O Primeiro Serafim Brasileira

Autor(a): Anosk


Volume 1

Capítulo 5: O Início da Jornada

Após ser perguntado sobre seu passado, Sariel contou os acontecimentos mais importantes, começando por um evento quando tinha cerca de 5 anos e foi a um grande festival em Eribur com seus pais.

A atração principal era uma peça de teatro que aconteceria em uma grande construção, porém era pago, e como os pais dele eram pobres, tiveram que juntar dinheiro por vários meses.

Havia muitas pessoas, por isso sua mãe acabou se separando e entrou primeiro, deixando o filho com o pai para trás.

Algum tempo após ela entrar, a construção começou a queimar e, como sua mãe ainda estava lá, Sariel tentou entrar, contudo seu pai o parou.

Então, com seu braço livre estendido, uma grande nevasca surgiu da mão de Sariel e apagou o fogo, salvando todos lá dentro incluindo sua mãe. Por isso, as pessoas passaram a desconfiar de seu poder e começaram a chamá-lo de aberração, chegando até mesmo a ameaçar a vida dele e de seus pais.

Por causa disso, ele fugiu de casa para protegê-los e viveu nas ruas por um tempo. Até que um dia Erish, a sucessora ao trono de Eribur, o encontrou e o levou para viver no palácio do reino, onde treinou sua magia e aprendeu a lutar.

Sariel começou a ajudar as pessoas e, por causa disso, todos perceberam que estavam errados e passaram a admirá-lo, até que, eventualmente, Sariel passou a conversar com seus pais novamente.

Sariel também viajava muito enquanto lidava com os problemas do reino e na vizinhança. Por isso, todos começaram a chamá-lo de “Viajante”, ou até mesmo, “Herói Viajante”.

Um dia, seus pais contaram que ele não era o filho biológico deles. Disseram que o encontraram em um lugar abandonado perto de casa e decidiram cuidar dele, e a única coisa que encontraram com ele era este broche que usava agora.

Os anos passaram até que um dia as notícias sobre Luna chegaram em Eribur, o que fez com que Sariel deixasse seu reino para descobrir mais sobre a “Princesa Prateada”.

 

***

 

— E essa é toda minha história. Há vários acontecimentos que omiti pois não são relevantes agora, mas posso contar aos poucos conforme viajamos — finalizou Sariel.

— Entendo... isso responde qualquer pergunta que eu tinha por enquanto, creio que posso confiar em ti — disse a princesa.

— Alteza, não há nenhuma garantia de que ele disse a verdade. Ele pode muito bem ter inventado tudo, até mesmo sobre esse broche que deve ser falso.

— Se duvida tanto assim, dê uma olhada de perto. — O viajante remove seu broche e o arremessou para Raymond.

O guarda-costas pegou o broche em pleno ar e, no momento que sua pele tocou o objeto, o brilho azul claro da pedra mudou para um tom violeta.

— Por que mudou de cor? — perguntou Luna.

— A pedra que está cravejada neste broche é feita de um material chamado Speculum Iris, uma pedra especial que muda sua cor de acordo com o Elemento Mágico daquele que o toca. Azul claro é a cor do elemento Gelo, meu elemento, e violeta é a cor do elemento Raio. 

Raymond permaneceu olhando com atenção o broche, e parecia hipnotizado pelo brilho do item. Era como se uma tempestade de raios estivesse presa dentro daquela pedra, liberando sua fúria continuamente.

Porém o guarda-costas percebeu algo que capturou ainda mais sua atenção, eventualmente, algumas partículas douradas flutuavam no meio da trovoada, e ocorria uma pequena explosão áurea quando um raio atingia esta partícula.

— De fato é verdadeiro...

— Então já pode devolvê-lo. — O viajante levantou a mão aberta e, como se se sentisse atraído, o broche escapou das mãos de Raymond e voou diretamente para a palma do viajante que, após pegá-lo, colocou de volta nas roupas dele.

“Magia de Alteração também?”

 — Isso ainda não significa nada! Nunca ouvi falar de ninguém chamado Sariel de Eribur. Se fosse tão importante, eu teria ouvido pelo menos alguns rumores.

— Isso apenas significa que você é mal-informado. 

— De qualquer maneira, ele não é nem um pouco confiável, ele com certeza está escondendo coisas de Vossa Alteza.

— Diz isso como se você fosse o maior exemplo de honestidade aqui — provocou o viajante.

