O Primeiro Serafim Brasileira

Autor(a): Anosk


Volume 1

Capítulo 40: O Rei Emérito de Krimisha

— Senhorita! Gostaria de comprar roupas típicas de Krimisha? Três por dez moedas de cobre apenas! Tecido genuíno!

— A melhor comida e bebida é aqui!

— Pedras Mágicas em promoção!

O grupo acabou de entrar no reino e já presenciaram as centenas de vendedores fazendo o possível e usando de seus anos de experiencia com vendas para conseguir qualquer moeda das pessoas ali.

Mesmo andando em cavalos, avançar era extremamente difícil e demorado.

Contudo toda aquela gente fez Luna se sentir desconfortável. Todas aquelas vozes martelavam sua mente e causavam uma dor de cabeça cada vez maior, e ela tinha a impressão de estar sendo observada por tantas pessoas, deixando-a nervosa.

— Está tudo bem, Luna? — gritou Sariel percebendo a indisposição da princesa.

— Muita... gente... — sussurrou ela.

Ao ouvir isso, o viajante suspirou e disse: — Bem, este barulho também me incomoda, então...

Após dizer isso, subitamente todas as vozes cessaram para todos no grupo, apesar da agitação do povo e suas bocas se movendo mostrarem que não haviam se calado.

— Magia de Ilusão? — perguntou Luna.

— Sim. — Os olhos de Sariel, que estavam rosados desde que chegarem em Krimisha, encararam a princesa. — Já estou usando uma magia para alterar a nossa aos olhos do povo, melhor aproveitar para lidar com essa poluição sonora.

— Obrigada... Me sinto mal em lugares lotados e barulhentos.

— Eu imagino, deve ter sido perturbador ouvir tanta gente gritar ameaças de morte na frente de sua casa por tanto tempo.

Com isso, o grupo seguiu seu caminho lentamente colina acima enquanto eram abençoados como o mais absoluto silêncio. Era impressionante como a magia do viajante era capaz de anular completamente milhares de vozes gritando ao mesmo tempo, parecia até mesmo que estavam em uma realidade alternativa.

Como a princesa se acalmou, dedicou sua atenção ao reino de Krimisha e o observou melhor.

A maioria das construções eram feitas de pedra marrom, enquanto os grandes centros comerciais, templos e prédios importantes eram feitos de um material branco, decorado com metais preciosos e tendiam a ter cúpulas no teto.

A engenharia era bem complexa e diversa, diferente da Montanha de Fogo que foca muito em pirâmides.

Quanto ao povo, usavam roupas longas, coloridas e com um tecido leve e confortável. Muitos andavam descalços, e alguns usavam um pano na cabeça.

Conforme se aproximavam, a multidão aumentava cada vez mais, atrasando ainda mais o progresso do grupo. A ilusão do viajante ainda estava ativa, portanto, não perceberam que as ofertas haviam se tornado um pouco mais caras, custando algumas centenas de moedas de bronze e até mesmo algumas de prata.

Conforme avançavam, entretanto, o olhar sempre sério de Aegreon foi se intensificando.

Inicialmente, apenas o Pilar havia percebido algo, mas Raymond e Shiina também começaram a ficar desconcertados.

— Vocês também perceberam isso? — Sariel foi o primeiro a quebrar o silêncio, e em resposta, todos, exceto Luna, concordaram com um aceno. — Aegreon?

— O que foi? — A princesa encarou o viajante confusa. — Há algo de errado?

— A população de Krimisha... eles não têm alma — disse Aegreon.

— O que?! O que isso significa?

— Luna, não percebe como, apesar de parecerem todos animados, você não consegue sentir a felicidade deles?

— Felicidade... — A princesa olhou atentamente para as pessoas ao redor, até que percebeu que, apesar do sorriso deles, estranhamente ela não sentia felicidade vindo deles. Era estranho, pois não estavam fingindo, mas havia algo faltando. — Não sinto...

— Será possível que todo esse reino está seguindo um Deus da Escuridão? — questionou Raymond.

— Isso é impossível, é mais provável que tenham sido enganados. Aegreon, isso me preocupa, vamos mesmo ir embora direto ou vamos investigar isso? — Sariel encarou o Pilar.

— Vamos fazer um desvio. — Aegreon guiou seu cavalo e fez uma curva para uma outra rua. — Falaremos com Ashoka, o rei de Krimisha, e descobrir o que está acontecendo.

