O Primeiro Serafim Brasileira

Autor(a): Anosk


Volume 1

Capítulo 18: Segredo na Floresta

O viajante caminhou por vários minutos por dentro da grande floresta de K’ak’ e já estava bem distante da capital. A densa vegetação agia apenas como um pequeno empecilho ao viajante, que cobria grandes distancias mesmo naquele terreno acidentado.

Paqui permanecia no seu ombro, apesar de levantar voo algumas vezes para pegar um pedaço de carne de algum animal que havia morrido sabe-se lá quantos dias atrás.

Após um bom tempo, Sariel encontrou o lugar que procurava. Diante dele, havia ruinas do que um dia fora uma grande cidade do reino Ueyi Kojtlan, e devido ao abandono a vegetação invadia as casas e enormes raízes cresciam por baixo das ruas, danificando os caminhos de pedra.

— Ótimo, agora... onde era mesmo?

O viajante se dirigiu para o centro das ruinas de Ueyi Kojtlan, e entrou em várias casas, examinando as paredes, chãos e objetos que estavam intactos.

Conforme se aproximava, Paqui ficava cada vez mais agitado.

— Não precisa ficar nervoso, amigo. Estou aqui para te proteger — disse acariciando a ave, que se acalmou um pouco.

Após alguns minutos procurando, Sariel entrou em uma casa pequena e investigou todos os quatro cantos. Foi então que, ao levantar um grande tapete velho e empoeirado, encontrou no chão um buraco losangular na espessura de um dedo.

— Aha! Te achei!

Em seguida, ele pegou a pedra prateada que havia encontrado antes e inseriu neste buraco.

Em resposta, o piso começou a brilhar intensamente numa luz prata, e várias linhas se formaram ao redor da pedra. De cada um de seus quatro vértices surgiram linhas que criaram a forma de vários retângulos, e em seguida o chão desceu aos poucos, revelando uma escadaria para o subsolo.

Sariel observou desconfiado para o caminho diante de si.

— Hmm, isso é muito engenhoso para ter sido construído pelos habitantes de Ueyi... — murmurou. — Pagui, é melhor você ficar aqui fora. Fique em algum lugar alto, e se perceber alguém se aproximando, se esconda.

Croac!

Em resposta, a ave deixou o ombro do viajante e desapareceu no meio da floresta.

— Aqui vou eu.

Sariel desceu as escadas devagar, observando atentamente a estrutura deste esconderijo subterrâneo.

Conforme se aprofundava, a escuridão se tornava cada vez mais absoluta. Entretanto isso não era um problema para o viajante, pois ele levantou sua mão direita, emitindo um brilho marrom, e condensou todo este brilho em uma pequena esfera do tamanho de um grão de feijão. Conforme a luz se concentrava sua cor mudava aos poucos, deixando o tom marrom e tornando-se puramente branca, como se fosse uma pequena porção do sol.

Esta luz flutuava logo à frente de Sariel e iluminava bem o caminho. Nada ocorreu durante sua descida, exceto pela temperatura do ar que estava mais quente do que o comum.

Finalmente, o viajante chegou ao último degrau e se deparou com uma sala pequena o suficiente para ser totalmente iluminada pela sua luz.

A princípio parecia que não havia nada de interessante, apenas algumas mesas de pedra com papeis velhos em cima deles.

O viajante se aproximou de uma mesa, pegou o papel mais próximo e o leu.

— “... no entanto observamos que o Elemento Natureza e o Elemento ----------, apesar de estar presente nos humanos, dentre os 12 elementos são muito mais raros de serem encontrados se comparado a nós. A tese mais aceita no momento é de que...”

Sariel estreitou seus olhos, mas o resto da página estava completamente queimado.

Olhando melhor, ele percebeu que todos os papéis eram materiais científicos escrito por anjos. Os assuntos que tratavam eram amplos e variados, e estavam em sua maioria rasgados ou queimados.

Havia outra folha que chamou sua atenção, escrito na língua dos anjos.

— O que é isso? — perguntou-se enquanto traduzia com dificuldade o texto. — Di-Dies Irae?

Dies Irae, era o título no início da página. Ler o que estava escrito era uma tarefa de extrema dificuldade, já que a folha estava muito danificada e ainda estava escrita em outro idioma.

— Qua-Quantus tremor est fu-futurus... Quando iudex est ventu-venturus... Cuncta stricte dis-discusurus...

O resto da folha estava ilegível.

— O que significa isso? — perguntou-se. A maioria dos textos angelicais encontrados no mundo humano eram traduzido no idioma geral de Vilon, por isso era extremamente raro encontrar algo na língua dos anjos.

Como seria impossível decifrar sobre o que seria aquele texto, Sariel examinou a sala com mais cuidado. A parte branca de seus olhos emitia um brilho marrom e esquadrinhavam cada centímetro do lugar.

E graças a sua atenção, encontrou vários itens interessantes: Uma espada angelical com a lâmina lascada, restos de uma estátua de anjo, plantas que não existiam em K’ak’ ou Ueyi e até mesmo lascas de pedras mágicas.

