O Pior Herói Brasileira

Autor(a): Nunu


Volume 1

Capítulo 20: 12° Dia — 1°Etapa

“Sentir essa é a chave...”

O velhote nunca mentiria para mim, então com toda a certeza, essa era a resposta. Entretanto, ainda estava tão perdido quanto antes. Essas eram palavras vagas que não me entregavam praticamente nada. Quase como um enigma...

Mas, era evidente que ele não falaria mais do que aquilo. Por isso, tinha que começar a pensar no que ele queria dizer para mim. Sabia que se Erich não me contava mais do que aquilo, isso só podia significar que ele sabia que eu tinha a capacidade de encontrar a resposta sozinho. Tinha que mostrar que podia descobrir aquilo por mim próprio!

Já era a manhã do 12° dia. Esperava ansiosamente que Erich acordasse, pois, tinha decidido que só começaria o treinamento sobre sua supervisão. Erich sempre teve o costume de madrugar, entretanto, já fazia algum tempo que ele acordava mais tarde que o habitual.

Naquele dia, ele só foi acordar depois do meio dia. Ou melhor dizendo, eu mesmo tive que ir acordá-lo. Não tinha esse costume, mas já estava ficando preocupado com sua demora.

—...Velhote... acorda... — Disse, com uma voz baixa e suave. Ele já era bem velho, então, tinha que ser cauteloso para não assustá-lo.

—...Hum...Unf...

Ele acabou acordando, porém, ele parecia visivelmente fadigado. Fiquei preocupado com aquela cena, por isso, sugeri que ele ficasse mais um tempo deitado hoje. Ele poderia tirar um tempo para descansar hoje e eu adiaria o meu treino para amanhã. Assim, eu poderia cuidar dele.

Entretanto, ele ignorou minha sugestão. Até mesmo com certa rispidez.

— Não! Não temos...tempo... — Murmurou, Erich. Com muita dificuldade, ele forçou-se a levantar. Os seus gemidos de dor e o som da cama ragendo ecoavam pela velha cabana de madeira. —...Nghh... vamos...

— Vo-Você está louco?! Olhe como você está! — Mesmo sendo um jovem imaturo não deixei de repreender Erich pela sua estupidez. Ele estava agindo de uma forma tão... egoísta... — E mesmo assim, você está me mandando treinar?! É apenas um dia, você tem que descansar!

—.....Ar...f....Arf...A-Arf

— Não t-temos tem-tempo. Vá... treinar...

— Velhote!

EU DISSE: VÁ TREINAR!

Erich havia gritado comigo. Ele nunca tinha feito isso com tanto descontentamento na voz. A surpresa foi tanta que até mesmo foi difícil formular alguma palavra para rebatê-lo.

Não entendia aonde ele queria chegar com aquilo. Tempo tinhámos de sobra. Se ele apenas descansse um pouco, no outro dia, poderíamos treinar o dia todo. Agora, se ele ficasse forçando seu corpo ele poderia piorar ou... até pior...

Eu não gostava nem de pensar nisso...

Irritado com a maneira egóista de Erich agir, chateado, eu apenas concordei, mas sem dizer nenhuma palavra. Abri a velha porta de madeira e segui para o primeiro treino do dia.

***

Erich estava demorando pra sair da cabana. Já se haviam passado uns 20 minutos e nada dele aparecer. Aproveitei sua ausência para comer algumas frutinhas dos arbustos, esse seria o meu almoço de hoje. Acabei juntando algumas frutas para o velhote teimoso também...

“Isso seria seu almoço ou seu café da manhã...?”

Enquanto juntava algumas frutas na minha mão, o velho Erich acabou finalmente saindo da cabana. Ele vestia uma roupa diferente. Havia me esquecido de ajudá-lo a trocar de roupa, desde que ele acordou de seu pequeno — coma — era eu que tenho ajudado a se vestir. Mas, devido a confusão de mais cedo, acabei ficando com muita raiva e se esquecendo.

Eu fiquei com muita vergonha, pois agora fazia sentido sua demora. Emburrado, eu apenas virei meu rosto para longe de Erich.

Ele demorou algum tempo até chegar até mim. Quando finalmente chegou, percebi que dava pra escutar com certa facilidade sua respiração incessante. Era óbvio que ele precisava descansar, isso só me deixava mais frustrado.

— Vamos... — Murmurou, Erich. Não tinha vontade de olhar para sua face, então, apenas escutei sua baixa voz.

— [...]

