O Primeiro Serafim Brasileira

Autor(a): Anosk


Volume 1

Capítulo 46: Recomeço

Rei e rainha haviam caído.

Contudo a batalha ainda não havia terminado.

Assim que percebeu Sharaad morrendo, Sariel avançou contra Keya rapidamente.

O sacerdote já estava tendo grandes dificuldades de lidar com Raymond e Shiina ao mesmo tempo, portanto ele não teve nenhuma chance de resistir quando o viajante se aproximou como um raio e o nocauteou com um forte golpe na cabeça.

Agora a luta havia terminado.

O rei de Krimisha jazia morto no chão com um buraco carbonizado em seu peito e a espada de Luna em seu estômago. A princesa respirava pesadamente e seus olhos ainda estavam arregalados, em choque pelo que acabara de acontecer.

Nem mesmo ela percebeu, no entanto seu corpo simplesmente se moveu sozinho no momento que sentiu que deveria fazer algo para interromper a magia de Sharaad. Quando se deu conta, já estava atrás do rei e o atacou sem hesitar.

Agora, aquela pessoa estava morta diante de si, e o sangue dela manchava suas roupas e pele.

Apesar daquela visão ser horripilante, não era capaz de desviar seu olhar da pessoa que contribuiu para matar.

Conforme observava, sua respiração se tornava cada vez mais intensa, e podia sentir sua cabeça começando a girar.

Foi então que uma figura grande bloqueou a visão dela, tirando-a daquele transe estressante.

— Você está bem? — perguntou Aegreon.

— A-Acabou? — gaguejou a princesa.

— Sim, pode ficar tranquila agora.

— Nós matamos pessoas... — balbuciou Luna. — Matamos a esposa e filho de alguém na frente dele... Se eu fosse melhor com magia isso não teria acontecido...

Conforme dizia isso, a princesa não pôde conter suas lágrimas, culpando-se profundamente de tudo. Se tivesse treinado mais talvez o resultado daquela operação teria sido diferente, e Ashoka não teria perdido duas pessoas importantes para ele.

— Errado, nós salvamos pessoas — disse Aegreon. — Você nos ajudou a salvar todas as futuras gerações de caírem na falácia de um Deus maligno.

— Mas... eles lutaram com tanta determinação... Bhavna se sacrificou para dar uma chance a eles...

— Porque estavam cegos devido a manipulação de Shiva — disse o Pilar. — O destino deles estava selado há muito tempo, e você fez algo que muitos hesitariam ou se recusariam a fazer mesmo com a escolha óbvia diante de si, e isso é algo digno de admiração.

Após ouvir essas palavras, a princesa olhou para os olhos do Pilar ainda em choque pelo que ocorrera, e notou que seus olhos possuíam um olhar ameno — apesar da voz dele não demonstrar isso — e, pela primeira vez, com algum leve resquício de gentileza.

Sendo a pessoa mais próxima dela no momento, Luna abraçou Aegreon em busca de conforto, não se importado com sua aparência ou seus ferimentos.

O Pilar, em contrapartida, foi pego tão desprevenido com aquilo que acabou demonstrando visivelmente uma expressão de surpresa, e apenas permaneceu parado sem saber como agir naquela situação.

Qualquer um que visse aquela cena sentiria constrangimento alheio pela falta de ação do Pilar, que permanecia parado olhando para o nada e sem retribuir o abraço, o que fazia sentido, afinal, quantas décadas havia se passado desde a última vez que recebeu afeto?

Após o tempo passar um pouco, a princesa se acalmou, percebeu o que estava fazendo e se afastou.

— Me desculpe, fiz por impulso...

— Não tem problema — respondeu Aegreon.

— Vejo que já se acalmou — disse Sariel conforme se aproximava. Estava prestes a dizer algo mais quando olhou para o Pilar com curiosidade e perguntou: — Será que minha magia seria capaz de curá-lo?

— Não preciso se sua simpatia — respondeu grosseiramente Aegreon.

