O Primeiro Serafim Brasileira

Autor(a): Anosk


Volume 2

Capítulo 102: Draugrs

Pela manhã — ou o que deveria ser manhã apesar da escuridão — Luna foi acordada por Raymond.

O resto do grupo já havia acordado e o desjejum estava sendo preparado.

— Onde está Sariel? — perguntou ao notar sua ausência.

— Disse que daria uma caminhada e retornaria em breve — respondeu Leif.

— Nessas condições? Não é perigoso? — preocupou-se a princesa.

— Ele é um Volátil, vai ficar bem — disse o Jarl.

Contudo, a princesa não se deu por convencida e foi atrás dele.

Assim como fizera antes com Aegreon, encontrar Sariel foi uma tarefa fácil por causa de magia de Alteração.

Ele estava apenas caminhando entre algumas árvores, tocando-as e olhando seus frutos.

Percebendo sua aproximação, o viajante se virou para ela.

— Tudo bem? — perguntou.

— Sim, só queria saber se estava bem — respondeu Luna.

— Só queria pensar um pouco enquanto me familiarizava com esse lugar — disse Sariel conforme tirava do galho de uma árvore uma fruta azul mais parecida com um cristal de vidro. — Veja. — Então jogou para a princesa.

Pegando a fruta no ar, Luna percebeu que a fruta possuía uma concentração do elemento Gelo, algo que nunca vira antes.

— É seguro comer? — perguntou.

Como resposta, o viajante pegou outra fruta e a mordeu, mastigando-a tranquilamente.

O barulho emitido pela fruta foi bem crocante, e partículas azuis soltaram-se dela.

Ao perceber isso, a princesa também decidiu morder a fruta, sentindo um sabor levemente doce, mas nada gelado que esperava.

— Só é doce... — disse com certo desapontamento.

— Seu elemento é Gelo afinal, não sentirá nada além disso — respondeu o viajante. — Seria diferente se os outros comessem, provavelmente sentiriam seus cérebros congelando.

Ao ouvir isso, uma ideia ligeiramente perversa surgiu pela mente de Luna.

— Entendo... o café da manhã já está quase pronto. Vamos voltar?

— Certo.

Depois disso, os dois caminharam de volta ao acampamento conforme coletavam algumas dessas frutas.

Sariel estava sério, portanto, não dizia nada e deixando a responsável pela conversa a Luna.

A princesa tinha certeza de que isso era devido ao que ele passou, e isso apenas deixava as coisas mais difíceis para iniciar uma conversa.

Enquanto pensava por um assunto, se lembrou de uma coincidência que ocorrera no dia que partiram das Montanhas Prateadas.

— Sariel... Acha que há alguma possibilidade de Aika e Xiao Lu serem descendentes de anjos? — perguntou.

Aquilo pegou o viajante de surpresa, fazendo-o parar de andar por um breve momento.

— Por que pensou nisso?

— Bem... Você e Quetzal são descendentes de anjos e podem falar com os animais — disse Luna. — Além disso, Tanto Quetzal quanto Xiao Lu tem o elemento Natureza... Por acaso se encontrou com outras pessoas com essas características?

— Bem, na verdade sim — respondeu Sariel. — Na verdade, isso era algo que eu planejava discutir isso com Feng Ping, mas me lembrando bem, a todos que conheci que possuíam o elemento Natureza ou Reanimação podiam falar com os animais... E muitos deles eram descendentes de anjos.

— Então pode haver uma relação...

— Não tome conclusões precipitadas — disse o viajante. — Seria preciso investigar muitas pessoas para ter certeza de algo, e não conheço tanta gente assim. Sem contar que há aqueles como Aika, cujo elemento é Água.

— Tem razão...

Depois dessa breve conversa, ambos chegaram ao abrigo e entraram, deparando-se com uma fogueira acesa e o café da manhã basicamente pronto.

— Ei, a comida está pronta! — disse Shiina.

— Ah, obrigada — disse Luna se aproximando com as frutas. — Encontramos isso, experimentem! Tem bom gosto!

Ao ouvir aquilo, tanto Sariel quanto Leif levantaram uma de suas sobrancelhas, e o Jarl estava prestes a falar algo quando Feng Ping o parou tocando seu ombro.

O resto do grupo encarou Leif por um breve momento, perguntando com seus olhares se era seguro comer aquilo.

— Podem comer, é realmente gostoso — disse de maneira séria e disfarçando um sorriso.

Shiina pôde perceber claramente que Luna e Leif estavam tramando algo, contudo não era capaz de perceber através de Sariel e Feng Ping.

Apesar de desconfiada, decidiu experimentar a fruta já que acreditava que não tentariam nada perigoso.

Raymond e Aegreon também pegaram uma fruta e logo morderam.

No momento seguinte, Shiina sentiu toda sua boca congelar, uma sensação semelhante à menta, mas milhares de vezes mais intenso.

Seus dentes todos reclamaram de dor devido à sensibilidade ao frio extremo, e seu cérebro pareceu congelar no zero absoluto, fazendo-a sentir uma dor de cabeça instantaneamente.

Em um piscar de olhos, cuspiu o pedaço da fruta e mergulhou suas mãos em uma panela com água fervendo, bebendo-a sem se importar com o calor.

Comparado com o frio glacial que acabara de sentir, o calor da água até parecia morno.

— Ahh, caralho! — gritou conforme o frio se esvaia aos poucos. — Quer me matar, porra?!

Raymond reagiu de uma maneira parecida, cuspindo a fruta e fazendo uma expressão de dor engraçada.

— Pff... hahahaha! — Ao perceber a reação dos dois, Luna não pôde se conter e deixou sua doce risada ressoar.

Leif também riu, porém sua risada era muito mais alta e até um pouco grosseira, como um lenhador bêbado.