Além disso, encontrou itens deixados mais recentemente: restos de comida, tigelas e copos, roupas de origem de K’ak’ e fragmentos de uma pedra roxa escura.

Para finalizar, encontrou uma passagem secreta — Sim, uma passagem secreta escondida em uma passagem secreta.

A passagem era um grande bloco de pedra que estava cortada milimétricamente sob medida para não ser possível nem mesmo ver o contorno do corte na parede.

Após empurrar a pedra por alguns metros, ela enroscou em algo e emitiu um som de “Cleck”, como se tivesse ativado algo. Em seguida, a pedra desceu no chão, revelando um corredor.

No momento que viu o corredor, Sariel sentiu uma energia mágica que conhecia muito bem.

— Conjuração, huh?

Ele então apagou sua esfera de luz e avançou completamente na escuridão.

Quando estava próximo do fim do corredor, percebeu que ele se abria para outra sala, e dela viu luzes e ouviu vozes conversando. O viajante decidiu não se arriscar e, envolvendo seu corpo em uma luz rosa, ficou invisível e entrou na sala.

O que viu em seguida, foi dezenas de pessoas focadas em atividades distintas como ler, fazer competição de braço de ferro e comer.

A maioria vestia as roupas de K’ak’, entretanto havia uma pessoa com um grande manto preto e um capuz sentado no fim da sala e de frente para a parede. Na mesa que estava, havia dezenas de pedras roxas, armas de cor escura, animais e até pessoas mortos.

Sariel não pensou duas vezes e imediatamente desfez sua invisibilidade e avançou na direção daqueles que estavam mais próximos dele.

Suas primeiras vítimas eram dois homens que estavam sentados em uma mesa conversando tranquilamente. Ambos morreram antes mesmo que pudessem sentir a lâmina cortando suas cabeças.

Em seguida, avançou contra uma mulher e a chutou no peito, arremessando-a contra a parede. Ao bater, todas as suas costelas se quebraram e perfuraram seus pulmões e coração.

Na sequência, perfurou o coração de dois homens e com um soco explodiu a cabeça de uma mulher.

Foi só após matar 6 que as pessoas perceberam o que estavam acontecendo. Os que estavam mais próximos tentaram sacar suas armas e lançar magias de fogo, no entanto foram mortas antes que pudessem fazer algo.

Após ter matado quase metade dos presentes, eles finalmente contra-atacaram lançando uma tempestade de fogo roxo no viajante. As chamas pareciam capazes de consumir tudo e mergulharam furiosamente no invasor.

Cercado pelo fogo, o viajante não tardou a ter todo o seu corpo queimado e carbonizado, caindo no chão derrotado.

Um homem se aproximou do corpo carbonizado e o chutou.

— Ahá! Achou mesmo que pode...

Tum!

De repente, o homem foi atingido por algo invisível e teve seus pulmões esmagados pelo que parecia ter sido um soco. A força o arremessou contra outro, que falhou em desviar do parceiro.

E não parou por aí, o corpo de Sariel havia desaparecido do lugar que estava, e em seguida todos começaram a ser arremessados, cortados e empurrados por algo invisível.

As pessoas tentavam se defender, prever e atacar o alvo invisível, contudo falhavam miseravelmente e morriam inutilmente.

Todos morreram com exceção daquele que vestia o manto escuro. Seus ataques pareciam aleatórios, entretanto miravam um alvo que apenas ele era capaz de sentir.

No entanto, ser capaz de ver e ser capaz de atingir são duas coisas completamente diferentes.

Como não havia mais a necessidade de se manter invisível, o viajante desfez sua ilusão e avançou na direção do homem, agarrando-o pelo pescoço e suspendendo-o no ar. O homem tentou ferir Sariel com seus raios, mas uma barreira dourada surgiu ao seu redor e bloqueou toda a magia.

— Você é o líder? Esperava que fosse mais forte...

— Morra! Você não pode resistir ao poder de Elgor!

O rosto do homem era velho e cheio de rugas, e seus olhos possuíam um brilho de maldade.

— Fique quieto! — Sariel aproximou sua mão do rosto do homem e encostou em sua testa.

Entretanto, dessa vez ele apenas invadiu sua mente por alguns segundos e foi expulso logo em seguida.

— Não vai conseguir tirar nada de mim! Elgor é absoluto!

O viajante ficou parado, fechou os olhos por alguns segundos e, quando os abriu novamente, encostou mais uma vez no rosto do homem.

O homem não pôde resistir dessa vez e toda sua vida foi revelada a Sariel de uma só vez.

O contato durou apenas alguns segundos, mas foi o suficiente para embaralhar completamente as memórias do homem, que quase desmaiou com a invasão. Ele se sentiu tonto, e sua cabeça doía tanto que parecia que iria explodir de dentro para fora.

Sem se demorar, o viajante agarrou com ambas as mãos as mandíbulas inferior e superior do homem, e em um único puxão, arrancou-as uma das outras, deixando sua cabeça sem a metade superior. Devido a brutalidade, seu rosto foi encharcado pelo sangue do homem.

