O Primeiro Serafim Brasileira

Autor(a): Anosk


Volume 1

Capítulo 58: Feykron

O dragão aguardou por uma resposta enquanto observava os rostos surpresos daqueles pequenos seres diante de si.

Entretanto, os segundos se passaram e não obteve resposta, fazendo-o se lembrar que humanos não falavam a língua dos anjos, apesar da garota claramente ser um anjo.

— Hmm... — murmurou o dragão. — E-eu...

— Me chamo Sariel — disse o viajante na língua dos anjos. — E esta é Luna. Quanto ao motivo que estarmos aqui... é uma longa história...

As sobrancelhas do dragão se ergueram levemente em surpresa ao perceber o viajante comunicando com ele em tal língua.

Contudo, logo se recuperou da surpresa.

“A garota deve ter lhe ensinado a língua dos anjos... Não é incomum anjos saberem naturalmente a própria língua mesmo sem serem ensinados”, pensou.

Logo uma expressão desconfiada surgiu nele.

— Sariel... Huh? — disse lentamente. — Um tanto incomum um anjo e um humano juntos. — O dragão olhou atentamente para a princesa, percebendo a luz de seus olhos.

— É como Sariel disse — começou Luna. — É uma longa história.

— Está tudo bem, neste momento qualquer distração me é bem-vinda — respondeu o dragão. — A propósito, chamo-me Feykron, é um prazer.

— O prazer é todo nosso — respondeu o viajante enquanto fazia uma grande reverencia, sendo imitada por Luna. — Mas porque tu estarias em um lugar tão pouco apropriado para vossa espécie?

— Ah... sim... Isso foi a muito tempo. — Feykron ergueu sua cabeça e olhou para o teto, como se tentasse se lembrar de algo muito distante.

[Tudo começou quando vim para este mundo pelo portal...]

[Não me lembro bem de muitos detalhes, e explicarei o motivo disso, mas pelo que os anjos me disseram, muitos dragões como eu ficaram curiosos com o outro mundo e decidiram atravessar o portal para conhecê-lo.]

[Qualquer detalhe sobre o que experenciei é uma sombra em minha mente, contudo lembro-me perfeitamente do dia que quase perdi minha vida.]

[Uma criatura das trevas veio de outro mundo através de magia Escura, e acabei lutando contra ela. Sai vitorioso, contudo, sofri um ferimento profundo na cabeça, o que me fez desmaiar.]

Sariel e Luna olharam com mais atenção o dragão e perceberam uma grande cicatriz acima do olho direito e quase indo até seu pescoço.

[Quando acordei, já estava aqui. Fui trazido pelos anjos com magia de Alteração e meus ferimentos tratados, mas perdi a memória de quase toda minha vida devido ao golpe.]

— Alteração? Como? — interrompeu Luna.

— É uma magia que consome um imenso poder mágico, mas é semelhante a conjurar uma criatura — explicou Sariel. — É difícil explicar, mas se você remover uma parte de seu corpo, como cabelo, e se afastar dela, será capaz de fazer você e a parte do seu corpo removida “trocarem” de lugar.

— Como teletransportação — completou o dragão.

— Entendo... — disse Luna. — Ah, perdoe-me por minha interrupção! Por favor, continue.

— Certo...

[O tratamento demorou meses, e os anjos tiveram que ensinar tudo que havia esquecido durante esse tempo. A origens dos anjos e dragões era uma das poucas memórias que permaneceram intactas, mas me ensinaram sobre o portal, da mensagem de Kura e seu objetivo neste mundo de ajudar a humanidade.]

— De fato foi o que aconteceu... — disse Luna. — Mas os anjos traíram a humanidade e tentaram exterminá-la... Não faz sentido...

— Os anjos tentaram exterminar a humanidade?! — surpreendeu-se Feykron. — Mas... eles jamais fariam isso!

— Foi exatamente o que ocorreu — disse Sariel. — Muitos acreditam que os anjos mentiram sobre serem enviados por Kura e que apenas queriam sondar as forças humanas antes de atacar.

O dragão permaneceu em silêncio e com uma expressão profunda e pensativa.

— Sabe de algo? — perguntou Luna.

— É melhor deixar que ele termine sua história — respondeu o viajante.

