Volume 1
Capítulo 2: Bem Vindo, Herói!
Não acreditava no que meus olhos viam — eu estava vivo! E não apenas isso; estava em um lugar totalmente desconhecido pra mim.
— Será que estou delirando ? — Perguntei pra mim mesmo.
Mil coisas passavam pela minha cabeça naquele momento, mas antes de qualquer coisa, decidi apenas me levantar. Minhas costas realmente doíam... quando me pus de pé, entendi o motivo pelo qual dóia tanto...
Eu estava deitado em um monte de pedra e brita. Era uma espécie de construção em formato circular; totalmente deteriorada: cheio de rachaduras e símbolos esquisitos por toda parte. Sua cor cinza se misturava a um musgo verde — provavelmente devido o tempo que — aquela coisa foi construída. Não apenas isso, mas também estava cercado por uma densa floresta. Olhei por todos os ângulos possíveis, mas, era obvío que não tinha nem sinal de algum ser humano ali. Em suma, estava totalmente perdido.
— Que ótimo...
Talvez tudo aquilo fosse apenas um sonho, talvez apenas estivesse desmaiado naquela queda e agora estava delirando... mas eu sabia que não. Era real demais. Era vivo demais. Era assustador demais.
Eu sabia que aqueles pensamentos serviam apenas como uma forma de me confortar naquela situação em que estava — uma doce ilusão. O que me esperava atrás daquelas árvores ? O que eu iria comer ? O que eu iria beber ? Existe humanos nesse lugar...?
— Arf... arff... nghhh...
A estranha calma que conseguia manter até então se foi. Meus pulmões começaram a inchar de ar freneticamente. Meu coração, batendo como louco. Um gélido arrepio percorreu dos meus pés até minha espinha... eu estava sozinho...
— N-Não... não... nã-não pode ser...
Naquele momento, provalvemente eu teria enlouquecido e começado a gritar em agonia, se não tivesse reparado numa pequena — coisa me observando atentamente — como se estivesse me estudando.
Era uma tenra garotinha de cabelos esverdeados. Seus olhos lembravam o lindo céu azul. Ela estava vestida com uma camisa branca simples com alguns pequenos babados na gola e nas mangas; além de uma saia de cor verde. Um pequeno broche de formato esquisito servia de adornamento ao seu cabelo curto, mas bem ajeitado.
Em seus magros ombros carregava uma pequena cesta bem organizada com algumas frutas, sendo a maioria esmagadora de cor verde e algumas de cor vermelha. No outro compartimento, portava diferentes tipos de plantas e ervas que possivelmente seriam provenientes daquela floresta.
Ela provavelmente tentava me observar em segredo, mas ela era muito ruim nisso. Quando, enfim, notou que eu tinha a percebido — tomou um grande susto! Em resposta, correu de maneira desajeitada quase que tropeçando para atrás de uma árvore tentando se esconder, mas a idiota acabou derrubando algumas frutas que estavam em sua cesta, revelando sua posição mais uma vez.
Aquela cena quase me tirou uma risada. O que era surpreendente, visto a situação em que me encontrava.
— Ei! Você aí! — exclamei, em alta voz.
— [...]
Decidi exercer uma postura mais ofensiva — sem rodeios. Mas, naquele momento, acabei me lembrando que agora estava em outro mundo. Isso porventura, indicava que talvez ela não conseguisse me entender em primeiro lugar.
Devido a falta de opções que tinha continuei tentando.
— Não adianta se esconder! Eu já te vi aí!
Não tinha muitas esperanças que haveria alguma resposta. Até pensei em ir até ela, mas, de repente, escutei uma pequena e meiga voz.
— N-Nã-Não...te-tem...ninguém a-aqui... — sussurrou.
Aquilo já era bem risível por si só, mas quando gritei:
— É mentira! Você está atrás da árvore! Consigo ver claramente as frutas que carregava em seus pés!
