O Primeiro Serafim Brasileira

Autor(a): Anosk


Volume 1

Capítulo 34: Depois da Tempestade

Luna, Shiina e Raymond estavam em choque enquanto tentavam processar o que viam. Enquanto a luta ocorria, toda a neve foi arrancada do chão, árvores e do corpo deles e se dirigiu para um único local, e em seguida, uma grande explosão destruiu uma montanha e tudo ao redor. Uma explosão grande o suficiente para até varrer o Éden do mapa.

Apenas Aegreon não estava tão surpreso, já que presenciou cenas parecidas centenas de vezes, apesar de ainda estar confuso.

— Indra... morreu? — perguntou Luna assustada.

— Com uma magia dessas, com certeza — disse Shiina, com a voz levemente trêmula de surpresa.

— Então... ele está do nosso lado? — perguntou Raymond.

— Não... — disse Aegreon. — Suas origens ainda são desconhecidas. Não podemos confiar nele, ele pode fazer parte de uma seita!

— O que seria uma seita? — perguntou Luna.

— Falamos disso mais tarde — disse Sariel, se aproximando lentamente e com a glaive flutuando ao seu lado. — Temos que ir embora antes que o Conselho investigue aqui.

Já não nevava tanto quanto antes, apenas alguns flocos tímidos caiam e tocavam a pele do viajante, mas o chão já estava branco novamente.

As roupas do viajante estavam rasgadas em alguns pontos, como no peitoral, mostrando que, apesar de magro, tinha uma musculatura bem definida.

Seu caminhar demonstrava calma, a mesma calma que Feng Ping possuía.

— O que aconteceu com Indra? — perguntou Aegreon.

Ao ouvir isso, o viajante tirou um objeto que segurava embaixo de seu manto e jogou para Raymond, que agarrou o item com um reflexo exemplar.

Quando o guarda-costas olhou para sua mão, viu um braço decepado — parcialmente congelado —, com tecido dourado e branco e ainda segurando uma espada longa.

Assustado, Raymond quase soltou o braço de Indra, mas se conteve.

— Seu elemento é de Raio assim como Indra, portanto lhe servirá melhor que uma simples espada de aço — disse Sariel.

— Não respondeu minha pergunta — insistiu Aegreon impaciente.

— Isso foi tudo que sobrou dele — respondeu o viajante.

Ao ouvir isso, Luna olhou assustada para o braço e em seguida para Sariel.

— Vo-você o matou?! — perguntou ela com nervosismo.

— É claro, caso contrário ele informaria o Conselho.

— Mas... Como pôde?! Ele só estava fazendo o trabalho dele! — gritou Luna, ainda sem acreditar que Sariel, aquele homem gentil e bondoso, seria capaz de matar alguém.

— O trabalho dele era sua morte.

— Não importa! Tinha que ter outro jeito! Ele era uma pessoa vital para a humanidade! — disse a princesa quase em prantos.

— Não havia outra escolha — disse Sariel. — Agora, vamos embora! — disse enquanto montava seu cavalo, que estava bem calmo considerando o que acabara de acontecer.

— Espere — disse Aegreon.

O viajante encarou o Pilar da Conjuração e não disse nada.

— Nos diga quem é, de onde veio e quais suas intenções.

— Luna e Raymond sabem, pergunte a eles.

— Se não me responder, irei te matar.

Logo que disse isso, a neve, que estava suave, deu sinais de se tornar mais forte.

— Oh? Quer me matar mesmo com Luna aqui? — disse Sariel em um tom de ameaça.

Luna não entendeu o que aquilo queria dizer, já que ela ainda achava que ele seria incapaz de fazer mal a ela, apesar da imagem que tinha dele ter ruído um pouco, pois ela mesma jamais mataria alguém, e teria defendido Indra se tivesse a oportunidade.

Porém, Aegreon entendeu muito bem. Como Luna e Sariel tinham o mesmo elemento, caso ele se aproveitasse do fato de o viajante estar cansado e com menos magia para matá-lo, ele usaria a princesa para que ela liberasse uma forte nevasca e se aproveitaria do poder dela para lutar contra ele.

Portanto, Aegreon decidiu desistir da ideia.

Enquanto isso acontecia, Raymond retirou a espada do braço decepado do Pilar do Raio, e a colocou de maneira improvisada em seu cinto.

