O Primeiro Serafim Brasileira

Autor(a): Anosk


Volume 1

Capítulo 40: O Rei Emérito de Krimisha

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O grupo estava a apenas alguns metros de distância dos portões do reino e já eram rodeados por centenas de pessoas ao mesmo tempo se jogando nele como lobos famintos avistando um pedaço de carne. Faziam o possível e usavam de seus anos de experiencia com vendas para conseguir qualquer moeda daqueles visitantes.

Contudo, toda aquela atenção direcionada a eles fez Luna se sentir desconfortável. Todas aquelas vozes martelavam sua mente e causavam uma dor de cabeça cada vez maior, e ser observada por tantas pessoas a deixou nervosa.

— Está tudo bem, Luna? — gritou Sariel percebendo a indisposição da princesa.

— Muita... gente... — sussurrou ela.

Ao ouvir isso, o viajante suspirou e disse: — Bem, este barulho também me incomoda, então...

Após dizer isso, subitamente todas as vozes cessaram para todos no grupo, apesar da agitação do povo e suas bocas se movendo mostrarem que não haviam se calado.

— Magia de Ilusão? — perguntou Luna.

— Sim — respondeu Sariel cujos olhos estavam levemente rosados antes de chegarem em Krimisha. — Já estou usando uma magia para alterar a aparência de Aegreon aos olhos do povo, melhor aproveitar para lidar com essa poluição sonora.

— Obrigada — agradeceu Luna. — Me sinto mal em lugares lotados e barulhentos.

— Eu imagino — disse o viajante. — Deve ter sido perturbador ouvir tanta gente gritar ameaças de morte na frente de sua casa por tanto tempo.

Com isso, o grupo seguiu seu caminho lentamente colina acima enquanto eram abençoados como o mais absoluto silêncio. Era impressionante como a magia do viajante era capaz de anular completamente milhares de vozes gritando ao mesmo tempo, parecia até mesmo que estavam em uma realidade alternativa.

Como a princesa se acalmou, dedicou sua atenção ao reino de Krimisha e o observou melhor.

A maioria das construções pequenas eram quadradas e feitas de pedra marrom, enquanto os grandes centros comerciais, templos e prédios importantes eram feitos de um material branco, decorado com metais preciosos e tendiam a ter cúpulas no teto.

Quanto ao povo, era possível perceber que a maioria dos homens não fazia a barba, e os mais velhos geralmente usavam um pano na cabeça.

Conforme se aproximavam, a multidão aumentava cada vez mais, atrasando ainda mais o progresso do grupo. A ilusão do viajante ainda estava ativa, portanto não perceberam que as ofertas haviam se tornado um pouco mais caras, custando algumas centenas de moedas de bronze e até mesmo algumas de prata.

Uma hora depois de atravessarem os portões, o grupo finalmente alcançou um ponto onde a multidão reduziu um pouco.

Porém, apesar da magia de Sariel ativa, o viajante mantinha-se em silêncio e com uma expressão pensativa.

Finalmente, o grupo se aproximou de uma grande construção branca com várias cúpulas douradas, maior que o palácio de Fordurn e menor que a grande pirâmide de K’ak’.

Essa era uma das únicas construções cercada por um muro — apesar de ser baixo — e com algumas árvores e uma lagoa artificial com água corrente.

Quanto o grupo se aproximou, foram logo parados por dois guardas, dessa vez usando uma espécie de armadura de placas misturadas com malha. Além disso, a lança que portavam tinham um brilho em suas lâminas, demonstrando que eram bem cuidadas.

— Um momento! O que desejam fazer aqui? — perguntou um dos guardas.

— Desejamos conversar com Ashoka — disse Aegreon. — É importante.

O guarda olhou para o grupo com atenção, e em seguida disse: — Certo, mas teremos de confiscar suas armas enquanto estão lá dentro.

— Preferimos que alguém fique com elas no momento que entrarmos, tudo bem? — disse Sariel.

Ao ouvir isso, o outro guarda disse: — Neste caso, não poderemos permitir sua entrada. Ou entregam suas armas aqui ou deverão ir embora.

Então, o viajante olhou para ambos os guardas com os olhos brilhando levemente em rosa — além de uma aura da mesma cor contornar sua figura — e, com uma voz amigável, disse: — Não precisam se preocupar, não faremos nada estúpido. Tentaram roubar nossas armas enquanto estávamos vindo para cá, portanto gostaríamos de ter certeza de que estarão em boas mãos.

Ao ouvir isso, os olhos dos guardas piscaram em rosa por um momento e suas posturas mudaram.

— Ah, neste caso tudo bem, podem entrar — disse um dos guardas enquanto o outro abria os portões.

— Obrigado, tenham um bom dia! — disse Sariel.

Aproveitando-se da oportunidade, o grupo se apressou em direção ao palácio.

— Ilusão é bem útil para se infiltrar em lugares, né? — perguntou Shiina.

— De fato — concordou o viajante.

— Não é perigoso usar magia de Ilusão de maneira tão despretensiosa? — perguntou Luna. — As pessoas desconfiarão.