E ela começou a tatear pelo chão, recolhendo as frutas que estavam ao redor da árvore, apenas deixando sua pequena mãozinha amostra... eu quase não segurei o riso...
—...Pfff... Caham! Eu já te vi idiota! Saia já daí!
Depois de minha exclamação rude, aos poucos, a tímida e pequena garotinha deixou seu esconderijo. Ela parecia um pouco ansiosa e até receosa, não a culpo, se eu estivesse no lugar dela também estaria.
Mas, eu não tinha muito tempo para pensar nisso; muito menos para ser gentil.
Porém, naquele pequeno espaço de tempo, minha ficha finalmente havia caído... ela me entendia. Isso me levou a uma incrível sucessão de pensamentos: Ela fala japonês? Estamos no Japão? Se sim, em qual lugar?
De qualquer forma, era melhor perguntar a própria garota.
Aos poucos, fui me aproximando dela. Estava receoso de que ela simplesmente fugisse e me deixasse ali naquela floresta — perdido, sozinho. Ela também parecia tensionada, e desviava o olhar para o chão a todo momento.
— O-Olá...o dia está ótimo...não é?!
— [...]
Foi uma péssima apresentação. Bem, eu nunca fui a pessoa mais sociável do mundo, e não é como se tivesse uma forma natural de se iniciar uma conversa naquela situação... eu acho.
— M-Meu nome é Satoru Iori... eu acabei acordando aqui nessa floresta... realmente me desculpe pela minha fala rude mais cedo... — abaixei a minha cabeça como desculpa
— [...]
Eu realmente não sentia peso na consciência nenhuma na minha fala anteriormente. Quer dizer... quem estava me espionando foi ela não?! Ela quem devia se desculpar! Mas eu não estava na melhor das situações, então, era melhor eu apenas dançar conforme a música.
Ao mesmo tempo, refletia se algum gato tinha comido a língua daquela pirralha. Ela não falava nada e mal reagia, praticamente estava me ignorando... aquela melequenta já estava me dando nos nervos.
Tentei de todas as formas possíveis me comunicar com ela, mas não estava sendo fácil, e ser um antissocial não ajuda muito...
— Você fala japonês, certo?
Quando já estava quase desistindo, parece que um dos assuntos cativou aquela garota.
—...Japo...nês...? — Indagou, curiosa
— Si-Sim! Japonês! Estamos no Japão, certo?! — exclamei, com um sorriso no rosto
Ela parecer ter ficando um tanto confusa de primeira. Então, ela vislumbrou aquele monte de pedra e brita onde estava deitado, e após pensar um pouco consigo mesma, ela parece ter chegado a um resultado.
Sua expressão havia mudado totalmente. Primeiro, suas sobrancelhas levantaram e sua boca abriu até onde podia. Seus olhos começaram, como que, a brilhar. Então, por fim, sua boca se esticou de um lado ao outro — resultando em um grande sorriso. Ela parecia outra pessoa.
A tímida garotinha pegou em meu braço e começou a tentar me conduzir pela floresta. Ela tentava me puxar como se sua vida dependesse disso, mas sem muitos resultados devido a sua falta de força. As frutas que carregava caíam uma após uma.
— C-Calma aí! Onde você quer me levar? — Indaguei, desconfiado pela mudança repentina da fedelha
— Venha comigo, herói! Estão te esperando! — respondeu a pequena, de maneira animada.
— Herói...?
Eu não fazia ideia do que ela estava falando, mas como em resposta a sua animação. Decidi ir com ela, onde quer que fosse.
Saímos correndo no meio daquela floresta. Não restava quase nenhuma fruta mais em seu cesto, mas ela continuava acelerando sem nem pensar nisso. Desviar dos galhos e árvores correndo daquela maneira não era uma tarefa fácil...
A princípio, ponderei que a floresta em que estávamos era densa, porém, quanto mais disparávamos, percebia um grande feixe de luz se aproximando com clareza. Cada vez mais claro. Cada vez mais perto...
