O Primeiro Serafim Brasileira

Autor(a): Anosk


Volume 1

Capítulo 4: Reencontros (2)

Assim que percebeu a aproximação dele, Raymond sacou a espada e se colocou na frente da princesa.

— Parado!

— Raymond, espere.

— Alteza, este homem é suspeito.

— Está tudo bem, deixe-o se aproximar.

— Mas...

— Meu broche teria sido levado se não fosse por ele. Tenho o dever de, pelo menos, agradecê-lo.

Raymond permitiu — embora relutantemente — que o homem se aproximasse. Ele guardou sua espada, mas manteve a mão no cabo, atento a qualquer movimento brusco.  

— Aqui está seu broche, Alteza. — O homem ofereceu o objeto de volta com um sorriso gentil.

Após ouvir o homem dizer a palavra “alteza”, o guarda-costas se colocou novamente entre ele e a princesa.

—  Já chega! Vá embora ou exercerei a justiça do Rei!

— Raymond, acalme-se. Se ele quisesse me fazer mal já o teria feito. — Luna tentou segurar o guarda-costas pelo braço, apesar de não ter nem perto a força necessária para isso.

— Exatamente. Sem contar que você não foi muito... discreto ao chamá-la de Alteza na minha frente. Mas já que despreza tanto minha presença, então irei embora com este item. — O homem esboçou um sorriso sarcástico.

— Tsc, maldito. — Raymond se irritou com a provocação, mas se controlou e permitiu mais uma vez que ele se aproximasse, contudo estava ainda mais atento e com sua arma parcialmente desembainhada.

— Bom, como eu ia dizendo antes de ser rudemente interrompido... aqui está seu broche.

— Obrigada, serei eternamente grata. — A princesa mostrou um sorriso tão puro que deveria ser eternizado em uma pintura.

Quando Luna pegou o broche, tocou na mão desse estranho e percebeu que, apesar das roupas desgastadas, a pele dele era suave e bem cuidada.

— Entendo... também sou muito apegado ao meu. — Ao dizer isso, o homem afastou o manto dele e revelou suas roupas por baixo.

Vestia uma bota cinza, uma túnica marrom e calças escuras. Havia uma espada de comprimento médio no cinto, e na blusa — no lado do coração — havia um broche bem similar ao de Luna — com o mesmo dragão prateado formando um círculo —, porém a pedra tinha um formato circular que brilhava azul claro.

A princesa observou o broche dele com espanto e curiosidade, atenta aos mínimos detalhes. Parecia de fato bem parecido com o que usava, por isso perguntou: — Quem é você? E como conseguiu isso?

— Meu nome é Sariel. É um prazer, Luna, a Princesa Prateada. — O viajante fez uma pequena reverência.

O gesto fez Raymond quase sacar sua espada, entretanto se conteve ao perceber que o estranho não possuía uma intenção hostil.

O viajante percebeu o movimento dele e o provocou: — Também é um prazer, Senhor Raymond.

— Você não deve servir a Ardos... caso contrário não estaria perdendo seu tempo se apresentando — supôs Luna.

— Exatamente, eu vim para Fordurn, pois soube sobre seus problemas e decidi ajudá-la.

— Então você está com Aegreon?

— Ah não, já lhe disse que não estou ao lado de Ardos, ao contrário de Aegreon que é do Conselho.

Quando Sariel disse isso, Luna finalmente se lembrou de onde havia escutado aquele nome.

— Eu sabia que conhecia o nome dele em algum lugar... Qual dos dez pilares ele é?

— O Pilar da Conjuração, um dos membros mais obscuros que sabemos pouco sobre — respondeu o viajante.

O termo “Pilar” era a maneira como eram identificados os membros do Conselho. Claro, poderia chamá-los pelos seus nomes, no entanto, como eles eram as pessoas mais fortes do mundo, então foi adotado o termo Pilar, já que era justo dizer que eram os pilares que sustentam a humanidade.

— De fato, por isso confiar nele é um erro, Alteza. Além dele ser do Conselho, também é um dos membros pouco conhecidos, nem mesmo eu sei quais são suas habilidades, e seu passado é ainda mais obscuro — disse Raymond.

— Exato, ir sozinha com ele é arriscado. É impossível saber se ele diz a verdade — concordou Sariel.

