O Primeiro Serafim Brasileira

Autor(a): Anosk


Volume 1

Capítulo 36: Volátil

Pela manhã, Luna, Sariel e Raymond acordaram um pouco mais cedo para continuar a ensinar a princesa sobre magia.

A princesa ainda estava chateada com o viajante por ele ter matado uma pessoa, ainda mais um Pilar, mas sua vontade de aprender magia era mais forte.

— Muito bem, vamos aproveitar a batalha que tive contra Indra para explicar algumas coisas que eu fiz — disse Sariel. — Me diga qual foi a primeira coisa que fiz envolvendo magia.

— Bem... Você congelou sua espada — lembrou-se Luna. — Era para fortalecer ela?

— Exatamente, uma espada de aço comum é como faca de cozinha se comparado com a espada longa de Indra, que agora é de Raymond — explicou o viajante. — Por isso, cobrir ela com seu poder mágico cria uma camada que protege a lâmina e ainda a torna mais mortal, sendo capaz de cortar até aço. A próxima coisa que quer te ensinar é fazer justamente isso.

Ao dizer isso, o viajante olhou para o guarda-costas e disse: — Entregue sua espada antiga para que ela treine.

— Certo. — Sem hesitar, Raymond retirou sua espada da bainha — uma espada de aço simples — e ofereceu à princesa, que pegou a arma com cuidado.

— Como faço isso? — perguntou ela.

— Descubra — respondeu o viajante.

— Mas se não me dizer como faço, como aprenderei?

— Como acha que as primeiras pessoas desenvolveram e aprenderam magia? Elas tiveram que descobrir tudo do zero por tentativa e erro, por isso, deve tentar o mesmo.

— Não é perigoso? — perguntou Raymond.

— Não com uma magia simples como essa — respondeu o viajante. — Prefiro este método para aprender magia do que simplesmente dizer como se faz, pois isso estimula sua imaginação e você poderá criar suas próprias magias mais tarde.

— Ok...

Seguindo os conselhos do viajante, a princesa seguiu seus instintos e despejou seu poder mágico na espada de Raymond. Apenas pela maneira como ele explicou o que havia feito foi o suficiente para ela entender como fazer aquilo.

Lentamente, seu poder mágico fluiu até a palma de sua mão e se estendeu até a ponta da lâmina, congelando-a sutilmente.

— Muito bem, agora tente bater em minha glaive — disse Sariel enquanto sua arma flutuava no ar. — Não se preocupe em sua técnica de esgrima ou qualquer coisa, apenas bata.

— Certo...

Hesitante, Luna balançou a arma desajeitadamente e bateu contra a glaive, e o gelo na espada dela instantaneamente se desfez.

— Por que isso aconteceu? — perguntou ela surpresa.

— Pense um pouco.

Ao ouvir isso, a princesa pôs-se a ponderar sobre o que havia feito de errado. Durante toda a batalha entre ele e o Pilar do Raio as lâminas estiveram cobertas em suas magias...

Então, será que ela deveria despejar seu poder mágico na lâmina constantemente?

Considerando esta possibilidade, ela tentou novamente, dessa vez mantendo um fluxo constante de magia na espada. Depois ela golpeou a glaive do viajante, e dessa vez a magia permaneceu em sua arma.

— Muito bem! Foi capaz de deduzir rapidamente — disse Sariel. — Agora tente cortar esta pedra — disse conforme trazia nos ombros uma pedra de 2 metros de largura e colocou próximo da princesa.

Sem pensar duas vezes, a princesa tentou cortar a pedra em um golpe horizontal, e a lâmina cortou até a metade dela antes de perder a magia e parar no meio da rocha.

Ao perceber isso, Luna se desanimou pensando que havia falhado, mas a reação de Sariel foi justamente o oposto dela.

— Impressionante! Foi capaz de chegar na metade sem nenhuma técnica de esgrima e na primeira tentativa! Você já poderia ser chamado de prodígio — disse o viajante animado.

— Sério? — perguntou ela, em dúvida se Sariel estava apenas exagerando sua reação.

— Sim, Luna — disse Raymond. — Eu precisei de alguns dias para aprender a fazer isso.

— Mas... foi tão fácil.

— Para um anjo realmente deve ser fácil — riu Sariel. — Agora, vamos tentar o próximo nível, tente criar uma magia inteiramente de gelo, desse jeito. — Então, ele estendeu sua mão direita e uma espada similar à de Luna se formou, mas feita completamente de gelo.