— Ah, eu não te expliquei sobre Ilusão, né — lembrou-se Sariel. — Ninguém além de nós percebe que estou usando esta magia, caso contrário o elemento Ilusão não seria conhecido também como o elemento “Sorrateiro”, assim como alteração também é considerado o elemento “Conhecimento”.

— Entendo.

Enquanto se aproximavam do palácio, viram vários guardas encarando-os com desconfiança, mas sem abordá-los. Achavam estranho que tenham permitido pessoas armadas entrarem no lugar, mas também consideravam que talvez fossem pessoas importantes e por isso permitiram que portassem suas armas.

O palácio era definitivamente o lugar mais agradável ali apenas pelo exterior, devido às árvores que providenciavam uma boa sombra para o grupo. O piso era bem cuidado e limpo, bem diferente das ruas acidentadas onde o povo se amontoava, e a vista do grande palácio era um deleite aos olhos.

Quando chegaram nas portas do palácio, foram parados por mais 4 guardas que ficaram em alerta quando perceberam que o grupo estava com suas armas ainda. Vestiam uma armadura igual aos guardas nos portões do palácio, mas tinham expressões mais sérias.

— Parados! Identifiquem-se e diga o que querem aqui!

— Me chamo Nungal — disse Sariel que emitia um sentimento de conforto e amizade. — Estes são Ammit, Leopold, Emi e Luna. Desejamos conversar com Ashoka.

Mais uma vez, graças à magia de Ilusão do viajante, os guardas mostraram-se favoráveis ao grupo.

— Compreendo, e sobre o que gostariam de discutir? — perguntou o guarda que, apesar de estar sob efeito da magia, ainda agia com precaução.

— No momento é um assunto confidencial — disse Sariel. — Creio que não demorará para souberem sobre o conteúdo de nossa conversa.

Os guardas permaneceram em silêncio por um tempo, levemente desconfiados daquela situação inusitada.

— Tudo bem, mas deverão entregar suas armas e pertences a nós.

— Eu posso aguardar aqui fora com suas armas enquanto conversam com Ashoka — sugeriu Shiina. — Creio que não irão se importar, certo?

— Ah... — gaguejaram os guardas. — Ainda teremos que revistá-los.

— De acordo.

Seguindo a sugestão de Shiina, todos deixaram seus pertences importantes a ela e foram revisados logo em seguida. Como não possuíam nada, um dos guardas abriu porta para os visitantes.

Quando entraram, perceberam-se em um corredor com cor predominante marrom claro, e todo o chão e as paredes eram decorados com mosaicos cujos designs eram circulares e imitavam o formato de flores, enquanto o teto era um espetáculo de caleidoscópios hipnotizantes e coloridos.

Vasos enormes e estátuas de um homem com vários braços e pernas decoravam o interior, e lustres feitos com pedras de Alteração iluminavam toda a beleza daquele local. Além disso, alguns poucos guardas estavam de guarda em seus postos, e se surpreenderam com os viajantes, já que não receberam nenhum aviso de visita importante.

— Estes visitantes desejam ver o senhor Ashoka, por favor, guie-os — informou o guarda que recebeu o grupo a outro.

— Certo, me acompanhem, por favor — orientou o outro guarda.

Com isso, o grupo seguiu o guarda pelos largos corredores, tão polidos que eram capazes de verem a si mesmo no chão e nas paredes.

Logo chegaram a uma grande sala cheia de plantas e com o teto em forma de cúpula com um mosaico de uma flor de lótus. Havia vários sofás e bancos acolchoados com cores vibrantes para que se sentassem, e uma mesa cheia de frutas se localizava no centro.

— Sentem-se aqui, por favor — disse o guarda. — Informarei Sua Majestade sobre sua presença agora mesmo.

Então, o guarda deixou o local. Assim que todos se sentaram, Sariel ativou outra magia de Ilusão ao redor do grupo.

Logo depois, várias dançarinas com roupas longas e com várias joias se aproximaram para entreter os visitantes enquanto aguardavam a chegada de Ashoka, além de alguns instrumentistas começarem a tocar uma música calma com instrumentos de sopro que Luna nunca vira antes.

— Minha magia está criando uma ilusão em uma pequena que faz parecer aos olhos dela que estamos tendo uma conversa comum, e o conteúdo da conversa não será vazado — disse Sariel com um olhar sério. — Luna, use magia de Alteração e veja se tem alguma aura poderosa ao redor além de nós, todo cuidado é pouco.

— Certo... — Sem entender o motivo da cautela do viajante, a princesa se concentrou para olhar ao redor e ver as auras, não encontrando nenhuma que chegasse próximo de Sariel ou Aegreon.

— Não há ninguém, exceto alguns guardas nos vigiando secretamente.

— Ótimo — disse Sariel. — Vocês devem estar se perguntando o motivo dessa magia, é porque, apesar do fervor da população, não consegui detectar as emoções da maioria deles, mais precisamente cerca de 90% de todos.

