O Primeiro Serafim Brasileira

Autor(a): Anosk


Volume 2

Capítulo 110: Guerreiros Insaciáveis

A lua se erguia lentamente pelo céu, com seu brilho prateado iluminando partes de Yggdrasil.

Se passou um dia desde que o grupo partira e, neste exato momento, acampavam em um dos vilarejos cujos moradores desapareceram misteriosamente.

Assim que chegaram, investigaram o local na esperança de encontrar alguma pista, contudo não havia nada conclusivo.

Em uma das casas e com uma fogueira acesa, esperavam pacientemente por um ataque, com os cavalos juntos.

— Acho que não nos resta alternativa a não ser esperar que sejamos atacados — disse Raymond. — Espero que não demorem muito.

— Seja lá qual Seita estamos lidando, definitivamente é uma das que agem mais cuidadosamente — disse Feng Ping. — Vão esperar o quanto acharem necessário para atacar.

Neste momento, o grupo todo estava sob efeito de uma Ilusão que alterava a aparência de todos, incluindo os Pilares, pois provavelmente não seriam atacados se o inimigo percebesse Feng Ping e Aegreon juntos.

Também havia uma área ao redor que impedia sua conversa de ser ouvida, por isso sentiam-se à vontade para discutir aquilo abertamente.

— Por que não fingimos dormir? — sugeriu Sariel. — Não há melhor hora para pegar alguém desprevenido do que enquanto o inimigo está dormindo.

Todos concordaram com a ideia e se deitaram, fechando os olhos e fingindo estar dormindo.

Como era de se esperar, nada aconteceu inicialmente.

Na verdade, cerca de duas horas se passaram e nenhuma movimentação pôde ser percebida.

Leif mantinha o tempo todo uma conexão mental com o grupo e compartilhava de sua percepção elemental com Alteração.

O tempo passou lentamente e parecia que nada aconteceria.

O som do vento com seu frio cortante soava, a lenha da fogueira aos poucos se transformou em cinzas e o fogo se apagou, deixando apenas brasas, e a lua finalmente se ergueu o suficiente para seu brilho ser bloqueado por uma das regiões superiores, tornando o local mais escuro.

Quando a terceira hora estava prestes a chegar, Leif notou auras se aproximando de todos os lados furtivamente, cercando-os lentamente.

“Reanimação... Com outros elementos de Combate...”, pensou o Jarl sentindo o elemento dos oponentes.

O grupo aguardou pacientemente conforme cerca de 20 auras se aproximavam cuidadosamente.

Passados alguns minutos de expectativa, as auras cercaram completamente a casa e se prepararam para invadi-la.

O grupo, em uma sincronia perfeita, se levantou imediatamente e lançaram suas magias contra os oponentes no lado de fora, destruindo as paredes e a casa.

Quando o teto cedeu e estava prestes a atingir o grupo, Leif o levitou no ar.

Com isso, a aparência dos sequestradores finalmente se revelou: todos, sem exceção, vestiam armadura de ossos.

Estranhamente, os ossos não se limitavam à cor branca. Muitos eram mais escuros, mas havia também as cores violeta, azul e vermelho.

A armadura cobria o corpo todo, e a presença de pelo, garras e capuz de ursos mortos apenas servia para ocultar mais ainda.

Os capacetes possuíam várias quantidades diferentes de chifres e se encaixavam perfeitamente no rosto, com as órbitas do crânio permitindo a visão e a região do nariz sendo protegida.

As armas também eram feitas de ossos que foram talhados para adquirirem o formato de espadas, machados e martelos.

Não era possível ver muito, contudo, ao julgar pelos rostos deles, aquelas pessoas definitivamente eram de Yggdrasil.

Apesar do ataque surpresa, os devotos acabaram sobrevivendo.

— Maldição! Não disse que tinham dormido? — gritou um dos homens com um machado em suas mãos.

— Fiquei observando por duas horas! — respondeu outro com uma espada média. — Eles estavam fingindo e nos esperando.

— Não tem problema! Assim é muito mais divertido — respondeu outro animadamente. — Matem todos!

No momento seguinte, por baixo do capacete, os olhos dos devotos brilharam em uma luz lima, e suas armaduras e armas passaram a emitir magia.

Dos ossos, fogo, gelo, vento, água e raios surgiram, o que fez as armaduras parecerem ser feitas de magia pura.

Com suas armaduras brilhando, os devotos atacaram ao mesmo tempo.

— Equipamento de ossos e Reanimação... — disse Feng Ping pensativamente. — Realmente é a Seita de Baba Yaga...

O grupo avançou contra os devotos, estando em uma diferença de um para três, o que não seria um grande problema.

Raymond, com sua espada longa coberta em raios, lutava contra vários oponentes ao mesmo tempo, com sua lâmina tendo sucesso em atravessar a armadura e feri-los.

Todos os outros lidavam com a situação com facilidade, quando Sariel notou que Luna hesitava e se defendia mais do que atacava.

“Inimigos humanos... Ela ainda não superou aquilo totalmente...”, pensou lembrando-se da batalha no Pico da Garra Gélida.

A princesa era a única que não havia ferido ninguém e se mantinha na defensiva.

Segurava a espada com incerteza, e temia ferir aquelas pessoas.

No fim, era difícil não pensar que aquelas pessoas um dia tiveram amigos e famílias que se sentiriam tristes pela morte deles.

“Por que pessoas? Seria muito mais fácil se fossem criaturas...”, lamentou-se internamente.

Tirar a vida de uma criatura cujo propósito era apenas destruir era uma coisa, mas matar pessoas, que poderiam ser salvas ainda, era totalmente diferente.

Por um momento, pareceu que Luna novamente travaria e não conseguiria matar aquelas pessoas.

