O Primeiro Serafim Brasileira

Autor(a): Anosk


Volume 1

Capítulo 57: Lâmina Corrompida

As chamas roxas avançaram rapidamente na direção do trio, quando uma parede dourada surgiu bem diante de Sariel, parando tranquilamente o fogo.

A criatura, percebendo que as chamas não fariam nada, usou suas asas e começou a martelar a parede, causando tremores e fazendo algumas rochas deslizarem.

— Hmm... Isso será um bom teste — disse Sariel. — Vou me segurar dessa vez, quero ver como se sai com essa coisa.

— Eu?! — surpreendeu-se Luna. — Mas como?

— Vou fazer igual quando lutamos contra Sharaad, protegendo as paredes com Proteção para que não caiam enquanto lutamos contra ela. Mire em pontos sensíveis como nos olhos ou no interior dela, e use sua força para tentar derrubá-lo ou criar uma brecha. Quando surgir a oportunidade eu a mato.

— Ok, farei o possível.

Quando a criatura percebeu que bater contra a parede não funcionaria, permaneceu parada enquanto observava os dois. Eventualmente, a criatura percebeu que sua cauda havia alguns pontos de ferrugem, que haviam oxidados devido o contato com o ar enquanto sua cauda estava quente.

Com isso, ela levou a cauda até a boca e usou suas presas para afiar a lâmina e remover a ferrugem, fazendo seu relho esquentar novamente com o atrito em uma cor roxa intensa.

Conforme fazia isso, um líquido escuro e gosmento pingava de sua boca e corpo, derretendo qualquer coisa que tocasse. Sua consistência era semelhante a alcatrão, como se a criatura tivesse acabado de sair de um poço de piche.

Subitamente, outras paredes ao redor dela se formaram, impedindo qualquer rota de fuga, enquanto Luna e Sariel avançaram rapidamente em sua direção.

A primeira reação da criatura foi abrir sua boca e cuspir fogo novamente, entretanto um escudo dourado surgiu ao redor dos dois, cancelando qualquer dano.

Com um tempo de reação rápido, a criatura usou uma de suas asas para tentar esmagar o viajante enquanto sua cauda fazia um movimento horizontal para cortar a princesa no meio.

A asa atingiu Sariel e o escudo dourado absorveu todo o dano, enquanto Luna deu um salto acrobático por cima da cauda, sentindo o vento e o calor passarem perto demais de sua pele.

Apesar de ambos os golpes terem falhado, a criatura aproveitou o movimento de sua cauda para atingir o viajante ainda imóvel embaixo da asa dela.

Por mais que sua cauda fosse feita de metal, era relativamente flexível e capaz de se curvar um pouco, permitindo assim que seu relho atingisse Sariel.

Entretanto, o escudo dourado o protegeu de qualquer dano.

Tendo se distraído com o viajante, não percebeu Luna lançando largas estacas de gelo em seu rosto e cegando seu olho esquerdo, contudo a criatura não gritou de do.

Sariel desfez seu escudo e usou sua força para empurrar a asa da criatura, enquanto a princesa contornava o grande corpo dela para tentar atingir o outro olho.

No entanto, a criatura usou de sua outra asa para tentar esmagar Luna.

A princesa quase não teve tempo para reagir, mas conseguiu saltar para trás e esquivar.

Para sua surpresa, logo que a asa atingiu o chão, uma explosão de chamas roxas a atingiu, fazendo-a sentir uma dor terrível, bem semelhante aos ferimentos que sofreu contra Sharaad.

Sariel pulou na direção da criatura com a glaive em mãos, se aproximando do lado esquerdo do rosto dela e mirando no pescoço.

O viajante tentou usar o próprio corpo da criatura para caminhar por ela e cortar sua cabeça novamente, mas no momento que seus pés a tocaram, suas pernas afundaram na pele escura dela e começaram a arder.

