O Pior Herói Brasileira

Autor(a): Nunu


Volume 1

Capítulo 5: Adeus, Yve!

No meu coração já havia tomada a minha decisão a seguir: Iria fugir de Yve.

Para muitas pessoas, com certeza, isso não seria uma decisão muito inteligente. Na verdade, até eu deveria saber disso. Mas para mim, naquele momento, aquilo não era importante; eu apenas queria sumir daquele lugar, não queria ver mais o rosto daquelas pessoas.

Eu sabia que viver em Yve seria a decisão mais sábia em muitos sentidos: eu poderia aprender sobre o — Nill — teria o conforto de ter uma casa e até mesmo segurança. Em geral, seria a decisão correta. Mas não queria ter que ficar nem mais um dia naquele lugar.

Eu nunca fui maduro, sempre fui alguém que toma decisões emotivas. Apesar disso, desde jovem sempre fui colocado em situações adversas. Talvez por isso, senti que deveria fugir de Yve.

As palavras de Naomi eram muito bonitas, e ela com certeza se tornaria uma incrível líder num futuro próximo. Porém, ela é inexperiente — jovem demais para entender certas coisas. Ela é uma menina de coração bom e justo, claro não tinha vivido muito tempo com ela pra ter certeza disso... mas é o que aparentava...

Mas esse era o problema, ela é muito inocente e justa... Já o mundo não.

O mundo é um lugar sombrio, onde as pessoas são egoístas e mesquinhas. O mundo é cheio de pessoas deprimentes e invejosas, essas mesmas, não terão nenhuma piedade com relação a você.

A vila Yve aparentava ser um local bom, as pessoas que moram nesse lugar pareciam ser pessoas justas e com bons valores. E isso tem sentido visto as provações que os mesmos enfrentaram dia após dia para se tornarem o que são hoje. Uma vila unida que até mesmo fornece possíveis heróis a capital.

Naomi disse que eles não dependiam de mim e que se eu quisesse morar aqui sendo apenas um — morador — comum não haveria quaisquer problemas. Eram falas bonitas com certeza, se eu fosse uma pessoa inocente com certeza haveria acreditado.

Mas era falso. Ou no mínimo... irreal. Isso era meio óbvio... essa é uma pequena vila isolada — o vilarejo — era habitado em sua maioria por idosos e pessoas de meia-idade. Era meio óbvio que essas pessoas não tinham qualquer talento para ser herói, ou coisa do tipo. Eles eram apenas pessoas comuns. E como dito por Noana, eles esperaram — anos — por um herói que talvez nem chegasse.

As crianças da vila propensos a se tornarem heróis são ainda muito jovens, duvido e muito que os mesmo já estão em condições de exercerem o papel de herói. Provavelmente, demoraria alguns anos de treinamento para que eles possam trabalhar como heróis.

Levando isso em conta, era fácil de raciocinar o resto. Seria impossível viver uma vida comum em Yve. Eu tenho 17 anos, ( vou fazer 18 daqui a 1 ano e 3 meses ) segundo Golmar; os teletransportados costumam ter talento para se tornarem heróis. Levando isso em conta, com um pouco de treino, eu seria o mais próximo a se tornar herói na vila. Além disso, os próprios moradores estavam ansiosos por minha chegada.

Só sendo muito inocente pra achar que os mesmos depois de anos de espera, iriam levar em conta os pensamentos egoístas de um adolescente de 17 anos. Mesmo que no início eles realmente levassem em conta os meus desejos, isso só seria no início...

Eu sei disso como ninguém. As pessoas não se importam com o que você quer — com o que deseja. Elas não ligam pra isso. Elas só se importam consigo mesmas, com seus desejos egoístas.

É semelhante a quando você é bom em algo, mas não necessariamente quer se tornar profissional ou viver daquilo. As vezes, você é bom em alguma coisa, mas não significa que você goste de realizá-la. Isso é parecido com minha situação...

É verdade... quando criança sempre desejei ser um herói. Mas isso era em virtude de proteger a única pessoa que importava pra mim: a minha mãe. Mas... ela não está mais aqui... eu não vejo sentido em arriscar a minha pele por pessoas que não importam pra mim.

