O Primeiro Serafim Brasileira

Autor(a): Anosk


Volume 2

Capítulo 104: Caçador Contra Caçador

Shiina correu até a criatura com o corpo envolto em magia, causando uma forte ventania e afastando a neblina.

Já a criatura apenas corria em sua direção com a cauda levantada e pronta para atacar.

Quando ambos estavam prestes a se atacarem, uma grande, poderosa e afiada raiz surgiu do chão movendo-se até a assassina.

Shiina precisou desviar para o lado, mas logo outras raízes surgiram ao seu redor.

A assassina tentou desviar como pôde, entrando em brechas e passando pelas aberturas nos galhos com a flexibilidade e agilidade de um felino.

Não demorou muito para que houvesse galhos demais ao seu redor. Em breve ficaria presa e vulnerável ao golpe da criatura.

E assim aconteceu, o monstro viu a oportunidade e atacou com sua asa esquerda, buscando decapitar logo Shiina.

Foi neste momento que a assassina expandiu sua magia e cortou todos os galhos ao redor com um forte vento, aproveitando-se do avanço da criatura e segurando em suas mãos uma espada zunindo com o som dos ventos.

“Te peguei!”, gritou internamente enquanto cortava na direção do olho esquerdo da criatura.

O monstro, percebendo a armadilha, tentou usar a asa com que estava atacando para bloquear o golpe, fortalecendo ainda com magia de Natureza.

O golpe de Shiina travessou parcialmente a asa da criatura e arrancou um grande pedaço, que rodopiou no ar e caiu fincado no solo como uma espada, mas não conseguiu atravessar totalmente a defesa do monstro e falhou em atingir o olho esquerdo dela.

A criatura fez uma floresta inteira tentar perfurar a assassina ao mesmo tempo que se afastava para longe, percebendo o poder ofensivo dela.

Shiina combateu os galhos com seu vento, cortando e destruindo como meros gravetos.

Enquanto isso acontecia, o grupo assistia tudo surpreso.

Sariel havia convertido um pouco de seu elemento para Alteração, permitindo assim que estabelecesse uma conexão mental com os outros e deixando-os verem o mesmo que seus olhos presenciavam.

— Não deveríamos ajudá-la? — perguntou Luna. — É um oponente difícil.

— Ela consegue lidar com isso sozinha — disse Aegreon. — Confie nela.

A princesa permaneceu em silêncio ainda preocupada.

— A propósito, por que conseguimos ver a criatura através de você, mas não por meio de Leif? — perguntou Luna para o viajante.

— Tudo o que o observador vê ou não vê é transmitido para os outros — disse Sariel. — Como Leif não podia ver a criatura, então obviamente não teria como nós, os destinatários da telepatia, percebê-la.

— Entendo...

A luta entre os dois prosseguiu sem muita diferença, quando a assassina arrancou um pedaço da asa da criatura que caiu bem perto no chão onde o grupo estava.

Sem hesitar, o viajante deixou a proteção da barreira, dirigiu-se até o pedaço — cujo tamanho era como uma enorme e larga espada de duas mãos — e a retirou do chão.

Depois, retornou até a barreira e começou a analisar aquilo.

— Vejam, o que acham? — perguntou estendendo o pedaço para todos.

— Parece realmente algum tipo de metal, e não uma membrana ou escamas que um Dreki teria — disse Leif. — Mas por que é tão escuro?

— Isso é resultado do que uma criatura que chamamos de sombra pode fazer — respondeu Feng Ping. — O corpo todo fica escuro.

— Sim, mas há algo mais — disse Sariel. — Toquem nisso.

Sem questionar, cada um tocou com cuidado no pedaço da criatura.

O que esperavam sentir a princípio era algo duro e frio, como metal, mas o que suas mãos sentiram no momento que tocaram foi uma suavidade semelhante ao pelo de animais.

— Pelugem?! — perguntou Luna conforme sentia aquilo. — Mas não posso ver nada semelhante à pelo.

Sariel agarrou algo invisível no pedaço da criatura, puxou com força e, após alguns segundos, um pelo escuro se revelou em suas mãos.

