O Primeiro Serafim Brasileira

Autor(a): Anosk


Volume 2

Capítulo 101: Niflheim

No dia seguinte de sua partida, o grupo procurava desvendar se já haviam atravessado a fronteira entre Yggdrasil e as Montanhas Prateadas.

O motivo disso era devido a neblina e a escuridão, que substituíra a nevasca e tornava absolutamente impossível ver algo centímetros adiante.

Tudo o que viam era branco e, ocasionalmente, alguns vultos que se assemelhavam à arvores mortas ou galhos iluminados por uma esfera de luz branca criada por Sariel.

Apenas sabiam que estavam seguindo algum caminho devido algumas pedras de Alteração colocadas na estrada emitindo brilho para guiar qualquer um que se perdesse ali.

— Por que há tanta neblina e escuridão? — perguntou Luna. — Isso não é normal. Até me faz lembrar do Pico da Garra Gélida.

— Creio que já estamos em Niflheim — disse Feng Ping. — É uma das regiões de Yggdrasil, e está sempre coberta por essa neblina densa e pela escuridão. Pouquíssima gente vive aqui por causa disso, mas é o melhor caminho que podemos tomar para não sermos vistos.

— Espera, já estamos em Yggdrasil então? — perguntou Shiina.

— Sim, não estamos mais em Shiroi Tate faz um tempo — disse o Pilar do Vento.

— E qual seu plano a seguir? — perguntou Sariel. — Sabe como atravessar Niflheim por acaso?

— Não, apenas até o local onde os viajantes que passam por aqui se abrigam — respondeu Feng Ping. — Mas não se preocupem, meu amigo esperará por nós lá.

— Certo... — disse o viajante.

O grupo continuou a jornada seguindo as luzes, quando finalmente avistaram ao longe vários brilhos semelhantes em uma grande área.

Quando se aproximaram, a neblina e escuridão se tornaram menos densa e foram capazes de ver um pequeno vilarejo com casas retangulares e construídos em madeira e pedra.

Surpreendentemente, havia várias árvores bem largas e altas por todo o lado cujos troncos eram brancos e suas folhas azul-claro.

— Uau, não esperava ver pessoas morando aqui... Muito menos árvores crescendo... — disse Luna.

— Aquilo não são árvores, são galhos da Árvore do Mundo — disse Sariel.

— Árvore do Mundo? — perguntou a princesa.

— É a árvore que carrega em seus galhos uma área enorme de território por quilômetros de altura — disse uma voz grossa de homem alto, com longos cabelos loiros ondulados e olhos azuis sérios. — Me surpreende que não saiba de algo tão importante.

Sua aparência era imponente, seu rosto sério coberto por cicatrizes e seu olhar penetrante eram marcas de sua experiência.

As roupas eram escuras, pesadas e feitas de lã, deixando sua figura um pouco maior.

Também tinha uma barba grande o bastante para cobrir seu pescoço.

— Não mudou nem um pouco, Leif — disse o Pilar do Vento.

— E você ainda tem o mesmo rosto perfeitinho de sempre, Feng Ping — retrucou o homem em um tom jocoso.

Ambos se encararam seriamente por um momento, quando deixaram sorrisos escaparem de seus rostos e trocaram um aperto de mãos, deixando todos tranquilos.

Leif encarou o resto do grupo e percebeu o Pilar da Conjuração.

— Nunca imaginei que os veria juntos — disse. — É um prazer, Aegreon.

— O prazer é meu — respondeu o Pilar da Conjuração.

— Muito mudou — disse Feng Ping. — Precisamos conversar em privado.

— Certo, sigam-me. — Leif se virou e guiou o grupo até o vilarejo.

Os cavalos foram levados a um estábulo feito exclusivamente para animais sobreviverem àquele frio.

O grupo caminhou até a maior construção e entraram, deparando-se com um salão de pedra com uma grande lareira no centro com algumas mesas ao redor.

Algumas pessoas semelhantes a Leif bebiam ou comiam perto do fogo, enquanto outras se encontravam mais afastadas afiando e limpando suas armas, criando flechas ou fabricando roupas de frio a partir da pele de alguns animais.

A maioria ignorou o grupo, limitando-se a apenas lançar um olhar curioso e continuar com suas tarefas.

Leif caminhou em direção até uma escadaria que descia e, quando passou pela mesa, um homem de cabelos e barba escura o chamou.

— Jarl Leif, estava esperando — disse. — O que acha de uma caçada hoje à noite? Parece que avistaram alguns Trolls mais ao norte.

— Não será possível, Beirand — disse Leif. — Talvez na próxima.

