O Primeiro Serafim Brasileira

Autor(a): Anosk


Volume 1

Capítulo 54: Reino Subterrâneo

O grupo desceu por vários minutos a escada. Conforme desciam, era possível ver vários veios de pedras mágicas na parede, bem similares às pedras elementais.

— Essas pedras... — disse Luna. — Se parecem que as pedras que já usamos.

— Não parecem, são — disse Sariel. — As pedras elementais se formam naturalmente igual como qualquer minério.

— Ah... então é assim que elas se formam... — disse a princesa.

Com a curiosidade tomando conta dela, aproximou a mão do que provavelmente era uma pedra de Fogo e sentiu um calor similar de uma fogueira quando a tocou.

— Também é possível cria-las condensando seu poder mágico — disse o viajante. — Normalmente esse é o método usado para criar pedras mais poderosas, já que sempre há muitas impurezas nas pedras formadas em minas.

O grupo desceu por mais algumas centenas de metros até que a escadaria finalmente acabou e conectou-se com um longo corredor relativamente largo.

Dessa vez, as paredes eram totalmente trabalhadas em mármore com várias imagens dos anjos nelas.

Como não havia nada acontecendo no momento, Luna se lembrou de um detalhe sobres as sombras.

— Sariel, aquelas sombras que nos atacaram mais cedo — começou. — Eram feitas de Conjuração, mas creio que senti um pouco de reanimação.

— Sim, também senti isso — disse Sariel. — Na verdade é impressionante que tenha sentido Reanimação, já que Conjuração tende a se misturar com os outros elementos e mudá-los.

— Mas por que eram diferentes das outras sombras? Elas até eram capazes de andar na luz.

— É muito cedo para ter certeza, mas creio que essas criaturas são como parasitas que buscam cadáveres para “possuir” e se tornarem mais fortes.

— Igual aquele necromante?

— Ah, não te expliquei a diferença entre Reanimação e Conjuração ainda, certo?

Luna balançou a cabeça negativamente.

“Tanto Reanimação quanto Conjuração podem reerguer os mortos, mas há uma diferença entre ambos. Conjuração permite que um cadáver permaneça reerguido por tempo indeterminado até que seja desconjurado ou derrotado, mas o corpo reerguido poderá usar apenas 5% de seu poder original de quando estava vivo.”

“Já Reanimação permite que o corpo reerguido use 100% de seu poder, portanto se você usasse magia de Reanimação em alguém do Conselho por exemplo, seria o mesmo que lutar contra ele vivo.”

“Mas também há outras diferenças, Conjuração é uma magia de ativação única, enquanto Reanimação requer que você gaste seu poder mágico constantemente.”

— Por isso elas foram tão insistentes tentando nos atacar? — perguntou Luna. — Para “possuir” nossos corpos?

— Provavelmente, devemos ser como uma joia rara que não devem perder de jeito nenhum.

— Mas... a magia deles não vai acabar uma hora?

— Lembre-se que são uma forma de vida totalmente diferente de nós, portanto sabe-se lá como as coisas funcionam — disse Sariel. — Minha teoria é que seus corpos são feitos inteiramente de Reanimação mesclado com Conjuração, quase como um fantasma. Por isso morrem tão facilmente sem um hospedeiro, pois seus corpos quase não são “sólidos”.

Enquanto essa conversa ocorria, o grupo percebeu uma luz ao fim do corredor. Aproximando-se com cuidado, depararam-se com uma espécie de sacada na beira de um precipício, e o que havia do outro lado do abismo os deixou sem palavras.

Com uma extensão territorial maior que Krimisha e com edifícios com centenas de metros de altura, um grande reino subterrâneo se estendia até além da vista, rodeado por um abismo tão fundo que era impossível ver o fim. Havia uma grande ponte que conectava a cidade com os túneis também.

Toda a pedra havia sido cavada dando espaço o suficiente para que o teto ficasse a centenas de metros de altura e quase era impossível ver o topo devido a escuridão.

As construções eram grandes e imponentes, sendo possível alojar dezenas de milhares de pessoas naquela cidade subterrânea.

— Mas o que...? — suspiraram todos ao mesmo tempo.

— Os anjos construíram isso?

— Nunca vi nada igual...

Os olhos de todos estavam arregalados e brilhavam enquanto observavam aquela cena, e até mesmo Aegreon tinha uma expressão surpresa.

Após permanecerem em transe por alguns segundos, o grupo despertou e logo puseram-se a discutir.

— Melhor termos cuidado — disse Raymond. — Pode haver anjos aqui.

— Negativo — respondeu Sariel. — Não há iluminação nas construções e não vejo nenhuma aura aqui. Este lugar está totalmente abandonado.