Dito isso, o grupo começou a seguir até o palácio do reino, uma grande construção com um grande jardim e suas três cinco enormes cúpulas visíveis mesmo a quilômetros de distância.

Uma hora depois de atravessarem os portões, o grupo finalmente alcançou um ponto onde a multidão reduziu um pouco.

Finalmente, o grupo se aproximou do palácio, maior que o palácio de Fordurn e menor que a grande pirâmide da Montanha de Fogo.

Essa era uma das únicas construções cercada por um muro — apesar de ser baixo — e com algumas árvores e uma lagoa artificial com água corrente.

Quanto o grupo se aproximou e foram logo parados por dois guardas, dessa vez usando uma espécie de armadura de placas misturadas com malha. Além disso, a lança que portavam tinham um brilho em suas lâminas, demonstrando que eram bem cuidadas.

— Um momento! O que desejam fazer aqui? — perguntou um dos guardas.

— Preciso... — Aegreon começou a dizer, mas Sariel passou na sua frente e fez um sinal com sua mão.

— Eu cuido disso. — O viajante encarou o guarda. — Somos uma comissão de Yggdrasil, temos assuntos a discutir com Ashoka.

— Ashoka? Não ouvimos nada sobre isso.

— Tenho certeza de que devem ter se esquecido...

Luna percebeu algo de estranho com Sariel e usou a visão mágica para ver o que ele estava fazendo, percebendo uma aura rosa ao seu redor que envolvia os dois guardas presentes.

Além disso, parecia haver uma espécie de linha, ou corrente rosa que saia da boca do viajante e adentrava o ouvido dos guardas.

O guarda olhou para o grupo com atenção, se afastou e falou com seu companheiro, voltando logo em seguida.

— Certo, mas teremos de confiscar suas armas enquanto estão lá dentro.

Luna percebeu a aura rosa de Sariel se tornar mais grossa e sólida.

— Não precisam se preocupar, não faremos nada estúpido. — Sua voz soava extremamente amigável e convincente. — Tentaram roubar nossas armas enquanto estávamos vindo para cá, portanto gostaríamos de ter certeza de que estarão em boas mãos.

— Ah, neste caso tudo bem, podem entrar. — A atitude dos guardas mudou completamente, que se afastaram e abriram os portões para que passassem.

— Obrigado, tenham um bom dia!

Aproveitando-se da oportunidade, o grupo se apressou em direção ao palácio.

— Ilusão é bem útil para se infiltrar em lugares, né? — perguntou Shiina. — Devo admitir que até eu estava ficando convencida pela sua voz amigável.

— De fato — concordou o viajante. — Faz um tempo desde que tive que fazer algo assim.

— Não é perigoso usar magia de Ilusão de maneira tão despretensiosa? — perguntou Luna. — Você me disse que Alteração pode detectar Ilusão.

— Estou o tempo todo usando Alteração para ver quais elementos as pessoas têm, esses dois não tem Alteração, portanto é seguro. — Sariel olhou ao redor por um momento. — Além disso, pessoas com alto poder de Ilusão também são perigosas, pois são imunes ao próprio elemento e podem ver nossa verdadeira voz e ouvir nossa aparência.

— Igual como você não se queimou na lava quando trocou pra Fogo?

— Exato.

— Se a discrepância entre a quantidade de poder mágico entre duas pessoas do mesmo elemento é muito grande, a pessoa com menor poder ainda é afetada pela magia do próprio elemento, mas com eficácia reduzida — explicou Shiina. — Por isso, Sariel com a maioria do seu poder convertido pra Ilusão, e o Pilar da Ilusão, talvez sejam os únicos que conseguem me enganar com uma ilusão.

— Entendo.

Enquanto se aproximavam do palácio, viram vários guardas encarando-os com desconfiança, mas sem abordá-los. Achavam estranho que tenham permitido pessoas armadas entrarem no lugar, mas também consideravam que talvez fossem pessoas importantes e por isso permitiram que portassem suas armas.

O palácio era definitivamente o lugar mais agradável ali apenas pelo exterior, devido às árvores que providenciavam uma boa sombra para o grupo. O piso era bem cuidado e limpo, bem diferente das ruas acidentadas onde o povo se amontoava, e a vista do grande palácio era um deleite aos olhos.

