Volume 3 – Arco 4
Capítulo 232: “Boas-vindas” ao Novo Lar
O Miguel havia dito para o menino ir até a Academia de Batalha e encontrar o diretor Damian Stear Nosferatu, mas o garoto vindo de uma época tão arcaica mal sabia a burocracia que seria falar com a figura mais importante de uma das Academias.
Se orientar pelas ruas labirínticas da cidade já foi um baita desafio, chegar até a sala do diretor foi um maior ainda. Pedir informações era desconfortável, quando todos o encaravam com uma impressão de incerteza. Aquilo era um tipo de tenjin? O poder divino era transbordante demais.
De qualquer modo, após um bom tempo, o menino enfim se viu de frente para o assistente do diretor Damian, que informou uma ausência temporária do regente. Seguindo orientações prévias, o garoto foi encaminhado para uma sala isolada.
Chamar aquilo de sala seria eufemismo. O espaço era amplo demais e vazio a ponto de se tornar o terror de quem possuía quenofobia. Apesar da vastidão, fechado e selado, completamente isolado do exterior. O Raizel agradecia por não possuir algo como claustrofobia ou nem entraria ali.
O garoto tateou o piso fosco com uma mão. Estava limpinho e gelado. Sem nada mais para fazer, o Raizel se deitou de costas e ficou observando a estrutura do teto, fechada como a cúpula de um estádio.
A frieza do piso. O silêncio. A sensação era até boa. Colocando um braço sobre o rosto, o menino sentiu que poderia tirar um cochilo ali. Aquele tal diretor poderia demorar bastante. O estresse durante o trajeto havia sido grande. Tudo bem relaxar um pouco.
Matem ele…
Matem el…
Matem e…
Matem…
— Uh…! — Era difícil dizer quanto tempo se passou desde que o Raizel se deitou no chão e cochilou. O que estava certo era uma marca de vermelhidão no rosto quando o garoto tirou o braço de cima. — Estão diminuindo. Essas vozes. Enfim.
Talvez por causa das conversas com o Miguel ou por influência do tempo, o menino sentia que poderia cochilar com mais frequência. Dormir ajudava a relaxar e escapar por algumas horas dos problemas, até mesmo para seres imortais e sem necessidades biológicas.
Apesar de acordado, o nefilim permaneceu deitado e contemplando o teto da vasta sala vazia. Mais alguns minutos se passaram, quando a porta foi aberta, e o menino mexeu a cabeça para ver o indivíduo que havia entrado e fechado a porta atrás de si.
O esperado diretor estava na casa dos quarenta e poucos anos. Possuía cabelos cinzas, clássico dos Nosferatu. Por um instante, o Raizel quase pensou que o indivíduo fosse mais velho. O nefilim nem teve oportunidade de perguntar qualquer coisa.
Uma breve piscada, e o menino que se levantava foi empurrado para trás por uma força intensa e invisível que grudou as costas dele numa das paredes com um estrondo que era perigoso terem escutado do outro lado da Academia de Batalha.
— Argh! — O Raizel cuspiu sangue sobre o seu queixo, uma vez que era impossível mover a cabeça para a frente. A sua caixa torácica doía, principalmente as costelas que estavam apertando os pulmões cada vez mais. — Por que… isso?
— O meu assistente informou que eu estava fora, correto? — indagou o adulto enquanto reparava que o sangue do ferimento retornava para a boca do menino e, acima de tudo, o Raizel não esboçava intenção de revidar o ataque. — Responda.
— Sim.
— E pra onde você acha que eu fui?
— Eu sei lá. — O garoto fez força para se soltar, mas parecia grudado com cola ou até que fazia parte da parede. Mas, o que era mais surpreendente era a estrutura intacta após o impacto. — Como eu ia saber?
— Eu estava no Continente Sombrio, menino nefilim — explicou o diretor Damian, puxando a luva mão direita na direção do pulso. — Eu estava de olho naqueles seus… “irmãos”.
— Ah! É isso. — O menino fechou as pálpebras e respirou fundo. — Você também quer me matar. — Abriu os olhos novamente e encarou o adulto. — Mas é meio difícil fazer isso.
— Eu concordei em cuidar de você — relembrou o diretor, abrindo uma palma para o pescoço do garoto, que foi atraído para ela. — Mas nunca tive a intenção de criar o destruidor do meu mundo!
Agarrando o pescoço do menino, o diretor Damian rodopiou o nefilim no ar como quem segurava um boneco e o cravou no chão, provocando um eco que se espalhou pelo ambiente fechado e levantou pequenos detritos, um que passou pela lateral do seu rosto.
— Como eu posso ter certeza de que você não vai perder o controle e se tornar uma ameaça tão grande ou maior que aquelas aberrações? — O sangue mais uma vez voltava para a boca do menino que encarava o diretor, sem esboçar raiva. — O que você faria se odiasse o meu mundo?
— Nada. — A resposta saiu forçada por causa da garganta apertada. Mesmo assim, o garoto encarava o diretor sem qualquer efeito de falta de ar. — Eu acho que nada.
Damian observou a resposta do menino no fundo da escuridão das pupilas dele, quando enfim soltou o pescoço do nefilim e corrigiu a sua própria postura devagar. E de novo, o garoto não revidou.
