ataques eram velozes, precisos, poderosos e carregados de voracidade.

Seus olhos não possuíam mais a serenidade e desprezo de antes, sendo substituída por uma sede de sangue absoluta.

Os ataques de Feng Ping e Aegreon não causavam nenhum dano, afinal, não podiam usar todo seu poder.

E mesmo que pudessem, a armadura de ossos resistiria.

A luta mais uma vez se tornara uma batalha de atrito, onde aquele que se cansasse antes perderia.

Diante dessa dificuldade, o viajante ponderou sobre o próximo passo.

“Continuar com água não vai dar certo... Mas qualquer elemento que usarmos será anulado...”

Até mesmo a Conjuração de Aegreon não estava funcionando direito, com Adalhard possuindo partes de criaturas desse elemento em sua armadura.

“E mesmo que eu mude para outro elemento, corremos o risco de destruir o local e sermos soterrados...”, sua mente trabalhava rapidamente conforme pensava em um plano.

Os devotos se tornavam cada vez mais numerosos e organizados, forçando-o a lidar com vários ao mesmo tempo.

Parecia que de fato teriam de seguir com aquela estratégia, já que tanto elementos de Combate, quanto de Suporte fariam pouco efeito.

Contudo, Sariel sabia que se não fizesse nada, Feng Ping e Aegreon corriam o risco de perder.

Além disso, Ubel, por algum motivo, permaneceu no mesmo lugar observando a luta calmamente enquanto bebia sangue de uma taça.

Se Adalhard já havia mudado o rumo daquela batalha, se seu filho também se juntasse seria desastroso.

Foi então que do fundo de sua mente uma hipótese surgiu.

Desde que libertara o dragão Feykron de sua prisão, esteve ponderando sobre algo que ele havia dito... sobre sua Conjuração ser diferente...

“É uma aposta arriscada...”, pensou consigo mesmo.

De fato, testar aquela possibilidade naquele momento era extremamente arriscado e poderia impactar negativamente a batalha.

“Mas já fiz muitas apostas arriscadas antes!”

— “Luna, me proteja e congele essa onda de sangue” — urgiu para a princesa.

— “Certo!”. — O sangue que o atingia congelou lentamente e começou a esfriar sua água.

Depois, subitamente, o cubo de água se desfez e Sariel começou a trocar seus elementos.

A Seita agiu rapidamente e tentou atacar o viajante, mas a princesa se juntou a ele e o ajudou.

Como haviam se reunido, acabaram sendo focados por mais inimigos.

Contudo, isso não era um problema.

O viajante precisava de apenas 20 segundos, um tempo curto considerando que Luna estava ao seu lado.

Aos poucos, o tom azul claro de seus olhos foi adquirindo uma coloração mais escura... mais roxa...

Era a primeira vez em sua vida que fazia aquilo. Raramente usava o elemento Conjuração e, sempre que era necessário usá-lo, convertia a menor quantidade possível.

E agora, todo seu poder mágico estava sendo convertido para o elemento que mais sentia aversão.

O elemento da corrupção...

O elemento da destruição...

Luna percebeu o que Sariel estava fazendo e lançou o que seria um breve olhar a ele, mas acabou fixando ao ver a cor dos olhos dele.

Um roxo hipnótico e belo, misterioso e encantador, puro e reluzente...

Havia algo naquela cor que era diferente dos olhos de Aegreon, uma beleza semelhante, mas divina.

O mesmo se aplicava para sua glaive, que havia adquirido um tom roxo nas pedras e escuro no metal.

— Vou lidar com Adalhard agora, não é mais necessário se segurar — disse.

Então, impulsionando-se com suas pernas, em um instante atravessou a sala e golpeou o lorde com sua arma coberta em um brilho roxo fantasmagórico.

Adalhard percebeu sua aproximação e atacou com sua garra de sangue, esperando que seria o suficiente para impedi-lo.

Contudo, a lâmina não só atravessou o sangue, como o osso e chegou a cortar parcialmente sua mão, quase dividindo-a no meio.

Surpreso, Adalhard recuou e encarou a própria mão, para em seguida dirigir seu olhar a Sariel.

— Como...? — perguntou-se surpreso sentindo uma dor estranha e assustadora.

Sua armadura fora feita com os restos das mais poderosas criaturas encontradas, portando deveria ser capaz de resistir a quase todo golpe.

Contudo, tão fácil como papel é cortado por uma tesoura, sua armadura fora danificada sem nenhum esforço.

Feng Ping e Aegreon também estavam surpresos, afinal a armadura do lorde era resistente a Conjuração também.

O viajante encarou o lorde com atenção e, com seu corpo emitindo uma energia roxa, proclamou: — Hoje conhecerás o gosto do próprio sangue, Adalhard... — E avançou em sua direção.


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