Feng Ping apenas deu uma leve risada curta.

— Isso não tem graça! Eu quase morri! — reclamou a assassina.

— Hahaha... ha... — A risada de Luna morreu aos poucos conforme tentava se controlar. — Só uma mordidinha te fez se tremer toda?

— Ora sua... — Shiina possuía uma expressão de raiva no rosto, mas lá no fundo estava se segurando para não admitir que de fato fora uma boa brincadeira e até mesmo achava certa graça. — Vou me lembrar disso!

— Quem diria que você faria algo assim um dia, Luna — disse Raymond rindo um pouco da assassina.

— Até você?! — reclamou Shiina.

Aquilo só fez a princesa explodir em risadas novamente, fazendo a assassina se sentir ainda mais constrangida.

Raymond até mesmo começou a provocar Shiina, rindo e se divertindo de uma maneira que Luna nunca vira antes.

Enquanto todos riam, a princesa encarou Aegreon, percebendo um sorriso suave em seu rosto.

Quando se virou para Sariel, também possuía um sorriso, mas parecia — de certa forma — menos radiante que o do Pilar da Conjuração.

Se fosse antigamente, o viajante teria rido e provocado Shiina.

Não, na verdade, ele provavelmente teria dado a ideia ao invés de Luna.

Pelo menos, dessa vez a princesa sabia que o sorriso dele era genuíno, portanto, apenas isso já era o suficiente.

— Sabe, desde aquilo que aconteceu no Pico da Garra Gélida não o vejo sorrindo de verdade... — disse para Sariel baixinho enquanto os outros ainda se divertiam com a situação. — Sinto falta disso... — Em seguida pegou suas mãos.

Surpreso com aquele gesto, o viajante encarou a princesa nos olhos, percebendo uma gentileza e preocupação de derreter o coração.

Por algum motivo, aquilo fez o coração de Sariel pular uma batida, além de deixá-lo sem reação.

— Ah... É só por causa do que aconteceu ultimamente — disse um pouco sem jeito e desviando suavemente o olhar. — Quando tudo isso começou, não esperava que as coisas chegariam nesse ponto...

— Eu entendo... — disse Luna. — Me desculpe se estou sendo muito insistente... Para ser sincera, não sei por que fiz isso...

Depois de um breve momento, a princesa percebeu que ainda estava segurando as mãos de Sariel e as soltou timidamente.

— Be-Bem, melhor comermos logo... — gaguejou conforme se afastava.

— Tem razão... — concordou o viajante seguindo Luna.

 

***

 

Seguindo o caminho, o grupo passou a avançar por um terreno íngreme, demonstrando que, apesar de não serem capazes de ver, estavam em um local acidentado.

— Estamos em um lugar complicado agora — disse Leif. — Aqui costuma acontecer ataques de Draugrs, tomem cuidado.

— O que seriam Draugrs? — perguntou Raymond.

— São os cadáveres das pessoas que se reerguem ao terem seu descanso perturbado — disse o Jarl. — Possuem força superior de quando estavam vivos, seus corpos são escuros por causa do ambiente de Niflheim, e alguns podem usar magia.

— Entendo... — disse o guarda-costas, pensando sobre algo que o resto do grupo também considerou.

Cadáveres reerguidos, aparência escura, força superior e capacidade de usar magia... Era uma descrição muito semelhante às sombras.

Na verdade, já era algo que tinham considerado possível desde que chegaram naquele local, portanto já estavam cautelosos.

Luna e Leif, além de manter uma comunicação mental constante entre todos, varriam uma grande área com Alteração para detectar qualquer ameaça.

E, como se para confirmar as preocupações, logo perceberam inúmeras auras roxas ao redor se aproximando.

Como todos estavam conectados telepaticamente, imediatamente colocaram os cavalos juntos e os cercaram para protegê-los.

Logo figuras humanas apareceram brandindo armas consigo e sua aparência, como era de se esperar, era exatamente igual ao de uma sombra possuindo um cadáver.

Alguns tinham uma aparência de uma pessoa viva, provavelmente o hospedeiro morrera e logo fora possuído, enquanto outros tinham várias partes de sua carne podre e com os ossos expostos.

Assim que perceberam o grupo, alguns lançaram magias a distância, enquanto os outros correram rapidamente até o grupo.

Uma esfera dourada surgiu, cobrindo e protegendo totalmente todos dos ataques dos reerguidos.

— Como pensei... Reerguidos — disse Sariel.

— Então é assim que vocês chamam os Draugrs, huh? — disse Leif com um sorriso animado no rosto. — Vamos acabar com eles.

— Vejo que sua animação pela batalha não diminuiu, Leif — disse Feng Ping.

— Não há nada melhor que a adrenalina da batalha! — afirmou o Jarl. — Vamos ver quem mata mais!

Leif partiu para cima dos Draugrs sozinho brandindo um grande machado de guerra, cobrindo a lâmina com uma camada de raios.

Todos se surpreenderam com aquilo, afinal, parecia ter se transformado em outra pessoa.

Sariel permaneceu com os cavalos e não disse nada, apenas começou a lançar várias magias de Gelo contra as criaturas.

Já Shiina foi atrás do Jarl e começou a lutar ao lado dele.

— Que tal uma punição para o que matar menos? — perguntou.

— Oh? Proposta interessante, mocinha — disse Leif com um sorriso. — O que tem em mente?

— Que tal pensarmos nisso depois? — respondeu a assassina conforme matava vários Reerguidos de uma só vez. — Aceita a aposta ou tem medo de perder?

Humpf! Não vai se arrepender depois! — Dito isso, Leif, com sua determinação aumentada, pulou para cima da maior quantidade de Draugrs possível.


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