— E o que faço com isso? — perguntou ele se referindo ao braço.

— Acabe com as provas — disse Sariel friamente. — Mas não acha que deve me dizer algo?

Raymond, ao ouvir aquilo, agradeceu hesitante: — O-Obrigado...

Com isso, o guarda-costas usou seus raios violetas para consumir e pulverizar o que sobrara de Indra. A carne se queimando fez exalar um cheiro desagradável no ar, e as cinzas dele foram logo sopradas pelo vento.

Em seguida, todos montaram seus cavalos e partiram, tendo de encarar uma estrada fria, congelada e escura, já que o sol acabara de se pôr.

Após a batalha, o grupo se afastou o mais rápido possível do local. Como havia sido uma grande batalha, viajaram por 24 horas fazendo pouquíssimas pausas e sem dormir.

Durante todo o caminho, Shiina usava magia de Ilusão, criando uma área envolvendo o grupo que os tornava invisíveis e ainda impedia que o som dos cascos dos cavalos ressoasse.

Quando era cerca de 8 horas da noite seguinte, Aegreon permitiu a todos pararem para dormir.

Após montarem um acampamento, todos se reuniram e comeram juntos, mas não demorou muito para que a desconfiança surgisse novamente.

— Acho que já chega de fingimento — disse Aegreon, olhando desconfiadamente para Sariel, que estava sentado perto de Luna e Raymond. — Você faz parte da Seita de Elgor, e cobiça a alma dela — disse, fazendo um gesto com a cabeça na direção de Luna.

— Seita? Alma? O que isso quer dizer? — perguntou a princesa.

— Seitas são grupos de pessoas com o elemento Conjuração e que sacrificam as vidas de inocentes para ganhar poder dos Deuses — explicou Sariel.

Ao ouvir aquilo, a princesa precisou pedir que o viajante explicasse melhor aquilo.

Basicamente, pessoas como aquele necromante, que cobiçam o poder, se reúnem secretamente para se comunicar com os Deuses de outros mundos e buscam obter o poder deles.

Esses Deuses pedem almas em troca, e a maioria das pessoas troca a própria alma, recebendo uma certa quantidade de poder, mas logo caem na tentação e começam a sequestrar e sacrificar inocentes para entregar a alma deles e conseguir mais poder.

Não se sabe muito sobre as almas, exceto que está ligado ao poder mágico dos seres vivos, e que, quando alguém entrega sua alma a um Deus, essa pessoa perde a capacidade de sentir emoções, algo similar com o que Feng Ping faz quando luta, mas diferente já que aquilo é uma técnica.

Não se sabe exatamente o objetivo desses Deuses, mas a maioria tenta manipular a sociedade e atrair cada vez mais pessoas para suas seitas. Elgor é um dos vários Deuses e é o mais agressivo dentre eles, sempre enviando criaturas perigosas ao nosso mundo e causando destruição.

Após ouvir essa explicação, Luna olhou para Aegreon e perguntou: — E por que acha que Sariel pertence a uma dessas Seitas? Ele me protegeu esse tempo todo!

— Ele derrotou um Pilar sozinho, mostrou que pode usar Conjuração, é alguém que nunca ouvi falar, e em todo lugar que fomos nos deparamos com problemas! — disse Aegreon. — Quando visitamos K’ak’ a montanha entrou em erupção, depois enfrentamos um necromante que mencionou o nome de Elgor, o Deus associado a desastres envolvendo magias de Combate.

Ao ouvir aquilo, Sariel sorriu e disse: — Uma pena que seus argumentos são todos falhos.

— Então tente explicar tudo isso — disse Shiina apoiando o Pilar da Conjuração.

— Primeiro, eu já estava em Fordurn antes de vocês dois chegarem, e inclusive protegi Luna de um ataque da Vigília, que estranhamente aconteceu um dia antes de sua chegada — disse Sariel. — Raymond pode provar isso.

O guarda-costas concordou.

— Sim, os guardas que viram a luta descreveram um homem parecido com Sariel. Se ele quisesse mesmo ter raptado Luna ele com certeza teria o feito.

— Isso é... — começou Aegreon.

