O Primeiro Serafim Brasileira

Autor(a): Anosk


Volume 1

Capítulo 26: Iniciação das Artes Mágicas

Luna se via cercada por uma escuridão interminável. Por algum motivo, uma fraca luz estava sendo emitida dela, o que a permitia ver alguns metros ao redor.

O chão era totalmente congelado, e não havia mais nada ao redor, além do interminável gelo em que pisava.

Seu corpo tremia, era a primeira vez em sua vida que experimentava essa sensação estranha.

Sem saber como lidar com o frio, tentou esfregar o próprio corpo numa tentativa de aquecê-lo, porém suas mãos estavam tão frias quanto o chão que pisava.

Como não conseguia esquentar seu corpo, tentou caminhar pela escuridão na esperança de encontrar algo, qualquer coisa, que a pudesse entender onde estava.

Foi então, que ao longe avistou uma luz alaranjada. Correndo, ela se aproximou dessa luz e percebeu uma fraca fogueira. Em seguida, se ajoelhou próxima dela e aproveitou o calor do fogo.

Segundos depois, quando achou que estava tudo bem, percebeu uma figura humanoide, alada e completamente negra se aproximando logo à sua frente.

Como se temesse aquela forma, o fogo se apagou e deixou a princesa na escuridão novamente.

Contudo, apesar da escuridão, aquela figura era tão negra, que mesmo sua forma era visível no meio do absoluto escuro, como se a noite houvesse assumido um corpo físico e se aproximasse devagar de Luna.

Assustada, ela se levantou e correu para longe daquela forma. Entretanto, mesmo que corresse o máximo que podia, aquela figura se tornava cada vez maior, e uma onda gelada tornava os movimentos de Luna cada vez mais lentos.

Eventualmente, Luna tropeçou e caiu. Quando se virou, percebeu que a figura estava tão grande como uma montanha. Suas asas eram enormes e pareciam capazes de abraçar o mundo inteiro e cobri-lo em sua sombra absoluta.

Uma mão imensa se aproximou dela e almejava agarrar a princesa. A criatura sussurrava algo o tempo todo conforme se aproximava.

— Quantus tremor est futurus. Quando judex est venturus. Cuncta Stricte discussurus.

Sua voz parecia vir de todo lugar, e possuía um tom bizarramente agudo e sussurado.

— Me-Me deixa em paz!

A mão daquela criatura estava prestes a tocá-la quando uma fogueira surgiu entre ambos e afastou a escuridão.

A criatura hesitou por algum tempo, mas logo prosseguiu com seu avanço.

Entretanto, a chama da fogueira se tornou cada vez mais forte, iluminando completamente os arredores e banindo aquele ser da existência.

E foi assim que Luna acordou.

Ao abrir os olhos, percebeu-se encarando um teto amadeirado.

Sem saber onde estava, virou o rosto e viu Sariel sentado numa cadeira logo ao lado. Uma pequena esfera de luz branca rodeada por um arco-íris flutuava em sua mão. Depois, ele jogou essa luz no chão, que quicou no chão, bateu na parede e retornou até sua mão.

O viajante continuou esse ciclo por vários momentos, como se brincasse com uma bola, sendo essa bola feita de luz pura, e não deveria ser flexível.

— Sariel... — sussurrou a princesa.

Ao ouvir essa voz, a bola se desfez. O viajante virou o rosto para a princesa e sorriu.

— Ora, a princesinha adormecida despertou.

Luna se sentou na cama.

— O que aconteceu?

— Você foi atingida com uma magia de Conjuração e ficou desacordada por dois dias.

— Ah... — A princesa esfregou os olhos e se espreguiçou um pouco, quando finalmente percebeu algo. — DOIS DIAS?

— Isso mesmo.

A princesa tocou o próprio ombro e percebeu que não havia nada, nem mesmo uma cicatriz ali.

— Magia realmente é incrível... — suspirou.

— Sim, mas foi um belo trabalho te curar, levou quase uma hora.

— Uma hora? Mas da outra vez você me curou em apenas alguns segundos.

— É porque você foi ferida com Conjuração.

— Qual a diferença?

— Conjuração é um elemento especialmente perigoso, por isso você deveria se afastar de Aegreon. Apenas o pior está reservado àqueles próximos dele.

Luna permaneceu em silêncio por algum tempo, quando seu estômago roncou audivelmente.

— Ah... — Sentindo-se envergonhada, abraçou com os dois braços a própria barriga como se tentasse ocultar o som de seu estômago.

