O Pior Herói Brasileira

Autor(a): Nunu


Volume 1

Capítulo 27: Erich Lume vs Satoru Iori

O sol poente do entardecer e as árvores sem folhas de outono eram os únicos espectadores de nosso duelo. Somado com o vento forte e cortante que vinham do sul, fazia com que aquele se tornasse um ambiente inóspito para qualquer ser vivo. A pressão exercida pela aura mortal de Erich tornavam difícil qualquer coisa, seja se mover ou respirar.

E não é como se eu não tentasse me mover. Eu tentava a todo momento, mas meu corpo não respondia. Não conseguia nem me colocar de pé para fugir ou algo do tipo. Normalmente, naquela situação, o ideal seria correr o máximo possível. É o que acontece na natureza, por exemplo. Entretanto, era como se meu corpo e mente já tivesse aceitado a minha morte. Como se fugir sequer fosse uma opção, como se fosse inútil sequer tentar.

Era se como se a gravidade, em um piscar de olhos, tivesse aumentado em níveis totalmente desproporcionais.

Erich ainda estava ali — parado — me olhando a todo momento. Sua expressão facial não havia mudado em nada. Talvez, alguns meses atrás não teria notado nada, mas naquele momento eu sabia que aquele homem tinha um poder avassalador. Poder esse que tornara difícil manter qualquer ser vivo por perto.

— Até quando vai ficar aí sentado? — Perguntou, Erich. — Levanta-se!

— [...]

Parecia simples, mas realmente não era. Apesar disso, tinha que me manter de pé naquele momento, sabia disso. Erich era meu mestre, não alguém para sentir medo algum.

“Todos aqueles meses intensos de treino não serviram de nada?”

Eu já sabia a resposta. Já não era o mesmo de antes. Todo meu esforço, suor e lágrimas tinham me trazido até aqui. Todas as vezes que madruguei para treinar o mais cedo possível. Todas as vezes que quebrei a cabeça para solucionar os enigmas dos desafios de Erich. Todas as vezes que passei a noite acordado ansioso para passar por aquilo tudo de novo.

Cada flexão, cada reflexão e cada vitória são resultados de meu esforço. Mas, eu precisava me lembrar daquilo naquele dia. Lembrar de que havia me esforçado para chegar até ali. Eu precisava me levantar! Precisava estar a altura do homem que me treinou até aquele momento!

“Se não fizer isso agora... quando farei...?”

— Ghhhh... Nghhhm...

Erich havia estendido seu Nill não?! Então eu faria o mesmo! Não deixaria Erich agir como quisesse. Responderia usando a mesma moeda. Mesmo que eu não fosse tão poderoso quanto Erich desde que eu conseguisse me pôr de pé isso já seria bom o suficiente.

Controlar a energia foi fácil, agora isso não era mais um desafio para mim. Ainda sim, eu precisei imaginar cada etapa para isso. Mas foi bem mais rápido. Estendi meu Nill por todo meu corpo e lentamente fui tentando me colocar de pé.

Nghn...... Khhhhhh.....

Era como se houvesse um grande peso nas minhas costas. Porém, agora eu conseguia me movimentar. Minhas pernas e braços... eu sentia todos eles! Por mais que fosse pesado, eu sabia que conseguiria.

No entanto, eu não poderia demorar. Se não todo aquele peso me esmagaria e eu cairia no chão mais uma vez. Por isso, eu teria que liberar uma boa quantidade de Nill de vez para que eu conseguisse me erger. Seria difícil visto que o Nill sendo liberado de maneira demasiada poderia resultar em um desmaio ou coisa pior.

Mas, teria de ser assim...

Ughh..... Aaahhhhhhhhhhhhhh!!!! — Em um impulso, me ergui diante toda aquela força imensa que me esmagava. Usei uma grande parte de mimha energia para isso, mas não o suficiente para me afetar. Estava eufórico e com uma sede de vitória sem igual. Orgulhoso e arrogantemente olhei em direção a Erich, como o provocando. — Hehehe... e então, velhote? Impressionante não é?! Eu sou incrível...

— [...]

