Volume 1
Capítulo 53: Sob o Olhar das Estátuas
Observando ao redor, mesmo que estivesse escuro era impossível não ver as imponentes estátuas dos anjos observando o altar.
— Mas o que... por que há algo assim aqui? — perguntou Shiina surpresa com a visão.
— Um santuário dos anjos!? — exclamou Sariel. — Tão fundo na terra? Por que criaturas aladas transitariam em um lugar desses?
— Nunca encontrou nada assim antes? — perguntou Luna.
— Nunca... — respondeu o viajante conforme se aproximava da plataforma circular e do altar. — E parece haver algum tipo de maneira de abrir alguma porta em algum lugar aqui.
Aproximando-se calmamente do altar, o grupo tomou todo cuidado do mundo ao pisar na plataforma temendo alguma armadilha.
— Essas coisas são dragões? — perguntou Raymond, referindo-se às estátuas dos dragões.
— Se parecem mais com Drakes — respondeu o viajante.
— Drakes?
— São como uma subespécie de dragões que não possuem asas.
Curiosos, cada um se aproximou de cada estátua para observar com atenção qualquer detalhe.
Luna se aproximou das estátuas dos Drakes, e percebeu que, além do corpo robusto e com escamas de mármore, possuíam olhos feitos de alguma pedra cor marrom, bem parecido com pedras de Alteração, sem contar com uma pedra circular vermelha na testa e garras e presas feitas da mesma pedra.
Passando para outros Drakes, possuíam as mesmas similaridades, com a única exceção sendo as cores das garras que eram feitas de outras pedras Elementais de Combate, como Água, Gelo, Raio, Vento e Natureza.
Raymond se aproximou das estátuas de anjos, e elas também tinham olhos feitos com pedras de Alteração e outras pedras Elementais de Combate em suas roupas.
Sariel se moveu em direção ao centro da plataforma onde havia uma coluna cilíndrica com cerca de 1 metro de altura e uma pedra de Alteração redonda e pequena no topo.
— Hmm, o que é preciso ser feito aqui?
— Ei! Tem umas gemas de Alteração nos olhos dessas estátuas maiores — disse Shiina, que havia escalado uma das estátuas. — E parece que dá para mover os olhos.
— Consegue fazê-los olharem para o altar? — perguntou Sariel.
— Vou tentar!
Movendo cuidadosamente os olhos das estátuas, a assassina focou os dois olhos diretamente na minúscula pedra de Alteração ao lado do viajante e, quando ambos os olhos se alinharam, um feixe de luz extremamente brilhante surgiu das pupilas da estátua e atingiram a pedra no centro, mas sem nada mudar.
— Não aconteceu nada... — disse Raymond.
— Talvez isso tenha que ser feito com as outras estátuas — gritou Shiina. — Vou tentar fazer o mesmo.
Com isso, a assassina saltou habilmente por dezenas de metros até alcançar a segunda estátua, alinhando novamente os olhos dela até que os feixes de luz surgissem e atingissem a pedra no altar.
Quando foi fazer o mesmo com a última, percebeu algo que provavelmente frustraria os planos do grupo.
— Droga... — praguejou. — A última estátua está com uma gema faltando!
— Vamos procurar ao redor — sugeriu Raymond. — Talvez encontremos algo.
— Esperem — disse Luna. — Sinto várias daquelas criaturas se aproximando.
— Não vão ousar chegar perto com todo esse brilho — disse a assassina apontando para as estátuas com seus constantes feixes de luz iluminando o centro.
— Não, tem algo de diferente na aura delas! — disse a princesa.
E provando o que acabara de dizer, várias criaturas feitas de sombras se aproximaram lentamente do local.
Contudo, suas formas estavam diferentes.
Dessa vez possuíam uma forma totalmente humana, mas ao invés de pele e carne, o que podia ser visto era um esqueleto humano com ossos escuros e a sombra de seus corpos formando uma espécie de pele quase liquida. Onde seria os olhos, havia apenas um brilho roxo flutuando no meio de uma escuridão absoluta, e os braços esqueléticos feitos de sombra seguravam picaretas, pás ou qualquer objeto que pudesse ser usado como arma.
A maioria eram apenas como esqueletos feitos de ossos escuros e sombras, mas alguns possuíam algumas roupas de aventureiros parcialmente decompostas, segurando espadas e qualquer outra arma.
As criaturas começaram a correr na direção do grupo empunhando suas armas, e todos se prepararam para lutar, quando uma mudança ocorreu.
As estátuas de anjos e Drakes começaram a se mover, e os olhos deles começaram a brilhar em marrom.