— Certo.

Se concentrando, a princesa tentou criar uma forma similar com a espada. Dessa vez, era algo bem mais complexo do que criar uma mísera bola de neve, por isso ela se concentrou em criar uma espada de gelo com o formato mais simples possível.

Aos poucos, uma espada de gelo se formou em sua mão. O formato da lâmina estava irregular em alguns pontos, e uma névoa constante exalava da espada, mas era sólida o bastante.

— Não está perfeito, mas está bom para sua primeira tentativa — disse o viajante. — Agora tente cortar a rocha novamente, mas faça um golpe vertical.

Seguindo as instruções, a princesa mirou bem no centro com sua espada de gelo e fez um corte vertical descendente. O golpe foi bem desajeitado e não foi reto, mas foi o suficiente para quase dividir a rocha no meio.

O corte havia sido profundo, não o bastante para completamente cortar a pedra, já que a espada que Luna criou era curta.

— Muito bem! — disse Sariel. — Isso já é mais que o suficiente para se proteger. Se pode criar espadas feitas de gelo então criar estacas pontudas e atirá-las contra inimigos não será um problema.

— Tem certeza? Sinto que deveria treinar mais — sugeriu Luna.

— Partiremos agora mesmo, portanto isso é o que podemos fazer por agora — disse Raymond. — Podemos continuar na próxima parada.

— Isso mesmo — concordou Sariel. — Além disso, podemos conversar sobre outras coisas teóricas no caminho.

— Tudo bem.

E de fato, logo quando terminaram de conversar foram chamados para partir.

Durante todo o caminho, a pedido da princesa, o viajante explicou como o poder mágico das pessoas se formava, além de explicar sobre a quantidade de poder mágico e a porcentagem dos elementos.

Para começar, é melhor explicar sobre quantidade e porcentagem de magia. Imagine a magia de uma pessoa é como um bolo, a quantidade de poder mágico seria o tamanho do bolo, e as porcentagem dos elementos é como os sabores dele.

Uma pessoa pode nascer com pouco poder mágico, mas possuir um elemento predominante, como um bolo pequeno de chocolate. Porém também é possível que esse pequeno bolo tenha vários sabores diferentes.

O mesmo ocorre com pessoas com muito poder mágico, só que quanto maior o poder mágico, maiores as chances de a pessoa ter vários elementos, como um bolo do tamanho de uma mesa cortado em 12 pedaços e cada pedaço sendo de um sabor diferente.

E é claro, assim como é impossível mudar o sabor do bolo depois de feito, é impossível que os elementos de uma pessoa mudem.

Por isso, pessoas como os Pilares são extremamente raros. Na verdade, os requisitos para se tornar um Pilar é ter uma quantidade colossal de poder mágico sendo no mínimo 90% dele um único elemento.

Além disso, é absolutamente impossível uma pessoa ter 100% de um único elemento. Não se sabe direito o porquê, mas a explicação mais aceita está conectada com a formação do poder mágico, que explicarei agora.

Há algumas teorias que tentam explicar isso, mas é bem mais complicado do que parece. A mais aceita atualmente, é que a criança, quando ainda está no útero de sua mãe, herda parte do poder mágico da mãe e outra parte do ambiente, então de acordo com essa teoria, se a mãe tem bastante do elemento Proteção e viver em um lugar muito frio, há grandes chances de a criança nascer com cerca de 50% de Proteção e 50% de Gelo aproximadamente.

Por isso, seguindo essa lógica, é impossível alguém nascer com 100% de um elemento, pois as primeiras mães humanas deveriam viajar até um lugar com o mesmo elemento que ela para seu filho nascer com 100% do mesmo elemento, e isso se considerarmos a possibilidade distante que os primeiros humanos tinham 100% de um elemento, sendo que nem mesmo um ambiente possuí um elemento predominante, por mais extremo que ele seja.

Porém, é claro que apesar dessa teoria ser mais aceita, há complicações. É raro, mas é possível que uma criança, cujos pais têm pouco poder mágico e vários elementos, nasça com uma quantidade enorme de poder mágico e um elemento predominante.

Os motivos são desconhecidos, e talvez seja algo que apenas Kura saiba responder.

 

***

 

Após várias horas, o grupo seguiu seu caminho e a vegetação se tornou cada vez mais escassa, além da temperatura começar a se elevar.