— Estava invisível? — perguntou Leif observando o pelo. — Mas como? Apenas sinto o elemento Selagem nele, não têm o elemento Ilusão como a garra.

Agora que o viajante havia removido uma parte do pelo invisível da criatura, o Jarl pôde ver a aura da Ilusão na asa da criatura, mas apenas na parte com a pelugem removida.

— Agora que parte de seu pelo foi removido, a aura da Selagem também se mostra já que não está mais conectada ao corpo — disse Sariel. — Mas tenho uma ideia do porquê o pelo também ser invisível.

Todos aguardaram atenciosamente pela explicação do viajante.

— Como Luna ainda não conhece bem a Selagem vou explicar alguns fundamentos — disse. — A Selagem possui duas grandes propriedades: conectar-se e dar comandos aos outros elementos, e mascarar a aura deles.

No primeiro caso, é possível criar coisas automáticas usando os outros elementos, como um golem de batalha que é controlado e recebe ordens do elemento Selagem.

No segundo, a Selagem age como o elemento Ilusão, só que para as magias. Em outras palavras, enquanto Ilusão pode ser usado para se tornar fisicamente mais sorrateiro, a Selagem faz isso com a própria magia.

— O problema é que para fazer isso, a Selagem deve “selar” a magia, então se uma pessoa tentar usar magia com algum tipo de selo em seu corpo, será incapaz — terminou de explicar o viajante. — Ou seja, a criatura não poderia usar Selagem em si mesma para mascarar a Ilusão.

— Mas como aquela criatura pode usar Ilusão e ainda mascarar sua presença? — perguntou Raymond.

— Já ouviram falar sobre um animal chamado camaleão? — perguntou Sariel.

Todos concordaram com a cabeça.

— Ele é capaz de se camuflar de predadores alterando a cor de seu corpo de acordo com o ambiente — explicou Sariel. — Contudo, todos sabemos que raros são os animais que podem usar magia, por isso a maneira que um camaleão altera sua aparência não é com Ilusão, e sim por um processo biológico e natural.

— Exato, esse é um animal que evoluiu e desenvolveu essa habilidade naturalmente — concordou Feng Ping. — Por acaso sugere que o mesmo se aplica a essa criatura?

— Sim — disse o viajante. — A Ilusão torna invisível seu corpo enquanto o pelo age como uma espécie de manto que impede que vejamos ou sentimos a magia, ao mesmo tempo que essa própria pelugem desenvolveu uma maneira de ser invisível sem usar magia.

— Mas se esse é o caso, então porque ao invés de ter pelos que mascaram sua aura, sua própria carne não faz o mesmo? — perguntou Luna.

— Quanto maior e mais poderoso é um ser vivo mais difícil de desenvolver habilidades biológicas complexas — disse Sariel. — Provavelmente foi a maneira que essa criatura foi criada ou evoluiu naturalmente para burlar o elemento Alteração.

Todos permaneceram em silêncio por um breve momento, pensando profundamente nas habilidades daquela criatura.

De fato, essa combinação de fatores era poderosa demais.

— Quanto ao elemento Natureza, provavelmente foi porque a sombra possuiu o cadáver de uma criatura com esse elemento então? — supôs Raymond.

— Provavelmente — disse Sariel. — O que me preocupa é que a maioria das sombras possui qualquer coisa que encontram, mas essa seleção de habilidades se encaixa muito bem para ter sido algo aleatório...

— Já vimos que as sombras elevam o poder de um cadáver além do seu ápice em vida — disse Luna. — Será que isso não se aplica ao intelecto também? Talvez a criatura que possuiu já era inteligente, mas, ao tomá-la, se tornou ainda mais.

— Também é possível que isso se aplique às capacidades biológicas como a invisibilidade do pelo dela. É possível que a criatura original não possuía uma camuflagem tão boa que foi melhorada — disse Feng Ping. — Mas a única coisa que não sabemos é porque não sentimos suas intenções.

