Volume 1
Capítulo 41: Peregrinação
— O que aconteceu aqui, Ashoka? — perguntou o Pilar.
— Eu não sei nem por onde começar... talvez com o nascimento de meu filho...
— O seu segundo filho?
— Não tive um segundo, o primeiro que tive é o rei atual.
— Ele não havia falecido pouco depois do parto?
— Bem... Ele teria falecido como os médicos tinham dito... — disse Ashoka com dificuldade. — A condição dele não podia ser tratada com magia, portanto ele estava fadado a morrer. Eu e minha esposa ficamos devastados, quando nos lembramos sobre um suposto Deus que tem curado pessoas com problemas que a magia não pode resolver, por isso decidimos ir atrás desse Deus.
“Esse Deus surgiu do nada e conquistou a fé de várias pessoas, ainda mais devido à guerra, já que muitos culpavam Kura pela vinda dos anjos. Acabou sendo relativamente fácil encontrar alguém que nos ajudasse a contatar esse Deus, e assim fizemos.
“Era um idoso de Krimisha que, de acordo com ele, foi salvo por esse mesmo Deus quando era mais jovem. Ele nos levou até sua casa, e revelou a nós um porão escondido.
“Quando chegamos no subsolo, nos deparamos com um pequeno altar com várias pedras roxas no meio dela. Ele orientou Bhavna a segurar uma dessas pedras enquanto outra também estivesse em contato com nosso filho.
“Não sei muito bem o que aconteceu, apenas que ambas as pedras brilharam por uns segundos e minha esposa permaneceu em silêncio durante todo o tempo. Depois, ela olhou para mim com uma expressão feliz e aliviada e me disse que Sharaad viveria saudável.
“Os anos se passaram e Sharaad não apenas cresceu saudável, mas como também extremamente forte. Na verdade, ele havia se tornado a segunda pessoa mais poderosa a ter nascido em Krimisha, perdendo apenas para Indra.
“Minha mulher fez questão de dizer a todos que esse Deus chamado Shiva havia curado ele, e que qualquer pessoa que precisasse de ajuda deveria procurá-lo.
“Ela também tentava me convencer a falar com esse Deus, mas desde aquele dia, que meu filho foi curado, senti que ela havia mudado, sem saber exatamente o que. É estranho, pois ela ainda parecia a mesma, mas parecia que os sentimentos expressos por seu rosto não eram reais, portanto, acabei me tornando cauteloso quanto a ela e este Deus inconscientemente.
“Depois disso, Bhavna começou a se distanciar de mim e se tornou cada vez mais próxima de Sharaad, enquanto também o afastava de mim.
“Não tardou muito até que Sharaad se tornasse um adulto. Bhavna me pressionou muito para que eu abdicasse o trono para Sharaad, e eu acabei cedendo já que ele além de se mostrar forte, também demonstrava inteligência e sabedoria.
“E foi neste ponto que tudo mudou.
“Assim que ele assumiu o poder, uma intensa campanha religiosa se deu início para converter o reino à adoração a Shiva. Não foi muito difícil já que a maioria do povo estava insatisfeito com Kura.
“Não sei bem como a conversão era realizada, mas a cada solstício e equinócio o povo tinha de viajar pelo Vale Recluso por dias até chegar em algum lugar que desconheço, e aparentemente era lá que realizavam o ritual de conversão.
“Depois, todos os guardas de minha casa foram trocados, senti que passaram a me vigiar e limitar tudo o que eu fazia. Eu não era permitido sair do reino a princípio, mas logo passaram a me restringir ainda mais. Qualquer carta que eu escrevia era revisada, e nem mesmo sair do palácio eu podia.
“Durante todo esse tempo, Bhavna me visitava algumas vezes e nem escondia a frieza com que me tratava. Ela dizia que se eu falasse com Shiva e me convertesse iriam me deixar livre novamente, mas eu sempre recusei.”
— Eventualmente, Bhavna deixou de me visitar. Na verdade, faz anos desde a última vez vi ela e meu filho, já que ela se mudou para o Vale Recluso, onde meu Sharaad também mora.
Durante todo o relato, o rei emérito de Krimisha tremia e olhava para os guardas temendo que tentassem silenciá-lo, mas a magia de Sariel realmente era bem eficiente.
Passados alguns segundos de silêncio após a história de Ashoka, Sariel olhou para Aegreon.
— Parece que as coisas estão bem piores do que imaginávamos.
— O que quer dizer com isso? — perguntou Ashoka assustado.
— Bem, o ritual que você viu sua esposa fazer era um ritual em que uma pedra de Conjuração é usada como intermédio de uma troca, onde uma pessoa entrega sua alma a um Deus da Escuridão, que entrega algo em troca, no caso da sua mulher, provavelmente foi “curar” seu filho. Os Deuses malignos cobiçam as almas dos humanos e não sabemos o que fazem com elas — explicou Sariel.
Ashoka escultava tudo com arrependimento, acreditando ter cometido um terrível erro.
— Além disso, esse Deus fez sua esposa se tornar cegamente fiel a ele propositadamente para espalhar sua influência para que mais pessoas o buscassem e vendessem suas almas em troca de saúde ou sabedoria, igual você Bhavna fizeram.
— Quer dizer que eu condenei meu reino? — perguntou Ashoka com a voz trêmula.
— Quase, mas sua coragem de não falar com Shiva foi a melhor decisão que poderia ter feito, pois agora sabemos da situação de Krimisha e poderemos agir.