— 90%?! — surpreendeu-se Raymond. — Tem certeza disso?

— Sim, até mesmo os recém-nascidos, por isso estou sendo cauteloso. Acho muito difícil que uma criança que ainda nem consegue perceber o mundo direito tenha aprendido a técnica de Feng Ping — disse o viajante. — Percebeu isso também, certo, Aegreon?

O Pilar encarou o viajante e depois olhou com desconfiança para as dançarinas, que não esboçavam nenhuma reação ao que Sariel acabou de dizer.

— Há uma Seita aqui roubando a alma das pessoas? — perguntou Luna.

— É a única explicação — disse Sariel. — E tenho uma suspeita de quem pode estar causando isso.

— Shiva... — murmurou Raymond.

— Exato, todas as mudanças positivas em Krimisha foi por influência de Shiva, portanto é lógico pensar que ele esteve fingindo ser um Deus bom para enganar o povo.

— Mas como isso acontece? 90% é muita coisa! — disse Luna. — Eles teriam que perceber algo de errado!

— Por isso acho estranho, talvez Ashoka saiba de algo — disse o viajante. — É até provável que ele esteja envolvido nisso.

Bastou dizer isso para verem um homem se aproximando. Ele exalava o ar típico da realeza e vestia uma roupa dourada, cheio de detalhes complexos similares aos mosaicos no palácio, com um belo manto vermelho e um pano da mesma cor na cabeça, cobrindo seu cabelo.

Possuía também uma barba e bigode escuros, da mesma cor de seus olhos. Usava inúmeras pulseiras e colares de ouro, e eram tantos que provavelmente adicionava um peso extra considerável.

Assim que viram ele se aproximando, o grupo se calou encarou o Rei Emérito de Krimisha.

 

***

 

Ashoka estava sentado em uma mesa e olhando com uma expressão vazia um livro aberto. Era apenas mais um dia como qualquer outro, portanto até mesmo ler ou praticar música era tremendamente tedioso, mesmo que fosse seus assuntos favoritos.

Usando um de seus punhos fechados para apoiar a cabeça, batucava com os dedos a madeira da mesa um ritmo complexo, quando foi interrompido por outra batida, dessa vez irregular.

— Majestade, alguns visitantes desejavam vê-lo — disse uma voz, entrando nos aposentos de Ashoka sem esperar receber permissão.

— Visitantes?

— Exato, estão aguardando-o na sala de visitas.

— Neste caso, não os deixarei esperando. — Ao dizer isso, o rei emérito se levantou, checou sua aparência em um espelho e partiu rapidamente para a sala.

Chegando lá, se deparou com pessoas que nunca vira antes. Dois pareciam irmãos, pois possuíam o cabelo de cor similar — apesar de penteados diferentemente — além dos olhos serem parecidos também, um tendo uma cor violeta e o outro uma cor rosa.

Havia uma única mulher entre eles e tinha olhos azuis, cabelos prateados e exalava um ar de bondade.

Já o último e mais chamativo visitante, tinha a pele morena, roupas douradas, olhos azuis e cabelo loiro. Possuía um sorriso calmo e gentil, e sua postura mostrava ser alguém importante.

— Peço perdão por minha demora, meus caros visitantes — disse Ashoka. — Imagino que já saibam meu nome, mas não sei os seus.

— Me chamo Nungal — disse Sariel, olhando atentamente a aproximação de Ashoka. — Estes são Leopold, Luna, Shiina e Ammit.

— É um prazer — disse Ashoka enquanto se aproximava e entrava no alcance da magia de Sariel. — Com o que posso ajudá-los?

Ashoka se sentou de frente para o grupo, estranhando os nomes Nungal e Leopold, já que achava que ambos eram irmãos.

— Ammit — disse Sariel. — Ele está dentro da área, devo desfazer sua aparência?

— Sim.

Ashoka olhou para Ammit sem entender o que aquilo significava, quando acreditou que seus olhos estivessem pregando uma peça nele. O corpo de Ammit brilhou em rosa e aos poucos se tornou mais escura e sombria, revelando alguém que a muito não via.

— Aegreon!? O que diabos faz aqui? — Ashoka se levantou inconscientemente e olhou preocupadamente para os guardas que os vigiavam.

— Preciso conversar com você, mas antes preciso que me inteire sobre a situação de Krimisha — disse Aegreon seriamente. — Por que há tantas pessoas sem emoções? Quando teve seu segundo filho? Onde está sua esposa, Bhavna? E por que estamos sendo vigiados?

Ao ouvir isso, Ashoka entrou em pânico e não pôde deixar de olhar seus arredores. Entretanto, as dançarinas e os guardas não reagiram às perguntas, na verdade parecia que nem escutaram aquilo.

— Não se preocupe com isso — disse o viajante. — Estou usando uma magia de Ilusão, portanto nada do que falarmos aqui irá comprometê-lo.

Acalmando-se aos poucos, Ashoka se sentou novamente e, com uma voz trêmula, disse: — Estive aguardando por esta oportunidade por tanto tempo...


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