Quando chegaram nas portas do palácio, foram parados por mais quatro guardas que ficaram em alerta quando perceberam que o grupo ainda estava com suas armas. Vestiam uma armadura igual aos guardas nos portões do palácio, mas tinham expressões mais sérias.

— Parados! Identifiquem-se e diga o que querem aqui!

— Bom dia, meus caros, espero que estejam tendo um ótimo dia! Me chamo Nungal. — Sariel emitia um sentimento de conforto e amizade. —Desejamos conversar com Ashoka.

Mais uma vez, graças à magia de Ilusão do viajante, os guardas mostraram-se favoráveis ao grupo.

— Compreendo, e sobre o que gostariam de discutir? — O guarda, apesar de estar sob efeito da magia, ainda agia com precaução.

— No momento é um assunto confidencial. Creio que não demorará para souberem sobre o conteúdo de nossa conversa.

Os guardas permaneceram em silêncio por um tempo, levemente desconfiados daquela situação inusitada.

— Tudo bem, mas deverão entregar suas armas e pertences a nós.

— Eu posso aguardar aqui fora com suas armas enquanto conversam com Ashoka — sugeriu Shiina. — Creio que não irão se importar, certo? Podemos conversar bastante enquanto isso...

— Ah... — gaguejaram os guardas. — Claro, se-sem problemas.

Seguindo a sugestão de Shiina, todos deixaram seus pertences importantes a ela e foram revistados logo em seguida. Como não possuíam nada, um dos guardas abriu a porta para os visitantes.

Quando entraram, perceberam-se em um corredor com cor predominante marrom claro, e todo o chão e as paredes eram decorados com mosaicos cujos designs eram circulares e imitavam o formato de flores, enquanto o teto era um espetáculo de caleidoscópios hipnotizantes e coloridos.

Vasos enormes e estátuas de um homem com vários braços e pernas decoravam o interior, e lustres feitos com pedras de Alteração iluminavam toda a beleza daquele local. Alguns poucos guardas estavam de guarda em seus postos se surpreenderam com os viajantes, já que não receberam nenhum aviso de visita importante.

— Estes visitantes desejam ver o senhor Ashoka, por favor, guie-os — informou o guarda que recebeu o grupo a outro.

— Certo, me acompanhem, por favor — orientou o outro guarda.

Com isso, o grupo seguiu o guarda pelos largos corredores, tão polidos que eram capazes de verem a si mesmo no chão e nas paredes.

Logo chegaram a uma grande sala cheia de plantas e com o teto em forma de cúpula com um mosaico de uma flor de lótus. Havia vários sofás e bancos acolchoados com cores vibrantes para que se sentassem, e uma mesa cheia de frutas se localizava no centro.

— Sentem-se aqui, por favor — disse o guarda. — Informarei Sua Majestade sobre sua presença agora mesmo.

Então, o guarda deixou o local. Assim que todos se sentaram, Sariel ativou outra magia de Ilusão ao redor do grupo.

— Minha magia está criando uma ilusão em uma pequena que faz parecer aos olhos e ouvidos dos outros que estamos tendo uma conversa comum, portanto podemos conversar sem problemas. — Sariel encarou o grupo com um olhar sério. — Luna, use magia de Alteração e veja se tem alguma aura poderosa ao redor além de nós, todo cuidado é pouco.

— Certo... —  A princesa se concentrou para olhar ao redor e ver as auras, não encontrando nenhuma que chegasse próximo de Sariel ou Aegreon.

— Não há ninguém, exceto alguns guardas nos vigiando secretamente.

— Ótimo. — Sariel apoiou os braços nos joelhos. — Tem algo terrivelmente errado. Pelo menos 90% da população não tem uma alma.

— 90%?! — surpreendeu-se Raymond. — Tem certeza disso? Sabia que era um número grande, mas isso...

— Sim, até mesmo os recém-nascidos, por isso estou sendo cauteloso. Acho muito difícil que uma criança que ainda nem consegue perceber o mundo direito tenha aprendido a técnica de Feng Ping — disse o viajante. — Então só resta uma alternativa.

— Há uma Seita aqui roubando a alma das pessoas secretamente? — perguntou Luna.

— É a única explicação — disse Sariel. — E tenho uma suspeita de quem pode estar causando isso.

— Shiva... — murmurou Raymond.

— Exato, todas as mudanças positivas em Krimisha foi por influência de Shiva, portanto é lógico pensar que ele esteve fingindo ser um Deus bom para enganar o povo.