— Não tenho escolha, é a primeira vez que tenho a capacidade de escolher algo, e decidi agir ao invés de esperar e observar as coisas acontecerem como sempre aconteceu. Dessa vez eu decidirei meu destino!

— Tenho certeza de que há uma alternativa, Alteza. Primeiro devemos retor...

— É melhor discutir isso em um lugar privado — interrompeu Sariel. — Vamos retornar para a estalagem que você estava e continuar lá.

— Tem razão, vamos — disse a princesa.

— Espere Alteza, tanto Aegreon quanto este Sariel são suspeitos. Ele sabe onde você esteve, conhece o Conselho, e ainda tem um broche parecido com o seu que muito provavelmente é falsificado. Tenho certeza de que ele está mentindo.

— Raymond, eu o entendo, mas se ele quisesse me fazer mal já o teria feito. Agora vamos.

O guarda-costas decidiu não argumentar mais, pois, pelo que percebeu, o viajante já sabia demais, por isso achou melhor tentar descobrir o que mais ele saberia e qual seria seu objetivo. Não sentiu nenhuma intenção hostil vinda dele, porém não podia deixar de sentir uma inquietação.

Os três caminhram de volta à estalagem, com Raymond sempre atento, e Sariel mantendo sua expressão serena e despreocupada.

Logo quando entraram no quarto, o viajante fechou a porta e disse: — Antes de começarmos a discutir, deixe-me fazer algo para evitar fofoqueiros.

Em seguida, levantou a mão direita que brilhou fracamente em uma luz rosa e meio transparente. Depois, a luz se expandiu, se espalhando pelas paredes, teto e chão, como se estivesse cobrindo o quarto todo. Em seguida, a luz parou de brilhar e sumiu subitamente.

“Magia de Ilusão”, pensou Raymond.

— Pronto, esta magia impedirá todo som de dentro do quarto de vazar. Podemos matar uma pessoa aqui e ninguém ouviria. 

Após dizer isso, Sariel olhou friamente para Luna e uma intenção hostil e assassina surgiu dele.

Raymond ficou em alerta máximo e começou a sacar sua espada, entretanto o viajante sacou sua espada em um piscar de olhos, avançou como um raio na direção da princesa e a atacou.

O guarda-costas agiu o mais rápido que pôde e se colocou na frente de Luna, bloqueando com sucesso a espada de seu oponente.

Ambos se encararam. O olhar frio de Sariel fez Raymond sentir uma urgência em matá-lo, que contra-atacou com uma estocada. Faíscas violetas de eletricidade cobriram a lâmina conforme avançava furiosamente na direção dele.

Porém, quando a lâmina estava prestes a atingir seu oponente, uma esfera de luz dourada brilhou ao redor do viajante, e a espada ricocheteou ao tocar este domo.

“Magia de Proteção!?”

Raymond ficou surpreso e hesitou um segundo antes de atacar novamente, desta vez sua espada estava completamente coberta em raios, pronta para destruir o escudo.

Ele estava prestes a atacar quando, subitamente, toda a hostilidade de Sariel sumiu, e o rosto dele — que até então mantinha um olhar frio — mudou para uma expressão descontraída.

— Ora, ora, parece que posso confiar em ti — disse ele enquanto dava as costas para Raymond e caminhava para longe de Luna, como se nada houvesse acontecido.

— O... O quê?! — Raymond estava totalmente surpreso e sem saber como reagir.

Em apenas alguns segundos, Sariel havia abandonado o jeito descontraído dele, atacou a princesa com uma intenção assassina e hostil, e retornou ao modo tranquilo novamente. Tal mudança fora tão súbita, que o guarda-costas ficou surpreso até demais para atacar novamente.

Luna também havia se surpreendido com o ataque súbito, porém manteve a calma.

— Haha! Qual o problema? Se assustou?

— Diga logo suas intenções e pare com seus joguinhos, seu maldito! Se fizer algo suspeito novamente, não hesitarei em matá-lo! — Raymond sentiu-se como uma criança sendo enganada por um adulto.

— Raymond, acalme-se por favor — disse Luna enquanto segurava no braço dele, tentando evitar que ele atacasse Sariel. — Ele não fez por mal.

— Alteza, quanto antes ele for eliminado melhor! 

