Volume 1
Capítulo 39: Chegando em Krimisha
O grupo, seguindo uma estrada, subiu o desfiladeiro. Naquele ponto já seria possível avistar Krimisha de longe, se não fosse pelos morros e o terreno acidentado.
A vegetação era proeminente, com folhas bem verdes. Os bosques e florestas eram bem quentes e úmidos, ainda mais do que a Montanha de Fogo.
Durante o dia, nada de incomum aconteceu, e a noite chegou rápido. Luna treinou mais que o normal antes de dormir, pois queria cansar o corpo e tornar mais fácil a tarefa de adormecer.
Assim que considerou estar cansada o suficiente, se deitou e dormiu.
Logo sonhou novamente, um diferente do anterior, apesar dos eventos serem parecidos. Luna parecia um pouco mais velha agora, mas era outra memória dela brincando com seu pai.
Ela tentou seguir a sugestão de Sariel e fazer seu pai vestir um óculos grande com nariz enorme e bigode exagerado, mas o viajante não demorou a aparecer no sonho dela novamente antes que conseguisse algum progresso.
— Praticando?
— Sim, mas não consigo ainda fazer o que me disse.
— Não se fruste, eventualmente será capaz de fazer isso. Agora, vamos? — Ofereceu a mão e apontou para a porta.
— Para onde?
— Para o meu Reino dos Sonhos.
Sem pensar duas vezes, a princesa pegou a mão do viajante e ambos atravessaram a porta juntos, cujo interior brilhava intensamente em uma luz branca.
A luz era tão ofuscante, que Luna precisou fechar os olhos e cobri-los.
Algum tempo se passou quando a voz de Sariel a despertou.
— Chegamos, pode abrir os olhos.
Obedecendo as recomendações, ela abriu os olhos e se deparou com um lugar infinito feito de luz branca. Não era possível distinguir nenhuma forma ou silhueta, e nem mesmo perceber o chão que estava pisando.
— O-O quê? — Devido à surpresa, quase se desequilibrou e caiu, já que a falta de perspectiva e formas a fez sentir uma leve vertigem. — Por que está tudo branco?
— Quando alguém finalmente atinge a camada mais funda de seu ser, isso é o que encontram. Agora, deixe-me tornar este lugar mais confortável.
Com um estalo de dedos, todo o lugar se transformou. De repente, Luna se viu no topo de uma torre no pico de uma montanha, com um cenário que só podia ser descrito como mágico.
Montanhas altas e com o topo coberto de neve se erguiam ao redor. Lagos, rios e mares com água tão limpa que eram como espelhos, e ao longe, era possível ver desertos, tundras, pântanos e grandes florestas.
Como se não bastasse, inúmeros animais pastavam, cantarolavam, brincavam e voavam. Era como uma versão fantástica do mundo real.
— Uau... — suspirou Luna sem conseguir tirar os olhos daquele cenário. — Os animais também têm consciência?
— Não, nada aqui além de nós dois é consciente, são apenas imitações que copiam o comportamento deles pelo fator realista.
— Entendo. — A princesa continuou a admirar o cenário, quando decidiu olhar para baixo, percebendo algo semelhante a um palácio, mas com um tamanho de um reino inteiro.
Demorou um pouco para perceber que estava em uma das torres, e nem era a torre mais alta, já que a mais elevada atravessava as nuvens e desaparecia acima delas.
— O que é isso? — Seu fôlego vacilou.
— Minha biblioteca, onde todo meu conhecimento está organizado. Vamos descer. — Sem aviso prévio, o viajante simplesmente pulou da torre centenas de metros acima do chão, desaparecendo logo devido à distância.
— Sariel! — Luna se apoiou contra o parapeito e grito seu nome, tentando encontrá-lo.
— Não se preocupe, este é um lugar onde tudo é possível dependendo de sua imaginação. Pule como fiz e perceberá. — A voz do viajante soou de todos os lados e com igual intensidade.
Com um frio na barriga, Luna olhou para baixo hesitante. Claro que acreditava fielmente nas palavras de Sariel, mas isso não era o suficiente para apagar sua predisposição natural de temer pela própria vida.
Com as mãos e pernas tremendo, a princesa subiu o parapeito de pedra que deveria servir para impedi-la de fazer justamente o que estava prestes a fazer. Ficando de pé, sentiu seus batimentos acelerarem.