No meio-dia, a paisagem deixou de ser verde e viva, para se tornar cinza, vermelha e morta.

O grupo havia chegado nas Planícies Vulcânicas, um lugar com extrema atividade vulcânica. Todo o chão era coberto em cinzas com rios de lava correndo por todo lado. Não havia nenhuma árvore ou ser vivo ali, e o calor do ar seria capaz de derreter metal apenas por estar exposto naquele ambiente.

Ninguém vivia ou viajava por ali, pois era um ambiente mortal para a grande maioria das pessoas. É claro que pessoas como os Pilares eram capazes de viajar por aquele lugar, mas até eles o evitavam e só o usavam se precisassem urgentemente atravessá-lo.

— Que calor... — reclamou Luna ensopada de suor e abanando o próprio rosto. — Como vamos atravessar isso?

— Sariel pode usar magia de Gelo para criar uma área fria ao nosso redor — sugeriu Raymond.

— De fato, mas todos nós somos bem fortes, portanto não morreríamos nesse clima, apesar de um pouco de frio ser bem-vindo aqui — comentou o viajante.

— Ainda não entramos fundo neste território, por isso vamos fazer uma pausa agora e comer — sugeriu Aegreon.

— Tudo bem.

Então o grupo almoçou rapidamente e com a ajuda de Sariel, que esfriou a área ao redor.

— Sabe, talvez seja melhor adotarmos nomes falsos a partir de agora para evitar o que aconteceu com Indra — disse o viajante. — Meu nome e o de Luna não são conhecidos, mas vocês têm certa fama, principalmente Shiina e Aegreon.

— Tem razão — concordou Shiina. — Me chamem de Emi quando estivermos em público.

— Então podem me chamar de Leopold — sugeriu Raymond.

Depois disso, Aegreon permaneceu em silêncio por um tempo.

— E você, Aegreon? — perguntou Luna.

— ... Ammit — murmurou.

— Ammit? Por acaso você vem de Nunma? — perguntou Sariel.

— Não importa — respondeu ele de maneira seca. — Mas você deveria usar outro nome também.

— Por que se nem mesmo vocês ouviram falar de mim?

— Cuidado nunca é demais, Sariel — disse Luna.

— Bem, se insistem tanto então podem me chamar de Nungal.

— Nungal? É um nome bem único — comentou Shiina.

— Ammit também é um nome bem diferente — rebateu Sariel.

Percebendo que ninguém diria mais nada, todos focaram-se em suas refeições.

Enquanto terminavam de comer, o viajante aguardava para prosseguir, quando de repente, sentiu um impacto em seu peito e foi arremessado centenas de metros para o meio de um grande lago de lava com uma ilha cinza no centro dela.

Graças à sua habilidade, foi capaz de se recuperar no ar e pousar em terra firme. Não demorou muito para que Aegreon, seu agressor, também pulasse para a pequena ilha que estava.

— Chegou a hora da revanche então, huh? — desafiou Sariel.

— Hora de acabar com isso de uma vez por todas! — disse Aegreon com determinação e sacando sua foice.

Enquanto isso, Luna observava tudo agoniada.

— O que ele está fazendo?! — perguntou tentando se aproximar dos dois, sendo segurada por Raymond.

— Luna, eles estão rodeados por rios de lava! Não podemos nos aproximar.

— Mas por que estão lutando? Shiina? — perguntou a princesa olhando para a assassina.

— Po-porque está me perguntando? — surpreendeu-se.

— Você esteve encarando Sariel de maneira estranha desde ontem!

— Você percebeu?! — Shiina se surpreendeu novamente, dessa vez pela perspicácia de Luna. — Bem, não importa, Aegreon planejava chegar aqui para matá-lo.

— Por que não nos disse? — perguntou a princesa com indignação.

— Ele me proibiu de dizer algo! — disse ela. — Eu queria avisá-los, mas...

— Maldição! — praguejou Raymond. — Este lugar tem muito do elemento Fogo no ar! Sariel não será capaz de lutar da mesma maneira que fez com Indra! Pensei que pudesse confiar em você! — reclamou enquanto olhava para Shiina.

A assassina se manteve em silêncio sem saber o que dizer. Ela havia convencido o guarda-costas a confiar nela e em Aegreon na noite anterior apenas para que ela os traísse no dia seguinte.