Seguimos para a árvore que treinávamos habitualmente. Era um árvore no meio da floresta um pouco maior que as outras. Tirando isso, era apenas uma árvore comum. A cada dia que passava mais folhas se soltavam dela, naquele momento, apenas algumas poucas folhas amarelas ainda se prendiam em seus galhos.

— Pode...começar...

Erich, então, encostou seu velho corpo numa árvore em frente a aquela. Nos últimos dias, ele apenas ficava em pé me olhando. Mas, agora ele mal conseguia se manter em pé.

— Ugh... — Cerrei meus punhos em resposta á minha frustração. Aquilo era culpa minha... Erich estava sofrendo por minha causa... era tão angustiante...

Não podia me permitir demorar mais tempo. Tinha que passar por aquele treinamento! Como Erich havia dito mais cedo pra mim: não tinha tempo. Por isso, aquilo teria que acabar naquele dia.

Me virei a grande árvore e toquei em seu tronco. Era mais fácil falar... por mais que tivesse a — chave — não sabia como utilizá-la.

— Sentir é a chave... sentir é a chave... — Murmurei pra mim mesmo.

*Ckroaaakk *Ckroaaakk *Ckroaaakk

De repente, o som de alguns pássaros atrapalhou a minha meditação. Não era um som tão alto, ainda sim, foi suficiente para me atrapalhar. Era tão irritante! A aparência deles era idêntica aos do que tinha visto no vilarejo Yve, talvez, fossem os mesmos. Já tinha ouvido falar que em algumas épocas do ano, os pássaros costumam mudar de região em busca de alimentos ou para procriação.

Entretanto, também era curioso... nunca tinha visto animal algum nessa floresta nesse meio tempo. Talvez, nesse mundo fosse algo normal, mas ainda sim era estranho. A atenção de Erich se voltou aos animais que sobrevoavam o céu. Duvido que ele podia enxergar ou escutar algo tão distante, então, me perguntava como ele ainda podia saber que eles estavam ali.

Erich deu um pequeno sorriso. Sabia o quão genuíno era esse sorriso, pois, o havia feito mesmo se sentindo tão debilitado.

— Iori... você consegue ouvir...?

— Sim. Parece que um bando está se mudando! — Exclamei em um tom mais alto. Para que eu tivesse a certeza que ele estava ouvindo.

—.....Hum... faz tempo que não vejo um bando de Alfajós se mudando...

— Como você sabe qual é o pássaro? — Indaguei.

— Não... é óbvio?

Depois de pensar por um tempo, cheguei a uma resposta: deve ser pelo Nill. Obviamente, não tinha a menor ideia de como aquilo tudo funcionava. Mas, era a única coisa que podia fazer algum sentido.

Me voltei a árvore mais uma vez e comecei a tentar escalar, vez após vez. Era necessário muita força para fazer isso, entretanto, assim que começava a escalar Erich me orientava a tentar de novo.

— Eu...já disse... está errado. Pare de... usar... sua força física.

— Arf... Arf... eu sei! Eu sei!

Vez após vez, escalava aquela árvore. Porém, sempre que fazia isso, era orientado a tentar mais uma vez.

***

Havia se passado 3 horas e eu ainda não havia conseguido escalar a maldita árvore.

Erich me aconselhou inúmeras vezes para passar para o próximo treino. Mas, como uma criança teimosa não me permitia fazer isso. Aquele seria o dia em que eu terminaria tudo! Já havia decidido isso. Não permitiria que Erich continuasse piorando daquele jeito. Depois de tudo que ele fez por mim.

— Arf...Arf... Mais...uma...vez...

Escalei mais uma vez a árvore e como nas últimas vezes, ele me mandou descer. Estava muito desgastado, tanto fisicamente quanto mentalmente, então escutar aquelas palavras de novo e de novo era sempre um baque.

Estava de cabeça quente, por isso, acabei despejando minhas frustrações na árvore. Esse ataque de raiva repentino resultou em machucados nos meus dedos devido as cascas secas de madeira.

— Khhhhhhhh.... Droga! Droga!

— [...]

— Acho... que eu errei de novo... — Erich murmurou quase que inaúdivel. Sua voz era tão franca e gentil... sim, este era o Erich que eu conhecia. — É impossível... passar por esse treinamento, com você alterado desse jeito... é culpa minha...

— Velhote...

Erich andou até a minha direção. Seus passos eram lentos e incostantes, ele cambaleava a todo momento. Não demorou pra que ele caísse, mas como eu já esperava isso, eu me adiantei e o segurei em meus braços. Quando o abracei meus olhos encheram-se de lágrimas... ele estava tão fraco...