— Recomendo que mantenha os olhos abertos e abra os braços.
Após respirar fundo e tomar coragem, Luna se deixou cair. Subitamente, todo o medo desapareceu dela assim que sentiu o vento bater em seu rosto, soprando toda a sua insegurança. Talvez isso se devia pelo fato dela ser um anjo e pertencer naturalmente aos céus, apesar de suas asas ainda não terem despertado.
Seu cabelo balançava violentamente conforme acelerava em direção ao chão, e a princesa sentiu algo como uma corrente elétrica percorrer seu corpo.
Aquilo a fez se sentir livre e relaxada. Estava caindo de cabeça em direção ao chão, e aquilo não poderia ser chamado de “voar”, mesmo assim, aquilo a fez despertar, pela primeira vez, sua vontade de conhecer os céus.
Quando se aproximou do chão, sua queda desacelerou até parar no ar, permitindo-a ajustar seu corpo e pisar no solo.
Respirando pesadamente devido à adrenalina, percebeu na sua frente Sariel, sorrindo e aguardando-a.
— Bem-vinda ao meu subconsciente. — Dando um passo para o lado, revelou uma enorme biblioteca maior que todo o reino de Fordurn. Todo o lugar era decorado com metais e joias preciosas, e o chão era tão polido que refletia tudo com perfeição.
Estantes enormes se erguiam até o horizonte e eram todas enumeradas em várias sessões organizadas.
Sentindo-se atraída, Luna se aproximou das estantes e pegou o primeiro livro em sua frente, contudo surpreendeu-se ao notar que todas as páginas estavam brancas.
— Por que está branco?
— Você está em meu domínio, apenas poderá ler se eu assim permitir. — Sariel olhou para o livro em suas mãos. — Tente agora.
Olhando novamente para o livro, surpreendeu-se novamente ao não encontrar texto, mas uma imagem que se movia, como um sonho, ou memória.
Parecia ser sobre uma magia de cor verde-amarelo fazendo um esqueleto humano se erguer. Seus olhos brilhavam na cor dessa magia, e seus movimentos eram fluidos como os de um humano, diferente dos mortos-vivos que encontrara no vilarejo que se moviam desajeitadamente.
— O que é isso?
— Magia de Reanimação. Em resumo, permite reerguer cadáveres, é mais efetiva que Conjuração, mas gasta mais magia.
— Então você guarda aqui toda magia que sabe?
— Sim, mas não apenas magias, memórias também, além de cópias de livros reais, mapas e muitas outras coisas.
A princesa guardou o livro de volta ao lugar e caminhou entre as milhares de estantes, impressionada com a dimensão de tudo.
— Deve ter sido trabalhoso fazer isso... — Sua admiração refletia em sua voz baixa, assim como em seus olhos brilhantes.
— De fato, quanto mais aprendo e vivo, mais tenho que aumentar esse lugar, portanto creio que apenas o reino de Acrópolis tem uma biblioteca maior, bem, claro que ela é uma biblioteca física, e essa é só uma representação visual do meu conhecimento criado por mim...
— Eu posso fazer algo assim?
— Claro, mas deve praticar.
— Pode me mandar de volta então?
— Ora, não quer ver mais um pouco?
— Não seria justo eu ver o conhecimento que você tanto lutou para reunir, e quero conseguir fazer isso logo...
— Entendo, bem, neste caso, não posso recusar. — Sariel sorriu para ela. — Te vejo amanhã.
Subitamente, Luna sentiu sua consciência sendo empurrada para longe daquele lugar, como se uma força divina a puxasse violentamente até o céu, buscando arrancá-la do planeta. Então, quando menos esperava, atravessou em algo macio que amorteceu sua queda.
Quando se deu conta, estava olhando para o teto do seu quarto e, ao se sentar, percebeu estar em um sonho novamente.
Aquilo a fez se sentir levemente atordoada e confusa, mas ela logo se recuperou.
Seguindo os Conselhos do viajante, ela praticou o máximo que pôde para tentar alterar algo no quarto, tendo um pequeno sucesso ao fazer seu pai alguns anos mais novo, mais precisamente da memória mais antiga que tinha dele.
Não demorou muito, entretanto, que ouvisse uma voz a chamando e despertando.
Ao abrir os olhos, percebeu que o sol começara a nascer. Logo, o grupo se preparou rapidamente e partiu antes mesmo que nascesse por completo.