— Mas ter sua carne exposta e queimada dessa maneira não é ruim? — perguntou Luna preocupada.

— Além disso, os ferimentos que você adquiriu nessa batalha não estão se curando — observou o viajante.

— Me deixe em paz e vá verificar as memórias de Keya antes que ele acorde.

Percebendo que o Pilar não cederia, Sariel simplesmente suspirou e desistiu da ideia.

— Nesse caso, pegue Ashoka quando ele cair. — Logo que o viajante disse isso, o escudo dourado que cobria toda a sala se desfez, fazendo o rei emérito de Krimisha cair para dentro.

Aegreon pegou Ashoka com facilidade e evitou que ele morresse com a queda, e o colocou gentilmente no chão.

No momento que seus pés tocaram o solo, Ashoka correu e se agachou ao lado do filho morto, chorando e com as mãos totalmente desfiguradas e quebradas.

Percebendo os ferimentos do rei emérito causados a si mesmo, o viajante se aproximou com as mãos brilhando em dourado, e um rio de águas áureas cobriram as mãos feridas e reconstruíram totalmente ela, colocando ossos e juntas de volta ao lugar, unindo músculos e nervos, e costurando a pele.

Em seguida, permaneceu parado por um tempo, encarando Sharaad quando enfim disse: — ele realmente tinha 4 auras... Estranho...

Ao ouvir isso, Luna observou o corpo de Sharaad com Alteração e percebeu que sua aura permanecia ativa.

— Espera, por que ainda posso ver a aura dele? Ainda está vivo?

— Ah, a magia demora um tempo para deixar totalmente o corpo quando morre, por isso ainda é capaz de ver a aura dele — explicou Sariel. — Agora deixe-me lidar com Keya, talvez haja algo nele que explique isso.

Ao dizer isso, o viajante se aproximou do sacerdote desacordado e tocou a testa dele com as mãos, permanecendo em silêncio por um bom tempo.

Enquanto isso, Ashoka ainda chorava a morte do próprio filho.

— Não tivemos escolha, você percebeu — disse Aegreon.

— Eu sei, entretanto isso não reduz minha dor — disse em meio a soluços. — Um pai jamais deveria passar pelo sofrimento de ver o próprio filho morto...

Sem saber como agir, tanto a princesa quanto o Pilar permaneceram em silêncio.

Eventualmente, Sariel afastou sua mão de Keya e disse: — Há muita coisa para ver ainda, mas prestem atenção com o corredor atrás do trono... ou o que sobrou dele. Ele leva até uma sala exatamente abaixo de nós com mais materiais para portal.

— Certo, mas já terminou? — perguntou Raymond.

— Não, verificarei o que resta agora.

Mais uma vez, o viajante começou a vasculhar as memórias do sacerdote.

— Por que teve tanta dificuldade em lidar com Keya? — perguntou Shiina. — Você deveria ser forte o suficiente para lidar com ele sozinho.

— Ainda estou me acostumando com minha arma nova — respondeu o guarda-costas. — Nunca usei uma espada longa antes, portanto tenho que aprender as técnicas do zero.

— Compreendo.

O tempo passou aos poucos, até que a lua surgiu bem acima da abertura da sala, iluminando todo o interior com sua luz prateada.

Luna se distraiu com esse fenômeno e divagou enquanto observava o astro numa tentativa de acalmar seus nervos.

Olhando novamente para Ashoka, não pode deixar de sentir pena e uma agulhada no coração. Sabia que Aegreon estava certo, no entanto ver um pai lamentando a morte do filho a fazia querer dizer algo para acalmar os ânimos dele, mesmo que ela ainda estivesse se sentido culpada pelo que fizera com Sharaad.

— Ashoka... — chamou a princesa.

Ouvindo Luna chamando seu nome, Ashoka não pode deixar de virar seu rosto e encará-la, já que seu tom de voz havia sido a maneira mais gentil que escutara alguém se dirigir a ele e talvez a qualquer pessoa em toda a sua vida.