— Temos que fazer algo! — urgiu a princesa. — Sariel vai se ferir!

— Não podemos fazer nada... — disse a assassina enquanto cerrava os punhos. — Precisamos rezar para que ele sobreviva.

Ao ouvir isso, Luna voltou seus olhos para a batalha com o coração palpitando fortemente. Mesmo que tivesse se desiludido um pouco com Sariel, ainda o considerava um amigo próximo.

De volta à “arena”, Aegreon atacava incessantemente com sua foice coberta em chamas roxas, e todo seu corpo estava rodeado pelas mesmas chamas, que derretia o chão conforme pisava.

O Pilar da Conjuração já sabia muito bem que o viajante era capaz de esconder seus sentimentos, mas ele não se importava, ele iria mostrar toda sua fúria e raiva que sentia por aquele desgraçado.

Já Sariel, como não podia forçar uma nevasca como fez contra Indra, lançava magias de Gelo enfraquecidas pelo fogo e não era nem capaz de criar uma simples nevasca girando ao seu redor.

A vantagem estava óbvia, a chama roxa de Aegreon se tornava cada vez mais forte e mais quente que a lava em si, e corrompia tudo que tocava.

Sariel usava suas magias apenas para se proteger e mantinha-se na defensiva, pois se fosse ferido gravemente por Conjuração não seria capaz de curá-la instantaneamente como fez durante a batalha contra Indra.

Mesmo que fosse capaz de perceber todos os ataques dele — apesar da velocidade — seria só uma questão de tempo até que fosse que se cansasse e sofresse ferimentos leves, que se acumulariam até ele ser atingido por um golpe fatal.

— Planejou isso desde K’ak’, huh? — provocou Sariel.

Contudo, Aegreon estava completamente concentrado. Irritado, mas concentrado.

Cada golpe do Pilar da Conjuração era bem planejado e pensando vários passos à frente. Ele lentamente empurrava o viajante para perto da lava, pronto para dar seu golpe final.

Foi então, que Aegreon lançou grandes labaredas roxas no viajante, que usou sua magia para bloquear parte deles.

Contudo, o Pilar da Conjuração se moveu para trás do viajante e o chutou para fora da arena, e ainda pulou na direção dele e acompanhou sua trajetória no ar para ter certeza de que ele iria cair na lava.

Claro, Sariel não morreria mesmo se mergulhasse na lava, mas definiria aquela luta no instante que isso acontecesse.

Para se certificar que o viajante não tentasse voltar para a arena, cobriu sua foice com suas chamas roxas e as lançou na arena, destruindo boa parte dela.

Isso o atrapalharia e o feriria um pouco também, mas iria fortalecer seus ataques imensamente.

Depois, voltou sua atenção para o viajante que estava prestes a cair na lava. Pela primeira vez, esboçou um sorriso de satisfação. Ele finalmente iria matar aquele desgraçado de uma vez por todas!

Entretanto, isso se esvaiu no momento que viu o rosto de Sariel.

Ele também estava sorrindo. Um sorriso confiante.

Mas não foi o sorriso que assustou Aegreon, e sim, seus olhos e seu broche.

Eles haviam mudado de cor. Não estavam mais azul-claro como gelo, e sim, vermelho escarlate como fogo... como lava!

Sariel caiu com tudo na lava e, no momento seguinte, uma grande coluna de fogo e lava voou por dezenas de metros, e o calor que emanava dele era ainda mais intenso que do lugar em si.

No reflexo, Aegreon se afastou e pousou em uma pequena pedra que derretia aos poucos pelo calor emanando do viajante.

No momento seguinte, Sariel emergiu das chamas e caminho calmamente na direção de Aegreon. O calor não lhe era nada, e a lava chovia sobre si e escorria por seu corpo como se fosse água, sem causar nenhuma queimadura em sua pele.

Seus olhos eram como os olhos do diabo em si, encarando do abismo qualquer tolo que ousasse espiar seu reino, e o fogo se curvava à sua vontade. Ele era agora o dono daquelas terras.

Por um momento, Aegreon viu a figura de Ardos em Sariel. Majestoso, poderoso e soberano.

O Pilar da Conjuração ficou tão chocado que precisou de alguns segundos para se recompor e agir.

— Desgraçado... — praguejou ele com uma raiva intensa. — VOCÊ É UM MALDITO DE UM VOLÁTIL!


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