Criando um escudo para se proteger, o viajante afundou mais um pouco até sentir algo sólido, para em seguida impulsionar os joelhos e pular em direção ao pescoço do monstro.

Entretanto, a criatura desviou do golpe, fazendo Sariel ficar de frente para ela.

O monstro não se demorou e atacou com seus chifres na tentativa de perfurá-lo, no entanto o escudo o protegeu novamente.

Enquanto isso acontecia, a criatura sentiu algo agarrar sua cauda e puxá-la. A força do puxão não era igual ao do viajante, mas foi o suficiente para derrubá-la de peito no chão.

Sariel aproveitou a oportunidade para avançar novamente, e a criatura usou uma de suas asas como escudo para se proteger, mas a glaive atravessou sua robusta carne — ou metal — e arrancou sua asa, desprovendo-a de um método de ataque e defesa.

A criatura ainda tentou usar a outra asa sem sucesso, com a lâmina atravessando-a com a mesma facilidade.

Com a glaive perto de cortar novamente seu pescoço, a criatura agiu desesperadamente e fez todo seu corpo explodir furiosamente em chamas roxas, forçando o viajante a abandonar a ofensiva e criar um escudo dourado para se proteger.

Luna acabou sendo pega pelo ataque e teve de se afastar também, sofrendo queimaduras pesadas e deixando uma porção do corpo carbonizado.

A dor que sentiu foi ainda pior, e sua consciência quase apagou devido à intensidade do fogo.

Sariel se moveu rapidamente e correu até a princesa para protegê-la e curá-la, fazendo as queimaduras desaparecerem em segundos sem deixar nenhuma marca.

 — Tudo bem? — perguntou preocupado.

— Sim — respondeu a princesa enquanto rangia os dentes de dor. — Nunca senti uma dor tão intensa quanto essa.

— Da próxima vez que se ferir, tente mover seu poder magico em direção aos seus ferimentos para que se curem — disse o viajante. — Peço desculpas por ainda não ter te ensinado a usar magia de Proteção, por isso tente fazer isso agora.

— Certo, mas o que faremos agora?

Enquanto essa conversa ocorria, a criatura deixou de queimar e se recuperou.

— Isso é o melhor que pode fazer? — perguntou Sariel. — Se for demais para você, posso matar esse monstro agora.

— Não! Apenas fui pega de surpresa, só isso!

— Uma surpresa pode decidir uma batalha, portanto sempre aguarde pelo pior — respondeu o viajante seriamente.

A criatura então olhou para suas asas decepadas e as pegou com suas patas.

Quando o viajante viu aquilo, achou que ela tentaria colocar as asas no lugar novamente, mas o que ela fez o surpreendeu.

A criatura colocou uma de suas asas embaixo de sua cabeça — no queixo — e a outra em cima, formando um tipo de capacete protegendo seu pescoço e a cabeça.

Agora quase não era mais possível ver o rosto da criatura, apenas um grande capacete de metal aquecido e negro e dois pontos roxos em meio à escuridão.

— Essa coisa realmente sabe como usar o elemento Reanimação... — comentou o viajante.

— Por acaso ela... colou... as asas na cabeça? — perguntou Luna tentando entender o que acabara de ver.

— O termo mais correto seria “transplantou” — respondeu Sariel. — Reanimação também permite que você transplante membros e órgãos, além de também permitir que você use restos orgânicos como arma. Existem povos que usam ossos humanos como armas e armaduras com Reanimação. Alguns até usam sangue.

— Achei que Reanimação apenas reerguia cadáveres... — disse Luna. — Nunca pensei que pudesse ser tão poderoso.

— Não existe um elemento mais fraco que o outro, apenas seres mais fracos — disse o viajante. — Agora vamos acabar logo com isso, se eu ver que precisar de minha ajuda novamente, matarei essa coisa no mesmo instante.

— Certo.

Com isso, os dois avançaram novamente contra a criatura, que cuspiu através de seu capacete chamas roxas.