Então as estátuas se moveram em uma velocidade inacreditável considerando que eram feitas de mármore e atacaram as criaturas.
Os anjos brandiam suas armas, cortavam as sombras e lançavam magias, enquanto os Drakes mordiam, arranhavam e expeliam magia de suas bocas.
Os movimentos delas eram precisos e fluídos, o que faria qualquer um acreditar que eram anjos e Drakes de verdade disfarçados com algo semelhante a mármore.
As sombras eram capazes de resistir à luz, mas não contra as estátuas e eram derrotadas uma por uma.
Quando eram mortas, a sombra de seus corpos se dissipava como se nunca tivessem existido, e os esqueletos que possuíam caiam no chão sem a sombra para sustentá-los, para depois derreter em um líquido escuro e bizarro.
— O que é isso? — perguntou Luna.
— Golens de batalha! — disse Sariel animado. — Que autômatos impressionantes!
— Golens... você tinha mencionado isso antes — disse a princesa pensativa. — É com magia de Selagem, certo?
— Exato! As pedras de Alteração servem para permitir a movimentação das estátuas, exatamente como nossos músculos, enquanto as pedras de magias de Combate lhes dão poder ofensivo e a pedra de Selagem, que está dentro delas, serve como o cérebro que comanda todas as funções. E pensar que há tantas delas aqui.
— Mas por que não nos atacaram quando chegamos aqui? — perguntou Shiina enquanto olhava impressionada para a batalha travada pelas estátuas.
— As pedras de Alteração nos olhos delas também servem para enxergar a aura e os elementos — respondeu o viajante. — Devem ter sido programadas para que atacassem qualquer aura hostil.
As estátuas continuaram a lutar contra as sombras sem nenhum problema, entretanto as criaturas não davam nenhum sinal de parar, pelo contrário, cada vez mais apareciam.
— O que fazemos agora?
— Vamos abrir a passagem para o santuário, é claro.
— Não é mais fácil destruir o chão de uma vez? — perguntou Shiina.
— O chão está reforçado com magia de Proteção — respondeu Sariel. — Sem contar que é perigoso fazer algo desse tipo no subsolo.
— Mas como vamos abrir? — perguntou Luna. — Não vejo nenhuma gema de Alteração ao redor.
Ao ouvir isso, o viajante encarou Aegreon.
Percebendo esse gesto, todos olharam para o Pilar e para Sariel sem saber o porquê de ele estar encarando-o.
Aegreon encarou de volta Sariel com um olhar afiado, quando bufou de descontentamento, se aproximou de seu cavalo e retirou uma gema de Alteração nas bagagens dele.
Quando viram aquilo, todos — exceto Sariel — soltaram um suspiro de surpresa.
— Como conseguiu isso? — perguntou Raymond.
— K’ak’... — murmurou Luna. — Você já tinha recebido uma gema de Ilusão de Yaxun, essa gema de Alteração também foi um presente dele?
— Sim — respondeu Aegreon claramente incomodado.
— Então dê logo a gema para Shiina — apressou o viajante.
Mais uma vez, o Pilar encarou Sariel com raiva. Conseguir uma gema não era algo fácil, e aquele desgraçado já havia feito ele gastar uma delas em Krimisha, e agora fazia o mesmo naquela situação.
Se desfazer de uma gema Elemental era uma perda pesada, mas quem sabe o que poderia haver no santuário que era claramente especial, pois foi construído no subsolo, um local que os anjos não gostavam muito.
Aceitando a derrota, Aegreon entregou a pedra para Shiina e ela se apressou para colocá-la no olho da estátua restante.
A gema era um pouco menor do que deveria, mas felizmente foi o suficiente para se alinhar com a pedra no altar e emitir um feixe de luz.
Agora, com todos os olhos alinhados, a pedra no altar refletiu toda a forte luz do local revelando por completo toda a sala, permitindo que Luna percebesse algo nas paredes que não pôde devido à escuridão: Várias pedras mágicas grudadas nelas da mesma maneira que veio de minérios estariam.
Após alguns segundos da pedra ser atingida pela luz, um barulho alto de algo pesado se movendo começou a soar.
O chão começou a tremer, e todos olharam surpresos para baixo vendo o chão descer e revelar uma escada circular que descendia ainda mais fundo na terra.
Devido o brilho intenso, todas as criaturas se sentiram intimidada pela luz desistiram da invasão, e as estátuas que lutavam contra elas retornaram para o centro e permaneceram imóveis.
Todos olharam para o chão surpresos e com cautela, até que Sariel — despreocupado como sempre — começou a descer.
Seguindo os passos dele, todos desceram juntos.
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