O Pior Herói Brasileira

Autor(a): Nunu


Volume 1

Capítulo 8: Começo do Treinamento

— Cen-Cento...e um. Cento... e dois... Nghh! Cento... e três... — disse, gemendo devido a dor das flexões.

Já fazia umas duas semana desde o início do meu treinamento. Diferente do que pensava, os exercícios eram , de fato, pesados. Só pra — começar — o dia, tinha que fazer 300 flexões, sem pausas. Claro que, antes, teria que me alongar e fazer um aquecimento moderado. Em geral, isso levaria a fazer uma — corridinha a toda velocidade — na floresta. Desviar das pedras e das árvores no caminho, não era nada fácil...

Além disso, aquele velhote maldito me fazia acordar as 5 DA MANHÃ para iniciar o meu treino. Por algum motivo, Erich me fazia treinar descalço; o que originava em inúmeros machucados no meu pé. Cansei de contar quantas vezes, machuquei meus pés pisando em pedras enquanto corria igual um idiota pela floresta.

Devido ao horário em que acordo, as manhãs costumam ser um tanto frias, e esse velho senil ainda sim me obriga a fazer meu treinamento sem camisa e sem um calçado. E nem adianta tentar fugir do treino. Sempre que eu tentava cabular as suas aulas pra tentar dormir, ( normalmente me escondendo em algum lugar da floresta ) ele por algum motivo sempre conseguia me encontrar. Não adiantava quantas vezes eu tentasse, ou em qual lugar eu me escondesse — ele sempre me encontrava. E ainda me acordava me agredindo com um bastão de madeira.

Nesse momento, ele estava assistindo o meu treino, sentando na escada que leva a casa. Algumas vezes ele assiste os meus treinos, não é toda as vezes, mais uma hora ou outra ele apenas fica ali... me observando... ( apesar que ele é cego...)

 

— Du...zentos e... quarenta e t-três... Du-Duzentos...e quarenta e qu... zzzzzzzzzzzzzzz

Acorda, desgraçado! — disse, me agredindo na cabeça com um bastão.

Ai! Ai! Eu não estava dormindo! Du-Duzentos e qua-quarenta... e cinco...

Todos os dias eram, mais ou menos, baseados nisso. Ou eu começava correndo pela floresta e terminava fazendo flexões — ou — o contrário. Era, basicamente, trabalho físico. Eu decidi começar a treinar com esse velhote para aprender sobre o Nill. Claro, não é que eu queira ser um herói ou algo do tipo, mas é algo que eu vejo com essencial nesse mundo. E eu nem sei nem o básico disso. Pra complementar, depois daquele ataque que eu sofri daquela — sombra desconhecida — ter uma forma de me defender seria uma ótima opção!

Mas tudo o que treinamos até então foi o meu corpo. Isso me deixava um pouco emburrado, porém sempre que reclamava com Erich ou ele me ignorava ou dizia a mesma coisa, o qual eu não conseguia decifrar.

— Tão certo é o sol nascer e no fim do dia se pôr, também é certo que, um recipiente frágil não suportará qualquer coisa.


— [...]


Eu não podia responder aquelas palavras, então apenas fazia o que ele mandava. É verdade que eu tinha algumas reclamações sobre o treino, mas, as noites eram bem divertidas. Eu costumava ficar apenas encher o saco dele, até que ele se irasse comigo. Ficar fazendo barulho de propósito ou ficar conversando com ele sem deixá-lo dormir, era uma forma minha de me vingar pelo tormento que ele me fazia passar todos os dias.

Normalmente, nós apenas conversamos até tarde da noite sobre coisas triviais, ou ficamos nos provocando e fazendo piadinhas um para o outro. Não vou mentir... é bem divertido!

— Duzentos...e nov-noventa e oito... Duzen-Duzentos e... novent-noventa e nove... Tre-Trezentos! Acabei! — disse, desabando no chão visto que meus braços estavam pesados.

— Fi-Finalmente... obrigado Deus...

Quando terminei, Erich apenas parou de ficar viajando e olhou pra mim com uma cara esquisita. Suas sobrancelhas se levantaram, ele colocou uma de suas mãos segurando seu queixo e começou a murmurar baixinho como se pensasse pra ele mesmo:

— Hum... eu deveria aumentar o número de flexões?

— O QUÊ?!

Hehehe! Estava apenas brincando. — Disse, com um grande sorriso que ia de canto a canto de sua face. — Agora vá correr pela floresta, e não quero que você volte até a hora do almoço!

— Quando foi que você se tornou minha mãe, velhote? — exclamei, com os olhos esbugalhados. — Droga, droga, droga!