Os dois saltaram por cima do fogo e se movendo juntos, com Luna indo até a cabeça da criatura e Sariel até as patas dianteiras.

A princesa queria provar que havia aprendido tudo que haviam ensinado e que era capaz de lutar contra uma criatura perigosa como aquela, portanto estava totalmente focada e se movia ainda mais rapidamente.

— Vou derrubá-la! — disse o viajante. — Quando ela cair, segure a cabeça dela contra o chão.

— Entendido!

O viajante chutou com força a pata da criatura, fazendo-a se ajoelhar, e a princesa aproveitou o momento para pular, agarrar a cabeça da criatura e trazê-la para o chão, deixando-a de peito para cima.

A criatura se debateu com fúria, e o fato de a pele dela queimar Luna como se estivesse abraçando lava tornava a tarefa de segurá-la extremamente difícil, sem contar seu tamanho muitas vezes maior que a princesa, mas ela ignorou a dor e a manteve no chão.

— Não esquece de se curar! — gritou Sariel.

Lembrando-se do conselho dado pelo viajante, Luna fez seu poder mágico se mover por toda a parte superior de seu corpo que estava em contato com a criatura, sentindo imediatamente a dor diminuir e sua pele começar a se curar mais rápido do que era queimada.

Estava focada em manter a criatura no chão, portanto não percebeu que seus ferimentos brilhavam em dourado conforme fazia o que tinha do elemento Proteção para curá-la.

Seu corpo também estava acumulando gelo, já que estava movimentando não apenas um elemento, e sim todo seu poder mágico, desperdiçando bastante de sua energia, mas isso era esperado já que era a primeira vez que tentava se curar.

Enquanto isso acontecia, o viajante saltou na direção da criatura mirando a cabeça, quando percebeu uma pequena rachadura no peito dela com um pouco de líquido escuro e magma roxo vazando por ele, muito provavelmente era o ferimento que havia causado antes de ser possuída.

Sem pensar duas vezes, mergulhou no peito da criatura e cravou a lâmina nela, fazendo a criatura se debater ainda mais.

Acurralada, a criatura fez seu corpo todo expelir chamas roxas novamente, causando queimaduras terríveis em Luna e Sariel.

O viajante, entretanto, não abandonou seu ataque e forçava a glaive ainda mais fundo no peito da criatura enquanto se curava. Como havia mudado seu elemento principal para Proteção, mesmo em meio a tantas chamas era capaz de se curar mais rápido do que se feria.

Já Luna, sofria cada vez mais danos e lutava para não perder a consciência devido à dor intensa de queimadura.

A princesa fez todo seu poder se mover pelo seu corpo, fazendo com que uma poderosa nevasca surgisse e esfriasse a criatura, ajudando a mantê-la parada.

Sem perceber, Luna deixou escapar um grito poderoso e carregado de dor enquanto seu gelo congelava completamente a cabeça da criatura enquanto Sariel perfurava seu peito.

Com o esforço em conjunto dos dois, o viajante atravessou o corpo da criatura saindo pelas costas dela com um grande coração negro — cerca de 3 vezes maior que ele — na ponta de sua glaive.

A princesa percebeu que a criatura parou de se mover e caiu de costas para o chão, respirando pesadamente e com um cansaço enorme tomar conta.

Seus olhos observavam a escuridão que era o abismo, quando Sariel apareceu em seu campo de visão.

— Bom trabalho — disse ele. — Mas lembre-se de se curar.

Com a adrenalina passando, percebeu uma dor forte de queimadura por todo o corpo.

Após se dar conta de que estava ferida, fez seu poder mágico circular por todo o corpo conforme a dor diminuía e sentia sua pele se reconstruindo.

Após se curar por quase um minuto, se sentou e olhou para a criatura morta, surpreendendo-se com toda a cabeça dela completamente congelada.

Até mesmo o fogo havia sido congelado de alguma maneira.

