Volume 1
Capítulo 13: Tenha paciência, estamos chegando!
O canto dos pássaros, enfim, ressoava pela floresta. Isso me deixou um tanto irritado, porque significava que tínhamos acordado primeiro que eles; não que não estivesse acostumado com isso, mas ainda sim, era um tanto incômodo.
Entretanto, é notável dizer que escutar as aves não era algo comum pra mim. Pelo menos, desde que eu vim morar com o velhote. Pra ser ainda mais preciso, era difícil eu ver qualquer animal nos arredores da velha cabana, o que é bastante estranho pensando agora — visto que a casa está no meio da floresta, cercada por vegetação e árvores.
Lembro que a vila de Yve é rodeada por uma grande quantidade de aves, insetos e todo tipo de bichos de diferentes tamanhos e cores diferentes. As boas condições ao redor daquela vila possivelmente possibilita isso. Já aqui, não vejo sequer um coelho. É estranho...
Apesar disso, não tinha qualquer tempo para pensar sobre isso. Isso porque estava caminhando junto do velhote em direção a algum lugar desconhecido. Estávamos indo na direção esquerda da cabana. Já tinha vindo nessa direção, obviamente, mas nunca tinha ido tão longe ( já caminhávamos á 10 minutos! ).
O velhote não falava nada, porém, estava com um sorriso de orelha a orelha. Seu rosto — radiava — felicidade e o mesmo cantarolava alguma música desconhecida enquanto andava pela densa floresta. Ele se apoiava em sua bengala, mas parecia nem precisar dela pois esbanjava força sem igual.
Ele estava com tudo! Isso é muito suspeito... todos os meus músculos do meu corpo se enrijeceram de medo, só de imaginar o quão mortal seria o treinamento que seria imposto por ele.
— Ei, velhote...
— Hum, Hum, Hum... Hã? O que foi Iori?
— Eu só queria saber onde estamos indo e tal...
— Ah, Hehehe! Nada demais...
— [...]
Tentar decifrar o que estava acontecendo parecia inútil, então, resolvi apenas dançar conforme a música. Mas, isso não significava que estava menos ansioso.
Por nunca ter pisado nessa área da floresta tentava mapear a região. Era uma parte mais densa da floresta, ainda mais cheia de árvores e vegetação que o comum, o que tornava caminhar por ela ainda mais difícil. Estava um tanto preocupado com o velhote por causa disso, ele é forte mas não é como se fosse o super-homem.
Nas partes mais complicadas de se locomover devido a quantidade de galhos e plantas no caminho, o próprio Erich as cortava com a ajuda de um facão. Eu pedi para que ele deixasse essa parte mais pesada comigo, principalmente, devido ao fato de que ele já não enxerga tão bem. Mas, ele apenas pediu para que eu relaxasse um pouco e deixasse isso com ele.
Era inútil debater com ele, então apenas fiz como ele queria. Porém, me permiti, ao menos, carregar as varas de pescar que estava com ele. Elas eram um tanto pesadas, me pergunto como o velhote conseguia carregá-las com um sorriso tão grande no rosto. Hahaha...
Depois de mais algum tempo caminhando, já estava ficando um tanto cansado. Desviar dos galhos e das árvores carregando esses trambolhos é bem difícil.
— Velhote... estamos, chegando?
— Ainda não.
*( 5 minutos depois )*
— Velhote... chegamos?
— Não. Temos que ir mais um pouco.
*( 5 minutos depois )*
— E agora, velhote... che-chegamos?
— Não. Falta só mais um pouco, Iori. Seja só mais um pouco paciente.
— Ahhhhhhhhhhhhhhhhhhh!!
Pensando bem, estávamos parecendo igual a um daqueles pais e filhos que eu via bastante nos comercias de carro. Onde um pai levava seu filho ansioso para algum acampamento ou viagem, e seu filho que já não aguentava mais a longa jornada reclamava vez após vezes perguntando loucamente se eles enfim teriam chegado. O pai gentil, por sua vez, apenas tentava acalmar os ânimos de seu filho.
Apesar de que, pensando dessa maneira, estou literalmente me comparando a uma criança birrenta...