Comecei a correr pela floresta mais uma vez. Sentia pontadas a todo momento em meus braços, como se uma abelha os ferroasse a cada passo que eu desse. Isso não era nada reconfortante. Além disso, devido a uma dessas pontadas de dor, acabei tropeçando em uma raiz de uma árvore, assim acabei batendo minha cara no chão.

Ai! Ai... que droga!

Apesar disso, não podia ficar no chão por muito tempo. Se o velho percebesse e pensasse que estava — descansando — estaria ferrado. Mesmo com o pé doendo, apenas me coloquei de pé mais uma vez e continuei correndo.

Correr por essa floresta não era nada fácil. Pedras, a grama que esconde raízes e pedras, as árvores no meio do caminho e o meu próprio corpo. No início, depois de uns 10 minutos correndo aqui, meu corpo já pedia arrego, mas agora, consigo correr até por uns 40-50 minutos tranquilamente.
O problema é que eu tinha que correr no meio dessas árvores por 6 horas. Então, não tem corpo que resista a isso. Depois, de mais ou menos, uma hora e meia, meu corpo já estava pedindo algum descanso.

Arf...Arf... A-Cof! COF! COF!

O cansaço além de atrapalhar minha respiração, tirava minha concentração. Meus olhos, aos poucos, começavam a ficar pesados, e somados a isso, minha visão ficava turva o que dificultava bastante. Percebi isso quando bati meu rosto em cheio com uma árvore...
Claro, Erich era um homem bom e justo. Ele não obrigava ninguém a treinar, se eu não suportasse. Mas, caso eu desistisse do treino no meio dele, eu teria que ficar sem almoço: — Sem trabalho, sem comida. Foi o que ele disse.

Depois de toda aquela maratona, ele me obrigava a tomar uma ducha na cachoeira — ou melhor dizendo — ele me fazia ficar literalmente em — baixo — da cachoeira. Receber aquela quantidade exorbitante de água na cabeça e nas costas depois de fazer atividades físicas por seis horas, com o corpo cheio de machucados... bem, podia dizer que não era um dos melhores banhos que eu já tive...

Por mais que enxergasse o treino físico como algo positivo, não conseguia entender qual seria o objetivo de — meditar — em uma cachoeira. Mas, não é como se desse pra entender a mente daquele velho caduco.
Quando eu sentia que o sol já estava quente a ponto de matar alguém, voltava pra casa — torcendo pra que já fosse a hora do almoço, se não ele me obrigaria a voltar para floresta e correr de novo, sem dó nem piedade. Pensando bem aquele velhote era realmente forte pra quem já era tão senil. Forte a ponto de dar até medo de ir contra ele... velhote maldito assustador...

Por sorte, assim que fui caminhando em direção a velha cabana, senti um aroma que abriu meu apetite. Era um cheiro intrigante de especiarias — sal, pimenta e cominho — tudo isso somado a um caldo forte com verduras e legumes fresquinhos. Minha barriga roncou como um trovão assim que esse perfume impregnou nas minhas narinas. Meu cérebro que estava definhando, por causa do cansaço, acordou rápido com um disparo de uma arma. Como em resposta a esse desejo, meu corpo começou a manifestar seu desejo, por meio de uma quantidade enorme de saliva que escorria pela minha boca. Parecia um zumbi morto de fome andando pela floresta

— Co...mida... Comi...da...

Assim que ultrapassei árvores, enxerguei Erich cozinhando na frente de casa em um panelão antigo feito de ferro. Era nosso lugar habitual onde almoçávamos. Sentado em uma pedra ele mexia o caldo branco, tendo cuidado para não queimar.

Hehehe! Você está um pouco atrasado, moleque! — Berrou, Erich. — O rango está quase pronto!

Estava molhado, então depois de me enxugar, fui rapidamente em direção a panela, e me sentei junto a Erich. Ele sempre diz para eu chegar no horário, para que eu o veja cozinhando um pouco.

— Eu vou tirar a próxima semana de treino, para lhe ensinar a cozinhar o básico, moleque!

— Pra quê? — perguntei, chateado. — Isso parece tãoo chato...

Ele logo pegou o bastão de madeira e colocou em suas mãos, não precisava ser um gênio para entender que eu não tinha escolha.

— Desculpa, desculpa! Eu estava brincando, não me mate...

— [...]

— Escute, garoto...

Hã?!

— O mundo não vai colocar comida na sua mesa — disse, com um tom sério, diferente do habitual — não estou pedindo pra você virar um chefe, mas, aprender o básico para sobreviver é importante.