Mais um dia se passou sem incidentes. Naquele ponto, A vida da princesa se resumia em treinar a lutar corpo-a-corpo, praticar magia e navegar seu subconsciente.
A noite caiu, e todos se reuniram para discutir a estratégia em Krimisha.
— Por que estamos indo pra lá mesmo? — Sariel encarou Aegreon.
— Apesar de ser um reino grande, a presença do Conselho é mais fraca lá. Vamos atravessar a capital, e tomar a estrada ao nordeste.
— Por acaso pretende ir até as Montanhas Prateadas? Está realmente acreditando que também matei Feng Ping? Sabe que estava de provocando.
— Estou levando vocês até lá, pois se esse bastardo realmente matou dois Pilares, terão que aceitar que ele não deve ser confiado. — Aegreon ignorou Sariel e olhou para o resto do grupo. — Além disso, como você fez algo que vai chamar a atenção do Conselho, teremos que usar uma rota mais rápida, perigosa e inesperada, que é atravessar Krimisha.
Isso os fez lembrar de quando os dois lutaram pela primeira vez, lá na arena da Montanha de Fogo, e o viajante constantemente ficou insinuando ao Pilar que ele havia se encontrado com Feng Ping e o assassinado.
A princípio, todos acreditavam que Sarie estava blefando, mas agora que ele matou Indra, então havia uma chance, e o fato que ele negava isso agora poderia ser estranho.
Claro, por ser um Volátil, Raymond e Shiina ainda acreditavam nele, mas com uma dúvida, algo em suas mentes perguntava: “Mas e se...?”
A única que confiava completamente nele, era Luna, visto que ela sabia a verdade sobre Indra.
— Krimisha é o berço de Indra, não será perigoso entrar? — perguntou Raymond.
— Durante a guerra, talvez... mas Krimisha mudou bastante recentemente — respondeu Aegreon.
— Como assim? — perguntou Luna.
— Krimisha foi abandonando sua fé à Kura em um ritmo crescente, até chegar no ponto atual, onde basicamente todos seguem um Deus conhecido pelo nome Shiva.
— Adorar outro Deus?! Isso existe?! — surpreendeu-se Luna.
— Isso pode ser uma novidade para você, mas quando pensa sobre isso, não é muito absurdo que Krimisha tenha se convertido — explicou Sariel. — O povo confiou em Kura, mas o resultado disso foi uma guerra que matou incontáveis inocentes. Na verdade, há outros lugares como Krimisha que abandonou a Deusa, como Yggdrasil.
— Mas... e se for um Deus da Escuridão disfarçado?
— É um medo válido, já que sabemos da existência de quatro Deuses da Escuridão: Elgor, Freya, Nergal e Baba Yaga, enquanto só conhecemos Kura como uma Deusa da Luz, porém os seguidores de Shiva seguem um caminho de paz, buscando jamais ferir qualquer ser vivo, seja humano ou animal. Além disso, muitas pessoas com doenças incuráveis dizem ter sido salvas por ele.
— Os Deuses da Escuridão e as Seitas só surgiram após o fim da guerra — explicou Shiina, se lembrando do seu passado. — Shiva também tem uma presença nas Montanhas Prateadas, e ele existia lá muito antes do surgimento das Seitas.
— O que o Conselho acha disso? — perguntou o guarda-costas.
— Isso incomoda o Conselho, mas como nunca tivemos um problema com isso e precisamos lidar com Seitas, ainda não conseguimos investigar a fundo esse assunto, por isso apenas observamos de longe no momento — explicou Aegreon.
— Bem, pelo menos devemos agradecer à Shiva dessa vez, ele vai deixar nosso trabalho mais simples. — Sariel soltou um suspiro aliviado.
— E por que isso facilitaria nosso trabalho? — perguntou Raymond.
— Krimisha não vê alguns membros do Conselho com bons olhos devido sua crença de não-violência, acreditam que alguns Pilares, como Indra, causam dor e guerras por buscarem se tornarem mais fortes, chamando-os de “Shura”. Mas eles respeitam pessoas como Feng Ping, Ardos e Clementius.
— Isso não incluiria Aegreon também? — Raymond encarou o Pilar.
— Sim... — respondeu ele após um breve silêncio.
— Então quer dizer que não permitirão que Aegreon entre em Krimisha?