— Quando fomos atacados pelas sombras sem hospedeiro pela primeira vez, apenas as percebíamos por causa de sua magia, mas não era possível sentir suas intenções — disse o viajante. — É possível que essas coisas sejam realmente como um fantasma, uma casca vazia, um vírus cujo único propósito é se propagar, alimentar e se tornar mais forte.

— Em outras palavras, sugere que elas não têm uma consciência? — perguntou o Pilar do Vento.

— Exato — concordou o viajante. — Ou possuem, mas é tão fraca que não podemos sentir.

Enquanto essa conversa acontecia, Shiina ainda lutava contra a criatura.

A assassina avançou em sua direção mais uma vez na tentativa de matá-la, enquanto galhos tentavam perfurá-la.

A sombra ardilosa realizava vários ataques à distância, balançando sua cauda como uma cascavel chacoalhando seu chocalho.

Quando Shiina chegou próxima o suficiente, a criatura chicoteou com o rabo para cima, lançando dezenas de espinhos venenosos no ar.

Em seguida, ambos se atacaram.

A assassina tinha uma vantagem pela criatura ser grande e um pouco mais fácil de atingir, apesar de sua agilidade atrapalhar.

Golpes foram trocados, mas Shiina apenas feriu superficialmente a criatura.

Então, quando estava prestes a lançar um ataque poderoso, os espinhos que foram lançados para cima retornaram, como uma chuva venenosa e mortal.

A assassina conseguiu desviar e não ser atingida, porém, no momento que os espinhos batiam no chão, explodiam em uma energia roxa e uma nuvem venenosa se ergueu.

Shiina acabou recebendo danos das explosões, entretanto seus ventos a protegeram do gás.

O brilho roxo a impediu de ver a cauda da criatura se aproximando de seu rosto, pronta para esmagar seu crânio.

Contudo, para a surpresa da sombra, aquilo era justamente o que a assassina esperava.

Segurando com força sua espada de ventos, Shiina golpeou a cauda da criatura com força.

O impacto criou faíscas devido o atrito, e uma forte ventania se concentrou na espada.

— Me dá seu rabo! — gritou a assassina quando sua espada atravessou a cauda da criatura e a cortou completamente.

A criatura imediatamente tentou fugir, mas perdeu o equilíbrio já que um bom contrapeso de seu corpo fora removido.

Shiina não perdeu a oportunidade e avançou novamente, mirando mais uma vez no rosto dela.

A criatura usou de tudo para se proteger, fazendo galhos surgirem, cuspindo névoa venenosa e cobrindo o rosto com as duas asas.

Porém, a assassina a bombardeou com magia de Vento, cujo brilho tornava impossível ver o corpo da sombra.

Como não sabia onde Shiina apareceria, a criatura permaneceu na mesma posição — com as duas asas protegendo a cabeça —, acreditando que seria atacada no mesmo local.

Contudo, subitamente percebeu seu equilíbrio enganando-a e seu corpo caindo no chão, com sua cabeça batendo fortemente no solo.

A criatura não entendeu o que havia acontecido, e sua visão escureceu lentamente até se apagar totalmente.

Em cima da metade superior do corpo da criatura, Shiina erguia-se vitoriosa de uma batalha difícil.

Seu golpe havia dividido a sombra completamente em dois, um poder que a criatura não esperava dela.

Limpando o suor da testa, encarou o grupo, que a olhava de volta, e disse orgulhosamente: — Está acabado.

Imediatamente Sariel foi o primeiro a sair da barreira para investigar o cadáver da criatura, sendo seguido pelos outros.

— Bom trabalho — disse o viajante ao mesmo tempo que cortava e examinava a criatura.

Raymond correu até a assassina e começou a curá-la.

— Você está bem? — perguntou com certa preocupação.

— Relaxa, tá tudo be... — Enquanto falava, Shiina perdeu o equilíbrio e precisou ser segurada por Raymond para não cair.

— Pelo jeito veneno de Conjuração não é coisa boa, né? — disse o guarda-costas em um tom gentil. — Deixe-me colocá-la em um lugar melhor.

Dito isso, Raymond carregou a assassina nos braços e a levou para o chão.

