O Primeiro Serafim Brasileira

Autor(a): Anosk


Volume 2

Capítulo 107: A Árvore do Mundo

Uma livraria com enormes estantes se estendia até o infinito, tornando impossível ver o fim daquele local.

Sariel estava de frente a uma grande porta com correntes prateadas selando-a, que se desfizeram subitamente, permitindo que a porta abrisse.

O viajante adentrou a sala e encarou o livro negro ainda acorrentado, mas algo dentro dele dizia que algo havia mudado.

Devido aos acontecimentos recentes, provavelmente se sentiria inseguro ao se aproximar, porém o encanto e a canção que escutara agora pouco o deixou relaxado e tranquilo.

Nunca havia adormecido tão rapidamente como antes, de fato, mesmo sem ter algo mágico envolvido, aquele ritual era capaz de curar a mente.

Sariel se aproximou do livro negro e as correntes se desfizeram.

Em seguida, pegou o livro, sem sentir diferença na textura dele, e tentou abri-lo.

Para sua surpresa, obteve sucesso.

A primeira página estava completamente negra, assim como a segunda, terceira...

Após folhear o livro inteiro, finalmente se deparou com uma página preenchida, e essa possuía justamente a visão que acabara de ver durante o ritual: sua conversa com Luna.

Folheando mais um pouco, encontrou a página contendo a visão onde estava em uma Seita, diante de um portal e pronto para cortar a garganta de um homem, mas a visão acabava antes do desfecho.

Depois disso, havia poucas páginas extras negras e o livro terminava.

— O que diabos é esse livro? — perguntou-se. — Essas coisas nunca aconteceram... Mas a sensação é igual de uma memória...

O viajante permaneceu pensativo por um longo momento, considerando as opções mais plausíveis para explicar aquilo tudo.

— Será possível...

Ao mesmo tempo, em outra consciência, uma garota fazia algo semelhante.

Luna folheava seu livro negro, encontrado a visão de sua conversa com Sariel no fim do livro.

Folheando mais um pouco, achou que não encontraria mais nada, quando, na exata última página, encontrou a visão do viajante perfurando seu peito com uma espada.

— Não entendo... Como posso saber sobre essas coisas?

Luna estava extremamente confusa com aquilo. Talvez fosse algo natural para quem acessasse seu subconsciente, mas não tinha como ter certeza já que Sariel não mencionou nada sobre livros escuros.

Foi então que uma ideia passou por sua mente.

— Isso é... o futuro?

 

***

 

Pela manhã, todos acordaram sentindo-se revigorados e descansados.

O corpo estava mais leve e disposto, e a mente totalmente livre da pressão que viviam constantemente.

Porém, para duas pessoas, algo mais havia acontecido.

O grupo tomou um café da manhã reforçado com Leif, Jurgen e outras pessoas na pousada que dormiram.

O clima era de confraternização e alegria, como sempre era quando o povo de Yggdrasil se reunia.

Enquanto comiam, Luna e Sariel se encaravam algumas vezes, desviando o olhar assim que notavam um ao outro.

Aquela visão que tiveram na noite anterior era real demais para algo não ter mudado na maneira como se enxergavam.

Eventualmente, uma mulher com longos cabelos ruivos trançados, estatura média e olhos azuis com uma profundidade misteriosa se sentou ao lado de Sariel e de frente para Luna.

Quando falou, imediatamente reconheceram-na como a curandeira.

— Como se sentem? — perguntou com sua bela e calma voz. — Espero que nosso ritual da cura os ajudou.

— Sim, nunca me senti dessa maneira antes — respondeu Sariel com um leve sorriso. — Espero poder presenciar isso mais vezes no futuro.

— Eu também me sinto da mesma maneira — disse Luna. — É estranho como apenas usaram magia de Proteção... Não usaram nem Ilusão nem Alteração durante todo o ritual...

— A magia é uma ferramenta indispensável em nossas vidas — disse a curandeira. — Mas o poder de nossas relações e emoções pode ser ainda mais forte. Quando todos estão sincronizados e imersos na mesma experiência, coisas magnificas acontecerão...

O viajante e a princesa permaneceram em silêncio por um breve momento, lembrando-se das visões estranhas que tiveram durante o ritual.

— A propósito, me chamo Maria — disse a curandeira. — Sinto-me honrada por terem comparecido ontem.

— Nós que deveríamos agradecer por nos deixarem vivenciar aquilo ontem — disse Luna. — Nunca me esquecerei dessa experiência.

 — Igualmente — disse Sariel.

Maria sorriu suavemente ao ouvir tais palavras.

— Bem, tenho assuntos a tratar agora, portanto, no momento, digo adeus a vocês — disse conforme se levantava. — Mas que nossos caminhos se cruzem novamente.

Dito isso, a curandeira partiu.

Depois dessa breve interação, o grupo foi atrás de seus cavalos e atravessaram a cidade, onde havia outro portão.

Quando chegaram e os portões começaram a se abrir, Jurgen se virou para o grupo e disse: — Por mais que sua estadia tenha sido curta, foi um grande prazer recebê-los. Desejo sorte em suas jornadas e vitória em suas batalhas.