Sariel largou o corpo no chão e observou a parte superior da cabeça que tinha em suas mãos. Era possível ver claramente uma parte da coluna cervical, cujas vertebras ainda ficaram conectadas com o crânio.

— Elgor... É o Deus dos Elementos...

O viajante então descartou a cabeça como se jogasse fora uma bola e destruiu todos os itens que estava na mesa, incluindo os cadáveres de animais e pessoas. Depois, pegou uma das tochas que estava nas paredes e queimou tudo, incluindo os corpos, alimentos e qualquer livro ou página solta.

Em seguida, ele se virou e caminhou de volta para a superfície.

— A montanha...

Conforme retornava, uma pergunta insistente se repetia em sua mente.

— Esse esconderijo subterrâneo... foi construído mais ou menos na mesma época que essa cidade...

O viajante passou pelo corredor e se dirigiu para as escadas.

— E este reino foi destruído pelos anjos décadas atrás...

Estava na metade de sua subida.

— Então por que diabos os anjos destruiriam um reino que construíram junto com as pessoas?

Sariel alcançou a superfície e removeu a pedra prateada do buraco, fazendo com que a passagem se ocultasse novamente.

— Os habitantes sabiam daquele lugar e até o visitavam... conversavam com os anjos... Isso não faz o menor sentido... Ei! Paqui!

Porém, não houve resposta.

— Pagui?

Sariel se focou em escutar, quando percebeu o choro de uma ave se aproximando aos poucos. Por isso, ele correu em direção do som e se deparou com uma figura conhecida agarrando Pagui pelo pescoço.

— Hunac? O que está fazendo aqui?

O general se aproximou com a ave ainda em suas mãos e disse: — Impedir o que você quer fazer!

— A montanha... — começou Sariel.

— Eu sei muito bem o que quer fazer com a montanha, por isso irei impedi-lo! — disse Hunac com convicção. — Também sei sobre o que fez com Sak-Lu e Ti-Chaak, pode ter certeza de que todo o reino irá de caçar!

— Solte Paqui agora!

A ave se debatia, batia as asas e emitia um som de cortar o coração, mas o aperto do general estava firme e não o permitia escapar.

— Oh? Tudo bem.

Crack!

Um som alto de algo sendo quebrado reverberou nos ouvidos do viajante. A ave, que até o momento estava chorando de dor e pedia por ajuda, ficou imóvel, com sua cabeça pendendo de maneira molenga ao lado de seu corpo.

— Toma — disse o general arremessando a ave na direção do viajante.

O corpo de Paqui voou em sua direção. Porém, ao invés de cair no chão, o cadáver flutuou gentilmente até Sariel, que o segurou com um braço da mesma maneira que se segura um recém-nascido. Ele observou a ave em silêncio, e não se moveu.

— O que foi? Está arrependido? Ele estaria vivo se não tivesse o manipulado com sua magia! — disse Hunac.

Sariel não respondeu.

— Vejo que não está disposto a falar, neste caso — O corpo inteiro do general se cobriu em intensas chamas roxas —, irei te ma...

Whoosh!

O viajante desapareceu completamente do seu campo de visão. Desta vez foi diferente de quando fingiu não o ter visto se movendo quando se enfrentaram na arena.

Tum!

Hunac sentiu um impacto em suas costas, seguido de algo molhado escorrendo por seu peito. Ao olhar para baixo, viu uma mão atravessando seu peito e segurando seu coração com as veias ainda conectadas.

— O...quê?

Em um único movimento, a mão se retraiu e arrancou seu coração pelas costas. Com a falta do órgão, o general sentiu seu corpo enfraquecer e caiu no chão.

Quando caiu, o viajante se colocou ao seu lado e deixou o coração cair na frente do rosto de Hunac. Em seguida, ele pisou no órgão, espremendo todo o sangue que restava dentro dele — da mesma maneira que se torce um pano molhado —, pintando o rosto do general com o próprio sangue.

— Você... Não vai me impedir... — disse Sariel se virando e desaparecendo na floresta, com Paqui ainda em seus braços e com a luz do sol começando a iluminar o topo das árvores.

Hunac permaneceu no chão enquanto se afogava no próprio sangue e via os restos esmagados de seu coração. Conforme sua vida se esvaia, ele se lembrou de tudo que fez por K’ak’.

Se lembrou de quando era criança e aos poucos foi se tornando famoso pela sua habilidade em combates, atraíndo a atenção até mesmo de Yaxun, que na época ainda não era o rei, e foi treinado por ele.

Se lembrou das inúmeras lutas que ganhou exceto contra Yaxun. 

Também se lembrou da incrível luta entre Yaxun e o antigo rei de K'ak', onde ele o derrotou e se tornou o novo rei.

Por último, a memória dos anjos invadindo K'ak' e matando sua família, despertando sua fúria por essa raça maldita.

Lágrimas surgiram em seus olhos conforme se lembrava, adquirindo a mesma cor de seu rosto ensanguentado conforme escorriam.

Lágrimas de sangue.


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