Seus ossos pareciam tão frágeis que poderiam quebrar a qualquer momento. Seu corpo inteiro tremia mesmo não fazendo frio algum. Ainda sim, ele me observava. Ainda sim, ele me instruía. Ainda sim, ele me dava sermões.

Ainda sim, ele estava ao meu lado.

— Velhote... p-por f-favor... vá desc...ansar... — Era difícil falar com os olhos cheios de lágrimas. Já fazia algum tempo que não chorava, havia me esquecido de como era essa sensação. Como se algo obstruísse minha garganta.

— [...]

— E-Eu... nã...o... po...sso...

— V-Velhote!

— [...]

Eu sabia que ele não podia me contar. Mas, ainda sim eu perguntava. Eu sabia o quão difícil era pra ele não me falar. Mas, ainda sim o interrogava. Era como se Erich caminhasse sozinho em direção a uma estrada solitária. Era escuro, era frio, era angustiante... mas apenas ele pudesse fazer isso.

Porém, como um filho que agarra com força as roupas de seu pai, não permitia que ele tentasse andar por aquele caminho sozinho. Por quê? Talvez, porquê, assim como uma criança, tinha medo dele não voltar mais daquele lugar escuro e assustador.

“Então... me conte... por favor...”

“Me permita me agarrar a suas vestes...”

“Me deixe estar ao seu lado...”

Não tinha forças para mais nada além de abraçar Erich. Entretanto, não deixava de formular esses pensamentos, pois, sabia que meus sentimentos de alguma forma seriam passados para Erich. Sabia que ele entenderia. Se isso não fosse o suficiente...

...tinha a certeza que minhas palavras seriam passadas por meio daquele abraço apertado.

—...Iori.

— Sim...?

Deixei Erich respirar um pouco. Queria escutar o que ele ia dizer em seguida. Ele se afastou um pouco de mim e então disse:

— Você... é um tele...portado. No seu... mundo... não existe algo... como o Nill, certo?

— Hã... não. Não existe.

— Entendi...

Erich mais uma vez, pareceu raciocinar um pouco. Entendia sua dificuldade em entender, olhando em conta a diferença dos nossos mundos. O Nill sempre pareceu algo essencial nesse mundo, logo, deve ser difícil para Erich compreender com clareza a existência onde essa condição não existe.

— Faz...sentido... — Erich se arrastou mais uma vez pra árvore em frente a minha. Lá, ele se recostou de novo. — Você... não tem um norte... por isso, sua dificuldade... em sentir o Nill...

— Um norte? Como assim?

— [...]

Depois de encher os peitos com ar mais uma vez, o velho Erich estendeu sua cabeça em direção ao céu antes de falar de novo.

— Como você nasceu... em um... mundo sem Nill... — Enquanto Erich observava os céus, uma pequena folha amarelada caiu da árvore onde ele estava. Como se a enxergasse ele agarrou a folha antes que ela caísse em seu rosto. — ...Você não consegue... ter consciência da... existência dele...

Erich tinha falado algo interessante. De fato, um poder extraordinário como o Nill não existe em meu mundo. Só o fato de eu acreditar nele agora, já é de fato impressionante. Por mais que eu tenha visto outras pessoas usando essa habilidade — eu mesmo — não sei como essa coisa toda funciona.

— Então, mesmo que eu saiba sobre o Nill e tenha certeza da existência dele, é como se meu subconsciente não acreditasse?

— Sim...

Mas, se tratando disso, isso significaria que para mim desenvolver o Nill seria impossível. Eu não nasci nesse mundo, logo, isso seria um tabu pra mim. Aquilo me deixou desânimado, mas ainda sim, não queria desistir!

“Tem que ter alguma coisa! Alguma forma de eu despertar isso!”

— Iori, tem... alguma coisa... em seu mundo que...

Antes de Erich finalizar sua frase, uma pequena ideia passou em minha mente. Ela não parecia fazer muito sentido, mas depois de eu raciocinar um pouco... talvez funcionasse!

— Eu acho que tem! Sim, talvez funcione!

— Sério? O-O quê?

Foi no dia que nos conhecemos. Ele me apresentou o Nill e pediu para eu ser o seu discípulo.

***

— Velhote desgraçado, me diga como você fez isso! Isso foi muito maneiro!

— Cala boca, moleque! Você é muito barulhento!

— Me diga como faz isso, e eu me calo, juro. — Assenti, com um semblante cômico.

— Hehehe! Que moleque... seus pais não te ensinaram boas maneiras?

—...Por favor, por favor...

— Tá bom, tá bom, tá bom... apenas cale a boca!

