Volume 2
Capítulo 112: Palácio de Morte
Dois dias após a emboscada, o grupo se aproximava do local mais difícil de se deslocar em Helheim, cujo frio era mais concentrado e as montanhas mais íngremes.
Eljudnir, a maior cidade daquela região, se estendia por quilômetros, construída ao longo de uma cordilheira ardilosa.
O objetivo estava claro, explorar as cavernas nas montanhas abaixo de Eljudnir até encontrar o esconderijo de Seita.
Felizmente, como Leif leu a mente do devoto, sabia bem onde ficava uma das entradas.
O melhor de tudo era que essa entrada era por fora da cidade, então não chamariam atenção com sua operação.
— Juro que nunca mais piso em um reino com clima frio — reclamou Shiina esfregando os braços. — Se forem para outro lugar assim, eu saio desse grupo.
Mesmo com Luna enfraquecendo a intensidade do frio, era forte demais para não causar desconforto.
— É sua culpa por usar roupas de couro nesse ambiente. Se estivesse se vestindo como Raymond, não seria um problema — disse Aegreon, quase em tom de brincadeira.
Todos, exceto Luna e Aegreon vestiam roupas de frio pesadas, fazendo-os se parecerem bastante com um habitante de Yggdrasil.
— E duvido que iria mesmo nos abandonar — disse Luna em um tom travesso. — Não iria querer se afastar de Raymond...
— I-Isso não tem nada a ver! — balbuciou a assassina virando o rosto.
Sariel encarou Luna com curiosidade.
“Ela já percebeu isso então...”, pensou consigo mesmo.
Para alguém que viveu isolada do mundo e teve pouco contato com outras pessoas, era surpreendente que ela tivesse notado os sentimentos de Shiina por Raymond.
Enquanto ponderava sobre isso, encarou o guarda-costas.
Seu rosto era de alguém perdido que não entendera uma piada.
“Parece que o único que não percebeu isso ainda é o próprio Raymond... Quem diria...”
Pouca coisa havia acontecido no intervalo da batalha para o momento atual, com a única exceção sendo Feng Ping dizendo para Sariel em seu subconsciente que revelou o segredo de Indra para Aegreon.
Aquilo certamente o surpreendeu, contudo deu pouca importância para aquilo, já ponderava contar sobre aquilo a algum tempo.
Levou um certo tempo, mas eventualmente encontraram a entrada de uma caverna.
— Deixamos os cavalos aqui fora? — perguntou Leif. — Será melhor para protegê-los.
— Concordo, mas vai ser um pouco... difícil... convencer Su-en de se separar de mim — disse Sariel.
Seu cavalo, compreendendo imediatamente o que havia dito, ficou entre a entrada da caverna e o viajante e tentou empurrá-lo gentilmente para longe.
Sariel encarou o grupo com um sorriso derrotado.
— Viram? — perguntou.
Era impossível negar quão adorável era a maneira que Su-en agia com o viajante, seu comportamento lembrava o de um cão que gostava de seguir seu dono em todo lugar.
— Então um de nós precisará ficar aqui... — disse Feng Ping.
Sariel concordou com a cabeça.
— Eu posso ficar — disse o guarda-costas. — Sou a melhor opção neste caso.
— De fato — concordou Leif. — Será capaz de protegê-los e ainda pode lutar.
— Certo, apenas me deem um minuto até que eu consiga convencer Su-en a esperar aqui. — Apesar do viajante ter dito um minuto, foram necessários vários.
Com tudo pronto, o grupo se separou de Raymond e adentrou a caverna.
Todos caminhavam bem próximos um do outro, já que precisavam estar dentro da área da invisibilidade de Shiina.
Leif, como sempre, detectava e se comunicava telepaticamente com o grupo.
— Tomem cuidado, não sei como é o esconderijo, apenas a entrada — avisou Leif.
Inicialmente, parecia realmente uma simples caverna, mas logo as rochas nas paredes deixaram de ser irregulares e passaram a adquirir uma aparência esculpida.
Eventualmente, o túnel se tornou um corredor amplo e bem trabalhado de pedra, entretanto, havia algumas bizarrices naquele lugar.
Das paredes, caveiras esculpidas em pedra jorravam sangue, que formava uma espécie de corrente acompanhando o corredor.
Ossos de todo tipo de ser vivo decoravam o local com formas e padrões geométricos.
Como se não bastasse, ainda havia vários esqueletos de criaturas ao longo do corredor, como se fossem estátuas.
Suas formas, tamanhos e aparências eram todas variadas, mas havia uma delas que se repetia mais: uma espécie de criatura humanoide com 2 metros de altura, garras e dentes compridos e asas grandes.
O cheiro de ferro impregnava o ar, e o corredor cheio de morte era de gelar a espinha.
Definitivamente estavam no local correto.
Devido ao rio de sangue no corredor e os ossos, o local estava infestado do elemento Reanimação, para onde Leif olhava, via apenas a cor Lima.