*Fwuuahhh*¹
—... Meu Deus...
Eu sempre fui uma pessoa difícil de se surpreender. Talvez por ter vivenciado todo tipo de coisa desde pequeno; talvez por que eu sempre estou preparado para tudo... ou foi o que eu pensava.
Aquilo que vi deixaria qualquer um sem palavras. Desde o pequeno ao grande, do forte ao fraco, do sábio ao inexperiente — era inacreditável.
Se antes eu tinha alguma dúvida, se dissipou naquele instante. Não... aquele lugar não era o Japão... Mas, se não era o Japão então onde eu estava...?
Eu já tinha a resposta. A contar do minut... Não! Do segundo em que cheguei eu já tinha a resposta.
— Um novo mundo...?
Ao sair daquela — floresta, me deparei com algo inimaginável. Algo que pensei que só seria concebível na ficção ou em um sonho maluco. Extraordinário. Inconcebível. Insólito. Essas palavras se tornavam triviais perto do quão fantástico era o que estava diante de meus olhos.
Estava junto da garota em uma grande colina verde. Ao sul de onde estávamos, um pequeno vilarejo situava, junto de um pequeno rio que percorria o mesmo. Ainda mais ao sul deste vilarejo, uma grande montanha o quão eu nem mesmo conseguia ver o fim pairava sobre o horizonte. Ao oeste do vilarejo uma grande floresta se estendia até onde meus olhos podiam enxergar — ao leste, um grande campo de flores com cores de todo tipo embelezavam aquele vale.
E não apenas isso, animais de todo tipo habitavam aquele vale: vacas maiores que o comum, de cor marrom; peludas como um bisonte, com jubas parecidas com a de um leão e 6 patas. Um grupo de aves que se assemelhavam a um pelicano sobrevoam os céus, sua diferença no entanto, era seus 6 olhos, um ao lado do outro, e suas penas escuras.
Mas, também não deixava de enxergar os animais que se assemelhavam aos do meu mundo. Uma mãe pata nadava com seus filhotes no rio, 2 cachorros corriam um atrás da calda do outro, e alguns gatos estavam deitados na frente de uma casa, provavelmente esperando sua refeição.
Pequenos animais do tamanho de uma bola de futebol, que pareciam algodão, saltavam pelas grama verdejante. Quando uma rajada de vento que vinha da floresta oeste chegou nos mesmos, eles saltavam e como que, flutuavam no ar. O campo de flores se enchiam deles, que pairavam no ar — uma airosidade natural.
Se tivesse que escolher, preferiria continuar observando aquele mundo gracioso; mas devido a alguns puxões em seguida da garotinha. Decidi apenas ir com ela.
Descíamos aos poucos pela colina verde. Enquanto caminhava, a grama fazia coçar a minha pele. Eu não sei se posso chamar aquela sensação de desconfortável... talvez... diferente. Era tão vivo, tão natural. O ar era tão limpo, quando tocava em minha pele era muito refrescante.
Alguns cavalos ruminavam pela grama, já outros corriam por toda relva. Quanto mais chegamos perto do vilarejo, um caminho de terra formado possivelmente pelos habitantes se estendia da vila até os nossos pés. Um grupo de crianças que brincavam pela grama nos notaram, e assim que chegamos perto vieram nos receber.
— Noana, Noana... quem é esse que está com você? Um forasteiro? — perguntou, o que parecia ser o líder do grupo
— Ei, Ei! Tenha respeito, Siror — berrou Noana — ele é o Herói! O Herói!
No início, ele parecia não ter entendido o que Noana falava — nem eu entendia. Eles se entreolharam, e após me examinar de cima a baixo, assim como Noana, eles arregalaram os olhos em surpresa e radiavam alegria.
— Nã-Não é possível... é o Herói? Mas não estava quebrado? — disse Siror.
— É — sorriu em resposta — eu também fiquei surpresa.
