Volume 1
Capítulo 18: Nill — O Poder deste Mundo
Após algum tempo, chegamos ao nosso destino. Parecia mais forte que o comum. O som forte da água caindo fazia parecer como se a cachoeira estivesse nos dando boas vindas.
Porém, era inquietante. Erich tinha uma cara de poucos amigos — um semblante sério, semelhante aos primeiros dias que estive com ele. Estava desconfortável, entretanto, não tinha coragem para perguntar ao velhote o que tinha de errado com ele. Isso era incomum, já que, ele e eu sempre tivemos uma boa relação.
Também estava intrigado sobre o Nill. É verdade que insistia ( praticamente todos os dias ) para que ele me ensinasse sobre isso. Mas, o velhote sempre dizia que era cedo demais pra isso. Não fazia nem uma semana que eu havia perguntado sobre o Nill para Erich pela última vez, e havia recebido uma resposta parecida... o que mudou nesse meio tempo?
Entre a cachoeira e a floresta — situando apenas um pouco mais a direita da entrada da cachoeira — existe um grande campo cheio de relva verde, tão grande que se estende até a altura dos joelhos. Havia evitado de passar ali no primeiro dia que cheguei aqui, já que seria difícil me locomover por todo aquele mato devido aos meus machucados.
Contudo, Erich apenas ignorou isso e entrou no meio daquele matagal. Assim que vi isso, fiquei nervoso e preocupado, mas não tinha coragem para lhe dar uma dura naquele momento. Mesmo debilitado, ele parecia conseguir mover-se por ali, então apenas respirei fundo e segui ele até onde ele desejasse.
Caminhamos um pouco, até que tomei um pequeno susto. O velhote pareceu quase cair em algum momento, pensei que seria seu corpo pedindo por descanso.
— V-Velhote?!
—...Oh? Então, você está aí?
Eu fiquei um pouco confuso com a fala do velhote. Mas, então, ele me disse:
— Iori, por favor, pode abaixar e pegar isso para mim?
— Hã?! Ah, claro... — Rapidamente, me movi em direção aos pés do velhote. Lá, havia o que parecia ser um bastão de madeira, nem muito grande, nem muito pequeno. Parecia simples á primeira vista, porém, era adornado com ouro. Entreguei o bastão na mão desocupada de Erich. — ...Velhote, isso é seu?
— Sim. — Respondeu, Erich. — É apenas uma velha amiga minha...
Erich parecia estar perdido em pensamentos. Como se aquela — velha amiga — fizesse ele voltar á um passado distante. Ele esboçou um pequeno sorriso, mas logo, voltou sua atenção para mim.
Ventava bastante. As folhas secas em contato com o forte vento, voavam ao nosso redor. Elas caíam na grama verde, fazendo um misto de cores. Era realmente bonito aos olhos, entretanto, ficava um pouco triste já que Erich já não podia apreciar isso.
Na verdade, nem eu tinha tempo para isso naquele momento. Eu conheço o velhote e apesar de não saber todos os seus motivos, sabia muito bem que o que estava por vir seria muito importante. E não demorou para que Erich começasse a falar.
— Finalmente, chegou a hora. Não é? Garoto...
— [...]
Sua voz não tinha qualquer variação. Era seca e severa. Ele não gritava, e nem tinha raiva em sua entonação. Mas, por algum motivo, sua voz era carregada de algo o qual eu não podia entender ainda. Ou talvez eu pudesse, mas era covarde de mais para ir mais a fundo.
— Está pronto? — Indagou, Erich. — Vamos começar...
— Primeiro, vamos ao que você já tem conhecimento. — Largando o bastão o qual ele tinha usado para caminhar por todo caminho, Erich estendeu a mão esquerda para cima. Nem um segundo se passou, e então, uma chama pequena saiu dela. — Isso é uma forma de usar o Nill. Estou usando para criar uma chama, contudo, isso pode variar para qualquer outro elemento: água, terra, eletricidade... não importa. Desde que você tenha compatibilidade com o elemento.
Eu não tinha a menor ideia sobre isso. Claro, não é como se eu não pudesse imaginar sobre essas coisas, mas, agora que tudo isso era — real — era totalmente diferente. O velhote não parava de falar centenas de coisas de uma vez só. Coisas essas que eu não tinha qualquer conhecimento.
— Acho que seria interessante ver sua compatibilidade com algum elemento já agora... garoto, estenda sua mão e coloque sua energia nela.