Erich demorou a me responder. Seu rosto estava totalmente diferente do confiante Erich de alguns minutos atrás. Agora, seu rosto estava cheio de uma dúvida incrível e terrivelmente surpreso. Por um instante, nem se parecia mais com aquele homem poderoso. No entanto, a face surpresa mudou para uma expressão de felicidade genuína. Nem mesmo Erich conseguiu esconder seu sorriso naquele segundo.

—...Hehehe... realmente... você é incrível, Iori. Talvez eu tenha lhe subestimado, um pouco.

Hehehe... cuidado para não pagar por isso, velhote! Estou com tudo agora!

—...He... vou lembrar disso! — Erich exclamou com confiança. — Mas e então? Está pronto?

— Do que você está falando?! Você está ficando louco?

— [...]

Erich estava em condições horríveis. Mesmo sendo forte, entrar em um combate com ele poderia acarretar em uma tragédia! Como alguém que viveu com ele tanto tempo ao seu lado, só sendo louco para aceitar uma oferta como aquela. Por mais tentadora que fosse.

Se aceitasse uma proposta como aquela, até mesmo Holly me daria uma dura quando fosse para o outro mundo.

É ÓBVIO QUE EU ESTOU! VEM PRA PORRADA, VELHOTE DESGRAÇADO!

— Iori...

“Me desculpa, Holly...”

—...Hehehe... esse é meu garoto! — Gritou Erich á plenos pulmões. — Vou te bater até virar gente, moleque desgraçado!

— Vai sonhando, velhote!

Tanto Erich quanto eu nos colocamos em posição de combate. Erich estava com seus dois braços levantados respectivamente em frente ao seu rosto. Não tinha qualquer experiência em lutas, por isso apenas imitei a pose que Erich estava fazendo. Bem, pelos menos eu tentei o melhor que pude.

Estávamos cerca de 4 metros de distância um do outro. Era um distância OK em minha visão. Não era nem muito perto, nem muito longe.

Aquele combate era muito importante para mim. Nenhum treinamento ou desafio enfrentado anteriormente valia tanto para mim quanto aquele. Não pelo fato daquele ser o meu último ou por estar enfrentando Erich, mas sim, porque aquela luta definiria o meu futuro. Se perdesse, viveria um futuro decidido por outro, não por mim.

Erich provavelmente sabia disso quando propôs esse combate.

Nos outros treinos e desafios, uma das chaves ideias para vencer todos eles foi — pensar — em como poderia passar por eles. Isso obviamente seria a chave ideal para passar por esse também. Eu tinha que saber isso naquele momento. Seja minhas vantagens ou desvantagens.

Erich era muito mais forte que eu. Segundo o próprio, ele nunca foi grande coisa, mas ele ainda sim foi um herói. Ele provavelmente tinha muita mais experiência nesse tipo de situação que eu. Não tinha ideia de como funcionava os heróis nesse mundo naquela época, mas, sendo um herói ele devia salvar e ajudar pessoas. Isso eu sabia.

Eu duvidava que Erich poderia usar o Nill, ele estava muito fraco para isso. Mesmo se conseguisse eu havia conseguido desviar de alguns ataques daquela sombra que estava querendo me matar naquele dia. Então, considerei que essa seria uma vantagem interessante para mim.

Até aquele momento, também nunca tinha utilizado o Nill para atacar alguém. Na verdade, ainda não tinha tido algum tempo para tentar isso. A situação atual de Erich havia tirado toda minha atenção na época.

O sol que se ponha no horizonte marcava o tempo limite de nosso enfrentamento. Depois de analisar por um curto período de tempo finalmente havia decidido qual seria a minha estratégia. O céu de cor laranja embelecia tudo a nossa volta, como se tornasse aquele momento mais especial do que realmente era.

Era agora ou nunca.

— Eae garoto? Você não vai atac-

FUUUUUUUUUUUUUW!

Com um ataque relâmpago que parecer cortar o ar, tentei acertar o queixo de Erich com meu punho direito que é o meu melhor. O soco veio de baixo pra cima, com a ideia de tentar surpreendê-lo visto que sua visão é bem ruim. Considerei que com suas condições e velhice ele não iria reagir a tempo. Além disso, pensava que se eu acertasse aquela região, nem mesmo Erich conseguiria se manter de pé. Seria um ataque letal e decisivo.