Foi quando, do canto de seus olhos, percebeu um dos devotos erguendo um machado de ossos flamejantes contra os cavalos, mais especificamente Chinhej.

A expressão no rosto do animal era de puro pavor, e seu relincho assustado cortava o coração.

Naquele momento, a princesa se lembrou das propriedades do elemento Reanimação.

Um elemento que permite usar como arma qualquer material de um ser vivo, seja seu sangue, ossos, músculos ou pele.

Os cavalos podem não ser capazes de usar magia, mas o simples fato de existirem já os tornavam alvos, pois o poder dos seres vivos era algo inimaginável.

Foi então que Luna finalmente entendeu as palavras que todos repetiam.

Aquelas pessoas já não tinham mais salvação.

Algumas poderiam ter sido enganadas e terem perdido suas almas para o mal, como o povo de Krimisha, entretanto, o comportamento daqueles devotos era diferente.

Para conquistarem o que queriam, não hesitariam em matar até mesmo animais inocentes e indefesos.

Percebendo tamanha covardia e maldade, Luna sentiu algo dentro de si despertar, um sentimento que nunca experenciou antes e jamais imaginaria que sentiria.

Raiva.

Expandindo sua magia e criando uma forte nevasca ao seu redor, arremessou seus oponentes para longe e lançou uma estaca de gelo contra a cabeça daquele que estava prestes a matar seu cavalo.

A estaca atingiu em cheio, mas atravessou apenas parcialmente o capacete, falhando em matá-lo.

Contudo, foi o suficiente para que o devoto se desequilibrasse e errasse o golpe.

Antes que ele pudesse se recuperar, Luna surgiu atrás dele em um piscar de olhos.

Percebendo que seria incapaz de esquivar, o devoto tentou usar sua arma para bloquear o golpe.

— Pode vir! — desafiou.

Ele notou como a princesa lutava na defensiva e não conseguia ferir seus companheiros, julgando-a erroneamente e acreditando que era fraca.

Aquela armadura que vestia e machado eram um tesouro próprio dele, que matou inúmeras criaturas poderosas para criá-las.

Não era apenas uma prova de seu poder, mas também, um sinal de seu orgulho.

Por isso, não esperava nem um pouco que a espada de Luna quebraria facilmente o cabo de seu machado e cortasse através dos resistentes ossos de seu capacete, dividindo sua cabeça ao meio.

Tudo acontecera tão rápido, que nem fora capaz de notar que morrera.

Seu corpo caiu inerte no chão, com o sangue banhando a neve.

Porém, Luna, dessa vez, não travou e nem permaneceu parada.

Virando-se rapidamente, deparou-se com outros devotos se aproximando para matá-la.

Entretanto, sua vontade não fora abalada.

Eram pessoas, mas, por algum motivo, sabia que eram diferentes.

O ambiente começou a esfriar mais, e inúmeras estacas de gelos e esferas azuis surgiram no ar.

Sob seu comando, voaram contra os devotos e os aniquilaram.

O grupo estava lidando facilmente com aquele grupo de devotos, tanto que a maioria já havia morrido, restando apenas três deles.

— “Não matem todos” — disse Sariel pela telepatia de Leif. — “Precisamos capturá-los.”

O grupo interrompeu sua ofensiva, observando bem os inimigos que restaram.

— Haha... São mais fortes do que esperávamos... — disse um deles sem se abalar.

— Morrer pelas suas mãos é mais do que uma benção! — disse outro animadamente. — Nada mais digno do que morrer por um grande oponente!

— Vocês são malucos... — disse Shiina. — Por que continuam lutando sendo que claramente somos mais fortes?

— Isso ainda não acabou... — disse o terceiro com uma voz enigmática.

Mesmo diante de oponentes imbatíveis, os devotos ainda demonstravam um desejo ardente de continuar lutando.

O grupo não baixou sua guarda, esperando que talvez reforços chegassem, ou até mesmo que conjurassem criaturas.

Porém, os devotos surpreenderam todos com sua decisão.

Seus corpos brilharam intensamente em uma cor lima, e os cadáveres de seus companheiros mortos emitiram a mesma cor.

Subitamente, aqueles que haviam caído se levantaram lentamente.

— Vão usar o corpo deles como soldados imparáveis... — disse Feng Ping.

— Não, é pior... — disse o viajante.

Sem entender direito, o grupo encarou Sariel e, em seguida, os corpos.

Os cadáveres começaram a se mover de maneira estranha quando, cada um deles, abriram os braços e encararam o céu.

No momento seguinte, a carne de seus corpos começou a se rasgar, como se houvesse inúmeros parasitas dentro prestes a eclodir.

De baixo da pele, seus esqueletos começaram a sair para fora, como se tivessem criado vida própria e decidido deixar o resto do corpo.

Em um movimento brusco, os ossos se libertaram dos cadáveres e uma explosão de sangue, vísceras e órgãos fez nevar vermelho, acompanhado do som nojento e ensopado da carne se rasgando e esmagando.

Os esqueletos, assim como as armaduras e armas que vestiam, flutuaram até os últimos devotos que se mantinham em pé.

Assim, osso com osso, a armadura se tornou maior, mais pesada e intimidadora.

Os crânios formavam as ombreiras, joelheiras e cotoveleiras. As costelas protegiam o torso em várias camadas, e o resto fortaleceu a proteção nos braços e pernas.

As armas cresceram, se tornando várias vezes maior e mais pesado.

Com os cadáveres de tantas pessoas diferentes, as armas e armaduras emitiram o brilho de vários elementos em conjunto.

— Vamos acabar com isso! — gritou enfurecida e descontroladamente um devoto segurando um grande machado feito dos ossos de seus companheiros.


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