— Meu herói... — brincou Shiina em um tom sedutivo enquanto sentia os fortes braços do guarda-costas segurando-a. — Por que não se torna meu cavaleiro agora? Vou te “dar” algo como recompensa que vai adorar.

— Está delirando por causa do veneno — disse Raymond ignorando a investida em um tom jocoso. — Tente não falar muito.

O Guarda costas a deitou no chão, curando lentamente os ferimentos causados pela Conjuração.

Enquanto Sariel analisava a criatura, o corpo começou a derreter e evaporar, exatamente o mesmo processo que qualquer sombra passava ao ser derrotada.

Tsc! Não poderemos verificar muita coisa... — praguejou Leif.

— Não tem problema, eu já confirmei o que mais me incomodava — disse o viajante. — Parece que minhas hipóteses estavam corretas.

— Descobrimos essas sombras faz pouco tempo, e mesmo assim já vimos o quão perigosas podem se tornar — disse Feng Ping. — Devemos nos apressar para que eu reporte isso ao Conselho logo.

— De fato — concordou Aegreon. — Shiina, consegue andar?

— Não... Preciso que alguém me carregue — disse encarando Raymond com um sorriso.

— Ela já está curada — interrompeu Raymond.

— Então vamos — disse Luna que, naquele ponto, já sabia muito bem que a assassina estava mais do que bem. — Ah, Shiina, essa criatura ainda vale só um ponto, viu?

— O quê?! — exaltou-se a assassina, levantando-se imediatamente. — Mas ela era centenas de vezes mais poderosa e difícil de lidar que as outras!

Aquilo imediatamente confirmou as suspeitas de Luna de que Shiina queria matar a criatura sozinha para ganhar mais pontos e não ficar em último lugar.

Com um sorriso jocoso, a princesa encarou a assassina e disse com um tom confiante: — Mas ele ainda era um único ser vivo, certo? Então só um ponto!

— Mas... — Shiina tentava ainda argumentar contra.

— Todos concordam? — perguntou Luna encarando os outros.

— De acordo — disse Leif erguendo a mão.

— Também concordo. — Raymond seguiu o exemplo do Jarl.

Feng Ping e Aegreon ergueram a mão em silêncio.

— Até você, Aegreon?! — surpreendeu-se Shiina em um tom indignado.

Luna encarou Sariel, que ainda não havia levantado a mão e possuía uma expressão neutra.

O viajante não planejava votar já que a maioria já havia decidido a favor, portanto achava insignificante seu voto.

Contudo, ao ver os olhos brilhantes e o sorriso travesso de Luna, viu-se erguendo a mão inconscientemente.

A princesa deu-lhe a honra de ver o mais belo sorriso que já vira em sua vida, fazendo seu coração, mais uma vez, pular uma batida.

Percebendo que todos haviam votado contra ela, Shiina disse em uma voz mais aguda que o normal e quase fazendo birra: — Ah, fala sério!

— Bem, isso dá um ponto a mais para Shiina — disse Leif. — Ficando ainda atrás do penúltimo por 97 pontos, hahaha!

Todos se uniram ao Jarl e riram da assassina, que desistiu de tudo e se jogou no chão com a o rosto afundando o solo.

— Odeio todos vocês... — Sua voz abafada mal pode ser ouvida.

Luna, enquanto ria, ouviu um som que ansiava a um tempo e se virou, surpreendendo-se ao ver Sariel rindo suavemente — como um cavalheiro — e um sorriso puro em seu rosto.

— Você realmente está se tornando uma princesa problemática, Luna — disse o viajante entre risos.

Apesar da escuridão do lugar, a princesa quase sentiu como se o rosto do viajante e sua voz iluminasse sua vista, dando a ela a vez de ficar sem palavras e reação.

Antes que pudesse dizer ou fazer algo, Leif interrompeu o momento e disse: — Certo, já nos divertimos demais hoje. Vamos continuar!

— Certo. — Todos concordaram e começaram a partir.

— Que seja... — disse a assassina em um tom derrotado e irritado.

Finalmente, após o que era uma simples competição que se tornou uma grande batalha, o grupo partiu daquele local.


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