— Ainda não terminei — interrompeu o viajante. — Quando chegamos em K’ak’, o guarda que ficou responsável por levar nossos pertences surrupiou minha glaive, percebendo que era uma arma boa. Quando decidi investigar, descobri que pertenciam à Seita de Elgor e que planejavam ativar a montanha para destruir o reino, e como sabem, eu os parei.

— Mentira! — disse Aegreon irritado.

— Falei que não terminei! — insistiu Sariel. — Se eu realmente quisesse sequestrá-la, por que não fiz isso em Fordurn? E por que eu pararia a erupção ao invés de sequestrar Luna no meio do caos? Por que eu mataria aquele necromante e tentaria curá-la quando foi ferida ao invés de lutar contra vocês?

— E por que ele se ofereceria para lutar contra Indra ao invés de simplesmente observar e matar os dois Pilares quando estivessem fracos e capturar Luna? — perguntou Raymond. — Ele poderia muito bem ter feito isso, já que ela não se feriria com o gelo. Por que ele me entregaria a espada de Indra ao invés de se livrar dela ou manter para si mesmo? E principalmente, por que ele ensinaria magia para Luna se defender?

Percebendo que o guarda-costas estava ao seu lado, o viajante continuou: — Além disso, lembrem-se que eu os acompanhei para todo lugar que Aegreon escolheu. Não é estranho que ele decidiu ir para K’ak’, um reino que odeia os anjos com mais intensidade que os reinos ao redor, e logo quando chegamos a montanha entrou em erupção?

Quando ouviu isso, Raymond se lembrou de algo importante: — Além disso, ele nem tentou salvar K’ak’ e estava muito insistente para ir embora o mais rápido possível.

— Isso é ridículo! — irritou-se Aegreon. — Eu sou um Pilar! Eu luto pela humanidade!

— Vocês estão sendo manipulados, não o escutem! — disse Shiina. — Sei que Aegreon não é muito amigável, mas ele é uma boa pessoa!

— Não se esqueçam que Indra deixou bem claro que Aegreon estava agindo por conta própria — disse Sariel. — Tudo o que aconteceu até agora foi planejado por ele, e tenho certeza de que vocês estariam mortos agora e Luna sendo sacrificada nesse momento!

Percebendo que a situação estava saindo do controle, a princesa tentou acalmar todos.

— Acalmem-se, por favor! Tenho certeza de que tudo é apenas um mal-entendido. Sariel não é um homem mal, e tenho certeza de que Aegreon tem boas intenções!

— Luna, não podemos mais ignorar tudo isso — disse o guarda-costas. — Quem sabe o que acontecerá assim que chegarmos em Krimisha?

— De fato — concordou Sariel. — Estes dois combinaram de se encontrar em Fordurn e tinham planejado capturar Luna, mas como estou aqui estão tentando se livrar de mim.

Após ouvir isso, um breve silêncio tomou conta do local. Aegreon rangia os dentes e balbuciava palavras incompreensíveis, tentando retrucar os argumentos, mas não encontrava saída.

Já Shiina, também possuía uma expressão irritada e se levantou subitamente.

— Já que confiam tanto assim nele, então podem morrer por ele! — disse irritada enquanto se afastava e sumia na vegetação.

Olhando a assassina se afastar, uma dúvida caiu sobre Raymond. Ela era definitivamente suspeita, mas suas ações e a maneira como agia o dizia o contrário. Ele se lembrou de quando estavam em K’ak’, no dia que foram conhecer o reino e se divertir. Raymond recusou insistentemente, mas no fim ela o convenceu pelo cansaço a sair do quarto dele.

Depois, no mesmo dia, quando ele ganhou aquela aposta ele exigiu que ela protegesse Luna não importasse o que acontecesse, e ela disse que já pretendia fazer isso, pois era o que Aegreon também queria.

E de fato ela a protegeu durante a batalha contra o necromante. Lutou ao seu lado com eficiência e insistência, por isso, se realmente quisesse sacrificar Luna, teria fingido estar se esforçando ou nem teria lutado.

Com essa dúvida em mente, Raymond olhou para Sariel e disse: — Eu confio em você, portanto proteja Luna caso Aegreon tente qualquer coisa.

— Certo — respondeu o viajante. — Mas o que pretende fazer?

— Falarei com ela — disse conforme se afastava do grupo.

Depois que o guarda-costas partiu, Aegreon e Sariel se encararam atentamente, deixando Luna nervosa com toda a situação.


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