Decidi por um soco no queixo, porque havia assistido um vídeo na terra que mostrava que aquela região é extremamente sensível. Até mesmo lutadores experientes de grande estatura já foram derrotados por lutadores menores e mais fracos com golpes no queixo. Dizem que um soco ali causa até mesmo desmaios.

Aquele ataque mostrava o quão sério eu estava sobre aquele embate. Se Erich ainda tinha alguma dúvida ou não sobre isso, agora ele não tinha mais alguma.

Hehehe...

— Tsc....

Infelizmente, o golpe não acertou Erich. Ele segurou e levantou o meu punho com sua mão esquerda. Erich tinha uma cara de confiança e arrogância bem únicas. Seu sorrisinho genuíno era bem irritante por algum motivo.

—...Boa tentativa, garoto! Mas, espero que isso não seja o melhor que você tem...

Não conseguia desvencilhar minha mão da dele. Ele tinha uma força sobrenatural.

Minha estratégia havia falhado porque não pensei que ele poderia ainda usar o Nill em combate. Se ele havia enxergado meu golpe ou: ele tinha conseguido devido sua experiência e instinto de combate ou ele desviou usando o Nill para me — enxergar — sem seus olhos. De qualquer forma, agora estava em apuros.

Erich tinha um sorriso de orelha a orelha em seu rosto. Ele com certeza parecia estar tramando algo. Foi quando notei que Erich estava preparando um soco com sua mão direita, ele parecia estar mirando em minha barriga.

Não apenas isso. Também senti algo diferente naquilo... era Nill. Ele estava imbuindo o Nill em seu punho para torná-lo ainda mais poderoso. Se Erich acertasse um golpe direto em mim, normalmente, já seria game-over. Mas, como se já não bastasse, com o Nill em todo seu punho aquilo poderia até ser fatal para mim. Ele também não parecia estar para brincadeira. Eu tinha que agir rápido, ou poderia ser meu fim!

Não tinha tempo para desferir um soco, então, virei o meu corpo com tudo e com a mão esquerda tentei acertar um tapa na diagonal no rosto de Erich. Minha canhota sempre foi bem inútil, no entanto, não tinha muitas opções naquele momento. Além de que, para mim, desde que eu conseguisse me soltar dele já seria uma grande vitória naquelas condições terríveis.

— Tarde mais... — Disse, Erich.

TCHUUUUUUUUNKKKKKKKK!

— GAAAAAAAAAAAAAAHHHHHHH!!

O impacto do soco foi tão forte que me jogou mais de 8 metros de distância de Erich. Só parei porque acabei batendo contra a árvore. Ele acertou um soco direto na boca do meu estômago.

—....ARGGHHHHHHHHHHH... NGHHHHHHHHHH... KHHHHHHHHHH...

— Ah... Ah..... Ahh..... GHHHHHHHHHHHH... Cof! Cof! Cof...

A dor era terrível. Tanta que quase se equiparava a dor que senti quando morri. Meu corpo inteiro se contorcia enquanto eu segurava a minha própria barriga. Não conseguia sequer ficar parado de tanto que doía. Mais parecia um verme se contorcendo no chão. Tossia bastante um líquido também, esse mesmo líquido parecia queimar minha garganta por dentro.

Era ácido estomacal...

Minhas costas também estavam reclamando muito do impacto que havia acabado de tomar. Por isso, tentei me manter de bruços no chão para evitar a dor que era excruciante. Só me manter daquele jeito já doía o bastante, levantar seria impossível.

Foi quando escutei Erich dizer:

— Vai ficar aí até quando? — Indagou, Erich. — Se você não se levantar, eu mesmo vou aí...

Eu sabia que podia desistir a qualquer momento. Aquele golpe tinha sido muito forte, não seria uma vergonha assumir a derrota ali. Se aquela luta continuasse, muito provavelmente eu poderia acabar morrendo. No início, eu duvidava que Erich poderia fazer algo assim, mas quando eu olhei naquele momento para Erich...

Ele mais parecia um monstro.

Erich começou a caminhar lentamente em minha direção. Se ele chegasse até mim, ele me daria o golpe derradeiro, eu sabia disso. Um passo, dois passos, três passos... ele estava cada vez mais perto.

“O que devo fazer a seguir...”

“O que mais aprendi nos outros treinamentos...”