Haha! Bem, você dormiu por dois dias, não é à toa que está com fome.

Hm — murmurou a princesa, ainda envergonhada.

— Bem, vou buscar algo para você comer, já volto — disse Sariel conforme se levantava.

— Espera! — chamou a princesa.

O viajante se virou.

— O que foi?

— Há algo que preciso lhe dizer, chegue mais perto, por favor — disse Luna baixinho.

Ao ouvir isso, o viajante se aproximou e se sentou na cadeira novamente.

— Sim?

— Mais perto... — murmurou a princesa.

— Tá bem, tá bem... — O viajante se aproximou ainda mais.

Luna, ao perceber que Sariel estava próximo o suficiente, aproximou-se da orelha dele para sussurrar algo.

Foi então, que seu rosto mudou de trajetória e seus suaves lábios tocaram a bochecha dele.

O contato durou apenas um único segundo, mas foi o suficiente para assustar o viajante, que se afastou com o ato súbito e olhou para Luna com uma expressão surpresa.

— Obrigada por ter me salvado novamente — agradeceu a princesa com um sorriso puro. — Infelizmente essa é a única maneira que tenho de lhe agradecer... Sei que não é o suficiente, ma...

— É o suficiente — disse Sariel, sorrindo. — Mas terá de fazer o mesmo com Raymond, você estaria morta se não fosse por ele.

— Farei isso!

Com isso, o viajante deixou o quarto. Alguns segundos se passaram e Raymond entrou no quarto com uma expressão preocupada.

— Luna! Graças a Kura você está bem!

— Sim, graças a você e Sariel.

— Como está se sentindo?

Luna ficou em silêncio por um tempo, o que preocupou Raymond um pouco, mas ela logo respondeu.

— Com fome...

Ao ouvir aquilo, a expressão preocupada do guarda-costas desapareceu e se transformou em um sorriso.

Pff, hahaha!

A risada do guarda-costas estava carregada de alívio e alegria.

Luna se surpreendeu por ouvir o riso de Raymond. Era a primeira vez em meses que o ouvia rindo, mas parecia diferente dessa vez, pois nunca o ouvira rir de maneira tão descontraída e vívida.

— Ah... Perdoe-me, Luna. Não pude me conter ao ouvir logo isso após você ter ficado inconsciente por tanto tempo — disse Raymond enquanto se recompunha.

— Tudo bem, aproxime-se, por favor — disse Luna. — Preciso recompensá-lo também.

— Isso não é necessário, apenas vê-la bem já é o suficiente — disse Raymond.

Neste momento, Sariel retornou ao quarto com dois pratos de comida e um copo com suco flutuando ao redor dele. Depois, sentou-se perto da cama e fez os objetos flutuarem na frente da princesa.

— Aqui está seu almoço, coma a vontade.

— Obrigada.

A princesa pegou um dos pratos que flutuava diante de seu rosto e começou a comer. Como não comia nada de origem animal, tinha de se contentar com outra sopa de legumes, apesar de essa estar milhares de vezes mais apetitosa em comparação com aquela que comera na estalagem de Fordurn.

Enquanto comia, ambos Sariel e Raymond a observavam, quando o viajante sugeriu algo que surpreendeu o guarda-costas e a princesa.

— Luna, o que acha de aprender a usar magia?

— O quê?! — surpreenderam-se Luna e Raymond ao mesmo tempo.

— Você é um anjo, portanto sua habilidade com artes magicas é naturalmente superior a qualquer humano comum. Se aprender a usar magia, não precisará depender de outros para te protegerem, e situações como aquela na invasão não se repetirão.

— Mas Luna nunca emitiu nenhum traço elemental! Sua Majestade já chamou um estudioso para checar o poder mágico dela, e ele não conseguiu identificar nada — explicou Raymond.

— Impossível — disse Sariel. — Ela com certeza tem elemento Gelo nela, já que é imune a frio.

— Deve ser apenas uma coincidência — comentou Luna.

— Sim, Luna possuí tão pouco poder mágico que não é nem detectável.

— Pelo que percebi de Fordurn, artes mágicas é algo em que vocês estão bem atrasados, não me surpreenderia se esse estudioso fosse um farsante ou um iniciante — disse Sariel. — Mas ela definitivamente tem uma quantidade considerável de poder mágico.

— Como sabe disso?

Ao ouvir isso, o viajante olhou para o guarda-costas com um olhar que quase parecia dizer “é sério?”.