— Igualmente, Jurgen — disse Leif. — Na próxima vez que eu vier a Niflheim, poderemos caçar algo juntos.

— Me lembrarei disso.

O grupo se despediu de Jurgen e atravessou os portões, sendo acompanhados pelos gritos e despedidas do povo de Isaz.

 

***

 

Cerca de dois dias depois de partirem de Isaz, o grupo ainda viajava através da névoa e escuridão que se tornava cada vez mais fraca.

— Estamos perto — disse Leif. — Preparem seus olhos, vão querer olhar bem para a Árvore do Mundo.

Todos estavam com expectativas altas, afinal, desde que se encontraram o Jarl tem dito a quão majestosa e magnífica era Yggdrasil.

Cada passo dado pelos cavalos os afastava da neblina e, aos poucos, uma luz dourada começou a penetrar pela escuridão.

A princípio era tão fraca quanto uma vela no meio de uma vasta escuridão, contudo, aos poucos foi aumentando cada vez mais.

O calor do sol tocou a pele de cada um, tornando desnecessário usar roupas de frio.

Após minutos que pareceram horas, como se saíssem de trás das cortinas de um teatro, o grupo finalmente adentrou Midgard, com seus olhos se arregalando imediatamente.

Montanhas, florestas, lagos, rios, cidades... tudo se estendia para além do horizonte.

E o mais impressionante de tudo estava no centro: Um tronco, cuja espessura superava a largura de uma montanha, erguia-se orgulhosamente pelos céus, atravessando além das nuvens e carregando pedaços de terra enormes em seus galhos.

Acima podiam ver algumas das regiões mais altas, como Vanaheim, Asgard e Jotunheim.

A extensão de cada um desses lugares não podia ser vista inteiramente devido seu tamanho, mas, mesmo na distância, era possível ver imponentes construções e cidades em Vanaheim e Asgard.

Quanto a Jotunheim, estava tão alto que nem era possível ver as montanhas, que começavam já acima das nuvens.

Como se não bastasse, os rios das regiões superiores desaguavam por quilômetros em Midgard como uma cachoeira enorme e poderosa, criando arcos-íris majestosos e atravessando o reino todo.

Quando soprava o vento, o curso da cachoeira era alterado, inundando outras áreas e criando novos arco-íris.

— Uau... — Luna foi a primeira a falar, com a voz baixa e quase sem fôlego ao ver Yggrasil em toda sua glória. — Isso é... perfeito...

A princesa deu alguns passos adiante, mas a mão do Jarl a segurou pelo ombro.

— Cuidado onde pisa.

Ao olhar para baixo, os olhos de Luna se arregalaram e, mais uma vez, perdeu o fôlego.

Abaixo dela, alguns galhos formavam uma espécie de ponte, mas, bem diante dela, havia um buraco onde podia ver as regiões inferiores quilômetros abaixo.

Uma delas era uma terra coberta em gelo, montanhas e uma nevasca relativamente fraca, Helheim.

Porém, podia-se ver inúmeras casas, cidades, castelos e caminhos construídos por entre as montanhas, demonstrando que muitas pessoas viviam ali.

Quanto ao segundo local — exatamente do lado oposto do tronco em relação a Helheim —, era uma terra bem semelhante às Planícies Vulcânicas: Rios de lava, solo cinzento e inúmeros vulcões em atividade.

Este local era um pouco mais difícil de ver devido às cinzas expelidas, mas também havia construções e cidades nas regiões mais seguras, apesar de em bem menos quantidade.

Já na base da Árvore do Mundo, havia uma floresta tão vasta e imensa que era impossível ver o fim até mesmo naquela altura.

— Só pode ser brincadeira... — disse Shiina totalmente desacreditada. — Quão alto nós estamos?

— Midgard fica no centro da Árvore do mundo, então cerca de 8 a 9 quilômetros — disse Leif. — Asgard e Vanaheim ficam a cerca de 11 ou 12, enquanto Jotuheim começa nos 15 quilômetros, mas as montanhas se elevam até um pouco mais que isso.

— Não posso ver o fim de Midgard daqui... — disse Raymond extasiado. — Nem mesmo das outras regiões que estão mais longe...

— É difícil de acreditar que tudo isso só existe por causa de uma árvore... — disse Sariel enquanto passava os olhos por todos os lugares, como se quisesse ter certeza de que a imagem de Yggdrasil ficasse bem marcada em sua mente. — Isso é simplesmente inacreditável...

Feng Ping também apreciava a paisagem, não tão surpreso quanto os outros, pois já esteve ali antes, mas ainda assim era uma vista que valeria a pena observar por horas.

Aegreon também observava tudo, mas sem a mesma curiosidade ou surpresa que os outros.

Após um bom tempo abençoando os olhos com aquela paisagem magnífica, Leif finalmente agiu para que continuassem sua jornada.

— Muito bem, adoraria que ficássemos mais um tempo aqui, mas temos uma missão — disse. — Precisamos chegar até o tronco da Árvore do Mundo, portanto temos um longo caminho.

— Certo.

Seguindo o Jarl, o grupo atravessou com seus cavalos a ponte de galhos da Árvore do Mundo e finalmente adentraram os territórios de Midgard.


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