Se eu tivesse desistido nos outros treinos será que teria conseguido passar por aqueles desafios infernais? Teria sobrevivido aquelas armadilhas? Era óbvio que não! Eu já sabia disso. Então, o que tinha que fazer...?

“...”

“Eu já tenho a resposta...”

                                        Ponto de Vista: Erich Lume

Eu não sei até quando esse meu teatro vai durar... espero que pelo menos, esteja enganando bem Iori.

Já faz algum tempo que não consigo enxergar mais nada. Acho que finalmente estou completamente cego. É verdade que consigo usar o Nill como bússola para encontrar Iori, mas minha energia também parece já estar acabando.

O golpe que eu acertei foi bem forte, mas Iori é realmente duro na queda. Tinha certeza que ele desmaiaria com esse golpe, mas ele ainda está se contorcendo. Pelo jeito, todo aquele treinamento valeu a pena.

Bem, hora de acabar com isso.

— O qu-

FWWWWWWWUUUSSHHHH!

“O que é isso...? Como ele conseguiu se levantar?”

Iori se aproveitou de meu pequeno descuido e acabou correndo em direção a floresta. O que foi estranho visto que ele tinha acabado de sofrer um ataque direto, ele não deveria conseguir se levantar.

“Será que... ah! Hehehe! Que moleque esperto...”

Considero que o garoto talvez tenha imbuído Nill em todo seu corpo. Assim, ganhando sustentação o suficiente para conseguir se levantar. Entretanto, fazer isso significa gastar muita energia e além de torná-lo ainda mais — visível — para mim. O que seria uma terrível decisão para ele.

Eu consigo ver sua energia perfeitamente. Ele está atrás de uma das árvores da floresta. Provavelmente, ganhando algum tempo para descansar e tentar me surpreender em algum momento.

— Iori, não lembro de ter lhe dito que isso era esconde-esconde...

Eu poderia segui-lo para a floresta, mas também estou em péssimas condições. Só andar aqueles pequenos passos até Iori pareceram torturantes para mim. Além de que, eu não posso subestimar esse moleque esperto, ele provavelmente tem algum plano em mente.

“Hehehe... estou realmente velho...”

Penso que o melhor a se fazer, seja esperar para ver. O moleque está todo moído e não sabe sequer usar o Nill para combate direito. E não é que como se tivesse muita coisa para se fazer nessa floresta. A maior possibilidade é que ele irá fazer algum tipo de ataque surpresa. Sim, ele deve tentar se esgueirar pelas árvores até conseguir alguma abertura.

Hã?!

PIIIIIIIIIIIIIIFFFFFFFFFFFFF

TCHUK

— [...]

— O que é isso?

Por um curto momento, meu corpo entrou em estado de alerta. Pensei ter visto a energia de Iori se aproximando rapidamente. Mas, pelo jeito, foi só um devaneio.

“Entretanto, não acho que estou cinil ainda...”

Algo havia passado em velocidade na frente de minha face. Disso, eu tenho total certeza! Essa mesma coisa pareceu ter caído na minha frente. Decidi dar uma olhada, claro, que vou manter meus olhos em Iori. Foi um pouco doloroso, mas peguei o objeto estranho com as mãos e finalmente entendi o que era.

— Uma bota...

Foi a bota que eu dei para Iori. E a que ele usa diariamente. Não sei o que ele queria fazer com isso, mas, provavelmente não deu certo.

—...É isso que você faz com seus presentes? Desgra-

 Porém, uma sensação esquisita percorreu dos meus dedos até minha espinha. Tinha alguma coisa errada sobre aquilo tudo. Aquela energia... eu não tenho dúvidas... com certeza era o Nill de Iori, eu nunca confundiria isso. Então, isso significa...

“Agora, eu entendo...”

Meu chute é que Iori tentou me enganar colocando seu próprio Nill na bota. Ele deve saber que eu não estou enxergando bem e que estou usando o Nill para saber onde ele está. O intuito de sua estratégia é fazer com que eu pense com que ele esteja se aproximando, e quando eu fosse enganado, Iori me golpearia pelas costas.

Foi uma boa ideia. Mas, eu já disse a Iori que o Nill só tem nos seres vivos. Claro, dá pra você — alimentar — por exemplo, uma espada ou arma com sua energia desde que você continue a energizando continuamente ou se você tiver algum catalisador como um cristal para continuar mantendo a energia no objeto. No entanto, se você não tiver essa condições isso se torna impossível.