O velho Erich pareceu alongar seu corpo, antes de fazer uma nova demonstração. Ele estendeu sua mão direita e depois de 1 segundo mais uma vez, uma chama apareceu em sua mão.

— Usar o Nill envolve, principalmente, sua imaginação. Não adianta ter uma grande quantidade de Nill, sem primeiro, ter uma imaginação para criar. — Afirmou, Erich. — Claro, você precisa ter potencial para um determinado elemento, mas, tendo essa condição, você terá a capacidade para criar. Por exemplo, a chama que eu fiz agora. Isso só acontece porque eu a imaginei primeiro.

— I-Incrível...

— Depois de ter uma imagem clara, você usa seu Nill para dar forma a sua imaginação. Para isso você usa sua energia, ou seja, seu Nill. Sua energia fica guardada dentro de você. Pense como... abrir uma pequena válvula. Concentre, então, seu Nill na palma de sua mão. Você já deve ter sentido essa sensação: de como sua mão tivesse formigando. E pronto! Você verá o fruto de sua criação. Mas, tenha cuidado para não gastar muito de sua energia, isso pode ser perigoso.

— Por quê?

—...Acho que não está na hora de falarmos sobre isso...

Erich, então, apagou o fogo em sua mão. E então, pareceu se preparar para dormir. Eu tentei fazer algumas tentativas... mas sem muito resultado.

***

Eu havia me esquecido dessa conversa. Já fazia algum tempo... mas, ela me deu uma excelente ideia do que fazer!

Segundo, Erich, eu tenho o Nill dentro de mim mesmo eu sendo um teleportado. Ele apenas está adormecido dentro de meu corpo. Além disso, ficou claro que a imaginação é uma peça crucial para isso.

O objetivo desse treinamento é escalar essa árvore sem usar a força física. Utilizando apenas o Nill. Talvez, minhas informações adquiridas no outro mundo finalmente serão relevantes!

Mais uma vez, coloquei minhas mãos na árvore. Fechei meus olhos para almejar a concentração que precisava.

“Imagine...imagine...”

Nada mais importava. Era apenas eu e minha mente. Imaginei como se uma grande quantidade de energia estivesse guardada dentro de mim — no âmago do meu interior. Era difícil... não tinha ideia de como imaginar o Nill. Para dar forma a ele, imaginei como uma grande energia de cor azul.

“Sim... agora consigo ver claramente...”

Depois disso, imaginei toda essa energia guardada em meu interior sendo liberada..

GHAAAAHHHHHHHH-

— I-IORI!!

Foi como se minha mente tivesse ficado por um instante. Como se eu tivesse perdido a cabeça. Caí no chão de joelhos com uma respiração dolorosa e incessante. Porém, não permiti que ele chegasse mais perto.

— N-Não.... eu... estou quase... lá...

— Iori...

Erich me advertiu, dizendo que eu havia liberado uma demasiada quantidade de energia. Agora, fazia sentido o porquê da minha perda de pressão...

“Mas, e aquela...”

Eu não tinha muito tempo para pensar. Então, depois de me levantar, coloquei minhas mãos na árvore mais uma vez. Era doloroso devido ao machucado em meus dedos.

“Dessa vez, apenas um pouco...”

Cerrei meus olhos e me concentrei mais uma vez. A energia guardada. De coloração azul. Agora, a válvula...

“Apenas um pouco... apenas um pouco...”

Senti meu corpo inteiro quente. Não era nada de mais, mas foi esse meu sentimento. Em seguida, concentrei em levar essa energia para as minhas mãos. Como se existisse uma ligação do meu Nill a cada parte de meu corpo. Quando eu sentisse as palmas de minha mãos formigando... essa seria a hora!

“...Agora!!!”

— Isso... é... — Murmurou, Erich. Seu tom tinha um misto de surpresa e emoção, como se tivesse notado algo.

Uma energia azul surgiu na palma de minha mão. Não podia perder tempo, então, rapidamente, utilizei a energia para escalar a árvore. Escalei com tanta facilidade que em poucos segundos cheguei ao topo da mesma. Não usei qualquer força pra isso.

— Foi tão... fácil...

Só percebi isso quando já havia chegado no topo. Estava me sentindo estranho... finalmente, havia passado pelo treinamento, visto que, Erich não havia me parado. Era momento de descer. Entretanto, precisava fazer uma última coisa antes disso.

GROAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAHHHHHHHHHHHH!!

O urro da vitória.

 

 

 

 

Notas do Autor: Todas as Ilustrações dessa novel são feitas por IA. Comentem e façam teorias, leio e respondo todos os comentários

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 



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