Muitas pessoas diriam que isso é hipócrita, mas ninguém realmente se importa com o problema dos outros. Se um criminoso invadisse a casa de um vizinho ou algum amigo próximo de uma pessoa, a mesma ligaria sem nem pensar para polícia ou iria ajudá-la de alguma forma. Mas, se o mesmo acontecesse com um vizinho não muito familiar ou com um desconhecido, ela com certeza pensaria: — É melhor eu não me envolver... vai que sobra pra mim...

Isso acontece porque apenas nos importamos com pessoas as quais temos laços próximos — pessoas as quais nos importamos. As pessoas desse vilarejo? Dessa vila? Eu havia as conhecido nesse dia. Eu realmente me importava mais com a poeira dos meus tênis do que com elas. Eu nem sou desse mundo, por que deveria me importar? Como o ditado diz: — cada um com seus problemas.

Estava um pouco frio, talvez por causa da noite. Apesar de já estar dentro da casa não havia me movido nem um milímetro da frente da porta. Estava muito escuro devido as lamparinas¹ não estarem acesas. Isso indicava que Golmar não saiu muito tempo depois que Noana e eu...

Nesse momento, um pensamento ecoou pela minha cabeça. Não... talvez um simples presságio... minha retina estava aos poucos se acostumando com a escuridão, mas minhas pernas não se moviam, — e se Golmar ainda estiver aqui? — estava imerso nesses pensamentos.

*Creeeeeeeeeec *Craaaaaaaaaaaaaac

Não parecia ter ninguém em casa. Mas os barulhos que o casarão fazia devido a madeira, me deixava com uma pulga atrás da orelha. Era melhor eu checar se realmente não havia ninguém ali em primeiro lugar.

Comecei pelo andar de baixo. Estava bem incomodado, então, olhava até mesmo em baixo dos móveis de madeira. Logo me arrependi, visto que era óbvio que não limpavam aquela casa com regularidade...

Parecia tudo certo. A não ser que tenha algum tipo de poder de invisibilidade nesse mundo. Mas ainda estava curioso sobre o primeiro andar — era onde mais fazia barulho. Também não havia subido pelos outros andares da casa, então estaria matando dois coelhos com uma só cajadada.

As escadas faziam um grande barulho quando eu pisava nelas, elas com certeza, precisam de uma manutenção urgente... mas bem, o andar de cima era bem simples. Não havia muita diferença do andar de baixo, na verdade, só era menos mobiliado. Havia alguns quartos que provavelmente seriam para os visitantes, mas estavam vazios — possivelmente — porque eles não tinham condições de mobiliar; ou esperavam que eu mesmo mobiliasse da maneira que eu bem entendesse.

Subi as escadas mais uma vez, só que em direção ao segundo andar, que também era o último da casa. Talvez encontrasse alguém lá...

No último andar do casarão, era um pouco diferente dos andares anteriores. Uma porta — provavelmente mais um quarto — me separava do que havia dentro. A diferença notável era o tamanho do quarto, era bem maior que os outros. Também notei uma pequena inscrição retalhada na porta. Ainda não aprendi nada sobre a língua desse mundo, apesar disso, não precisava ser um gênio para adivinhar o que estava escrito, ou melhor, para quem pertence esse quarto.

Reconheci que seria melhor não abrir essa porta... talvez me arrependesse no futuro, mas não importava. O que estava atrás daquela porta não me pertencia, era pra outra pessoa. E bem... duvido que há alguém escondido lá dentro.

Depois de respirar fundo, decidi apenas me virar e descer até o térreo. Iria fugir naquela noite, então tinha que ser rápido. Após descer as escadas, comecei a pensar em um plano de fuga. Enquanto botava a cabeça pra funcionar, comecei a andar pelo piso da casa, sempre tive esse costume desde criança. O barulho da madeira atrapalhava um pouco os meus pensamentos, mas era melhor do que ficar parado. Tinha que fazer isso no escuro, já que não sabia acender a lamparina...

Primeiro, eu sabia que tinha que fugir naquela noite. Golmar e Naomi tentaram inculcar em minha cabeça várias vezes que esse é um vilarejo isolado, então duvido que eles pensem que eu fugiria essa noite. Segundo, eu realmente não acredito nisso. Por mais que essa vila seja cercada por florestas e até uma montanha — o solo aparenta ser muito bom. Além disso, eles tem até um riacho que corre pela vila... não é possível que apenas essa vila usufruía dele.