Raymond recebeu este olhar sem entender o motivo dele, se perguntando se houvesse perguntado algo estúpido e ridiculamente evidente.

— Para ser completamente imune a frio é necessário ter uma quantidade considerável do elemento Gelo, e ela definitivamente tem Gelo como elemento principal como podemos ver pelo seu broche.

Ao ouvir isso, Luna olhou para o próprio broche, que continuava a brilhar em azul claro, como se uma nevasca estivesse presa dentro dela.

— Além disso, percebeu quanto o cabelo dela cresceu nesses últimos dois dias?

Com isso, Raymond observou bem os fios prateados da princesa e percebeu que de fato haviam crescido mais que deviam.

— De fato... Um crescimento tão rápido indica um poder mágico relativamente alto... Mas porque não podemos senti-lo?

— Não praticar magia pode deixar seu poder mágico em um estado de descanso, que pode enganar um pouco na hora de detectar seu poder — explicou o viajante. — Se ela praticar magia, com certeza irá superar qualquer praticante comum.

Depois disso, Luna e Raymond permaneceram em silêncio e pensativos, quando a princesa decidiu quebrá-lo.

— Realmente posso aprender magia? — perguntou insegura.

— Com toda a certeza — afirmou o viajante.

— Então quero tentar!

— Muito bem, eu e Raymond lhe ensinaremos então, certo? — perguntou olhando para o guarda-costas.

— Contanto que não faça nada perigoso, estou de acordo.

— Então está decidido, hoje mesmo começarei a lhe ensinar, mas antes deve terminar de comer.

— Certo.

Em seguida, a princesa comeu rapidamente sua refeição. Durante este tempo, Aegreon apareceu para checar a condição dela e logo deixou o quarto, avisando que partiriam logo que ela se sentisse disposta.

Enquanto recuperava suas forças, a princesa ficou sabendo que, apesar do grande ataque, poucas pessoas morreram graças à coragem de Raymond e Shiina, e à velocidade com que Sariel e Aegreon derrotaram o necromante.

Alguns minutos depois, Luna se levantou e se exercitou um pouco antes de sair acompanhada de Raymond e Sariel.

O grupo partiu sem demora enquanto todos do vilarejo se despediam e os acompanhavam partir com os olhos.

Era cerca de meio dia quando deixaram o vilarejo, e não houve nenhum imprevisto durante o caminho.

Ao anoitecer, o grupo já havia alcançado uma floresta e montaram um acampamento para dormir. Contudo, Sariel, Raymond e Luna tinham outros planos.

Os três se afastaram um pouco e encontraram uma clareira, onde se sentaram e começaram a explicar como a magia funciona.

— Muito bem, há muito para explicar, portanto resumirei como puder — disse Sariel.

— Certo — respondeu Luna animada.

— Muito bem... — começou Sariel.

Magia é a energia que compõe e está presente em tudo no universo, seja vivo ou inanimado.

Além de anjos, humanos e dragões, poucos seres vivos são desenvolvidos o suficiente para manipular a magia dentro de si, por isso animais são incapazes de canalizar este poder, apesar de possuírem esta energia e serem feitos dele.

— Dragões?! — perguntou Luna surpresa. — Eles existem mesmo?

— Sim, aparentemente são criaturas que vieram do mundo dos anjos junto deles, mas não tem relação biológica com eles.

— Entendo.

— Onde parei mesmo? Ah, sim... — continuou Sariel.

Há duas maneiras principais de usar magia. O primeiro método é o mais simples e consiste em canalizar o próprio poder dentro de si, condensá-lo e externá-lo.

Para exemplificar isso, Raymond ergueu sua mão e fios de eletricidade violeta a cobriram.

— Se eu tocar em alguém com minha mão deste jeito, ela receberá um choque intenso e não será capaz de escapar de meu toque, a menos que ele tenha um poder mágico alto ou do mesmo elemento que o meu.

Como esse método envolve usar o próprio poder, aquele que está externando a magia não é afetada por ele, mas qualquer outra pessoa pode ser afetada por ele, já que, mesmo se duas pessoas tiverem o mesmo elemento, é como se cada pessoa possuísse uma versão insignificantemente diferente do mesmo elemento, similar às rosas, que podem ter várias cores diferentes mesmo sendo a mesma planta.

Já o segundo método, envolve manipular a magia ambiente. Como tudo é composto de magia, o ar está impregnado de poder magico, o que torna possível usá-lo. Usar magia por este método é superior em poder, mas inferior em velocidade que o primeiro, pois a pessoa estaria usando um poder que não é dela.