— Relaxe, estava apenas testando-o para saber se era confiável 

— Eu estou com Sua Alteza há anos! Você que deveria estar se preocupando em provar sua confiabilidade!

— E daí? Os melhores espiões são aqueles que permanecem anos infiltrados, e em um cargo de alta importância. Os Anjos viveram décadas pacificamente entre nós, apenas para descobrir tudo sobre nós e então tentar nos exterminar. Mas deixemos este assunto de lado, vamos ao que interessa de uma vez.

— Certo, mas pode por favor evitar de fazer algo sem aviso novamente? Não quero vê-los brigando — pediu Luna.

— Não se preocupe, não farei mais isso visto como seu guarda-costas é esquentadinho.

Luna suspirou levemente antes de perguntar: — Então, pode dizer de onde vem e quais seus objetivos?

— Ah sim, farei melhor que isso. Contarei resumidamente minha história a vocês, pois se eu responder essas duas perguntas muitas outras aparecerão. — O viajante se recostou na parede do quarto.

— Muito bem, por onde começo?

 

***

 

Aegreon acabara de deixar a estalagem e estava se dirigindo a uma pequena área comercial para comprar comida e suprimentos.

Caminhava por um beco escuro e sem movimento, quando parou subitamente e disse: — Sabe que eu já a percebi há muito tempo, certo?

Ao dizer isso, uma silhueta atrás dele começou a sair lentamente da escuridão.

Mas não era alguém escondido nas sombras, era como se ela fosse feita da escuridão em si, pois todo seu corpo era totalmente escuro, como se a sombra de uma pessoa tivesse perdido seu dono e estivesse vagando perdida.

— Que pena... achei que, neste ponto, já seria capaz de enganá-lo — disse uma voz feminina e levemente sensual.

— Ainda lhe falta muito, mas já é o suficiente para assassinar alguém da Vigília.

A mulher terminou de sair das sombras e sua aparência se tornou evidente. Vestia roupas coladas e pretas, o que destacava bem o corpo esguio e sensual, porém de estatura baixa. Vestia uma capa preta, tão escura quanto uma noite sem lua e estrelas. Também usava uma máscara de raposa preta, os olhos eram contornados em vermelho, e havia várias linhas cinza que lembravam o soprar do vento.

— Agora, pode me dizer por que esteve nos seguindo esse tempo todo, Shiina? — perguntou Aegreon seriamente.

A assassina retirou a máscara, revelando o belo e seduzente rosto. Os olhos eram puxados e tão escuros quanto as vestes, e seu olhar era levemente luxurioso. Os cabelos eram compridos, presos em um rabo de cavalo, e escuros, com algumas mechas cinzas.

Possuía uma voz sensual — mesmo quando falava normalmente ainda exalava sua atratividade — e, considerando sua beleza corporal, provavelmente teve bastante facilidade com missões envolvendo homens — e algumas mulheres também.

— Digamos que Ardos e o Pilar do Proteção contrataram meus serviços para matar a princesinha que você está ajudando.

— Tsc, desgraçados... — Aegreon disse furiosamente, ficou em silêncio por alguns segundos, e depois prosseguiu: — E quanto a você? Seguirá as ordens daqueles dois?

— Bem, se eu for contra as ordens de Ardos eu serei caçada por toda a Vigília. Pensando logicamente, não há vantagens em ajudá-lo.

Aegreon permaneceu calado enquanto olhava fixamente para Shiina.

— Mas como é você então eu deixarei passar — disse a assassina. — Tem sorte, pois se fosse qualquer outro do Conselho eu já teria matado a princesinha a um bom tempo.

—  É melhor não me provocar... — Aegreon se irritou com os comentários de Shiina e lançou um olhar intimidante a ela.

— Perdão, perdão. Da última vez que lhe encontrei seu humor era melhor.

Aegreon não respondeu.

— Bem, você quer ir para Austrum Lux, certo? Minhas habilidades serão úteis, portanto eu os acompanharei. Assim poderei pagar a dívida que tenho contigo.

— Espero que não esteja pensando em me trair, sabe que isso seria uma péssima ideia, — Aegreon se virou e continou seu caminho.

— Pode ficar tranquilo quanto a isso. Não descansarei até que cumpra seu objetivo.


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