Minha teoria era que: provavelmente havia — sim — vilas vizinhas. Eles só estavam me mantendo aqui com essas mentiras para que eu não descobrisse isso. Eles estavam se aproveitando da sorte de ter um teleportado apenas pra eles, apenas para suas próprias vontades. Mantendo uma máscara de — santinhos — mas negando minha liberdade, a qual tenho direito!

Uma raiva gritante ecoava pelo meu corpo. Cada vez que pensava nisso a vontade de sair de perto daqueles vermes só aumentava. Entretanto, não era tão simples. Eu não tinha suprimentos, não sabia sobre os animais e perigos desse mundo e ainda teria que viajar a noite. Não poderia fugir pela manhã ou pela tarde, porque era muito provavél que seria descoberto, além disso, duvido que aguentaria olhar a cara desses desgraçados.

Procurei pela casa alguns mantimentos, mas sem muito sucesso. Achei apenas algumas frutas desidratadas, mas não tinha ideia de como armazená-las. Também tinha um pouco de água, do vaso que Noana havia trazido mais cedo. Decidi apenas pegar uma cumbuca feita de barro e levar comigo.

Iria seguir o percurso do riacho, ou seja, água não me faltaria. Além disso, iria sobreviver a base das frutas da floresta. Pelo menos, até chegar em outra vila, ou até mesmo em outra cidade.

Estava tudo pronto. Era o máximo que eu podia levar, sem me causar alguma dificuldade de locomoção. Tinha que fugir dali o mais rápido possível!

Enquanto caminhava em direção a porta, notei que havia um pequeno brilho em cima de uma escrivaninha. Era pequeno e reluzente — um cristal. Sim, um pequeno cristal branco — um pouco maior que uma tampa de uma garrafa. Parecia delicado, o mais fraco toque poderia quebrá-lo. Era simples e bonito.

Foi praticamente um milagre eu ter o notado, visto seu tamanho e o breu em que estava. E depois de pensar um pouco decidi levá-lo comigo. Ele parecia valioso, eu não tinha conhecimento algum sobre o dinheiro desse mundo, caso acontecesse alguma tragédia poderia vender esse cristal. Em qualquer lugar, é sempre bom ter dinheiro!

Então, depois de colocar o cristal no bolso da minha calça. Finalmente, abri a porta daquela casa pela última vez.

Discreto como um rato e lento como uma tartaruga comecei a caminhar aos poucos para fora do vilarejo. Já não via ninguém nas ruas, nem mesmo as sombras deles. A única coisa que me observava era enorme lua cheia que embelecia a noite. Será que a mesma tão longe julgava meus atos? Desprezava os meus pensamentos? Não sabia, nem me importava...

Seguindo por uma das pontes me encaminhei em direção a floresta. Quando de repente senti meu sangue gelar. Um estranho líquido bombardeou meu cérebro; era frio e me causou um desconforto instantâneo. Algo havia obstruído meus pulmões, não conseguia respirar corretamente.

A única coisa que sentis funcionar sem problemas eram minhas pernas. E com elas corri.

—...Ahh... Arghh....Harghh...

Não era apenas a lua. Não era apenas a lua. Não era apenas a lua... tinha alguém ali, me observando. Daquela torre de observação.

Comecei a fugir desesperado pela campo de grama, como um total maluco. Meus pés tremiam, mesmo a macia grama não suavizava a dor do impacto dos meus pés no chão. Meus pulmões queimavam, mesmo me forçando a respirar era como se não adiantasse nada — estava a ponto de desmaiar.

Apesar disso, forçando meus olhos cansados para frente, finalmente conseguia ver a floresta! Estava tão perto...

—...Uhn?

Naquele momento, o mundo inteiro paralisou. Era como se o espaço-tempo tivesse parado. O mundo era como um grande quadro sem cor. Se eu tivesse vacilado, por meio segundo que seja, sem dúvidas alguma estaria morto.

O meu reflexo me fez pular para o lado, e então, uma flecha de fogo atingiu o lado direito de minhas costelas.

— Argggghhhhhh... Aghnnnn... que dor, que dor... — Gemia, de maneira compulsiva.