Contudo, não demorou para que logo seus sentidos captassem algo mais... algo que estava no fim do corredor...
Não era apenas uma, e sim, dezenas de auras poderosas com o elemento Reanimação e Conjuração.
Apesar de individualmente estarem serem mais fracos que o grupo, caso aquela Seita fosse organizada, poderia ser uma batalha difícil.
Shiina fortaleceu mais sua ilusão para evitar serem detectados a todo custo, enquanto Sariel, usando do exemplo da criatura que a assassina enfrentou em Niflheim, fazia palavras prateadas mascararem a magia.
Andavam com expectativa e atentos, quando o corredor finalmente terminou.
O que viram a seguir, fez todos se perguntarem se haviam sido transportados a outro lugar.
Ao invés de uma sala grande, mas simples — como um posto avançado onde soldados se reuniam —, se depararam com um enorme, alto e imponente salão principal de um palácio.
Vários candelabros estavam pendurados no teto, com as velas sendo caveiras pequenas — provavelmente de crianças humanas — e as correntes feitas de medulas espinhais.
As colunas que sustentavam o teto eram esculpidas em pedras como se inúmeras pessoas carregassem o peso nas suas costas, com tanta dificuldade que algumas jaziam esmagadas.
Uma grande fonte circular se encontrava no meio, com o formato de um planeta sendo contornado por uma serpente enorme e com sua cabeça parcialmente cortada, jazendo pendurada e com sangue jorrando do corte.
Mesas compridas — também feitas de ossos — se estendiam por todo o local, e neles se encontrava inúmeras pessoas vestindo roupas semelhantes da nobreza, nas cores preto e vermelho, bem diferente do que os habitantes de Yggdrasil, e até mesmo de outras seitas, vestiam.
Também havia vários esqueletos daquelas criaturas do corredor, só que maiores.
Todos agiam normalmente, conversando, bebendo ou transitando pelo local.
A diferença, era que a bebida, pela cor semelhante a vinho, muito possivelmente era sangue.
Completamente surpresos pelo que descobriram, o grupo precisou de alguns segundos para se recuperarem do choque.
Era muito pior do que imaginavam.
— “O que fazemos?” — perguntou Leif. — “Atacamos?”
— “Lutar no subsolo sempre é um problema” — disse Feng Ping. — “Se usarmos todo nosso poder, poderemos ser soterrados.”
— “O local todo é reforçado com Proteção...” — observou Luna, também usando Alteração para detectar a magia ao redor. — “Talvez possamos lutar aqui...”
— “É arriscado” — rebateu Shiina. — “Precisamos arranjar uma maneira de tirá-los daqui.”
— “Boa sorte com isso” — disse Aegreon em um tom cínico. — “Eles sabem que estão na vantagem aqui, não sairão.”
— “Apenas há uma alternativa” — disse Sariel. — “Lutar aqui mesmo. Se eu trocar meu poder para Água, serei capaz de lutar com força total, precisão e ainda evitar destruir o local. Concordam comigo?”
Todos responderam afirmativamente.
— “Certo, neste caso, me protejam enquanto troco meu poder” — disse o viajante conforme as palavras prateadas ao redor da magia de Shiina desapareciam e seus olhos para um tom azul claro como a água.
No momento que fez isso, alguns devotos imediatamente perceberam a presença do grupo e os atacou.
Os esqueletos das criaturas imediatamente tomaram vida e começaram a se mover.
Como se não bastasse, o sangue da fonte jorrou descontroladamente e preencheu os ossos das criaturas, dando a elas uma forma mais corpórea.
Os devotos, vestindo suas belas roupas requintadas, fizeram alguns ossos pendurados nas paredes flutuarem até eles, formando assim espadas semelhantes de esgrima.
Com olhares de desdém, encararam o grupo e, com sua voz orgulhosa, disseram: — Ora, ora... Parece que temos intrusos... Precisaremos ensinar boas maneiras e como se comportar apropriadamente.
— Não são pessoas normais... — disse outro. — Aqueles dois são os Pilares do Vento e Conjuração. A garota é um anjo, e o que está mais ao centro é um Volátil.
A atenção de todos se focou em Sariel e Luna, mais especificadamente o viajante, encarando-o como se fossem lobos famintos que encontraram um suculento pedaço de carne.
— Quem diria que estes intrusos seriam tão importantes? — disse um deles encarando Sariel fixamente.
Apesar de saberem que o viajante não apenas era um Volátil, como também estava trocando seus elementos, aguardaram pacientemente pelo primeiro movimento deles.
Percebendo isso, Feng Ping perguntou: — O que estão fazendo?
— Não é óbvio? — perguntou um devoto abrindo os braços e gesticulando ao redor. — Basta olhar para tudo isso e terá sua resposta.
Aquelas palavras foram mais que o suficiente.
— Vamos — disse Sariel seriamente e com seus olhos brilhando em um belo tom azul claro.
Dito isso, o grupo todo avançou contra as dezenas de criaturas e devotos, dando início a uma batalha mais que sangrenta.
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