Após essa breve troca, o grupo desceu a escadaria, seguiu por um corredor e entraram em uma sala.

Logo que a porta foi fechada, Shiina imediatamente cobriu todo o local com Ilusão sem que Leif percebesse.

Ou era isso que ela pensava.

— Se usou esse tipo de magia então imagino que o assunto é sério... A propósito, podem tirar as Ilusões em seus corpos.

Ao ouvir aquilo, todos se surpreenderam e ficaram em alerta, exceto por Sariel, Luna e Feng Ping.

Percebendo isso, Leif disse: — Então vocês já sabiam... Podem me explicar direito a situação?

— Não se preocupem, pessoal — disse o Pilar do Vento. — Podem confiar nele.

Lentamente, todos relaxaram após as palavras de Feng Ping.

Shiina, apesar de achar arriscado, desfez a Ilusão que alterava a aparência de tods, fazendo com que fosse o momento de Leif de se surpreender.

— Um anjo?! — disse deixando sua voz surpresa escapar e quebrando sua seriedade. — O que isso significa?

Feng Ping tomou a iniciativa e explicou a situação, omitindo as partes sobre o traidor do Conselho e coisas semelhantes.

— Entendo... — disse Leif após uma longa pausa. — Então querem minha ajuda para atravessar Yggdrasil por Niflheim e chegar até Alfheim... digo, Jawia, correto?

— Isso mesmo — concordou Sariel.

— Sinto em informar, mas não é possível chegar até Jawia por esse método. Os galhos de Árvore do Mundo que carregam Niflheim não chegam até lá.

Tsc, então não poderemos nos aproveitar da neblina de Niflheim... — praguejou Raymond.

— Sei que não é muito oportuno, mas podem me explicar exatamente o que é a Árvore do Mundo? — perguntou a princesa.

— Ah sim, me esqueci que você cresceu basicamente em cativeiro, peço perdão por minha grosseria mais cedo — disse Leif. — Muito bem...

“Neste exato momento, sob nossos pés, está uma árvore cujo tamanho desafia e encanta os pesquisadores do mundo todo.”

“Sua altura ultrapassa os 15 quilômetros, e seus galhos resistentes se estendem por uma área de 450 mil quilômetros quadrados”.

“O mais impressionante disso tudo é que os galhos carregam acima do chão porções de terras grandes o suficiente para a formação de grandes reinos.”

“Atualmente há 9 grandes regiões por toda Yggdrasil, e cada uma é diferente e com concentrações elementais diferentes.”

— Niflheim é a região da névoa e escuridão, faz fronteira com as Montanhas Prateadas, e justamente por isso é um dos menos habitados e com mais perigos.

— O que podemos fazer então? — perguntou Sariel.

— Bem, precisaríamos ir até Midgard, a região mais povoada e localizada no tronco da Árvore do Mundo — explicou Leif. — Depois têm duas alternativas: Descer através da árvore até Muspelheim, a terra do fogo, ou descer por Helheim, a terra do gelo.

— Já passei frio o suficiente nos últimos tempos — reclamou Shiina. — Preferia passar por Muspelheim.

— É o que eu recomendaria já que também é uma região pouca habitada, sendo os moradores em sua grande maioria do elemento Fogo — disse Leif. — Contudo, há uma questão em Helheim que necessito de ajuda...

Ao ouvir aquilo, Feng Ping imediatamente entendeu o motivo de Leif ter aceitado tão facilmente escutá-los e estar disposto a ajudá-los, mesmo com um anjo ali e estarem indo contra o Conselho.

— Então deseja que passemos por Helheim para ajudá-lo com algum problema como compensação do trabalho que estamos te causando? — perguntou.

— Sim — disse Leif. — Começou a pouco tempo, mas algumas pessoas começaram a desaparecer misteriosamente em Helheim. Eu já planejava pedir ajuda ao Conselho quando recebi sua mensagem.

— Eu o entendo, e pela nossa amizade, estarei mais do que disposto a ajudá-lo — disse o Pilar do Vento tomando a iniciativa.

O resto do grupo permaneceu em silêncio e não argumentou contra.

Leif sorriu por um momento e disse: — Obrigado, Feng Ping. Não era minha intenção usar isso, mas não é algo que Yggdrasil consegue resolver sozinho.

— Não se sinta culpado por isso, sei que suas intenções são boas —respondeu o Pilar do Vento.

— Então quando partimos? — perguntou o viajante.

— Se formos agora mesmo conseguiremos chegar em Midgard em uns 3 dias — respondeu Leif. — Mas não pretendem almoçar antes? Em breve será servido um banquete.

— Quanto menos pessoas nos virem melhor — disse Sariel. — Podemos comer rapidamente durante uma pausa. De acordo?