— Ah, me desculpe...

[Bem... após alguns meses os anjos me informaram que em breve eu estaria totalmente curado e que me tirariam daqui em breve. Entretanto, um dia eles deixaram este local às pressas dizendo que algo urgente havia acontecido, e que me tirariam daqui assim que possível.]

[Todavia, isso nunca aconteceu e estive preso aqui por sabe-se lá quantas décadas ou séculos. Eventualmente essas criaturas das trevas começaram a surgir, e algumas até ousaram me atacar, mas logo percebiam meu poder e fugiam.]

— Deixaram as pressas... — murmurou Sariel. — Provavelmente foi quando a guerra começou e a humanidade passou a ganhar terreno novamente, cerca de 110 anos atrás.

— Guerra? — perguntou o dragão. — O que aconteceu no mundo exterior enquanto estive aqui?

— É como dissemos mais cedo — disse Luna. — Os anjos... tentaram massacrar a humanidade, quase levando-a ao extermínio, mas um anjo se virou contra a própria raça e liderou os humanos. Graças a ele a humanidade venceu e os anjos foram expulsos.

— E tudo isso terminou há apenas 20 anos — disse o viajante.

— E quanto a outros dragões? — perguntou Feykron.

— És o primeiro que alguém encontra desde o fim da guerra.

Ao ouvir isso, Feykron olhou com atenção os dois, procurando algum sinal de mentira nas palavras deles.

— E por que estão juntos agora? — perguntou desconfiadamente.

Sariel e Luna contaram tudo o que ocorreu no mundo nas últimas décadas, a história que os fez se encontrarem e tudo que passaram até agora. O dragão ouviu tudo com atenção e — surpreendentemente — sorrindo, o que faz sentido, já que esteve preso por mais de um século sem contato com outro ser senciente e sem nenhuma distração.

Após um bom tempo, os dois finalizaram de contar tudo, fazendo o dragão permanecer contemplativo por um bom tempo.

— Durante todo esse tempo... achei que os anjos eram genuinamente bons... mas agora não sei no que acreditar — disse Feykron custosamente. — E se tiverem me enganado assim como fizeram com a humanidade?

— Mas não recuperaste sua memória? — perguntou o viajante. — Mesmo que tenha sido ferido na cabeça, as memórias deveriam ter voltado.

— É verdade — disse a princesa. — Se precisar de ajuda, Sariel pode cuidar de ti.

— Para recuperar memórias seria necessário alguém com o elemento Alteração, e tu possui o elemento Fogo.

— Sariel é um volátil, portanto ele...

— Um volátil?! — interrompeu Feykron, quase ficando de pé se não fosse pelo teto impedindo-o.

— Si-Sim... — Luna se assustou com a surpresa do dragão, e Sariel ficou em alerta.

Após perceber que sua reação assustou os dois, recobrou sua postura e tossiu baixo.

Cof! Perdoem-me por minha reação — desculpou-se. — Mas eu fui ferido com magia Escura, portanto minhas memórias não podem ser restauradas.

— Magia Escura? — perguntou a princesa.

— Magia de Conjuração — disse o viajante enquanto fazia uma pequena esfera roxa surgir em sua mão. — É o nome que alguns anjos se referiam a este elemento a princípio, além de “Elemento Corrupção”.

— Sim... Afinal a Conjuração corrompe tudo o que toca, seja a boa índole de uma pessoa, o tempo de vida de qualquer ser, outros elementos, conhecimento... — explicou Feykron. — Por isso os anjos estudavam tanto este elemento por mais que sentissem aversão a ele, já que não o possuem por serem criações perfeitas de Kura.

— Mas... Conjuração é um elemento como qualquer outro — disse Luna. — Por que é tão especial e diferente dos outros?

— Diga-me, por acaso já encontrou o elemento Conjuração naturalmente? Sem influência humana? — perguntou o dragão.

— Bem... — a princesa pôs-se a pensar. — Mas e as pedras de Conjuração?

— As pedras de Conjuração, assim como o próprio elemento não se formam naturalmente em nosso mundo — explicou o viajante. — Se algum lugar possui pedras ou uma concentração desse elemento, então com certeza foi por influência humana.