*Sniff *Sniff
Me vi, mais uma vez, olhando em direção ao velhote. Ele por alguma razão, estava como que cheirando o ar.
— Opa! Nem vem, que não fui eu!
— Hã?! Do que você está falando, garoto? Faça silêncio para não me atrapalhar.
Ele mais uma vez se voltou respirando fundo. Mas, dessa vez, ele se voltou com um sorriso de satisfação e disse: — Hehehe, finalmente chegamos! O ar daqui é inconfundível!
Ele caminhou em frente mais uma vez e eu junto dele. Com um ritmo mais acelerado dessa vez, passamos das últimas árvores que estavam em nossa frente. Quando as transpassamos finalmente entendi o que o velhote estava tanto querendo me mostrar. Era um lago — ele estava no meio daquela floresta. A cor da água dele era um pouco mais escura. Então, não dava pra enxergar qualquer coisa que estivesse lá dentro.
— Venha!! Vamos, Iori! — Sua voz transbordava excitação — Não podemos perder nenhum segundo!
Ao andar em volta do lago, notei que a terra era um pouco lamacenta. Não era um grande desafio pra mim, mas para o velhote passar por ali seria, no mínimo, desafiador. Por isso, respirei fundo e carreguei ele nas minhas costas. Ele nem era tão pesado, mas como eu já estava carregando todo aquele peso, tornava passar por ali um verdadeiro inferno. Acho que todo aquele treinamento, realmente valeu a pena!
Felizmente, não demorou muito para chegarmos em nosso destino. No lago, havia um velho píer¹ — provavelmente usado para pescar. Antes de entrarmos no píer, percebi que havia duas rochas grandes. Erich decidiu que seria melhor descansar um pouco ali, visto que ambos estavam fatigados devido a viagem. Além disso, não era uma certeza absoluta que o píer ainda teria boas condições de uso. O velhote parecia já ter vindo aqui em algum momento, então, ele devia ser bem velho.
Nos sentamos para respirarmos um pouco. Realmente, aspirei todo ar dos pulmões depois de me livrar daquela imensa carga. Finalmente, podia pensar um pouco sem todo aquele peso. Agora, que tinha pensado um pouco as coisas começaram a fazer sentido. Aquelas varas de pescar não seriam usadas como formas de tortura ( eu acho ) mas sim, para pescar! Pescar de verdade!
Agora fazia tudo sentido. Era por isso, que o velhote estava tão estranho, ele apenas queria fazer uma surpresa. Será que seria uma recompensa por todo meu esforço? Mas tinha que ter calma! Ainda sim, podia ser algum tipo de armadilha!
Mas... só de pensar que talvez ele tenha feita isso por mim, me deixa um pouco contente...
— Hehehe! Fico feliz que você gostou, Iori!
— Co-Como vo-você sabe? — Indaguei, com muita surpresa visto que sei que ele é quase cego e não podia ver isso em meu rosto.
— Eu apenas sei.
— [...]
— Velho idiota!
— Hehehe!
Voltei meu olhar em direção ao píer e caminhei em direção a ele. Apesar de ser velho, ele parecia estar em excelentes condições. Confirmei isso ao subir em cima dele e até mesmo dei uns pulinhos, só pra ter certeza.
— Velhote, esse píer já está aqui há muito tempo?
— Claro, Hehehe! Bem, antes de você sonhar em nascer, garoto!
Era meio óbvio que iríamos pescar ali, mas ainda tinha alguma dúvida sobre como iríamos fazer isso.
"Será que terei que procurar minhocas no meio de toda essa terra molhada?"
A resposta veio em um segundo, quando simplesmente — do nada — o velhote me tira do meio de sua roupa uma trouxa cheia de pães velhos. Esse velho gagá sempre me surpreende...
— Hehehe!! Mais uma lição, Iori! Um homem sempre tem que estar preparado!
¹É uma passarela sobre a água, suportada por largas estacas ou pilares.
Notas do Autor: Todas as Ilustrações dessa novel são feitas por IA. Comentem e façam teorias, leio e respondo todos os comentários