— Ei! Ei! Velhote, eu não tenho a menor ideia de como fazer isso.
— Hã?! Como assim? Seus pais não lhe ensinaram nem isso?!
Não sabia como funcionava as coisas nesse mundo. Mas, levando a forma como Erich pareceu surpreso, parecia um absurdo eu não saber algo básico sobre o Nill. Talvez, por isso, ele foi me dando essa quantidade absurda de informações os quais sequer tinha base alguma.
Isso se deve pelo fato de que, eu ainda não tinha contado á Erich, sobre o fato de eu não ser daquele mundo. Mesmo depois de todo esse tempo vivendo ao seu lado, nunca lhe contei sobre isso. Não porquê não tinha coragem, mas sim, porque todos os dias eram tão divertidos que eu nem pensava sobre isso.
Levando em conta a situação, seria melhor evitar guardar esse segredo por mais tempo. Então, decidi que seria melhor apenas revelar isso ao velhote.
— Velhote...
— Diga logo, garoto.
— Na verdade, eu não... sou desse mundo...
— Hã?!! Como assim, Iori?! Eu não estou entendendo. — Resmungou, Erich. Sua entonação era cheia de dúvida e confusão, talvez até um pouco de irritação.
Respirando fundo antes de falar, buscava de alguma forma um pouco de coragem. Visto que, provavelmente, isso seria um choque para o velhote. Estávamos um pouco longe de casa, então, não queria que ele passasse mal ou algo do tipo. Até mesmo pensei em não contar nada, mas desisti dessa ideia. Tinha que falar a verdade agora — esse era o momento.
— Eu... sou um teleportado.
— [...]
— Então, tipo, eu não sou desse mundo sabe.
As sobrancelhas de Erich levantaram um pouco quando eu revelei a verdade, mas foi apenas por um curto momento. Logo em seguida, ele cerrou os olhos com força. Ele costumava fazer isso sempre que refletia sobre alguma coisa. Seu rosto tinha esse misto de dúvida e preocupação que me deixava um pouco ansioso.
Passado alguns poucos segundos, o velhote resolveu falar.
— Por que você não me disse Ior-
— Quer saber... deixe pra lá... — Completou, Erich. Esfregando a sua cabeça com a sua mão esquerda. Era como se Erich tentasse absorver aquilo tudo. Parecia angustiado com o que tinha acabado de escutar, mas ao mesmo tempo, tentava manter sua calma e serenidade habitual. — Teleportado, não é?
— Sim, eu não sou desse mundo. Isso muda alguma coisa?
— É óbvio! — Exclamou, Erich. — Isso muda tudo! Completamente!
Ele estava obviamente mexido com isso. Dependendo das minhas perguntas, o velhote não conseguia deixar de transparecer o seu nervosismo.
— Ah... não, me desculpe...
— Tudo bem.
— Bem, então, terei que começar pelo básico...
Erich pareceu encher os pulmões antes de falar mais uma vez. Ternamente, ele golpeou a terra com o bastão que estava em sua mão direita. Provavelmente, foi uma forma de organizar seus pensamentos.
— Iori, você sabe o que é o Nill?
— Não exatamente.
— Entendi.
Depois de esfregar o bastão de madeira contra a terra algumas vezes. Ele levantou seu rosto em minha direção. Seu olhar era afiado por mais que ele não enxergasse. Sabia que tinha que prestar devida atenção pelo o que ele ia falar agora.
As batidas incessantes do meu coração me deixavam nervoso. Um suor frio percorria minha testa. E pra tentar me acalmar um pouco, esfreguei meus pés na terra com força. Toda aquela grama em volta fazia minha pele pinicar.
“Hehehe...”
Esbocei um pequeno sorriso quando percebi que estava agindo igual o velhote. Acho que somos mais parecidos do que aparentamos ser. Ou talvez... eu que me tornei mais parecido com ele. Sim, isso seria mais adequado.
Os ventos de outono estavam fortes naquele dia. Sim, muito forte. As folhas movidas pela ventania levitavam ao nosso redor. Erich não podia ver, mas talvez, podia sentir aquilo. Ele olhou adiante de mim, e sem demora exclamou:
— Nill é tudo.
— Hã?! Como assim?
— Ou melhor...
— Em tudo que há vida, também há Nill!
Ele foi direto ao ponto. Sem pestanejar. Infelizmente, não entendi de primeira suas palavras. Mas, Erich sempre foi gentil ao ponto, de me ensinar com cuidado. Sim, ele sempre foi assim.