— O quê...? Eu fiz... fiz isso? — perguntou com dificuldade.

— Sim, e dessa vez não se descontrolou — respondeu Sariel. — Fez um ótimo trabalho nessa luta.

— Obrigada — agradeceu com um grande sorriso. Aquela criatura era algo que jamais esperava enfrentar, e mesmo assim foi capaz de segurá-la e até a congelá-la, sem contar que Sariel a parabenizou, fazendo-a se sentir orgulhosa de seu feito.

O viajante ofereceu a mão para a princesa se levantar e ela aceitou.

— Até me impressionei com seu grito — disse Sariel. — Aegreon teria se assustado com ele.

— Que grito? — perguntou Luna sem entender nada.

— Não se lembra? — perguntou o viajante. — Você soltou um grito de guerra bem alto. Parecia uma verdadeira guerreira.

— O quê?! Eu não fiz isso! — protestou a princesa acreditando que Sariel estava apenas brincando com ela novamente.

Haha! Não precisa se envergonhar — disse o viajante. — É normal deixar suas emoções escaparem durante uma batalha intensa. Vamos indo.

— Espera! Estou falando que não é verdade! Eu nem me lembro disso! Deve ter se enganado! — Luna seguiu o viajante conforme tentava provar que ele estava errado, mas nada que dizia funcionava.

Os dois deixaram o corpo da criatura para trás conforme ela lentamente se dissolvia em um líquido preto e gosmento, deixando apenas a cabeça congelada como prova de sua existência.

Voltando finalmente para o lago, os três finalmente atravessaram o magma na direção do buraco que viram mais cedo. Naquele ponto a princesa já havia desistido de argumentar com o viajante.

Chegando no buraco, perceberam ser grande o suficiente para os três caminharem lado a lado.

O túnel tinha um aspecto estranho, como se não tivesse sido escavado com ferramentas como picareta. Na verdade, havia marcas de arranhões — semelhantes a garras — e até algumas rochas ou minérios com marcas de mordidas.

Luna teve sua atenção chamada por esses detalhes.

— Essas marcas... por acaso foi aquela criatura que matamos que fez isso? —perguntou.

— Provavelmente, o corpo dela tinha partes feitas de metal, então é bem capaz ter sido ela.

— Mas o túnel é muito pequeno.

— Talvez ela tenha vindo do lugar que estamos indo há muito tempo e decidiu habitar o lago de magma quando o encontrou, vivendo aqui e crescendo aos poucos até ficar daquele tamanho.

O trio continuou a atravessar o túnel até que chegaram ao fim dele e alcançaram um grande salão amplo, com dezenas de metros de altura e largura.

Estava totalmente escuro, ao ponto de ser impossível ver o teto ou o outro lado do salão.

A única coisa que podiam ver sem luz era, na verdade, algo bem estranho. O lugar era construído em mármore, mas havia um cheiro forte de grama, flores e madeira no ar, e até mesmo o chão tinha um pouco de musgo, folhas e galhos.

Sariel e Luna usaram Alteração para verem se havia algo ali, percebendo uma grande aura verde a apenas alguns metros de distância deles, uma aura bem menor, porém muito mais poderosa do que a criatura de fogo que mataram.

Ambos ficaram em alerta, quando a aura se moveu e um vento causado por sua respiração — cujo cheiro era semelhante ao de uma floresta — balançou os cabelos e roupas deles.

Sem saber com o que estavam lidando, criaram uma esfera de luz extremamente brilhante que iluminou todo o salão, revelando a última coisa que esperavam encontrar ali.

Com escamas marrons semelhantes a madeira e olhos verdes como esmeraldas, uma grande cabeça se aproximou do trio, observando-os com serenidade, curiosidade e sem mostrar agressividade.

Ao ver aqueles pequenos seres ali, o dragão deixou escapar um suspiro de surpresa e, com uma voz tão profunda quanto aquele lugar, disse: — Quis es? Quid tu hic?


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