Um exemplo disso seria como Ardos, o Pilar do Fogo e líder do Conselho, seria capaz de criar uma explosão de uma centena de quilômetros de comprimento caso aproveitasse o poder do fogo de um vulcão ativo.

Ainda há um terceiro método que envolve fazer ambos ao mesmo tempo, mas isso é algo complexo que apenas pessoas muito poderosas são capazes de fazer.

— Entendi, e como posso usar magia? — perguntou Luna.

— Já tocou em neve antes?

— Sim, até já criei um boneco de neve com meu pai antes — disse Luna sorrindo. — Foi divertido...

— Isso ajuda, mas seria melhor se você já tivesse sentido frio...

— Bem, eu meio que senti frio enquanto tive um pesadelo... — disse ela enquanto se lembrava com medo a sombra que tentava engoli-la em seu pesadelo.

— Então tente se lembrar daquele frio e concentre na palma de sua mão. Tente imaginar esse frio tomando a forma de uma esfera e a molde como uma bola de neve.

— Ok!

Animada, a princesa se lembrou do frio intenso de seu pesadelo e o imaginou transferindo-se até a palma de sua mão direita. A princípio, sentiu que estava fazendo algo errado e bobo, mas insistiu.

Após alguns segundos, ela sentiu uma onda de frio tremenda passar por todo seu corpo e se dirigir até sua mão. Porém ela não tremeu, aquele frio não era um incomodo, pelo contrário, era confortável.

Sentido que estava fazendo certo, imaginou esse frio se transformando em uma esfera e mentalizou esse frio se transformar em neve.

Olhando para sua mão ansiosa, percebeu uma pequena partícula branca surgiu em sua palma e aos poucos cresceu até o tamanho de uma formiga.

Contudo, no meio do caminho, sentiu uma agulhada em sua mente, o fluxo de sua magia se desestabilizou e perdeu a concentração, falhando em completar a magia que sumiu no ar.

— O que aconteceu? — perguntou Luna.

— Não se preocupe, é normal ter dificuldades em usar sua primeira magia, tente de novo — aconselhou Sariel.

— Certo.

Luna tentou a mesma coisa, mas falhou novamente quando a pequena esfera de neve atingiu certo tamanho.

Encorajada por Sariel e Raymond ela tentou outras 3 vezes, sempre resultando numa falha da exata mesma maneira, com seu fluxo de magia subitamente tornando-se instável e uma dor de cabeça aguda tirando sua atenção.

— Não adianta... — suspirou ela conforme tocava a própria testa, que doía cada vez mais.

— Talvez ela realmente não tenha tanto poder como falei — disse Raymond.

A ouvir isso, Sariel apontou a mão com a palma aberta para Luna e uma estaca de gelo do tamanho de uma adaga surgiu dela e disparou na direção da princesa, que a atingiu no braço.

Quando a atingiu, a estaca se quebrou instantaneamente. Luna não se feriu e apenas sentiu como se tivessem arremessado uma bolinha de papel contra ela.

Raymond ficou tão surpreso com a ação repentina que nem teve tempo de proteger a princesa. Ele não sentiu nenhuma intenção má vinda de Sariel, como se ele realmente não quisesse feri-la, mesmo assim isso o irritou.

— O que pensa que está fazendo?! — irritou-se Raymond, já se colocando na frente de Luna por instinto.

— Sentiu alguma coisa, Luna? — perguntou o viajante, ignorando o guarda-costas.

— Nada.

O viajante olhou para o guarda-costas e disse: — Viu? Ela resistiu a minha magia, o que significa que ela tem magia mais que o suficiente para conjurar uma estaca 3 vezes maior que a minha. Deve haver algum outro problema... O que sente quando sua magia falha, Luna?

— Sinto como se o “frio” fluísse mais fracamente, e sinto uma agulhada em minha mente...

Sariel permaneceu pensativo por um momento.

— Bem, está ficando tarde, melhor dormirmos — comentou Raymond.

— Tem razão, amanhã continuamos.

Com isso, ambos voltaram ao acampamento e dormiram.

Enquanto estava deitada, Luna observou a própria mão enquanto se mantinha pensativa. Se perguntava se não possuía talento e apenas daria trabalho a Sariel e Raymond, que estavam se esforçando para ensiná-la.

Eventualmente ela acabou dormindo uma noite sem sonhos ou pesadelos.


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