Volume 1
Capítulo 52: Uma Jornada na Escuridão
A Cordilheira Belvuch já estava tão próxima que cobria toda a visão do norte, apesar de ainda faltar algumas horas até chegar os pés das montanhas.
Pela primeira vez desde que deixaram Fordurn, o grupo se deparou com um número considerável de pessoas viajando pelas estradas, a maioria eram comerciantes transportando seus bens em uma carroça.
Por causa disso, Shiina e Sariel tinham que manter uma ilusão constante para alterar a aparência do grupo, já que se expuseram demais na jornada até agora.
Após um tempo, o grupo chegou em uma bifurcação na estrada. Havia três caminhos, um levando para a esquerda, com uma placa escrita “Montanhas Prateadas”; outro para a direita, com a placa “Eribur”; e o último diretamente para o pé da cordilheira, com a placa “Minas Belvuch”, sendo essa a estrada mais avariada e aparentemente sem uso.
— Vamos pela esquerda? — perguntou Raymond.
— Não, vamos para as Minas Belvuch — respondeu Aegreon.
Sem esperar resposta, o Pilar guiou seu cavalo em direção à cordilheira, enquanto os outros viajantes lançavam olhares curiosos para o grupo.
— Tem certeza? Não poderemos escalar as montanhas, não há estradas para cavalos — disse Raymond conforme seguia Aegreon.
— O caminho direto até as Montanhas Prateadas tem uma grande presença da Vigília por ser movimentado e o levar para onde um dos Pilares vive. Por isso entraremos nas minas, além de que este caminho é mais rápido para as Montanhas Prateadas e evitamos a Vigília.
Então o grupo seguiu pela estrada acidentada em direção às minas, com a vegetação atrapalhando consideravelmente o caminho.
— Por que a estrada está tão má cuidada sendo que é uma mina? — perguntou Luna. — O movimento deveria ser alto.
— As minas Belvuch foram fechadas a cerca de dez anos atrás — explicou Sariel. — Apesar de ser a maior mina do mundo, ocorriam muitos desaparecimentos de qualquer pessoa que se aventurasse muito fundo nelas, mesmo em grandes grupos com guardas. Eventualmente os níveis superiores ficaram completamente esgotados e, como apenas haveria mais nas partes mais profundas, que eram perigosas, tiveram que fechá-las.
— Mas a Vigília não tentou fazer nada? Abandonar uma mina tão rica seria desperdício.
— Se me lembro bem, o Conselho tem discutido investigar as minas, mas temos problemas maiores atualmente.
— Não parece um lugar muito convidativo para nós — disse Luna. — Tem certeza de que é uma boa ideia?
— Então a princesinha tem medo do escuro?
— Relaxe, o que quer que esteja lá não deve ser mais perigoso do que já enfrentamos — disse Sariel. — Mas por acaso sabe que caminho seguir, Aegreon?
Ao ouvir aquela pergunta, o Pilar bufou. — Provavelmente haverá um mapa nas casas dos antigos moradores.
— Então vamos depender da sorte, huh?
Após essa conversa, todos concentraram-se no caminho à frente conforme a cordilheira tornava-se lentamente mais próxima.
***
Após cerca de uma hora, o terreno começou a se tornar íngreme quando o grupo se deparou com casas abandonadas. Décadas atrás, milhares de trabalhadores viviam ali com suas famílias, mas com o fim das atividades na mina, agora era apenas uma cidade fantasma.
Tavernas onde os trabalhadores beberiam após árduas horas de trabalho estavam totalmente silenciosas, as forjas onde equipamentos eram restaurados estavam com suas fornalhas frias, e os carrinhos por onde eram transportados a matéria bruta da mina estavam vazios.
Antes de seguirem o caminho para a entrada mais próxima da mina, o grupo procurou em algumas construções qualquer mapa ou informação dos túneis, encontrando alguns mapas velhos que ajudariam na jornada.
Depois disso, fizeram uma pequena pausa para descansar e comer para, então, finalmente adentrar nas minas.
Assim que se aproximaram, os cavalos começaram a ficar agitados, mas Sariel e Luna os acalmaram sem problemas.