Foi nesse momento que olhei para atrás. Estava muito escuro e a dor infernal que sentia não me ajudava a me concentrar; uma silhueta... sim, mas parecia uma sombra. Com certeza, usava uma capa e talvez uma máscara — era aparência da morte.

Se a lua estivesse do meu lado, talvez me dispunhesse de uma imagem melhor. Mas ela não estava do meu lado, nunca esteve.

— SE VOCÊ QUER ME MATAR, ME MATE LOGO DE UMA VEZ!

A sombra como se desejasse conceder meu pedido, levantou seus braços e começou a imitar como se tivesse um arco e flecha em suas mãos. Então, mesmo com uma dor angustiante. O sangue quente me ajudou a me levantar e correr em direção a floresta.

 

*Zwiiiiiiiiing *Zwiiiiiiiiiiiiiiiiing²

 

 

O som era a única coisa, além dos meus sentidos, que me fazia conseguir desviar das flechas ardentes. Os cavalos, vacas e animais que dormiam pela vasta grama verde, acordavam desnorteados, — confusos — pelo que viam.

 

*Iiiiiiiiiiirrrrí!³ *Múúúúúúúúúú!⁴

 

 

—...Arghhhhhhhhhhh!!

Uma das flechas acabou passando de raspão pelo meu braço esquerdo, quase me fazendo cair de joelhos. Mas eu não podia cair mais uma vez, ele não mostraria misericórida se fizesse isso.

Finalmente, havia adentrado a floresta! Mas não parei de correr por causa disso, meus instintos não conseguiam se acalmar. Minha pele rasgava nos galhos das árvores, trupicava em suas raízes, minhas roupas estavam sujas de sangue e terra.

Depois de um tempo, parei de correr. Não porquê já estava tranquilo, mas sim porque meus pulmões pareciam estar prestes a explodir! Meus joelhos cederam no chão, minha barriga doiá tanto...

—...Bleerghhhhhhh.... a..ahh... bleeeerghhhhh...

Meus olhos aparentavam querer pular de meu rosto. Suor frio escorria pelo meu rosto...estava literalmente me contorcendo no chão daquela floresta. O medo tinha tomado conta de meu cérebro, visto que, tinha espasmos por todo meu corpo.

Fiquei esparramado pelo chão, como um inseto por uns 5 minutos. Temendo a morte, temendo ser encontrado. É verdade que já havia morrido, mas minha morte tinha sido rápida e sequer eu esperava por ela. Totalmente diferente dessa situação onde me encontrava.

— Ah... Uhnn... Tscc...

Aos poucos fui me acalmando. Não escutava mais o barulho das flechas, provavelmente havia o despistado. Pouco a pouco, fui me levantando. A dor que sentia era insuportável... mas me pus de pé.

— O que foi isso? — perguntei, a mim mesmo — Quem era ele?

Minha respiração ainda permanecia inconstante. Mas, poderia continuar andando. Era o melhor a se fazer, não sabia se ele me seguiria ou algo do tipo. Estava muito escuro, mas tinha que seguir em frente.

— Mas que..

Foi quando me virei e vi... aquilo. Se havia por fim ficado calmo, a situação mudou mais uma vez completamente.

Desde que vim para esse mundo, vi e presenciei todo tipo de fator fantástico e absurdo. Coisas que penso que não seriam possíveis nem mesmo nos sonhos mais loucos e nas mais insanas fantasias. Mas... aquilo não era humano, muito menos animal. Mas então, o que era aquilo?

— U-Um Monstro!!

Quando me virei pra fugir acabei, de maneira abrupta, batendo a parte de trás da cabeça em um galho de uma árvore; por conta disso acabei caindo no riacho. Foi a última coisa que percebi antes de perder a consciência.

 

 

 

 

 

 

¹Pequena lâmpada que fornece luz de pouca intensidade, composta de um reservatório para líquido combustível (azeite, querosene etc.) no qual se mergulha um pavio que traspassa uma pequena rodela de madeira e se acende na outra extremidade; griseta, luminária.

²Barulho das flechas

³Cavalo relichando

⁴Vaca mugindo

 

 

 

 

Notas do Autor: Todas as Ilustrações dessa novel são feitas por IA. Comentem e façam teorias, leio e respondo todos os comentários

 

 



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