— Chega disso. — O homem se afastou alguns passos e mexeu na sua luva direita. — Eu vi bem o que aqueles Gigantes fizeram com as criaturas de Erebus. — Soltou a luva e fechou o punho. — E eu sei que você pode se soltar desse nível de atração, se realmente quiser, garoto.
O menino ficou calado, mas moveu os dedos das mãos. De fato, o piso o puxava com uma força surreal, mas… Marcas vermelhas começaram a ficar evidentes nos seus braços, e a sua força aumentou.
— Me mostre o que acontece quando você fica com raiva — exigiu o diretor, conforme uma aura cinza irradiava do seu corpo — quando você quer matar e destruir.
— E se você acabar morrendo? — indagou o nefilim, já com as marcas no seu rosto.
— Então eu nunca fui apto para essa tarefa.
Foi então que um brilho vermelho intenso explodiu onde o nefilim estava, e o diretor colocou um braço na frente do rosto. A Energia Espiritual misturada à Divina inundou o espaço fechado, e não havia um centímetro livre da influência do Raizel.
— Você ainda pode se empolgar mais, menino. — O tecido no braço do diretor e a luva começaram a queimar. Aquela roupa era para ser bem resistente. Damian tinha que pedir para melhorarem.
O piso tremeu e um grito rasgou o agudo da energia que tomava o lugar, um rugido quase animalesco que vinha de cima. O diretor sorriu quando ficou cara a cara com o menino que, de repente, travou no ar.
O Raizel rangia os dentes e estava pondo tensão nos dedos de uma das mãos para alcançar o rosto do adversário e rasgá-lo, igualmente uma fera faria. Mas, assim como o brilho da energia vermelha sumiu do ambiente, a investida falhou.
— Fazer cara feia e ficar com raiva são duas coisas diferentes. — O diretor Damian apontou um dedo para o menino preso no ar e então apontou para a esquerda. — Eu quero o seu ódio puro.
O nefilim foi arremessado para a parede da esquerda, batendo com um impacto de cara apenas para ser puxado para a parede da direita, para o teto, para o piso e para qualquer direção que o diretor apontasse.
— Então, isso foi irritante? — O homem ria enquanto assistia os vultos do nefilim passando de lá pra cá, e os ruídos das colisões soavam como uma melodia. — Opa! — O diretor de repente mexeu a cabeça para o lado e escapou de um orbe de energia que o menino lançou.
Mesmo sendo jogado de um lado para outro, o Raizel continuou com o arremesso de projéteis, o que levou o Damian a ter que esquivar com passos e não mais com movimentos sutis. A sala ficou um caos com explosões para todos os lados.
— Chega de orbes. — O diretor puxou o garoto para perto e o segurou pela garganta. No entanto, o nefilim criou um orbe na mão e lançou no adversário, ou tentou. — Eu disse que chega de orbes!
Agarrando o braço do menino, Damian fez o garoto estourar a energia no seu próprio rosto. Então, firmou a base dos seus pés e jogou o nefilim na parede da frente. O Raizel tentou se levantar, mas caiu, meio zonzo.
— Isso é o mais longe que o seu ódio vai? — Dando forma a uma espada longa em sua mão, o diretor Damian firmou a sua base e preparou uma postura de perfuração. — Você luta feito um animal, igual àqueles Gigantes.
Ao ouvir aquelas palavras, o nefilim abriu bem as vistas. Era notável que o Raizel era mais humano que os Gigantes, mas até onde a diferença ia? Como poderia ter certeza que, de certa forma, também não existia um Gigante dentro de si?
Bom, antes que o garoto formulasse uma resposta, o diretor avançou velozmente e cravou a espada no seu ombro até que a ponta alcançasse o chão. No entanto, para a surpresa do homem, não teve sangramento.
“A cura dele ficou ainda melhor.” Até mesmo foi um pouco mais difícil causar o ferimento do que o diretor esperava. “Essas marcas…” Nem dor o menino expressou.
— Sinto muito. Eu não tenho porque ter ódio de você — pronunciou-se o menino empalado. — Também, não sei se sou tão diferente dos outros nefilins.
Aos poucos, as runas desapareceram do corpo do garoto, e o sangue voltou a se fazer presente nas suas feridas. Os membros do nefilim amoleceram, e ele só continuou “de pé” devido à espada que estava enfiada nele.
“Um garoto sem rumo, completamente.” Sem mais reação do Raizel, Damian desfez a sua arma e colocou uma mão no peito do menino, para evitar a queda dele. — Bom. Posso dizer que os Gigantes ficaram com raiva de mim quando eu os ataquei do nada.
— Hã…? — Com o diretor pondo um joelho no chão, o nefilim conseguiu observar um sorriso empático de perto.
— Talvez, você seja um pouco diferente, no fim de tudo. — Levantando-se, o diretor ofereceu uma mão para que o menino fizesse o mesmo. — Eu sou Damian Stear Nosferatu e lhe dou as boas-vindas ao meu mundo, Raizel.
Aquela recepção de boas-vindas foram peculiares demais para serem chamadas de “boas”, mas, mesmo assim, o garoto segurou a mão do homem e seguiu o exemplo de se levantar.
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