— Melhor seguirmos logo o caminho — disse Shiina apontando para a direita, onde havia um corredor que não perceberam por sua atenção ter sido roubada pelo reino subterrâneo.

Seguindo novamente pelo corredor, passaram-se mais alguns minutos quando o túnel se abriu para um grande salão com dezenas de metros de largura e altura, com vários corredores conectados neles e várias estátuas de anjos e dragões. Também havia o que parecia cadeiras e mesas, além de vários restos de mármore quebrado no chão e alguns pilares de sustentação partidos.

— Que lugar imenso... — suspirou Luna.

Mais uma vez todos se surpreenderam com a dimensão do lugar. A pedra estava tão bem esculpida que até se esqueceram de que estavam no subsolo.

— Parece que uma batalha ocorreu aqui — observou Sariel.

— Tem razão — respondeu a princesa. — Há muita coisa quebrada aqui.

— Avancemos com cuidado — disse Aegreon enquanto caminhava.

Desviando dos destroços, o grupo seguiu seu caminho, chegando até cerca da metade do salão quando o viajante parou subitamente.

— Sinto várias auras de fogo se aproximando pelo Leste.

— Fogo!? — exclamou Shiina. — Não são aquelas sombras?

Aguardando um pouco, várias criaturas com o corpo coberto em lava surgiram de corredores menores e correndo em direção ao grupo.

Suas formas variavam muito, sendo algumas humanoides, quadrupedes, semelhante a serpentes e até o que parecia ser peixes com pernas e braços.

Algumas das criaturas lançaram bolas de fogo a distância, enquanto outras avançavam contra o grupo.

Uma criatura semelhante a um lobo com a boca na vertical tentou morder Luna, lembrando-a de quando foi atacada na lagoa perto de K’ak’.

Contudo, dessa vez não era mais uma simples princesa indefesa.

Apontando a mão na direção da criatura, lançou uma estaca de gelo, perfurando-a por dentro e matando-a instantaneamente.

Raymond foi atacado por 3 criaturas semelhantes a peixes do tamanho de um rinoceronte que possuíam apenas dois braços e usavam-nos para rastejar em sua direção, deixando um rastro de lava no chão por onde passavam.

Apesar de precisarem se rastejar, moviam-se com velocidade impressionante e pularam na direção dele.

Usando a espada longa, Raymond cobriu sua lâmina com relâmpagos e cortou duas em um único golpe horizontal e destruindo a outra com um soco coberto em raios.

Outras duas criaturas semelhantes a morcegos — maiores que um homem adulto — voaram na direção de Shiina com suas asas flamejantes e tentaram atingi-la com suas garras de lava, e a assassina arrancou a cabeça de uma com uma esfera de vento e cortou a outra com sua espada.

Depois, criaturas com cerca de 3 metros de altura extremamente musculosas e com um buraco expelindo lava por um buraco no rosto tentaram socar Sariel e Aegreon, e os dois usaram suas armas para cortá-las no meio com facilidade.

Apesar da clara vantagem do grupo, as criaturas não paravam de surgir, portanto os cinco decidiram se afastar um do outro para expandir suas magias, com Sariel e Luna criando uma nevasca de alguns metros ao redor deles, Aegreon queimando as criaturas com um mar de fogo roxo, Shiina tornando-se invisível e matando as criaturas sorrateiramente e Raymond lançando inúmeros raios.

Agora que usavam mais poder, as criaturas não conseguiam nem chegar perto do grupo, e mesmo assim não desistiam de sua investida suicida.

Passados alguns minutos desse combate, um forte tremor pôde ser sentido no chão e todas as criaturas pararam de atacar, olhando ao redor preocupadas e em seguida espalhando-se por todo salão enquanto fugiam por qualquer corredor diferente daquele que vieram.

— O que aconteceu? — perguntou Luna.

— Tem um grandão vindo — disse Sariel.

Todos olharam com cuidado para os corredores de onde as criaturas vieram conforme o abalo tornava-se cada vez mais forte e um som alto e pesado ecoava pelas cavernas.

Passos...

O tremor era definitivamente os passos de uma grande criatura.

Passados alguns segundos de expectativa, a parede leste do salão começou a rachar conforme um som alto de batida podia ser ouvido.

A criatura estava tentando quebrar a parede.

Sem conseguir resistir a tamanho poder, a parede ruiu erguendo uma grande nuvem de poeira.

E do buraco da parede, surgiu uma criatura com cerca de 30 metros de altura, com o corpo coberto em lava e emitindo uma fumaça escura.

