Volume 2
Capítulo 108: Helheim
Koeus encontrava-se — como sempre — em sua grande sala de pesquisas.
Pouco havia mudado no local, exceto pela localização e quantidades de livros nas estantes.
Entretanto, o Pilar da Alteração possuía seu olhar cravado em uma pedra de Alteração em suas mãos e uma expressão séria e, ao mesmo tempo, extasiada.
— Analisamos cerca de 500 pessoas com os elementos Natureza e Reanimação... e os resultados parecem levar à uma resposta concreta... — disse para si mesmo. — Contudo, precisamos de mais pessoas para conseguir confirmar o padrão...
Koeus permaneceu em silêncio por alguns segundos, quando fez a pedra levitar até a maquete do sistema solar onde, em Vilon, um buraco secreto se abriu e o item foi inserido.
Como da última vez, a pedra se desfez e o buraco se fechou.
O Pilar da Alteração, sem mover o corpo, permaneceu de costas e virou a cabeça levemente para trás.
— Contudo, mesmo com a pesquisa ainda em progresso, já fomos capazes de descobrir algo grandioso... — disse com a voz séria.
A pessoa atrás de si nada disse. Permaneceu imóvel como uma estátua.
— Quem diria... — continuou Koeus. — Você definitivamente se tornará um Pilar, Niya... Não, você deve...
***
Após alguns dias viajando por Midgard, o grupo chegou até o tronco da Árvore do Mundo sem nenhum problema.
Diferente de Niflheim, havia pouquíssimas criaturas lá, sendo a maioria oriundas da região da névoa.
Durante o caminho, se depararam com as mais variadas paisagens e visões que jamais imaginariam possível.
Os galhos da Árvore do Mundo suspendiam inúmeros pedaços de terra menores em comparação às 9 regiões, e não era incomum ver pequenos vilarejos ou casas construídas acima do chão carregados pelos galhos.
Infelizmente, devido sua jornada, o grupo não pôde conhecer o local apropriadamente, sendo limitados a apenas observar de longe as maravilhas que desejavam visitar.
Agora, com o grupo ainda mais perto, a Árvore do Mundo era surpreendentemente maior, com toda sua majestade bloqueando incontáveis quilômetros de Midgard atrás de si.
Como se não bastasse, uma muralha grossa e resistente circulava o tronco, para evitar que qualquer agressor pudesse chegar perto.
Além disso, ao longo de toda a subida e descida do tronco, havia torres e construções fortificadas largas protegendo toda a árvore.
Era como uma fortaleza de metal no meio da madeira.
Ninguém por meios terrestres, aéreos ou subterrâneos seria capaz de atacar a árvore.
— É como uma montanha... — disse Luna extasiada. — O outro lado está completamente bloqueado...
— E essas fortificações entre os troncos... — disse Raymond. — Por acaso alguém já tentou atacar a árvore?
— Ninguém humano até o momento — disse Leif. — Mas, muito tempo atrás, uma criatura que chamamos de Nidhogg foi encontrada em um espaço oco no tronco. Foi descoberto mais tarde que essa criatura estava comendo a árvore, portanto os guerreiros na época tentaram matá-la, e quase conseguiram, mas ela fugiu.
— Algo assim aconteceu depois? — perguntou Shiina.
— De vez em quando criaturas parecidas com a Nidhogg tentam comer a árvore, mas são bem fracas, então não houve um perigo grande desde aquele momento.
— A árvore se recuperou desde então? — perguntou Sariel.
— Não apenas se recuperou como cresceu ainda mais, o que nos fez descobrir que ela continua se ampliando.
— Melhor continuar logo — disse Aegreon.
Sendo apressados pelo Pilar da Conjuração, o grupo se dirigiu até as muralhas — que eram todas feitas de aço e protegidas com pedras mágicas —, e chegaram nos portões.
Ao longo da fortificação, havia várias protuberâncias esféricas grandes com algo semelhante a um longo cano saindo do centro.
Apesar do enorme tamanho da árvore, o povo de Yggdrasil pareceu não poupar esforços, muito menos recursos, para protegê-la.
Em um posto de guarda, um homem vestindo uma armadura de aço pesada cobrindo o corpo todo — incluindo o rosto — encarou o grupo e reconheceu o Jarl.
— Jarl Leif, retornando a Helheim? — perguntou com uma voz grossa e abafada.
— Sim, fui buscá-los em Niflheim para investigar os desaparecimentos — disse Leif.
O homem permaneceu em silêncio por um breve momento, mas logo disse: — Boa sorte, e tomem cuidado onde pisam.
Dito isso, o portão piscou em uma luz prateada por um breve instante, para, em seguida, um som estrondoso e metálico ecoar.
O portão brilhou em marrom e começou a se abrir lentamente, revelando uma grande rua com construções imponentes e pessoas vestindo armaduras pesadas.
Havia pessoas vestindo-se normalmente e realizando tarefas comuns, como cuidar de lojas ou vendas ao ar livre.
Logo após atravessarem, perceberam que havia mais camadas da muralha mais ao centro.
— Pelo jeito levam bem a sério proteger a Árvore do Mundo — observou Sariel.
— Bem, ela sustenta milhares de vidas, então é apenas esperado — disse Leif.
O grupo caminhou por entre a cidade, atravessando mais 4 portões antes de finalmente chegarem no tronco.
