O Primeiro Serafim Brasileira

Autor(a): Anosk


Volume 1

Capítulo 49: Escrituras Sob Pedra

Aegreon avançou contra Sharaad e interceptou seu golpe no meio do caminho, com as chamas roxas de ambos buscando consumir o que podiam um do outro.

— Aegreon, preciso que me ganhe tempo! — gritou Sariel.

— Então pare de enrolar e anda logo! — respondeu o Pilar.

Ao ouvir isso, o viajante se afastou de Sharaad e ergueu sua glaive acima da cabeça, flutuando alguns centímetros de sua mão e logo começando a ser coberta com gelo e neve.

Logo a arma começou a girar rapidamente conforme o gelo aos poucos se transformava em uma energia azul extremamente poderosa. Toda a neve começou a ser atraída e sugada para a glaive, exatamente como fez em sua luta contra Indra.

Porém Sharaad percebeu que o viajante estava preparando uma magia perigosa e avançou contra ele, desviando do Pilar e de Luna.

Como aquela era uma magia demorada, Sariel viu-se forçado a interrompê-la para se proteger de seu oponente.

Após um breve embate, o viajante bloqueou Sharaad e se afastou novamente enquanto Aegreon focava-se em mantê-lo pressionado.

Sariel tentou usar sua magia novamente, mas mais uma vez Sharaad o interrompeu assim que percebeu a neve se acumulando na glaive.

— Tsc, esse desgraçado é bem esperto para um louco — praguejou o viajante.

— O que faremos? — perguntou Luna. — Não poderemos fazer nada se ele continuar a te interromper.

Sariel olhou atentamente para a princesa quando uma ideia lhe passou pela mente.

— Venha comigo. — O viajante se afastou novamente enquanto Aegreon lutava contra Sharaad. — Preciso que desloque toda sua magia até suas mãos e as libere em direção à glaive, não se contenha dessa vez.

— Tem certeza? E se eu perder o controle?

— Eu lidarei com isso, vamos.

Então Sariel ergueu a glaive novamente conforme a neve se acumulava nela, mas dessa vez Luna ergueu sua mão esquerda em direção à arma enquanto todo seu poder era despejado furiosamente na lâmina.

Se Luna estivesse sozinha provavelmente teria perdido o controle e teria congelado o local — se Sariel já não tivesse feito isso —, entretanto ele direcionava e controlava a magia dela para que permanecesse na arma.

A princesa olhou com espanto para ele conforme preparava a magia, pois ele não apenas estava despejando a própria magia na arma, como também fazia o mesmo com a magia do ambiente e dela simultaneamente, e tamanho controle era algo monstruoso de se imaginar. Era basicamente como ouvir e transcrever o que 3 pessoas diferentes diziam ao mesmo tempo — e em idiomas diferentes.

Sharaad obviamente percebeu isso e tentou escapar de Aegreon para interromper a magia mais uma vez, no entanto dessa vez havia uma outra pessoa auxiliando e completando a magia mais velozmente.

O rei de Krimisha conseguiu se afastar do Pilar e se aproximou rapidamente dos dois.

Luna observou nervosamente conforme aquele ser enlouquecido se aproximava como um animal raivoso, contudo o viajante não parou dessa vez.

Segurando sua vontade de escapar, a princesa continuou a despejar seu poder na glaive, que nesse ponto era apenas um borrão elíptico de energia azul e extremamente instável pronta para explodir.

Sharaad se aproximou a menos de meio metro de distância, pronto para atacar os dois com suas chamas roxas.

Por um momento, Luna achou que não daria tempo.

Foi então que Sariel pisou fortemente no chão e transferiu toda a força de seu corpo para o braço que segurava a glaive, arremessando-a contra o rei e atingindo-o em cheio no estômago.

Sharaad nem teve chance de resistir e foi empurrado contra as paredes do que restou da sala, mas apenas algumas pedras não seriam capazes de parar tanto poder.

As pedras eram como se fossem feitas de papel molhado, sendo perfuradas pela glaive e carregando o rei consigo, e ambos desapareceram dentro das pedras conforme viajavam quilômetros em apenas alguns segundos.

Toda a neve foi atraída em direção ao buraco, até que uma grande explosão — ainda maior que a explosão que Indra recebeu — terminou de destruir totalmente o local, mesmo que estivesse extremamente longe.

A força da onda de choque foi capaz de terraplanar o local, e o frio liberado pela explosão era várias vezes mais intenso que do Pico da Garra Gélida, a montanha mais fria do mundo por ser a mais alta e por estar localizado em uma área onde a luz do sol raramente toca. Este nome também é devido ao seu formato, cujo topo lembra uma garra se estendendo para o céu.

A enorme explosão durou vários segundos, causando um barulho ensurdecedor e uma nevasca com ventos que viajavam centenas de metros por segundo.

E, após tamanha destruição, a explosão diminuiu aos poucos até sumir, deixando apenas um frio não encontrado em nenhum outro lugar no mundo.