Em suma, a energia que Iori colocou na bota não demorou a sumir. Porque não teve nada que a manteve ali, ou a que alimentou continuamente. Assim que Iori jogou o seu calçado, muito provavelmente, todo a energia já havia desaparecido. Por isso, senti um pequeno traço de sua energia por um curto período de tempo.

“Agora, me pergunto o porquê dele não ter me acertado...”

“Ele tem uma mira tão ruim assim? Ou será por causa de seus machucados? Mesmo com o Nill o ajudando a se movimentar, ele ainda deve estar com alguma dor...”

“O garoto é insistente, então, talvez ele tente de novo com a outra bota.”

— O qu-

De repente, senti a energia de Iori se aproximando mais uma vez. Algo estava vindo na minha direção!

“Entretanto, diferente da outra vez, a energia dele não está dissipando...?!!”

“...Iori!!”

Não tive tempo sequer pra pensar, não poderia estar errado dessa vez. Não poderia apostar. Se levasse um golpe de Iori nas minhas condições... isso com certeza seria uma derrota certa...

— Te peguei, Iori! — Estendi meu braço esquerdo e agarrei a capa de Iori. Naquele momento tive certeza que era ele. Não podia perder tempo, então, com meu braço direito tentei acertar as costas do moleque.

PWUUUUUUUF

Hã?!

Estranhamente o meu soco passou direto na capa. Porém, não acertei o moleque. Na verdade, ele sequer estava ali.

“Estranho... mas eu sinto claramente a sua energia...”

Isso era impossível! Impossível! Se fosse uma armadilha como antes a energia dele era pra ter se dissipado completamente. Não poderia ser como antes.

Foi quando percebi que algo estava enrolado naquela capa. Tinha algum volume estranho ali. Com cuidado, desenrolei aquilo que estava escondido.

— Não é possível...?!

CROOOOOOOOOOOOOOOAAAAAAAAAAAKKKKK!

UM PÁSSAR-

TUUUUUUUUUUUUUUUUUUUM!

“Nas minhas costas...”

Iori está nas minhas costas. Ele tentou esconder a mão direita com o seu corpo, mas era evidente o que ele estava fazendo. O garoto — assim como eu tinha feito mais cedo — imbuiu sua mão com Nill! Ele está pronto para me acertar um golpe direto! Tenho que defender se não...

“Onde ele vai dar o golpe?! No meu queixo outra vez?!”

“Não, ele não está mirando...”

“...Nas minhas costelas?!!”

— Aguente firme, velhote...

TCHUUUUUUUUUUUUUUK!

                                          Fim do ponto de vista

Khhhhh.... droga!

Hehehe... belo truque pirralho! — Erich havia defendido o meu soco. Ele conseguiu defender suas costelas com o seu cotovelo direito.

Frustrado, tentei acertá-lo no rosto com minha mão esquerda. Entretanto, Erich foi mais rápido e me jogou longe com um chute. O seu golpe não foi muito forte, provavelmente, nem tinha a intenção de ser. Ele apenas queria me afastar dele. Fui parar apenas uns 5 metros na sua frente.

Grrrr... que merda! — Irritado pelo meu plano ter falhado mais uma vez, dei um soco na minha própria perna. Aquela velha raposa parecia estar sempre um passo na minha frente. Parecia que não importava o que fizesse ele sempre me superava com facilidade.

“Então, é isso...? Foi tudo inútil...?”

No entanto, quando estendi meus olhos para Erich notei que ele permanecia parado no mesmo lugar. Olhei para seus braços e então notei: estava machucado. Um líquido vermelho escorria pelo seu ferimento, era sangue.

— Velh-

Eu fiquei preocupado, porém, me lembrei que aquela era uma batalha entre mim e Erich. Naquele momentos, ambos, não queríamos ser lembrados de nossos problemas ou frustações. Eu sabia que Erich ficaria magoado se eu fraquejasse depois de tudo. Por isso, tinha que me pôr de pé e ir ao seu encontro mais uma vez.

Ngghh... Tsc...