Como era de se esperar, estava absolutamente escuro, entretanto tanto Sariel quanto Luna eram capazes de usar magia de Alteração e criar uma pequena esfera de luz que iluminaria o caminho. Felizmente os corredores eram de fato largos o suficiente para cavalos passarem.
— De acordo com o mapa e esta placa, devemos tomar o caminho da direita — disse o viajante enquanto averiguava o mapa.
Seguindo suas orientações, o grupo caminhou pelos largos túneis por horas, e logo Luna perdeu qualquer noção de tempo e profundidade, sem saber se subiam ou desciam, ou se já havia anoitecido.
Durante todo o caminho, a princesa sentiu como se estivesse sendo observada, olhando para trás toda hora que sentia isso, mas sem encontrar nada.
Eventualmente pararam para dormir, pois a noite havia chegado. Luna nem sabia dizer como Sariel e Aegreon eram capazes de distinguir isso, mas não era tão absurdo considerando a habilidade de ambos.
Luna fechou os olhos e tentou dormir, contudo o sentimento de estar sendo observada se tornou mais intenso, causando um crescente desconforto.
Eventualmente o sentimento se tornou tão forte que não pôde deixar de sentir que algo terrível aconteceria em breve.
Sem conseguir ignorar mais esse incomodo, abriu os olhos e procurou ao redor, avistando apenas a escuridão.
O sentimento de ser observada baixou aos poucos até sumir, dando-a a oportunidade para tentar dormir novamente.
Fechou os olhos, entretanto o sentimento retornou logo depois, apesar de não ter crescido como da última vez.
Luna esperou vários minutos para ter certeza de que aquele sentimento não cresceria e, como não aumentou, adormeceu após um bom tempo.
Enquanto dormia, o sentimento de ser observada começou a crescer novamente, até que sentiu que algo iria atacar, fazendo-a despertar em um pulo.
Assim que olhou ao redor, percebeu Sariel sentado calmamente enquanto brincava com sua Luz.
Contudo os cavalos pareciam levemente nervosos.
— Algum problema? — perguntou ele.
— Ah... senti algo estranho... Também sentiu isso?
— Sim, mas não se preocupe, estou de guarda.
— Ok...
Mais uma vez, a princesa dormiu, e dessa vez o sentimento não retornou.
Pela manhã, ou que provavelmente era manhã, Luna foi acordada, e todos tomaram um rápido desjejum e seguiram o caminho.
Eventualmente o grupo chegou em um caminho bloqueado por pedras.
— Tsc! Teremos que ir pelo caminho mais longo — reclamou Shiina.
— Sim, teremos que descer... — disse Sariel.
— Quão fundo desceremos? — perguntou Luna.
— Ainda é nos níveis mapeados, mas mais fundo que isso nos levará até as áreas onde os desaparecimentos provavelmente começavam.
Mantendo-se atentos, o grupo começou a descer, e o sentimento de estar sendo observado começou a crescer cada vez mais quanto mais fundo iam. Os cavalos também começaram a ficar nervosos.
Luna foi a primeira a sentir isso e lançava vários olhares para trás, o que fez Shiina a incomodar perguntando se ela realmente tinha tanto medo assim do escuro, mas eventualmente até ela começou a lançar alguns olhares cautelosos para trás.
Dessa vez, todos começaram a sentir a mesma coisa, apesar de Sariel e Aegreon se mostrarem calmos e indiferentes.
Enquanto caminhavam, Shiina subitamente virou para trás e lançou uma pequena esfera de vento na escuridão, com o som do vento ecoando pelos corredores até colidir com uma parede e reverberar.
— Qual o problema? — perguntou Luna em um tom travesso que nunca havia usado antes. — Tem medo do escuro?
— Eu não... Isso foi... — gaguejou a assassina, pega desprevenida pela provocação da princesa. Isso até a lembrou do comportamento de Sariel, talvez porque ela já tivesse passado tanto tempo com ele que começou a adquirir parte de sua personalidade jocosa.
Quando o viajante ouviu isso, limitou-se a apenas rir.
— Então vocês também sentiram isso? — perguntou Raymond.
— O que está acontecendo?