Todos concordaram silenciosamente com o viajante.

— Neste caso, vamos partir — disse Leif deixando o aposento.

Quando saíram Shiina imediatamente recriou a Ilusão alterado a aparência daqueles do grupo.

Quando subiram, as mesas já estavam mais cheias, e Leif foi imediatamente chamado por outros homens.

— Ei, Jarl, Harald caçou um javali enorme hoje! Vai adorar a carne dele!

— Agradeço, mas tenho assuntos importantes a tratar — respondeu Leif.

— Ah, uma pena... vai perder um banquete e tanto!

— De fato, uma pena. — Leif caminhou para fora do local seguido do grupo.

Sem demora, todos buscaram seus cavalos e partiram.

Durante o percurso, aproveitaram para conhecer melhor Leif.

— Por que todos te chamam de “Jarl”? — perguntou Luna.

— É um título para aqueles que tem uma porção de terra considerável e a governam — explicou Feng Ping. — É quase como um rei.

— Exato, eu nasci em Niflheim, mas sou Jarl de um pequeno lugar em Helheim — disse Leif. — Lá é mais confortável que aqui de qualquer maneira. Detesto essa neblina.

— Falando nisso, se a Árvore do Mundo é tão grande, por que não a vimos no caminho para cá? — perguntou a princesa.

— Bem, a Cordilheira Belvuch é extensa, portanto bloqueava nossa visão de Yggdrasil — disse Sariel. — E as Montanhas Prateadas além de nevar faz fronteira com o reino da névoa, então não é possível ver de lá também.

— Quando deixarmos Niflheim vocês verão toda a majestade de Yggdrasil — disse o Jarl. — É uma vista que carregarão consigo pelo resto da vida.

— Espero que valha a pena, esse lugar me deixa desconfortável — disse Shiina. — Por que tem tanta névoa e escuridão? Nem da pra saber quando é dia ou noite.

— Como eu disse, cada região tem sua peculiaridade — disse Leif. — Niflheim por algum motivo tem essa névoa constante em todo lugar. Quanto a escuridão, é porque estamos localizados bem embaixo de Asgard e Vanaheim, que bloqueiam a luz do sol completamente.

— É incrível que pessoas sejam capazes de viver aqui... — comentou Luna.

— Pode não parecer, mas a terra aqui é bem fértil, e há muitos animais por aí, portanto a maior dificuldade é lidar com a névoa e escuridão — disse o Jarl. — Pelo caminho passaremos pela maior cidade de Niflheim, se surpreenderão com seu tamanho.

Após várias horas, Leif parou o grupo informando que a noite já havia caído e o grupo montou acampamento.

Sariel, mais uma vez criou uma pequena cabana de madeira para que eles e os cavalos ficassem confortáveis.

Enquanto jantavam, Jarl encarou Shiina e perguntou: — Por que não desfaz essa ilusão? Dificilmente encontraremos alguém aqui.

— Todo cuidado é pouco — disse o viajante. — Já nos expomos demais.

— Falando nisso, você sabia que estávamos usando magia de Ilusão, então por que se surpreendeu quando me viu? — perguntou Luna.

— Possuo o elemento Alteração, portanto vi a aura rosa da Ilusão cobrindo seus corpos — respondeu Leif.

— Mas ainda não entendi por que se surpreendeu...

— Ah, eu não lhe expliquei isso — disse Sariel. — Magia de Alteração te permite ver e sentir os outros elementos, então mesmo que você se torne invisível com Ilusão, um usuário de Alteração saberá onde a pessoa está devido sua aura. Contudo, quando se trata de uma Ilusão para mudar a aparência, o observador percebe a aura da Ilusão, mas não é capaz de ver através do disfarce.

— Então ele sabe que está sendo enganado, mas não pode ver a verdadeira aparência? — perguntou Luna.

— Exatamente — disse o viajante. — Apenas alguém com o elemento Ilusão seria capaz de ver através dela.

— Entendo... Pensei que Alteração era superior à Ilusão...

— Nenhum elemento é mais forte que o outro, cada um exerce uma função fundamental e são perfeitamente equilibrados entre si... — Sariel se silenciou por um momento. — Bem, exceto pela Conjuração...

Após dizer aquilo, o viajante encarou Aegreon com um olhar como se pedisse desculpas, recebendo apenas um aceno afirmativo com a cabeça como resposta.

Percebendo essa interação, Luna não pôde deixar de sorrir. Finalmente, depois de tanto conflito, aqueles dois estavam começando a se entender.

Logo depois de comerem, dormiram sem nenhum incidente durante a noite.


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