— Não sou tão conhecido quanto Indra, se não chamarmos atenção, conseguiremos entrar.
— E se não permitirem?
— Posso usar magia de Ilusão para entrarmos sorrateiramente — sugeriu Sariel. — Ou mudar nossa aparência durante nossa estadia
— Podemos revezar nas ilusões — sugeriu Shiina. — Apesar de eu não me comparar com você, minhas ilusões ainda são boas, e você se sobrecarregará se manter tantas ilusões por tanto tempo simultaneamente.
— Então está decidido — disse Aegreon. — Amanhã de manhã chegaremos em Krimisha e tentaremos falar com Ashoka, o rei de Krimisha.
Com tudo decidido, todos se reuniram para dormir.
Luna logo adormeceu e sonhou. Entretanto dessa vez não era um sonho normal.
Estava mais uma vez de volta naquela caverna e com uma mulher loira com vestes discretas segurando sua versão recém-nascida no colo.
Ela focou sua atenção em Elise, que cantarolava uma canção de ninar.
Ainda não era capaz de saber se aqueles sonhos na caverna aconteciam em um intervalo de horas ou dias, portanto não era capaz de compreender se Elise a encontrou em um dia e foi morta, ou se ela a visitou várias vezes.
Após observar a área ao redor por um tempo sem encontrar nada, decidiu treinar novamente, fazendo objetos surgirem no lugar, finalmente fazendo algum progresso, mas ainda não era capaz de trocar suas memórias como bem queria.
Quando acordou na manhã seguinte, mais uma vez treinou antes de partir, mas dessa vez Sariel planejava ensinar algo mais.
— Bem, já é capaz de usar magias de Gelo, portanto vamos a outro elemento bem útil, Alteração.
— Certo. Você disse que Alteração é capaz de detectar elementos, certo?
— Sim, mas a capacidade desse elemento vai muito além disso.
“Comunicar-se mentalmente em curtas e longas distâncias; invadir a mente de outra pessoa e analisar, alterar, apagar e implantar memórias falsas; levitar objetos, são todas coisas que esse elemento pode fazer. As pedras de Alteração também têm essas propriedades, é possível armazenar conhecimento nelas.
“Por este motivo, Alteração é conhecido como o elemento do conhecimento, já que ele é usado principalmente para pesquisar, estudar a magia e passar o conhecimento adiante na forma de memórias, que é muito mais seguro do que por livros que se deterioram com o tempo.”
— Por isso, é uma boa ideia que aprenda a usá-lo. Vamos começar com o mais simples, tente fazer essa pedra levitar. — Sariel jogou uma pequena pedra até Luna.
— Certo, apenas me deixe pensar um pouco.
Luna se lembrou com cuidado das vezes que Sariel fez objetos flutuarem, como em na Montanha de Fogo quando fez malabares com o almoço deles. Naquela hora, os objetos flutuavam independentemente de qualquer movimento corporal que ele fazia, então, para fazer isso, a resposta estava em outra coisa.
Por isso, a princesa jugou que não era necessário apontar sua mão diretamente ao objeto alvo, mas como era feito então?
Se ela não estivesse praticando nos seus sonhos, talvez teria mais dificuldade, mas como esteve usando sua mente de maneiras criativas, aquilo se tornou mais fácil.
Ela imaginou sua mão se aproximando da pedra aos poucos e fechar seus dedos devagar. Depois, tentou se imaginar erguendo o objeto.
Quando se imaginou fazendo isso, sentiu um formigamento em sua mente, como se a sensação do tato tivesse vindo diretamente de dentro de sua cabeça, como se seu cérebro tivesse tocado a pedra.
A princípio, a pedra apenas chacoalhou um pouco, mas começou a flutuar alguns centímetros do chão após tremer bastante.
A princesa tentou erguê-la ainda mais, mas apenas mantê-la no ar exigia bastante concentração.
— Bom — comentou Sariel. — Para melhorar seu controle, pode praticar enquanto viajamos, irá evoluir bastante se conseguir conduzir seu cavalo ao mesmo tempo que faz um objeto flutuar. Agora vamos para outra, tente ver a magia no ambiente.
— Certo.
Dessa vez foi um pouco mais difícil. Não fazia ideia de como ver magia, por isso fechou os olhos e pensou nas possibilidades por um bom tempo, sem chegar em nenhuma resposta.