— Os anjos... e eu, acreditamos que o elemento Conjuração não surgiu nos humanos, e sim nos outros mundos — disse Feykron. — Diferente de todos os elementos, Conjuração é o único que apenas se manifesta nas pessoas na idade adulta, portanto é possível que pessoas que “despertam” este elemento tenham feito um contrato com algum Deus da escuridão, recebendo algum benefício além do elemento.

— Então Conjuração é como uma... doença? — perguntou Luna. — E o que quis dizer com os anjos serem perfeitos?

— De acordo com os Primeiros Anjos nascidos através de Kura, a raça angelical foi criada a partir de um pedaço da alma da Deusa, que se transformou nos Primeiros Anjos, por isso os anjos não possuem magia escura, um elemento maligno.

— Mas e vocês, dragões?

— Nós dragões fomos criados pelos Primeiros Anjos, portanto também não possuímos este elemento.

— Espera, então uma raça poderosa como a sua foi criada por anjos? — perguntou Sariel. — Achei que foi Kura quem os criou.

— Os Primeiros Anjos possuíam parte do poder divino de Kura, tanto que a Deusa disse que eles eram Semideuses, seres que ascenderam a mortalidade e são capazes de criar a vida assim como um Deus, apesar de inferior. Os dragões são filhos dos anjos, e o Primeiro Dragão também é um Semideus. Me pergunto por que vocês, humanos, são diferentes dos anjos e imperfeitos mesmo sendo filhos de Kura...

— Será possível que os anjos decidiram eliminar a humanidade por suas... imperfeições? — contemplou o viajante.

— Como eu disse — começou o dragão enquanto ajeitava seu corpo numa posição mais confortável. — Eu acreditava que os anjos eram bons, mas depois do que me disseram... me pergunto se fui enganado...

O dragão se calou por uns momentos enquanto um olhar distante encarava a escuridão.

— Me pergunto se eu e meus parentes concordavam com o extermínio da humanidade... — disse com dificuldade. — Talvez não me tenham falado sobre a guerra justamente por temerem que eu os traísse, igual Ardos fez. Desde o início os anjos demonstraram aversão à Conjuração, mas se mostravam curiosos sobre ele por ser o único elemento exclusivo aos humanos. Talvez tenham realmente achado que seria melhor eliminar este elemento do mundo e a única maneira de fazer isso seria com o fim da humanidade.

— Mas... nem todos que possuem esse elemento são maus! — disse Luna. — Aegreon está nos ajudando, e Sariel me salvou e está me treinando.

Ao ouvir isso, o dragão olhou desconfiadamente para o viajante.

— Por que está ajudando-a, um anjo? — perguntou para Sariel. — Por que correr o risco de abrir o portal novamente?

— Apenas desejo ajudá-la — respondeu o viajante.

As sobrancelhas do dragão franziram, seu rosto se aproximou de Sariel e assumiu uma postura intimidadora.

— Está mentindo, humano — disse com convicção. — Mente a todo momento e engana esta jovem moça. Sariel nem é o nome que seus pais lhe deram, certo?

Quando ouviu isso, uma expressão surpresa surgiu no rosto do viajante e ele recuou alguns passos.

— Como... Sabe? — Sariel deixou escapar essas palavras.

— O que quer dizer com isso? — perguntou Luna confusa.

— Por que usa este nome? — continuou Feykron com uma postura intimidadora, ignorando a pergunta da princesa. — Sabe o que ele significa e mesmo assim se apresenta por este nome.

— Como assim? — Uma expressão confusa surgiu no rosto do viajante.

O dragão observou Sariel com atenção acreditando que ele estava tentando enganá-lo, contudo realmente havia dúvida no rosto dele.

— Então não sabe o que significa, mas o usa mesmo assim... Onde encontrou este nome, e por que o utiliza? — Feykron continuou a pressionar o viajante.

— Não entendo... — disse Luna. — Seu nome é Sariel, certo? — A princesa olhou para o viajante em busca de confirmação, mas apenas viu um rosto com uma expressão conflitada.

O dragão, sem estar satisfeito, continuou a fazer perguntas a Sariel.

Após um período de silêncio por parte do viajante, ele finalmente decidiu quebrá-lo.

— Kura me chamou por reste nome...


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