Lá puderam perceber que o a árvore não era totalmente preenchida, era como inúmeros troncos interligados com espaço vazios entre eles.
Graças a isso, era possível viajar e subir ou descer pela árvore, com caminhos seguros que foram feitos pelos moradores e Yggdrasil ao longo dos séculos.
O grupo começou a descer, mas os cavalos, principalmente o de Sariel, perceberam a altura e começaram a se agitar.
O viajante percebeu e tentou acalmá-lo com carinho.
— Nunca gostou muito de altura, né? — perguntou em um tom gentil. — Não se preocupe, não vou te deixar cair.
Su-en abaixou a cabeça e apoiou contra o peito de Sariel, como se tentasse usá-lo para bloquear a visão de baixo.
Ambos ficaram assim por um momento, quando o cavalo finalmente se acalmou e o viajante o guiou caminhando ao seu lado.
O grupo então começou a descer, vendo Helheim, Muspelheim e Alfheim de uma só vez, contrastando e banhando os olhos com sua paisagem.
Uma terra branca, azul e gelada, outra cinza e vermelha, e a última como um oceano verde.
Como o tronco da árvore era largo, e aquela rota era bem usado a séculos, o caminho tinha espaço o suficiente para grandes caravanas de comerciantes passarem sem nenhum problema.
Sariel e Su-en ficaram mais ao centro na árvore enquanto o viajante constantemente acariciava e acalmava seu amigo.
***
Após descerem por várias horas, o ar começou a ficar gelado novamente — para o desagrado de Shiina.
Quando chegaram em Helheim, experenciaram um frio até superior a Niflheim, mas sem sua neblina.
O grupo seguiu pela neve e montanhas até a cidade que Leif governava.
— Bem que podíamos ter descido direto até Alfheim... — disse Shiina em um tom levemente irritado.
— Boa sorte explicando à Vigília na base da árvore porque dois Pilares estão aqui, além de esconderem suas aparências com Ilusão — disse o Jarl. — Não tem outra escolha exceto descer de Helheim para Alfheim pelos galhos secundários.
— De fato, a Vigília tem um grande posto avançado na base da Árvore — disse Feng Ping. — Temos sorte que sua presença não é tão grande em Midgard.
Após mais algum tempo, o grupo finalmente avistou uma muralha de pedra cercando uma cidade mais ou menos do tamanho de Isaz na montanha.
Sua estética não era muito diferente da cidade que ficaram em Niflheim, sendo a maior diferença que, nessa região, era possível saber quando era dia e noite.
Os portões começaram a se abrir assim que chegaram perto, provavelmente os guardas perceberam Leif se aproximando.
Assim que entraram, algumas pessoas cercaram o Jarl e o grupo ao mesmo tempo que o bombardeavam de perguntas.
— Jarl Leif, meus dois filhos que foram caçar nas montanhas ainda não retornaram — disse uma mulher com cerca de 50 anos.
— Meu pai foi levar armas e armaduras para vender para as outras cidades, e ainda não voltou — disse um jovem.
— Pessoas pararam de chegar também — disse um homem forte. — Precisamos fazer algo a respeito.
Diante de tantas perguntas, Leif, com sua voz forte e autoritária, disse: — Não se preocupem, investigaremos isso amanhã cedo! O Conselho nos ajudará!
A palavra Conselho imediatamente acalmou os nervos do povo, percebendo Feng Ping e Aegreon acompanhando o Jarl.
— Sei que querem isso resolvido o mais rápido possível... Eu também desejo isso — disse Leif. — Por isso, peço perdão por não ter agido antes.
O povo pareceu se contentar com essas palavras e deixou o grupo em paz.
Sem se demorar, seguiram pelas ruas até uma construção de três andares que ficava bem no topo da montanha. Havia escadas escupidas na pedra e rampas para cavalos ou carroças subirem.
Vários guardas patrulhavam ao redor e saudavam o Jarl quando o viam.
Algumas árvores decoravam o local, dando uma atmosfera um pouco mais agradável.
Caminhando pelo piso de pedra bem cuidado e com padrões rúnicos, chegaram até a entrada, onde havia duas grandes portas de madeira entalhada com padrões rúnicos, e entraram.
O interior era bem semelhante ao da estalagem de Niflheim: Uma grande fogueira no centro providenciava calor e cozinhava a carne de vários animais, enquanto mesas rodeavam o fogo.
Havia algumas pessoas atarefadas com algumas coisas, mas suas vestimentas eram como do Jarl e não se assemelhavam com o de um empregado de um palácio real.
Leif guiou o grupo por uma escada de madeira até seus aposentos privados, que era a sala mais semelhante ao de um governador que entraram desde que chegaram em Yggdrasil.
Havia uma pequena chaminé que providenciava calor. Uma grande cama e com cobertores pesados ao lado, e uma mesa com documentos e mapas perto de uma janela fechada.
As paredes possuíam vários espólios de batalhas anteriores do Jarl: Armas e escudos pendurados, estandes de armadura, cabeças de criaturas e animais entalhados, e até armas enferrujadas encontradas em ruínas antigas.
Aquele local era a representação perfeita de um governador de Yggdrasil: armas e documentos.
Assim que a porta foi fechada, Shiina cobriu a sala com magia.
Leif se sentou em sua mesa e, com uma expressão séria, disse: — Muito bem, hora de explicar o que está acontecendo...
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