Os minutos passaram sem ser capaz de pensar em algo, por mais que sua mente estivesse trabalhando a mil, por mais que tentasse qualquer possibilidade que lhe vinha, nada funcionava.
— Não consigo... o que devo fazer?
— Você está pensando demais nisso, é bem mais simples e, ao mesmo tempo, complicado do que pensa.
“Simples e complicado? Como isso seria possível?” Aquilo não fazia sentido para Luna. “Está pensando demais...”
Essas palavras que ele disse eram, com certeza uma dica, embora enigmática, então havia apenas uma coisa que ela podia fazer seguindo essas palavras, pensar menos.
Com os olhos fechados, limpou sua mente, fazendo seus outros sentidos se aguçarem. O cheiro da vegetação, o calor do sol em sua pele e a canção da floresta se tornaram intensos.
Foi então que percebeu algo estranho. Mesmo com os olhos fechados, parecia conseguir ver uma fraca e quase imperceptível forma feita de luz verde.
A princípio acreditou que não era nada, mas aquela forma se tornou mais definida e sua cor mais intensa, até começar a assumir a silhueta das árvores que estavam bem diante dela.
Lutando para ainda manter sua mente limpa, com o tempo mais cores surgiram. Uma luz acinzentada que se movia pelo ar como vento, algo azul no chão como uma poça de água, uma forma vacilante vermelha que ficava bem onde estava a fogueira acesa.
Então viu uma forma humana bem diante dela, com uma cor azul-claro tão intensa que seria capaz de cegar seus olhos e parecia muito maior do que ela.
Finalmente, decidiu abrir os olhos. Para sua surpresa, ainda era capaz de ver tudo daquela maneira, mas também a forma real das coisas, como se uma criança tivesse pintado figuras em um livro de colorir sem preencher totalmente suas silhuetas brancas.
— Sariel... Eu vejo! — Olhou ao redor, animada ao ver o mundo de uma maneira tão diferente. — Por que você é tão brilhante?
— Quanto maior a magia de um indivíduo, mais brilhante ela é. Além disso, você também pode sentir meu poder, quase como um sexto sentido. — Sariel caminhou até atrás de Luna. — Por exemplo, você sabe exatamente que estou aqui sem precisar se virar.
A princesa percebeu que era verdade, ela podia sentir a presença dele, como uma aura gelada que parecia capaz de congelar tudo ao redor apenas por existir.
Então ela decidiu explorar as auras de seus companheiros.
— Por que os cavalos brilham nesse tom verde-amarelo? Pensei que animais não podiam usar magia.
— Bem, há raras exceções, mas essa é a cor da Reanimação. Acredita-se que é o elemento que nos mantém vivos, por isso todos, incluindo animais, o possuem. É basicamente o mesmo com o elemento Natureza, todas as plantas têm, é nossa versão.
— Entendo...
Viu a aura de Raymond, que era violeta com alguns pontos dourados, e de Shiina, que era um misto de cinza com rosa.
Procurou ansiosa por Aegreon, porém ao encontrá-la, viu e sentiu algo terrível.
Sua aura era um roxo escurecido por trevas, um abismo tão profundo que era quase preto e, dentro dele, um caos, uma tempestade que parecia tentar se destruir.
Além disso, quase sentiu como se apenas vê-lo seria capaz de queimar sua pele, de uma maneira tão dolorida que nem as chamas do inferno se comparariam.
Dor, morte, sofrimento, doença... Isso foi o que viu e sentiu em Aegreon.
Aquilo a fez sentir um medo primordial, que acabou tirando sua concentração e fazendo-a perder a visão elemental.
— Luna, está bem? — Sariel percebeu sua agitação e se aproximou dela.
— Sim, eu só... preciso treinar mais.
— Hm, de fato. Você tem uma porcentagem baixa de Alteração, mas como seu poder mágico é elevado, no fim você tem até o suficiente para conseguir usar Alteração para detectar magia, embora não de maneira muito exata.
— Como assim?
— As silhuetas que deve ter visto eram imperfeitas e tremeluziam, correto?
Ela concordou com um aceno.
— Quanto maior sua quantidade e porcentagem de Alteração, melhor é a qualidade das formas e melhor você consegue avaliar o quão poderoso alguém é. Quanto converto a maioria do meu poder para Alteração, consigo ver o mundo até melhor do que com a visão melhor, até detalhes como as nervuras de uma folha.