Seu formato era humanoide, mas todo seu corpo era feito de obsidiana. Possuía olhos escarlates flamejantes e dois grandes chifres curvados para frente que respingavam lava.

Seu corpo era robusto e pesado, e o calor emitido por ele era mortal.

Assim que essa criatura avistou o grupo, correu na direção de Sariel, o alvo mais próximo, enquanto derrubava toda coluna que impedia o teto de desabar.

Aquele monstro era como um touro furioso buscando destruir tudo em seu caminho.

Contudo, infelizmente para ela, o que havia em seu caminho era Sariel.

Com um olhar despreocupado, o viajante arremessou sua glaive na direção da criatura — sem usar magia — e a arma atravessou o pescoço dela e arrancou a cabeça com facilidade.

Seu corpo avançou mais alguns metros devido a inércia antes de cair, e a cabeça da criatura voou diretamente na direção do viajante que permaneceu parado.

Sem Sariel mover um músculo, a cabeça caiu quase em cima dele com um dos chifres a apenas alguns centímetros de tocá-lo.

Hunf, pensei que era mais forte — comentou enquanto tocava com o dedo a ponta do chifre, sem se importar com o calor dele.

Contudo, vários outros tremores começaram e se tornaram mais próximos.

Da mesma parede surgiram mais algumas dezenas de criaturas enormes, umas parecidas com a que Sariel acabou de matar, outras semelhantes com versões maiores dos monstros pequenos que enfrentaram agora há pouco.

E assim como a primeira criatura, estas correram na direção do grupo.

Os tremores criados por seus corpos pesados e a falta de colunas sustentando o teto começou a fazer algumas rochas desabar, colocando o grupo em risco de soterramento.

Tsc — praguejou Sariel. — Montem nos cavalos e vamos para o abismo. Se ficarmos aqui seremos soterrados. — O viajante então montou seu cavalo e fez sua glaive voar de volta até sua mão, cortando no meio o corpo de uma das criaturas sem nenhuma dificuldade na volta.

Por mais que houvesse pessoas extremamente poderosas ali, seria perigoso até para eles se fossem soterrados embaixo de uma montanha.

Seguindo as instruções do viajante, todos montaram nos cavalos e cavalgaram o mais rápido possível até o fim do salão enquanto o teto desabava e as criaturas avançavam furiosamente.

Usando magias, todos lançaram ataques para trás na tentativa de atrasar o avanço delas, matando algumas no processo que logo eram substituídas por outras surgindo do buraco.

— Como pode ter tantas destas coisas aqui? — perguntou Shiina. — Esse não era para ser um santuário dos anjos?

— É provável que há magma no fundo do abismo — supôs Aegreon. — Devem ter se esgueirado de lá.

Conforme o teto desabava e as criaturas continuavam a surgir, o grupo finalmente atravessou um pequeno portão que levava diretamente até a ponte. Assim como qualquer outra coisa que viram até agora, a ponte também era bem comprida e larga, com uns 20 metros de largura e cerca de 400 de comprimento.

— Sejam rápidos! — disse Raymond. — Apenas Kura sabe o que acontecerá caso cairmos.

Com os cavalos correndo o mais rápido que podiam, o grupo atravessou a ponte como um raio.

Contudo, logo as criaturas quebraram a parede que separavam eles da ponte e perseguiram o grupo.

Com o peso de dezenas de criaturas correndo pesadamente, a ponte não resistiu e começou a desabar, jogando as criaturas no abismo escuro consigo.

O grupo correu o máximo que pôde para chegar ao outro lado antes que o chão em que pisavam cedesse, mas havia alguém que estava mais para trás e muito provavelmente não conseguiria chegar a tempo.

Luna ainda estava aprendendo hipismo, portanto não era capaz de controlar bem seu cavalo, e isso se refletia com ela ficando para trás.

Todos conseguiram atravessar a ponte, sendo Luna a única que ainda não chegou no destino.

Quando estava prestes a chegar, o chão cedeu e Luna e Chinhej caíram no desfiladeiro.

— LUNA! — gritou Raymond conforme corria na direção do abismo, mostrando claramente que estava pronto para saltar e tentar salvar a princesa.

— PARE! — gritou Shiina enquanto segurava Raymond. — Tá querendo se matar!?

— ME SOLTE! — O guarda-costas tentou se desvencilhar da assassina, mas ela estava usando todas as suas forças para impedir que ele fizesse algo estúpido.

Raymond olhou desesperado para Luna conforme ela caia no desfiladeiro, quando um vulto passou rapidamente pelo canto do seu olho e saltou na direção do abismo.

Sariel mergulhou como uma águia e desapareceu na escuridão junto de Luna e Chinhej.


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