A dor estava cada vez mais insuportável. Tinha me esquecido de expandir meu Nill mais uma vez. Não poderia me mover se não fizesse isso. Então, não demorei para imbuír mais uma vez. Depois de me manter de pé, fui até Erich mancando. Mesmo com o Nill, creio que meu corpo precisava descansar.

Já Erich caminhou com dificuldades para atrás. Ele deu alguns passos e pegou o seu bastão do chão. Pelo jeito, eu não era o único com problemas.

Ambos estavam nos seus limites. Faltava poucos minutos para o anoitecer, então, agora essa seria a parte decisiva!

Erich caminhou com a ajuda de seu bastão até mim. Ele parou quando ficou mais uma vez até uns quatro metros de distância.

— Eu sabia que você era malandro, mas não a esse nível! — Exclamou. —Aquilo foi golpe baixo, garoto!

Notei que ele estava falando do meu golpe anterior.

— Gostou?! Fiz só pra você!

                                      Ponto de vista: Erich Lume

Que desgraçado!! O quão astuto é esse moleque?!”

“Ele usou um dos pássaros que caiu do bando para imbuir seu Nill!”

“Diferente da bota que ele havia usado anteriormente, uma ave é um ser vivo. Logo, o tempo que o Nill fica imbuído é diferente. Além disso, o desgraçado enrolou o pássaro na própria capa, provavelmente, para não deixá-lo escapar.”

“Ainda sim, digo que ele contou com bastante sorte também...”

“Ele deve ter pego o animal desacordado. O mesmo deveria ter acordado enquanto ele imbuía o seu Nill. Sem contar, que todos os seres tem seu próprio Nill, se o animal acordou isso deveria significar o prevalecimento de seu próprio Nill.”

“Não... então, isso significa que o animal só deve ter acordado quando ele o arremessou contra mim. Um plano sagaz que contou até mesmo com a sorte do pássaro ser um filhote.”

Em geral, Iori chamou minha atenção com a bota. Mas, aquilo era uma isca. Ele queria que eu soubesse no que ele estava pensando. Isso se prova, quando é só considerar que ele errou aquele arremesso de propósito. Desde o início, Iori só precisava me acertar diretamente, mas ele não fez isso quando teve a chance. Isso, porquê, essa não era sua intenção. Ele jogou o seu calçado perto do meu rosto porque sabia que apenas assim eu notaria, devido a minha visão ruim. Depois disso, ele

 Concretizou seu plano enrolando o pássaro em sua própria capa.

“Ainda sim, eu deveria ter sentido sua energia se aproximando pelas minhas costas...”

“Isso significa...”

— Você parou sua energia bem a tempo, não é?

— [...]

Hehehe... como descobriu velhote?!

— Essa era única forma de me enganar naquelas condições e se tornar imperceptível para mim.

“Mas isso é impressionante! Se ele tivesse nascido aqui, eu entenderia. No entanto, esse não é o caso. E ele só aprendeu a usar o Nill a pouquíssimo tempo...”

“Que controle de Nill!!”

— Seu golpe também não foi nada mal!

— Agradeço a você pela gentileza de me mostrar! — Provocou, Iori.

“A forma como ele me copiou também foi perfeita. Claro, poderia ter sido um soco mais forte. Ele gasta muito Nill de maneira desnecessária... mas, se isso for bem treinado...”

— Iori...

—...Está na hora.

— [...]

— Sim, eu sei.

                                            Fim do ponto de vista

Já estava anoitecendo...

Era hora de acabar com aquilo.

Erich e eu nos pusemos mais uma vez nos preparamos para o golpe derradeiro. Quem levasse o último golpe com certeza perderia.

Eu apenas precisava acertá-lo uma única vez. Mas, estava em frangalhos.

No entanto, desculpas e lamúrias eram desnecessárias. Pelo menos, enquanto um de nós ainda se mante-se de pé.

“Algo está vindo!!!”

Com a mão esquerda, Erich fez uma grande chama surgir. E apontou em minha direção. Fiquei em choque no momento, pois tinha certeza de que ele não poderia fazer aquilo.

— Como voc-

— Eu alguma vez disse que não conseguia?

NÃO ME SUBESTIME!

FWUUUUUUUUUUUUUUOOOOOOSSSHHHHHHH!

