O Primeiro Serafim Brasileira

Autor(a): Anosk


Volume 1

Capítulo 37: Demonstração de Poder

— Impossível... — suspirou Shiina, conforme observava todo o fogo se curvar ao redor do viajante. — Sariel é um Volátil...

— Volátil? O que isso significa? — perguntou Luna, confusa do porquê Sariel conseguia usar magia de fogo. E não só ele estava manipulando aquele elemento, como o poder que era capaz de controlar estava no mesmo nível de quando lutou contra Indra.

— Volátil... são pessoas extremamente raras e únicas que são capazes de mudar o próprio elemento à sua vontade — explicou Raymond com dificuldade e sem acreditar no que estava presenciando. — Isso explica muita coisa...

— O quão raro?

— Normalmente a cada século aparecia um, mas já houve uma vez em que levou 500 anos até outro surgir... — explicou Raymond. — Sariel é o primeiro Volátil em 200 anos.

— Não é à toa que nunca ouvimos falar sobre ele — disse Shiina. — Voláteis sempre foram muito reservados...

Sem saberem muito o que dizer, todos olharam atentamente para a luta que havia chegado em um impasse. Aegreon se mantinha atento e parado, enquanto Sariel ainda caminhava lentamente com todo o fogo saudando sua majestade.

A batalha havia dado uma reviravolta terrível para o Pilar da Conjuração. Havia trazido o viajante, pensando estar levando um cordeiro para uma armadilha, mas mal sabia ele que estava levando um lobo em pele de cordeiro ao seu covil.

Sariel não tinha pressa, sabia que tinha controle total daquela situação.

— Bem, e aí? — provocou ele. — Ainda quer lutar?

Aegreon o encarou atentamente enquanto se mantinha em silêncio. Aquela situação não era nada favorável, mas ainda tinha que testar o quão bem Sariel poderia controlar o fogo.

Sem se importar com toda a lava ao redor, o Pilar da Conjuração avançou na direção do viajante enquanto labaredas roxas cobriam seu corpo inteiro.

Em resposta, o fogo e lava se condensaram em vários dragões flamejantes, além de um tornado de chamas de dezenas de metros se formar ao redor de Sariel, que estava quase ocultado devido a tanto fogo.

Em seguida, dezenas de grandes esferas vermelhas e brilhantes se formaram ao redor de todo o ambiente, cercando completamente o Pilar da Conjuração.

Depois, todas as esferas se moveram coordenadamente e voaram na direção de Aegreon, que falhou em desviar devido à quantidade incontável de esferas e foi atingido dezenas de vezes por explosões de dezenas, e até centenas de metros de diâmetro.

Em apenas alguns segundos, o local foi bombardeado incansavelmente pelas magias de Sariel. Era como uma chuva de meteoros concentrada, tornando ainda mais intenso e mortal aquele local.

O Pilar da Conjuração não foi capaz de nada, e só pôde desviar o máximo possível.

O viajante parecia que não iria parar, mas provou o contrário após lançar dezenas de explosões por segundo nele por um minuto inteiro.

Aegreon permaneceu parado e observou Sariel com atenção, esperando pelo seu próximo movimento.

Contudo o viajante simplesmente abandonou sua postura de batalha e deu as costas para ele.

— Bem, isso já deve ter sido o suficiente — disse confiante, sem esperar um ataque. — Vamos voltar. — Então ele deu as costas e caminhou de volta ao grupo, caminhando na lava como se fosse algo normal.

Aegreon bufou e sentiu-se profundamente irritado, mas não havia nada que pudesse fazer. Lutar contra um Volátil sozinho era suicídio, não importando o ambiente em que estivessem, já que ele seria capaz de mudar seu elemento conforme sua necessidade.

Sem contar que Sariel apenas esteve fazendo uma demonstração de força e controle, se ele realmente quisesse matá-lo, ele teria continuado com sua investida e teria repetido a mesma magia que usou contra Indra.

Quando voltaram os três que observaram a “batalha” olhavam para Sariel com respeito agora. Não se sabia muito sobre os Voláteis, pois eles diziam pouco sobre si mesmo, mas era um fato que todo Volátil contribuiu imensamente para a humanidade.

E, como olhavam melhor para ele, perceberam que sua glaive havia mudado de cor também, com o metal adquirindo uma cor dourada e as pedras tornando-se vermelhas. Seu broche também havia respondido da mesma maneira.

— É uma pena que eu tive que revelar este segredo tão cedo — lamentou ele. — Pelo menos isso facilita algumas coisas agora, ao invés de esfriar, posso simplesmente absorver o calor ao redor.

Ao dizer isso, todos perceberam o calor ao redor deles se tornar mais fraco e se concentrar em Sariel.

— Então foi assim que você parou a erupção de K’ak’... — comentou Raymond.

— Sim. Também foi deste jeito que pude me aproximar de vocês dois sem que me percebessem — disse o viajante olhando para a assassina.

— Sariel... me desculpe... — desculpou-se Shiina. — Eu gostaria de poder ter te avisado.

— Não se preocupe, eu já sabia — disse o viajante.

— Sabia? Como? — perguntou Raymond. — Você esteve conosco o tempo todo.

Enquanto conversavam, Aegreon finalmente retornou ao grupo e, ao percebê-lo, Sariel sorriu.

— Digamos que um passarinho me contou — disse enquanto erguia sua mão. — Ou melhor, uma corujinha.

Logo em seguida, uma coruja marrom se aproximou de longe e pousou na mão do viajante. Em ocasiões normais ela não poderia nem chegar perto dali, mas o viajante estava absorvendo bem o fogo do ambiente.