— Coragem... Haha... — riu desesperadamente Ashoka. — Eu apenas cedi e me calei exatamente como eles queriam... Se eu tivesse agido antes...
— Majestade, se tivesse agido antes, teria sido morto por eles e Krimisha seria abandonada à própria sorte. — Raymond explicou de maneira educada. — Não se culpe por não ter agido, pois justamente essa escolha salvará seu reino.
Com um olhar esperançoso, Ashoka olhou para Aegreon.
— O Conselho lidará com isso?
— Eu lidarei com isso sozinho, é uma situação muito delicada, portanto quanto menos pessoas agindo melhor. Não diga nada ao Conselho ou a ninguém quando isso acabar.
— Por quê?
— Shiva tem influência em outros lugares também, portanto é melhor manter isso um segredo para não gerar pânico — explicou o viajante. — Mas Aegreon cometeu um pequeno engano, está tudo bem dizer isso ao Conselho.
Ao ouvir aquilo, o Pilar encarou Sariel com um olhar nada amigável e estava prestes a fazer algo quando percebeu ele fazendo um sinal apaziguador com sua mão.
Ashoka não reagiu a aquilo, apesar do viajante ter feito aquilo na frente dele, então ele estava usando outra ilusão para enganar o rei emérito.
— Sim, não há problema dizer isso ao Conselho — concordou Aegreon.
— Majestade, como podemos encontrar seu filho?
— Bem... se disserem que desejam se converter a Shiva, os guardas devem nos deixar ir até o Vale Recluso, e hoje é o dia de sorte de vocês.
— Como assim? — perguntou Luna.
— O solstício de verão é na noite de hoje... — disse Sariel.
— Exato, se quisermos chegar lá a tempo teremos que partir imediatamente.
— Então assim faremos. — Sariel se levantou. — Você virá conosco e dirá que nos acompanhará. Isso fará com que eles permitem que saia do palácio já que acreditarão que sua vontade finalmente quebrou e que irá se converter à Shiva.
— Mas se realmente perdemos nossas almas nesse ritual... então não é perigoso?
— Obviamente não faremos esse ritual, daremos nosso jeito.
— Tudo bem — suspirou Ashoka. — Graças à Kura que vocês vieram... Eu não aguentava mais isso tudo.
— Então vamos indo. — O viajante encarou o Pilar. — Aegreon, sua aparência está alterada de novo. Lembrem-se dos nossos nomes falsos. Além disso, também estou usando uma magia para reduzir seu nervosismo e torná-lo mais confiável aos guardas, Ashoka. Por isso não fique nervoso em cometer nenhum erro, eu lhe cubro.
— Bem, vocês parecem confiantes, espero que isso funcione. — O rei, entretanto, ainda estava um tanto inseguro.
Com isso, todos se levantaram e se dirigiram para fora do palácio. Assim que chegaram nas portas de entrada, foram parados pelos guardas que os questionaram.
— O que pretendem fazer? — perguntou o guarda que havia levado o grupo palácio adentro.
— Nó-Nós desejamos ver Sharaad e nos converter... — disse Ashoka nervosamente.
— Hmm, o solstício ocorrerá esta noite... — murmurou o guarda.
— Por isso devemos nos apressar.
O guarda permaneceu em silêncio por um tempo, quando se virou e abriu as portas do palácio novamente. Do outro lado, se deparou com seus companheiros tendo uma conversa bem animada com Shiina. Na verdade, parecia mais que estavam flertando.
Chamando a atenção dos seus companheiros, se aproximou deles e sussurraram algo. Após uma breve discussão, um dos guardas se afastou na direção dos portões do palácio.
Depois de um tempo, o primeiro guarda retornou.
— Tudo bem, devolveremos suas armas, mas deverão entregá-las novamente ao chegarem no templo Svarga.
— Entendido.
Após obter a confirmação do viajante, os guardas permitiram que partissem.
— Podem seguir para os portões do palácio. Já providenciamos um cavalo para Vossa Majestade.
Seguindo as orientações, o grupo partiu para fora do palácio e encontraram um cavalo castanho à espera de Ashoka.
Assim que Ashoka montou o cavalo, o grupo seguiu para o oeste, o local onde o vale recluso se localizava.
Antes mesmo de adentrarem aquele território já era possível perceber que o terreno era ainda mais acidentado, além de possuir quase nenhuma vegetação. Viajar por aquele lugar deveria ser uma tarefa custosa ainda mais no verão, mas isso não atrasaria o progresso do grupo.
A única coisa que mostrava o caminho que deviam seguir era uma estrada de pedra bem cuidada que fora construída justamente para facilitar a peregrinação.
— Descobriu algo, Shiina? — perguntou Aegreon.
— Mais ou menos, podem me inteirar sobre o que conversaram?
Aproveitando-se da magia de Sariel, que mais uma vez impedia que o conteúdo de suas conversas fosse ouvido, explicaram a situação atual de Krimisha para a assassina.
Talvez usar magia de Ilusão mesmo naquelas condições pudesse ser considerado demais, mas considerando com o que lidavam, todo cuidado era justificado.
— Não é à toa que nem mesmo o Conselho soube sobre a situação daqui — disse Shiina. — Estavam bloqueando que qualquer informação vazasse para o Conselho...
Com o sol já passando do zênite, o grupo seguiu rapidamente além do horizonte conforme discutiam seus planos.
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