— Eu... — começou a princesa.

— LUNA, ASHOKA! SAIAM DE PERTO DE SHARAAD AGORA! — gritou Sariel subitamente.

Sem entender a urgência na voz do viajante, Ashoka virou seu rosto para o filho morto, quando uma das mãos de Sharaad agarrou seu pescoço com força e o levantou no ar.

E, contra todas as expectativas, Sharaad se reergueu.

Como a espada de Luna ainda estava presa no rei, ela agiu instintivamente, pressentindo o perigo e criou uma espada de gelo para cortar o braço que segurava Ashoka, mas a lâmina mágica apenas atravessou metade do membro.

— O quê?! — surpreendeu-se a princesa. Aquela espada era capaz de cortar pela metade até mesmo uma grossa rocha, portanto a resistência física de Sharaad havia se tornado superior a isso.

Contudo, o golpe foi forte o suficiente para causar um espasmo no braço dele e soltar Ashoka.

Logo após isso, todo o local começou a tremer intensamente, com rachaduras surgindo nas paredes e no chão. O tremor era tão intenso que nem mesmo Sariel e Aegreon eram capazes de se manterem em pé, até que o solo de toda a sala cedeu e um grande buraco de várias dezenas de metros de profundidade se abriu.

Todos caíram e cercados de inúmeras pedras oriundas das paredes e do chão que desmoronaram.

Aegreon e Sariel foram os primeiros a se recuperarem e virarem as pernas para baixo, até que o chão abaixo deles se tornou visível.

Enquanto caiam, o viajante olhou ao redor com os olhos com a cor marrom em busca de Keya, avistando-o caindo ainda desacordado.

Segurando sua glaive com firmeza, arremessou contra o sacerdote atingindo-o na cabeça e matando-o durante sua queda.

Os outros estavam já se preparando para caírem da melhor maneira possível e evitar quebrar algum osso no processo, no entanto seus corpos começaram a brilhar em marrom e suas quedas desaceleraram, até que todos flutuaram suavemente alguns metros acima do chão, descendo lentamente e pisando com firmeza.

As pedras que caiam acima deles também flutuaram no ar, evitando que os soterrassem.

— Onde estamos? — perguntou Luna.

— Na sala onde estão mais materiais para portal — disse Sariel.

— POR QUE MEU FILHO ESTÁ VIVO? — perguntou Ashoka assustado e apontando para o alto.

Todos levantaram suas cabeças, todavia se depararam não com Sharaad, e sim com um monte de pedras flutuando alguns metros acima de suas cabeças.

— Você quem fez isso, Sariel? — perguntou Raymond se referindo à desaceleração de suas quedas.

— Exato, mas vamos focar no que é importante.

O tremor prosseguiu por um tempo, quando de repente todas as rochas e os materiais de portais na sala que estavam — incluindo os metais escuros estranhos e as Gemas de Conjuração — se moveram para cima onde havia um amontoado de pedras com uns 20 metros de altura e com uma forma humanoide.

Era quase como um grande golem de pedra, mas ele tinha seis braços e seis pernas. Seus olhos eram pedras roxas que brilhavam intensamente, e seu sangue uma espécie de líquido da mesma cor que respingava e derretia tudo que tocava.

Os metais se enrolaram ao redor daquele amontoado de roxas como correntes, além de formar uma espécie de peitoral para proteger o local onde Sharaad provavelmente estava, e inúmeras chamas escuras giravam ao redor dele e com um brilho intenso e instável.

Como se não bastasse essa monstruosidade, os céus se fecharam e um enorme tornado cercou todo o templo Svarga, com ventos fortes o suficiente para pulverizarem as rochas e arrancar tudo do chão em um alcance de quase um quilômetro.

— O que diabos está acontecendo? — perguntou Aegreon para Sariel.

— O começo da verdadeira luta — disse Sariel. — Tomem cuidado, pois ele agora é quase tão poderoso quanto um Pilar.


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