Todos permaneceram em silêncio esperando o que quer que seja de se aproximar novamente, quando Sariel subitamente avançou e agarrou algo no ar.
Entretanto, por mais que estivesse usando força o suficiente para que fosse impossível escapar, a criatura deslizou por sua mão quase como se fosse feita de líquido e sumiu.
Percebendo essa movimentação, os olhos da princesa brilharam em marrom enquanto procurava a aura de seu oponente, avistando um borrão roxo tênue e vacilante na escuridão.
Antes que a criatura conseguisse se afastar, o viajante criou uma outra esfera de luz que emitiu um clarão forte o suficiente para iluminar o corredor por dezenas de metros.
E o que viram, foi algo... estranho.
A criatura que os atacou era uma sombra.
Não era uma camuflagem feita por magia de Ilusão, nem seu corpo era naturalmente escuro. A criatura era uma forma humanoide e feita literalmente da escuridão, como se uma pessoa tivesse perdido a própria sombra.
Não havia formas que indicassem membros, feições faciais ou qualquer coisa, apenas um par de pontos brilhantes e roxos, além da silhueta escura.
No momento que foi atingida pela luz de Sariel, a criatura começou a derreter e definhar.
Percebendo isso, o viajante aumentou a potência de sua luz.
Conforme sua silhueta adquiria um aspecto cada vez mais líquido, seu corpo diluiu e reduziu-se para uma poça escura no chão, que eventualmente evaporou.
Nem mesmo um grito de dor foi emitido por aquela criatura.
— Mas o que caralhos era essa coisa? — perguntou Sariel. — Era como se eu agarrasse algo que não existia.
— Nunca viu algo assim antes?
— Não... mas me impressiona o quão fraco ela era...
— Talvez seja uma criatura de ameaça baixa — respondeu Raymond. — Parece mais fraca que um humano visto que uma simples luz a matou, portanto ela deve emboscar suas vítimas na escuridão.
— Será que essa coisa é o motivo dos desaparecimentos? — perguntou Luna.
— Só se houver milhares dessas coisas aqui.
— E o que faremos? — perguntou Shiina.
— Vamos seguir o caminho — respondeu o Pilar. — Mesmo que existem várias, são fracas e morrem pela luz, não nos representam perigo.
Seguindo a exploração agora atentos, o grupo desceu cada vez mais nas minas. Como era de se esperar, foram atacados diversas vezes pelas sombras, mas bastava um pequeno clarão para matá-las.
Quando finalmente chegaram ao local em que iriam subir novamente, encontraram apenas um corredor desabado.
— Tá de brincadeira? — reclamou Shiina. — E agora?
— Hmm... qualquer lugar a partir daqui leva mais para o fundo, até uma área do mapa não catalogada — disse Sariel. — Não podemos voltar visto que todas as outras rotas estão bloqueadas, então devemos descer?
— Por que não quebramos essas pedras de uma vez? — perguntou a assassina.
— Arriscado — respondeu Aegreon. — Podemos causar outro desabamento. Vamos descer.
Então o grupo foi forçado a ir cada vez mais fundo.
Durante o caminho, foram atacados por cada vez mais grupos de sombras, mas a luz de Sariel as matava instantaneamente.
Após algumas horas, chegaram em uma grande área circular aberta, quase tão larga quando a pirâmide da Montanha de Fogo.
Olhando ao redor, havia uma plataforma circular de mármore no chão com desenhos de anjos voando ao redor do círculo, e todos apontavam para o centro, onde havia uma espécie de altar cilíndrico branco.
Além disso, havia três grandes estátuas de anjos com cerca de quinze metros de altura, com os olhos feitos de algum material marrom refletivo e em posição de prontidão, segurando lanças de pedra e olhando para o altar.
Além disso, havia centenas de outras estátuas de anjos com cerca de dois metros de altura empunhando armas feitas de aço e localizadas no chão, nas paredes e até no teto.
Também havia estatuas do que parecia ser filhotes de dragões, com corpos maiores que um rinoceronte, mas sem asas.
Assim que o grupo viu aquele local, tiveram certeza de que encontraram um santuário dos anjos — uma entrada pelo menos —, e aquele era definitivamente especial.
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