Erich, então, lançou as chamas ardentes em minha direção. Instintivamente corri para trás e quando senti o fogo se aproximando pulei para o lado para me proteger. Havia fechado os olhos por isso não notei o quão impressionante havia sido seu poder. Quando abri minhas retinas notei que algumas árvores da floresta haviam sido completamente incineradas.

“Se isso tivesse me acertado...”

— Velhote! Você está malu-

Foi quando notei que Erich estava ofegante. Pensando bem, ele poderia ter me incinerado. Ele poderia controlar as chamas até me acertar. Mas, suas condições estavam tão ruins que sua força toda havia sido colocada naquele ataque.

Ele estava praticamente colocando o peso de seu corpo inteiro em cima do bastão.

Nghhh...

Eu pensei ter desviado de tudo, mas pelo jeito, algumas chamas devem ter queimado a lateral direita de minha barriga.

— Velho miserável...

Erich então mais uma vez se preparou para usar seu poder. Mas, agora, parecia bem menor do que antes. Entretanto, eu sabia que tinha que dar o golpe final naquele instante, se não perderia.

Aquele seria o golpe decisivo. Os ventos de Outono como que se despediam de nós. O inverno estava próximo.

— Velhote...

—...Aqui vou eu!

Hehehe...

VENHA IORI!

Usando o Nill para me manter de pé, corri na direção de Erich o mais rápido que pude! Erich, então, jogou algumas bolas de fogo em minha direção. Me lembrei daquela terrível noite de primavera e daquela sombra assustadora. Que nostalgia estranha para se ter...

Aquelas chamas de Erich, não eram tão fortes nem tão assustadoras quanto as flechas daquela sombra. Desviei de cada uma delas assim como havia feito naquela noite.

Assim, que cheguei a 2 metros de Erich, pulei e preparei o meu último golpe! Erich astuto como sempre, usou sua bengala para se defender do meu golpe. Ele parece ter usado suas últimas forças para fazer aquilo

Ele estava dando tudo de si. Eu tinha que fazer o mesmo!

No ar, segurei o bastão com a mão esquerda e com a mão direita preparei o meu golpe decisivo. Antes de chegar até Erich, estava manipulando o Nill assim como Erich faz sempre. Iria derrotar Erich com as suas próprias chamas!

— É AGORA! VELHOTE!

— IORIIIIIII!

AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAHHHHH

BOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOM!!!!

***

Hã?! O que foi que aconteceu?

Estava caído no chão quando acordei. Devia ter se passado apenas alguns minutos. Erich estava caído consciente ao meu lado. Ele tinha um semblante triste e aflito.

— Velhote...

— Iori.

—...Então, eu perdi?

Erich, diferente de mim, estava consciente todo esse tempo. Então, era óbvio que eu havia perdido.

Khhhhhhh.... Urghh..... merda... merda...

Esfregava meu rosto relva seca enquanto me arrependia da minha decisão final. Eu nunca havia tentado usar o Nill para materializar nada. 

“Muito provavelmente eu não tenho aptidão para fogo, por isso, acabou explodindo...”

Erich me observava enquanto eu me lamentava. O gosto amargo da derrota era tão frustrante... minha garganta doía, meus olhos estavam marejados e eu apenas queria me esquecer daquilo tudo.

— Iori, porque está chorando?

Ngh... Nghhn... h-hã?!

Foi então que Erich virou o lado esquerdo de seu rosto... estava queimado. Uma pequena parte de seu rosto estava com uma queimadura que provavelmente vinha da explosão.

— En-Então... v-velhote eu...?

— Sim, Iori. Você venceu.

Aahhh... nghhh...

Hehehe... por que você continua chorando? — Indagou, Erich. — ...não dá pra te entender garoto!

Naquela noite fria de outono chorei como poucas vezes fiz. Foi como se eu olhasse para trás e lembrasse de cada treino, de cada esforço e de cada momento especial que vivi até ali e então, como se todo o meu esforço, enfim, tivesse sido recompensado de uma só vez. Não precisaria viver uma vida decidida por outros. Agora, poderia viver a vida que eu decidi viver, ao lado de alguém que eu amava genuinamente.

Que saudades daquela noite de outono.

 

 

 

 

 

Notas do Autor: Todas as Ilustrações dessa novel são feitas por IA. Comentem e façam teorias, leio e respondo todos os comentários

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 



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