Ao ver a ave, Aegreon se lembrou instantaneamente do piar de uma coruja enquanto ele e Shiina conversaram na noite anterior.

— É verdade, você também fala com animais — lembrou-se Shiina.

— Sim, portanto não se desculpe, não a culpo por ter escondido isso — disse Sariel. — Agora, vamos partir logo, certo? — Ao dizer isso, a coruja levantou voo e retornou por onde veio.

— Sim... — concordou Luna pensativa.

Com isso, o grupo seguiu seu caminho pelas Planícies Vulcânicas. Durante todo o percurso bombeavam o viajante com inúmeras perguntas.

— Como você faz para trocar de elemento? — perguntou Luna.

— Não sei, eu simplesmente me concentro e consigo trocar meus elementos.

— Por que não tentou se juntar ao Conselho? — perguntou Raymond.

— Prefiro fazer as coisas por mim mesmo.

Perguntas desse tipo se repetiram ao longo de todo o caminho, e Sariel sempre respondia com poucas informações e sendo vago. O grupo chegou até mesmo a pedir que ele contasse sua história novamente, e ele a recontou sem adicionar nenhuma informação nova.

— Onde encontrou essa glaive? — perguntou Shiina.

— Ah... essa é uma boa pergunta — disse o viajante. — Encontrei em um santuário de anjos em Eribur. Quando a encontrei tive certeza de que era uma arma especial, já que ela reagiu ao meu elemento no momento que a toquei.

— Mas isso não é comum? — perguntou a princesa.

— Para pedras como Speculum Iris sim, mas para até mesmo o metal mudar de cor é algo completamente diferente, nunca tinha visto isso acontecer.

— Provavelmente é uma arma poderosa feita por anjos que foi abandonada durante a guerra — supôs o guarda-costas. — Tem sorte que a encontrou.

— De fato, graças a ela fui capaz a superar várias dificuldades.

— E o que mais encontrou no santuário? — perguntou Luna.

— Não tinha nada além dessa arma. Todo o resto estava completamente destruído, assim como qualquer conhecimento dos anjos.

As horas se passaram, e a noite caiu sem que percebessem, já que a luz emitida pela lava constante do local e as nuvens de cinzas cobrindo o sol afetava a percepção de tempo deles.

No dia seguinte continuaram sua jornada e finalmente atravessaram aquele lugar infernal, deparando-se com um desfiladeiro que se erguia até o horizonte, e a cor da paisagem deixou de ser cinza e vermelho para se tornar laranja e verde.

— Estamos perto de Krimisha, vamos descansar — disse Aegreon.

Com isso, o grupo montou acampamento novamente e comeram.

Como sempre, Sariel e Raymond dedicaram algum tempo para treinar Luna, com o guarda-costas ensinando esgrima e luta corporal, e o viajante ensinando magia.

Porém, a princesa agia de maneira distante em relação com Sariel. Não fazia muitas perguntas a ele como normalmente fazia, e apenas seguia seus conselhos silenciosamente.

Quando terminaram, se deitaram para dormir, mas a princesa estava tendo dificuldades com isso, apesar de ter acabado de sair de um ambiente cansativo e ter treinado ainda.

Olhando ao redor para ter certeza de que todos estavam dormindo, Luna se levantou e afastou-se do acampamento, sentando-se na beira de uma lagoa.

Não demorou muito para que vários animais se aproximassem dela e brincassem com ela.

A princesa se distraiu com os vários animais, distribuindo caricias, conversando e brincando com eles.

Passado algum tempo, percebeu alguém se aproximar atrás dela. Não se virou, pois já sabia quem era.

— Não consegue dormir? — perguntou Sariel.

— ...Não — respondeu Luna sem se virar.

O viajante se aproximou e se sentou ao lado da princesa.

— Há algo de errado? Esteve agindo estranha desde a batalha.

— Eu só... não consigo olhar para você com esses olhos, é estranho — disse Luna sem olhar para Sariel.

— Estranho como? — riu ele.

— Não sei, faz parecer que esses olhos não lhe pertencem.

— Bem, terá que se acostumar com isso, eles mudarão bastante futuramente — disse Sariel. — Mas se lhe incomoda tanto então tudo bem. — Ao dizer isso, ele fechou seus olhos e se concentrou por alguns segundos. Depois, seu broche mudou aos poucos de cor até adquirir uma tonalidade azul claro.

— Pronto, e agora? — perguntou ele enquanto olhava para Luna com seus olhos “normais”.

— Melhor — respondeu ela, ainda cabisbaixa.

— Ainda há outra coisa que a incomoda, o que é? Ainda está chateada por causa de Indra?

Luna permaneceu em silêncio. Sariel havia previsto precisamente.

Percebendo o silêncio dela, o viajante mudou de assunto.

— Há algo que preciso lhe dizer que irá lhe alegrar, mas te contarei quando estiver dormindo.

— Dormindo? Como irei te escutar então?

— Você verá — disse ele misteriosamente. — Quanto antes adormecer, mais cedo descobrirá. — Depois de dizer isso, Sariel se levantou e voltou ao acampamento.

Sabendo o quão curiosa era a princesa, o viajante usou isso ao seu favor para persuadi-la.

E funcionou perfeitamente.

Após alguns minutos Luna retornou para o acampamento e viu Sariel dormindo profundamente. Curiosa, logo se deitou e tentou adormecer, o que demorou um pouco, já que a expectativa de dormir a impedia de cumprir justamente essa tarefa.

Os minutos passaram dolorosamente devagar, até que a princesa finalmente adormeceu.


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