O velhote não costumava agir dessa maneira. Ele apenas age assim quando é algo realmente importante, como os treinos. Então, sabia que teria que levar o seu conselho a sério.

Haha! Ok, velhote, eu faço isso. Mas não vou mentir, não me importaria em apenas comer sua comida. Até que ela não é tão ruim. — disse, com um tom sarcástico.

Hehehe! Você é uma figura, moleque! Mas se você gostou da minha comida, então você ficaria sem palavras quando provasse os pratos da Holly.

— Oh? Se achando, por ter uma esposa que cozinhava bem? — Indaguei, brincando. — Droga... Velhote sortudo! Que inveja!

Hehehe! Eu tirei a sorte grande, moleque!
Depois dessa pequena brincadeira entre nós dois, Erich pegou nosso dois pratos fundos e serviu uma quantidade generosa da sopa. Pra complementar partiu um pão grande, e dividiu pra nós dois.

Comecei a devorar o alimento como um leão, já o velhote apreciava com calma sua refeição — partindo o pão em pedaços minúsculos e os molhando na sopa quente. Sua mastigação era bem lenta, provavelmente devido a falta de dentes em sua boca. Ele também sempre deixava a sopa cozinhar bastante, para que, os legumes ficassem bem cozidos.

NHOC! GRRR! NHAAC!

—......Unhuum...Glup! Coma devagar, Iori. Tenha cuidado pra não se engasgar.

[...]

As vezes, ele fala meu nome. Por mais que seja apenas meu sobrenome, como ele me chama apenas de — moleque  — a todo momento, quando ele diz meu nome... eu fico um pouco encabulado...

Nhum...Glup! Hum? Esse sabor...

Hehehe! Eu sabia que você perceberia moleque...

— Cebolas! — Gritei, entusiasmado.

Hehehe! Correto. Diretamente importadas de Rapeviel. Tinha algumas ainda guardadas.
Diferente das cebolas do meu mundo, que tem um sabor mais adocicado. As desse mundo tem um sabor mais apimentado, ou pelo menos essa que eu estava provando.
Depois de terminar minha refeição, decidi esperar o velhote. Ainda tinha bastante no prato dele, mas ele apenas devolveu o resto da comida de volta pra panela.

—.....Tsc! Faz um tempo que eu não tenho muita fome...

— Já que você não ia comer mais, você podia apenas me dar sua parte, velhote! — Provoquei, brincando com o fato de ele comer pouco.

Hehehe! Você deveria pegar leve garoto — alertou, Erich. — Se não você não vai conseguir trabalhar a tarde toda.

Ele estava avisando sobre o fato do — trabalho — que estamos fazendo toda tarde. No caso, era arrumar o jardim que Holly tanto queria. Ele tinha o desejo de vê-lo pronto, e no fim tirar uma foto dele para colocar no álbum. Segundo sua história, Nem Holly, nem Erich conseguiram terminá-lo devido seus afazeres de herói. Holly era uma médica muito ocupada e Erich tinha que salvar as pessoas — então eles não tinham muito tempo para acabar o jardim.

Além disso, com a morte de Holly e a velhice de Erich, o jardim acabou inacabado. Relva acabou crescendo, e árvores foram invadindo o trabalho duro que eles tinham feito.
Mas agora que um jovem estava aqui, o jardim poderia finalmente ser concluído. O trabalho era duro, e tinha muitos problemas pra resolver. Além disso, tinha que intercalar com meus treinos o que fazia não restar muito tempo. O velhote insistia em ajudar, o que também desacelerava o trabalho — mas não podia culpá-lo. O jardim é muito importante pra ele.

Hoho?! Ousa me subestimar, velhote? — Indaguei, curioso. — olhe só esses músculos, eles podem trabalhar o dia inteiro!

Coloquei meu braço perto do rosto dele. O mesmo cutucou meu braço, e deu um risada honesta.

— Esses graveto aí?! — perguntou, me provocando. — Duvido que aguente carregar um saco de farinha, Hehehe...

Tsc...

O jeito que aquele velhote me subestimava me irritava profundamente. Além disso, ele é quase cego, como ele sabe que eu não sou forte? Me dava vontade de trabalhar o dia todo, só pra ver a cara de tonto dele!

Hum... na verdade... isso pode funcionar... — Murmurou, tão baixo que era óbvio que ele só estava falando consigo mesmo.

Hã?! O que você tá falando aí, velhote?

Hehehe! Eu tive uma ótima ideia, moleque...

 

 

 

 

 


Notas do Autor: Todas as Ilustrações dessa novel são feitas por IA. Comentem e façam teorias, leio e respondo todos os comentários



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