Eles começaram a fazer uma grande algazarra ali. Eles comentavam o tempo todo de eu ser um herói. Mas, sendo bem sincero, eu não fazia a menor ideia do que eles estavam falando. Herói... eu? Em primeiro lugar, eu deveria estar morto não?!
— Eh... eu não queria atrapalhar a pequena festa de vocês.. mas do que diabos vocês estão falando?!
Os pirralhos mais uma vez se entreolharam e começaram a sorrir um para o outro.
— Não se preocupe... eh...Iori. Você vai entender logo — disse Noana.
Ela tinha claramente esquecido meu nome por um segundo... mas então, Noana ( agora junto de seus amigos ) me levaram para o meio daquele vilarejo, fazendo o maior alvoroço. As pessoas paravam o que estavam fazendo e começaram a olhar pelas janelas de suas casas tentando entender a situação.
Elas gritavam: — É o Herói! O Herói finalmente chegou! E coisas do tipo. Diferente das crianças, parecia que os adultos ainda não haviam processado o que tinha acontecido. Ainda assim, alguns deles começaram a seguir as crianças para onde elas estavam me levando.
Eu mal tinha chegado e já era a principal atração da vila. E em tempo recorde!
Porém, quando estávamos chegando perto de um poço. Um senhor idoso veio nos receber. Ele se cobria do pés ao pescoço com um manto desgastado de cor verde. Em sua mão esquerda segurava um cachimbo de madeira, na sua mão direita um cajado. Sua barba estava grande e mal feita, tudo isso somado com seus poucos dentes bem amarelados. Apesar disso, ele tinha uma aura diferente — ele aparentava ser o chefe daquele lugar.
— Ho-Ho! O que temos aqui...
Ele me olhou de cima a baixo e, logo após isso, começou a fumar seu cachimbo.
— É ele! Não é vovô?! — Noana indagou curiosa.
—...Fuuuuuuu... bem, provavelmente... — respondia, enquanto fumava seu cachimbo.
Quando os moradores escutaram essas palavras seus semblantes de desconfiança mudou totalmente para um de excitação. Eles começaram a gritar em alegria, outros começaram a chorar e até jogaram seus chapéus ( de o que aparentava ser palha ) para cima.
— Estamos salvos! O herói do nosso vilarejo, enfim, chegou! — gritou, um dos moradores.
— Nossa Deusa Yve escutou nossas preces! Que bom... qu-que bom!
Eu não sabia se ficava em choque, ou se ficava irritado. Até agora nenhuma de minhas perguntas foram respondidas. E esses imbecis ficam nesse papo de: herói, herói... sem me responder diretamente. Já cansado, decidi dar um fim aquilo.
— Ei! Ô velhote do cachimbo! — gritei, com um pouco de raiva
—...huuum... sou eu?!
— Que merda de história é essa de ficar me chamando de herói?! Eu quero saber como é que eu cheguei aqui! Cadê o Japão? O hospital? Me explica!!
Talvez eu tenha exagerado um pouco. Eles estavam em maior número, se eles se irritassem comigo... talvez eu não teria uma segunda chance.
—...Fuuuuuuu... bem, não vamos acelerar as coisas... eh...
— Iori. Meu nome é Satoru Iori
— Isso! Iori. Não vamos acelerar as coisas... nós vamos te explicar tudo com mais calma tomando um belo chá de dodra, que tal?
Bom não era como se eu tivesse alguma escolha, mas acho que trocaria o chá de dodra por um bom e velho café.
Após isso, começamos a caminhar em direção há o que parecia ser a maior casa daquele vilarejo. Quando chegamos na porta daquela casa, antes de entrarmos, ele segurou na maçaneta, olhou de relance para mim e disse:
— Mas, de qualquer forma...
— Bem vindo a Vila Yve! Herói...
¹Som do vento
Notas do Autor: Todas as Ilustrações dessa novel são feitas por IA. Comentem e façam teorias, leio e respondo todos os comentários