— Nunca escondi nada de Sua Alteza! — A voz de Raymond estava carregada de convicção.

— Ah é? E quanto ao ataque que ocorreu no palácio dias atrás?

Ao ouvir isso, o guarda-costas sacou sua espada e se colocou na frente da princesa.

— Como você sabe sobre isso? — Desde o começo, o guarda-costas nunca havia deixado de sentir algo de errado. Porém, após o viajante dizer aquilo, um aviso ecoou pela sua mente, dizendo que ele era muito mais perigoso do que imaginou.

Havia de fato ocorrido algo, contudo ele não sabia dizer se poderia ser considerado um ataque, pois, quando ele e os guardas do palácio perceberam a invasão, todos os assassinos já estavam derrotados.

— Ataque? Raymond, o que ele quer dizer com isso? 

— Há alguns dias, um pequeno grupo de assassinato da Vigília foi enviado para matá-la. Sorte que eu estava lá vigiando o palácio quando isso aconteceu, caso contrário, teria encontrado-a morta na manhã seguinte, Raymond.

— Raymond, isso é verdade?

O guarda-costas hesitou por um momento quando, de maneira arrependida, respondeu: — Sim...

— E por que não me disse nada? Tenho o direito de saber sobre isso! 

— Foi necessário para protegê-la. — Raymond tentou soar decidido.

— Me proteger!? Como esconder isso de mim me protegeria? E se você ou meu pai tivessem se ferido? Sem contar as empregadas que não tem nada a ver com isso tudo! O que eu poderia dizer às famílias delas se algo acontecesse? — Luna se irritou ainda mais. Já não bastava ter de ficar no palácio sua vida toda, agora até mesmo seu amigo mais próximo mentia para ela.

— Acalme-se, Alteza. Seu pai e Raymond fizeram isso para protegê-la e não a estressar. Se lhe contassem sobre isso, você iria insistir sobre se entregar a Ardos, e provavelmente tentaria fugir de Fordurn para se entregar, bem como está fazendo agora.

Luna controlou a indignação após ouvir isso. Essa decisão provavelmente foi tomada por seu pai, e o guarda-costas era forçado a obedecer.

— Tem razão. Peço perdão, Raymond... —  Luna sentiu-se culpada pelo que disse. — Nunca esconderia algo de mim, exceto se meu pai o forçasse.

— Alteza, eu que deveria me desculpar por esconder isso. — O guarda-costas se ajoelhou.

— Levante-se, por favor. Não possui culpa nisso.

O guarda-costas se levantou, evitou olhar a princesa, e retornou a discussão sobre o viajante.

— De qualquer maneira, Alteza, Sariel e Aegreon são suspeitos. Devemos voltar ao palácio imediatamente.

— Se eu ficar, a Vigília virá... Minha única chance de sobrevivência é seguindo Aegreon..

— Sua Alteza tem razão — concordou Sariel. — Não gosto da ideia de ter alguém do Conselho no grupo, mas é nossa melhor opção. Por isso é melhor que eu os acompanhe. Meu poder está no mesmo nível dos Pilares, então sou o único que pode conter Aegreon caso ele tente algo.

— Espere, não quero que vocês se envolvam nisso. É uma longa jornada e vocês estariam arriscando suas vidas! Diferente de mim, vocês possuem famílias e amigos, pessoas que ficariam devastadas se algo de ruim lhes acontecesse.

— Alteza, meu dever é protegê-la não importa as circunstâncias. Se está tão decidida em deixar Fordurn, então eu a seguirei até os confins do mundo.

— E quanto a mim, deixei meu reino justamente para ajudá-la. Seria terrível ter que voltar depois de todo o trabalho que tive para conhecê-la.

— Mas...

— Além disso, está enganada se acha que ninguém se importa contigo. Há seu pai, Raymond, e me lembro de pelo menos duas dúzias de pessoas no palácio que gostam de ti.

Luna permaneceu em silêncio por alguns segundos. Não desejava pôr em riscos aquelas pessoas com futuros tão promissores. Raymond já havia recebido a proposta de se tornar parte da Vigília, mas recusou justamente por causa dela.

E quanto a Sariel, se o que ele disse era verdade, um reino inteiro ficaria em luto se ele falecesse.

Contudo ela sabia que eles não iriam ceder, portanto, com dificuldade, disse: — Está bem, mas, se as coisas ficarem complicadas, terão que me prometer que priorizarão suas vidas.

— Tudo bem, prometo — disse Sariel imediatamente.