— Mas como isso acontece? 90% é muita coisa! — disse Luna. — Eles teriam que perceber algo de errado!

— Por isso acho estranho, talvez Ashoka saiba de algo — disse o viajante. — É até provável que ele esteja envolvido nisso.

Bastou dizer isso para verem um homem se aproximando. Ele exalava o ar típico da realeza e vestia uma roupa dourada, cheio de detalhes complexos similares aos mosaicos no palácio, com um belo manto vermelho e um pano da mesma cor na cabeça, cobrindo seu cabelo.

Possuía também um bigode escuro, da mesma cor de seus olhos. Usava inúmeras pulseiras e colares de ouro, e eram tantos que provavelmente adicionava um peso extra considerável.

Assim que viram ele se aproximando, o grupo se calou e encarou o Rei de Krimisha.

 

***

 

Ashoka estava sentado em uma mesa e olhando com uma expressão vazia um livro aberto. Era apenas mais um dia como qualquer outro, portanto até mesmo ler ou praticar música era tremendamente tedioso, mesmo que fosse seus assuntos favoritos.

Usando um de seus punhos fechados para apoiar a cabeça, batucava com os dedos a madeira da mesa um ritmo complexo, quando foi interrompido por outra batida, dessa vez irregular.

— Majestade, alguns visitantes desejam vê-lo — disse um guarda, entrando nos aposentos de Ashoka sem esperar receber permissão.

— Visitantes?

— Exato, estão aguardando-o na sala de visitas.

— Neste caso, não os deixarei esperando. — O rei se levantou, checou sua aparência em um espelho e partiu rapidamente para a sala.

Chegando lá, se deparou com pessoas que nunca vira antes. Dois pareciam irmãos, pois possuíam o cabelo de cor similar — apesar de penteados diferentemente — além dos olhos serem parecidos também, um tendo uma cor violeta e o outro uma cor rosa.

Havia uma única mulher entre eles e tinha olhos verdes, cabelo loiro e exalava um ar de bondade.

Já o último e mais chamativo visitante, tinha a pele morena, roupas douradas, olhos e cabelo preto. Possuía um sorriso calmo e gentil, e sua postura mostrava ser alguém importante.

— Peço perdão por minha demora, meus caros visitantes. Sou Ashoka, o Rei Emérito de Krimisha.

— Rei Emérito? Não está mais no poder? — perguntou o homem de cabelo preto.

— São viajantes de um lugar distante? Já faz algum tempo que abdiquei do trono em favor de meu filho.

— Perdão nossa falta de educação, me chamo Nungal. — Sariel olhava atentamente Ashoka, analisando cada centímetro conforme ele se aproximava. — Estes são Leopold, Luna e Ammit.

— É um prazer — disse Ashoka enquanto se aproximava e entrava no alcance da magia de Sariel. — Com o que posso ajudá-los?

Ashoka se sentou de frente para o grupo, estranhando os nomes Nungal e Leopold, já que achava que ambos eram irmãos.

— Ammit. Ele está dentro da área, devo desfazer sua aparência?

— Sim.

Ashoka olhou para Ammit sem entender o que aquilo significava, quando acreditou que seus olhos estivessem pregando uma peça nele. O corpo de Ammit brilhou em rosa e aos poucos se tornou mais escura e sombria, revelando alguém que a muito não via.

— Aegreon!? O que diabos faz aqui? — Ashoka se levantou inconscientemente e olhou preocupadamente para os guardas que os vigiavam, porém que não reagiram.

— Preciso que me explique sobre a situação de Krimisha — disse Aegreon seriamente. — Por que há tantas pessoas sem almas? Quando teve seu segundo filho? Onde está sua esposa, Bhavna? E por que estamos sendo vigiados?

Ao ouvir isso, Ashoka entrou em pânico e não pôde deixar de olhar seus arredores. Entretanto os guardas não reagiram às perguntas, na verdade parecia que nem escutaram aquilo, alheios à situação.

— Não se preocupe com isso — disse o viajante. — Estou usando uma magia de Ilusão, portanto nada do que falarmos aqui irá comprometê-lo, para eles, você está sentado calmamente e tendo uma conversa amigável conosco.

Acalmando-se aos poucos, Ashoka se sentou novamente.

— Estive aguardando por esta oportunidade por tanto tempo... — Sua voz trêmula demonstrava seu nervosismo. — Vou contar tudo.


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