Luna observou pasma um recém-formado cânion criado pela glaive conforme perfurava a terra, onde no fim havia uma enorme cratera de quase 7 quilômetros de diâmetro.

— Bem, acabou — disse Sariel. — Com sorte deve ter sobrado algum dos braços ou pernas dele.

— Espera, você o matou? — perguntou Luna.

— Claro, ou esperava que eu o poupasse?

— Achei que ia deixá-lo vivo para olhar suas memórias.

— Ele ia morrer mesmo se eu não quisesse, o corpo dele tinha mais do elemento Conjuração do que era capaz de suportar. Seria apenas uma questão de tempo até que o próprio poder dele o matasse. — Após dizer isso, o viajante começou a caminhar na direção onde Sharaad fora arremessado.

Sem dizer nada, tanto Aegreon quanto Luna o seguiram.

Os três caminharam por um novo vale formado pela magia de Sariel, ainda congelado a temperaturas extremamente baixas.

Após um tempo, finalmente se depararam com uma grande cratera prateada e coberta de neve. Era uma cratera ainda maior do que a última, por sorte aquele era um lugar desolado e com quase nenhum trânsito de pessoas.

A cratera ainda tinha cerca de 50 metros de profundidade, e no meio dela jazia no chão uma glaive prateada e com detalhes em azul. Havia também o que parecia restos congelados de algum membro humano, mas se desfaziam em pequenas partículas brancas assim que tocados.

Descendo cuidadosamente, Sariel se aproximou e coletou sua arma novamente.

— Bom, vamos voltar? — perguntou o viajante.

Como resposta, Aegreon apenas grunhiu afirmativamente.

— Espere, o que é aquilo? — disse Luna apontando para o outro lado da cratera.

Quando o viajante olhou para o local apontado, percebeu algumas pedras cinzas caídas ao redor e dentro da cratera. Considerando que as rochas do local eram, em sua maioria, de cor amarronzada, então era notável qualquer pedra de cor diferente.

Sariel se aproximou do que restava dessas pedras que, de alguma maneira milagrosa, haviam sobrevivido parcialmente perante sua magia, e quando olhou de perto percebeu alguns textos escritos nelas.

— “Dies Irae”... — disse o viajante contemplativo.

Curiosa, a princesa se aproximou para ler o que estava escrito.

Aegreon também reagiu assim que ouviu essas palavras, mas a escondeu antes que pudessem perceber.

— É o mesmo texto que encontramos antes... por que isso está aqui?

— Talvez aqui era um santuário dos anjos, e nós o destruímos.

— Então não vamos descobrir nada?

— Não se desanime, talvez dê para conseguir algo. — Ao dizer isso, todas as pedras de cor cinza no local começaram a flutuar e a se organizar diante de Sariel e Luna, com o viajante tentando juntar os destroços para formar algum texto completo.

Contudo, muitos pedaços estavam faltando, portanto só foi possível obter algumas partes.

— Essa primeira parte é o “Dies Irae”, mas já sabemos sobre ele — comentou o viajante apontando para as pedras mais à esquerda. — Já essa parte se chama “Tuba Mirum”.

— “Tuba mirum spargens sonum, Per sepulchra regionum, Coget omnes ante thronum, Mors”... o resto está faltando... — disse Luna conforme lia os restos das pedras do meio. — “Liber scriptus proferetur, In quo totum continetur, Unde mundus judicetur...”

— Parece ter mais, mas está tudo destruído... — disse Sariel.

— E quanto a esse outro? — disse a princesa apontando para as pedras mais à direita, com o título de “Rex tremendae”. — “Rex tremendae maiestatis, Qui salvandos salvas grátis, Salva me fons pietatis...”

Havia ainda mais alguns textos, mas em sua maioria eram apenas palavras desconexas devido à destruição de suas outras partes.

— O que significa tudo isso? Todos esses textos falam sobre algum juiz e que jugará tudo, e este último soa mais como uma súplica — disse a princesa apontando para o texto “Rex tremendae”. — É algum tipo de profecia dos anjos?

— Para ser o mais provável, mas quem seria este juiz ou o porquê de ele ser tão temido não é explicado...

— Não seria Kura? Foi ela quem nos criou afinal...

De fato, a única existência possível para ser um juiz e ter poder para ser temida seria Kura, entretanto os textos mencionavam um “Rei” — “Rex” —, e não uma “Rainha” — ou “Regina”.

— Vamos voltar logo — apressou Aegreon. — Ainda há outro problema para lidarmos.

— Outro problema? — perguntou Luna.

— Decidir o que fazer com o povo — respondeu Sariel. — Eles viram tudo o que aconteceu e inclusive viram você, um anjo.

Ao ouvir isso, a princesa imediatamente se sentiu culpada por ter sido descuidada e não esconder seus olhos. Já estava pronta para se desculpar, mas o viajante fez um gesto dizendo para que não se preocupasse.

Sem ter mais o que fazer lá, os três voltaram rapidamente para o que sobrou do templo Svarga.


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