— Raymond? — A princesa percebeu que ele não respondeu.

— Prometo... Alteza — disse ele com dificuldade. — Mas eu o mato se ousar fizer algo a Sua Alteza. — Raymond encarou ameaçadoramente o viajante.

Sariel se limitou a apenas soltar um leve riso e dizer: — Bem, já está quase na hora para partirmos. Certo, Alteza?

— Sim, ele já deve estar chegando. E me chame de Luna apenas.

— Como desejar, Luna.

— Você também, Raymond. Teremos que esconder minha identidade, então é melhor me chamar apenas pelo meu nome, além de evitar usar linguagem formal.

— Certo, Alteza. Quando estivermos em público farei isso.

— Não Raymond, ficaremos mais tempo na estrada do que em público. Se não se acostumar, poderá cometer um deslize e revelar minha identidade. Comece a me chamar pelo meu nome agora.

O guarda-costas hesitou por um tempo e gaguejou bastante, mas, depois de algum esforço, finalmente disse: — Lu-Luna.

— Viu? Eu sabia que você conseguiria. — A princesa deu um tapinha no ombro dele. — Agora, vamos.

A princesa foi a primeira a sair, entretanto, antes de deixar o quarto, o guarda-costas pôde ver o pequeno sorriso animado dela.

Luna insistiu por anos que ele a tratasse apenas pelo nome, e agora ele finalmente havia cedido.

O trio deixou a estalagem e, quando saíram, viram Aegreon, e uma mulher vestida de preto e com máscara de raposa se aproximando. Três cavalos os acompanhavam também.

Já estava de noite, e a lua havia começado a erguer-se pelo céu.

— O que significa isso? — perguntou o Pilar desconfiado.

— Eles irão conosco — disse Luna.

— Me lembro de você. — O Pilar olhou para Raymond. — Mas e quanto a você? — Depois encarou com desconfiança para Sariel.

— Chamo-me Sariel. É um prazer, Aegreon, o Pilar da Conjuração.

Ao ouvir isso, os olhos do Pilar imediatamente se estreitaram, as sobrancelhas franziram e ainda lançou um olhar assassino para o viajante.

— Vá embora se não quiser morrer.

— Não, obrigado. Irei com vocês para ter certeza de que você não fará nada de ruim para Luna. — Sariel permaneceu calmo, ignorando o perigo iminente.

Ao ouvir isso, o Pilar se aproximou de seu cavalo e pegou sua arma. Em seguida, deu um passo na direção do viajante, enquanto segurava com força o cabo da arma, uma foice negra com algumas pedras roxas encrustadas ao longo de toda a lâmina.

Nas duas extremidades do cabo dela havia uma caveira negra, e na órbita dos olhos havia pedras que queimavam em uma chama roxa escura. A lâmina tinha um formato curvado e serrilhado, era larga, comprida, e feita de um material escuro que refletia bem a luz do luar.

Havia ainda uma espécie de couro necrosado e podre que cobria toda a arma, fazendo-a digna de ser brandida pela própria morte.

— Não falarei novamente. — Aegreon reforçou sua ameaça com um tom intimidador.

Sariel ignorou o aviso de Aegreon e permaneceu olhando para ele calmamente.

Entretanto, apesar de sua expressão neutra, uma onda terrível de hostilidade e ameaça se espalhou dele. Além disso, a temperatura caiu bruscamente ao ponto de nuvens escaparem da boca de todos enquanto respiravam, e, no céu, nuvens negras começaram a se formar, cobrindo a lua totalmente.

Os olhos dele pareceram brilhar por um momento, da mesma maneira que um pedaço de gelo reflete a luz do sol, e uma fina camada de gelo se formou no chão ao redor dele.

Todos — exceto Aegreon — sentiram-se pressionados por essa hostilidade. Raymond se afastou um passo e institivamente colocou a mão em sua espada, enquanto Shiina apenas permaneceu parada e em guarda.

O Pilar era o único que demonstrou não ter sido afetado, apesar de ter parado o avanço.

Os dois permaneceram parados enquanto se encaravam. Nenhum som podia ser ouvido, exceto do gelo que continuava se espalhando.

Após um longo momento de tensão, Aegreon colocou sua foice nas costas e disse: — Eu o matarei se sequer desconfiar que irá nos trair.

— Muito bem... Agora, se não me engano, você é Shiina, a Raposa Ceifadora, certo? — Sariel abandonou toda a hostilidade imediatamente.