— Eu não entendi velhote.
— Olhe bem. — O velhote apontou com a mão esquerda para as árvores da floresta. — tem árvores naquela direção, correto?
— Sim. Um monte de árvores.
— Todas elas tem Nill. — Erich em seguida apontou um pouco mais a direita de onde estávamos, em direção a pequenas flores de outono. — Existem flores ali?
— Sim. Algumas flores.
— Nill também percorre por elas. — Rapidamente ele apontou aos céus. Eu já havia entendido o que queria dizer, porém, quando ele apontou para cima fiquei em dúvida de novo, já que o céu não tem vida. Contudo, em um piscar de olhos, saquei o que ele iria dizer.
— Não tem nenhuma ave no céu, velhote.
—...Ah, é verdade. Mas, mesmo assim... os animais também tem Nill em seus corpos.
— Sim, agora eu entendi.
Erich parecia coçar a garganta. Ele cerrou os olhos velozmente, antes de voltar a falar. Como se mudasse a direção da conversa.
— Nill é a base desse mundo. Sem ele nós humanos, provavelmente, já estaríamos extintos. Mas, indo direto ao ponto. — Disse, Erich. — Todos que existem nesse mundo tem Nill, entretanto, você é um caso diferente visto que você não é daqui.
— Isso significa que é impossível eu aprender usar o Nill? — Indaguei.
— Apenas escute... eu não disse isso! Só que, normalmente, os pais costumam já ajudar nesse processo desde pequeno. Ou seja, eles estimulam a criança desde pequena para que ela consiga usar o Nill.
— Ou seja, é diferente do meu caso, já que eu não sou desse mundo. Logo, eu não fui moldado para aprender o Nill.
— Exatamente. — Completou, Erich. — Então, você está bastante atrasado.
Parando pra pensar... faz total sentido! Sendo o Nill algo tão essencial e importante para esse mundo, não é difícil pensar que para melhorar e acelerar a capacidade de aprendê-lo muitos pais já ensinariam seus filhos desde crianças. Assim, é mais fácil para educá-las em pontos mais complicados e complexos mais tarde.
— Indo direto ao ponto: terei que, eu mesmo, desenvolver sua capacidade em usar o Nill. Mas, para isso, você terá que se esforçar bastante.
Intrigado com suas palavras, rapidamente, já quis demonstrar ao velhote o quão sério estava sobre aquilo.
— Não se preocupe, velhote! Eu vou me esforçar! — Exclamei em alto e bom som. — Me diga, quantas flexões e abdominais vou ter que fazer de agora em diante... 10 mil de cada? 100 mil?
—...Ah... não é como se você fosse aguentar fazer 100 mil flexões...
—...Nada disso, garoto. Eu já lhe disse:seu corpo já está minimamente bem desenvolvido para suportar o Nill. — Afirmou, Erich. — Você teve sorte de eu ter desenvolvido seu corpo, a príncipio. Se não, teríamos que realmente focar em treino corporal.
— Bem, então, o que vai ser?
— Você vai ter que — sentir — as coisas. Esse será o seu treino.
— Sentir? Poderia ser mais claro que isso?
— Você vai entender quando começar... — O velhote largou o bastão que havia pego há alguns minutos, jogando mais uma vez ele na grama. — Garoto, pegue o antigo para mim, por favor.
Depois de devolver o bastão velho para Erich, ele começou a caminhar mais uma vez. Logo, ele passou por mim e começou a caminhar em direção a floresta mais uma vez.
— Ué, velhote? Nós não vamos treinar?
— Era minha ideia inicial, mas não achava que você era tão amador. Além disso...
—...Eu estou me sentindo cansado... vamos pra casa, Iori. — Murmurou, Erich. — Amanhã começamos o seu treinamento... ok...
Ele realmente parecia desgastado. Talvez, ele não estivesse ainda tão bem assim. Erich nunca me contou esse tipo de coisa, ele sempre foi um velhote teimoso! Então, ele me dizer isso me pegou de surpresa.
O velhote poderia me dar um treino pra fazer e ir pra casa. Mas, eu tinha essa sensação esquisita de que ele queria ficar comigo. Podia estar enganado, mas era o que eu sentia.
— Tudo bem, velhote. Vamos...
— Obrigado, Iori.
Notas do Autor: Todas as Ilustrações dessa novel são feitas por IA. Comentem e façam teorias, leio e respondo todos os comentários