— E por que não consigo ver coisas como rochas? Pensei que tudo era feito de magia.
— Mais uma vez, isso é uma questão de quantidade. Você não consegue, mas com uma quantidade alta, é possível ver sim tudo com Alteração. Mas não se sinta desmotivada, se treinar isso será capaz de sentir e ver mais coisas.
— Certo, vou me esforçar.
Enquanto conversavam, perceberam Shiina se aproximando deles.
— Há uma coisa interessante sobre Alteração, que é que ele meio que anula Ilusão.
— Meio que anula?
— Vou te mostrar. — Shiina usou uma magia que alterou seu rosto, fazendo-a parecer uma mulher ruiva de olhos azuis e sardas. — Use Alteração agora.
Seguindo suas palavras, Luna se concentrou e percebeu que o rosto da assassina estava com uma concentração maior de luz rosa.
— Seu rosto... tem uma concentração maior de magia.
— Sabe o que isso significa?
— Hmm... eu ainda vejo seu rosto como uma ruiva de olhos azuis... Então eu consigo detectar que está usando uma magia em si mesma, mas não posso ver sua aparência real?
— Exatamente, por isso Alteração é um problema pra mim. Por mais que não saiba meu rosto, você sabe que estou fazendo algo. Isso é ainda pior quando me torno invisível, pois você é capaz de ver minha aura de qualquer jeito. — Para provar isso, Shiina imediatamente se tornou invisível.
Luna, com Alteração, foi mais que capaz de ver sua silhueta rosa, além de senti-la.
— Por isso é bom que aprenda, isso pode te salvar — disse a assassina enquanto desfazia sua magia.
— Certo, darei um meu melhor.
Sariel e Shiina continuaram ensinando Luna por um tempo, mas logo tiveram que partir novamente.
***
As horas se passaram e o grupo finalmente se deparou com as primeiras pessoas e moradias ao longo da estrada. Não demorou muito para que Krimisha finalmente surgisse, com sua beleza escondida atrás de uma alta muralha.
Mesmo ainda estando relativamente longe dos portões de entrada, era possível ouvir milhares de vozes vindo da capital, o que fez Luna pensar que haviam chegado em uma data especial ou durante um festival.
Todos vestiam roupas longas e com cores chamativas, sem nenhuma exceção. Além disso, a maioria das pessoas tinham pele morena escura, provavelmente devido ao sol forte.
Quando finalmente chegaram nos portões, viram finalmente a capital. Construções de pedra se estendiam até o horizonte, mesmo assim, coexistiam com a natureza, com árvores o suficiente para proteger do sol escaldante.
Tudo era enorme, os prédios, templos, e até mesmo as ruas eram tão largas que até mesmo vários animais de grande porte, como elefantes, podiam caminhar lado a lado.
Mesmo assim, o reino era tão populoso que andar um metro sequer exigia grande esforço, claro, também havia inúmeros animais.
— Esse lugar não mudou nada... — comentou Aegreon.
— O quê? Quer dizer que isso é normal? — perguntou Luna.
— Krimisha é um reino extremamente povoado e populoso, mas não imaginava que um dia normal seria tão caótico — disse Sariel.
O grupo então avançou com dificuldade em meio à multidão que não se importava com a existência deles. Apenas chegar aos portões foi uma tarefa custosa que levou vários minutos, mas com paciência finalmente chegaram na entrada.
— Não peguem suas armas em hipótese nenhuma, entenderam?
Em resposta às palavras de Aegreon, todos acenaram em afirmação.
Como havia gente demais, os guardas não os parariam a menos que fizessem algo que chamasse atenção, e por mais que Sariel e Shiina estivessem alterando suas aparências com magia, não seria bom arriscar.
— Precisamos cruzar a capital agora, portanto vamos.
O grupo olhou com desanimo para as largas ruas, cujo percurso estava bloqueado por uma multidão de milhares de pessoas.
Não havia nenhum atalho ou rota alternativa que poderiam tomar para evitar a multidão, o reino todo estava a pleno vapor, com vendedores, cozinheiros e curandeiros gritando a todo pulmão enquanto atraiam inúmeros clientes ao mesmo tempo.
Tomando coragem, todos retomaram sua lenta e dolorosa caminha em direção ao coração de Krimisha.
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