No momento que a tensão se desfez, a temperatura voltou a se estabilizar, e as nuvens começaram a se dispersar.

— O-Ora, não esperava encontrar alguém que me conhecesse. — A assassina tentou esconder seu nervosismo. — É uma honra.

— Raposa Ceifadora? — perguntou Luna.

— Shiina... uma assassina bem conhecida, dizem que nunca falhou em seus contratos — disse Raymond. — Por que você está com Aegreon?

— Estou aqui para ajudá-los nessa jornada. E o que dizem está correto, nunca falhei em matar alguém, em breve você verá.

— Mais um motivo para que eu esteja com vocês — disse Sariel antes que Raymond pudesse protestar.

— Chega de demora, vamos partir — disse Aegreon.

— Mas como viajaremos? Temos apenas três cavalos e estamos em cinco — perguntou a princesa.

— Quatro cavalos. —  Um cavalo, quase como se aparecesse do nada, se aproximou de Sariel por trás. Era totalmente branco, e seu pelo refletia suavemente a luz do luar. — Faremos assim: Luna e eu iremos em meu cavalo, e Raymond irá no terceiro que Aegreon trouxe.

— Vossa Alte... Luna irá comigo.

— Seu cavalo já estaria carregando o peso equivalente a duas pessoas pesadas por causa dessa armadura. Por mais que Luna seja leve, isso irá sobrecarregá-lo e fará com que se canse mais rápido. Não entendo por que usa está armadura sendo que para alguém de sua força é puro desperdício de mobilidade e velocidade. Deveria jogar isso fora.

Ele tinha razão neste quesito. A maioria dos soldados comuns usavam armadura para proteger contra armas comuns, por isso para eles era válido, pois pessoas normais possuem pouquíssima magia para usar.

Porém, para alguém como Raymond, que não apenas usava magia, mas também era forte, usar uma armadura comum apenas servia para reduzir sua mobilidade, pois qualquer ataque mágico seria capaz de perfurar a armadura como se fosse papel. Por esse motivo, a maioria das pessoas mais poderosas decidia não usar armadura, já que a resistência de seus corpos era muito melhor do que qualquer metal.

É claro que existia também armaduras fortalecidas com Magia, capazes de proteger contra ataques mágicos. Porém esse tipo de armadura era muito difícil, caro e demorado de ser produzido, e geralmente sua proteção não seria o suficiente para nulificar completamente um golpe mágico. Por isso, até mesmo pessoas como do Conselho preferiam não vestir uma armadura.

— Esta armadura foi-me dada por Sua Majestade! Eu jamais descartaria um presente como este! 

— Então a única opção é fazer como eu disse — insistiu Sariel.

— Não permi...

— Ou deseja que Luna vá caminhando?

— Seu... faz parecer que sou o culpado por esta situação.

— E não é? Essa armadura não o está protegendo de nada, seria mais útil como peso de porta. Por isso, a única escolha será irmos juntos, certo? —  O viajante sorriu gentilmente para a princesa.

— Raymond, ele tem razão. Não se preocupe, ele não vai fazer nada de mal.

O guarda-costas permaneceu em silêncio sem saber o que responder, e no fim apenas concordou com um grunhido irritado, admitindo sua derrota.

— Deseja guiá-lo ou quer ir atrás? — perguntou Sariel para Luna.

— Não tenho experiência com hipismo.

— Então terei de ir na frente. Vamos? — O viajante fez uma reverencia exagerada e ofereceu sua mão para ajudar a princesa a subir o cavalo.

— Ah... Certo, obrigada. — Luna aceitou a mão do viajante e se preparou para montar o animal.

O viajante então olhou para o guarda-costas e esboçou um sorriso travesso, debochando de sua derrota.

Sua expressão era quase infantil, o que apenas irritava Raymond ainda mais.

Luna subiu no cavalo e, como possuía pele clara e cabelos brancos, era como se aquele animal fosse destinado a ela. Mesmo que estivesse usando roupas simples e escuras, parecia realmente uma princesa montando um cavalo sagrado, enviado pelos céus para ajudá-la.

— Olá, qual seu nome? — A princesa afagou carinhosamente o animal.

O cavalo relinchou suavemente como se respondesse à pergunta.

— Su-en... é um nome diferente — disse Luna.

— Ele mesmo o escolheu. — Sariel montou no cavalo.

— Vamos logo — interrompeu Aegreon.

O grupo então partiu. Viajaram por toda a noite e trocaram pouquíssimas palavras.


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