O Nefilim Primordial Brasileira

Autor(a): Ghoustter


Volume 3 – Arco 4

Capítulo 231: Pergunta e Resposta

O Príncipe dos Anjos em pessoa. Mesmo com os seus cinco pares de asas ocultas, São Miguel Arcanjo era o tipo de existência cuja imponência gerava o silêncio na boca dos que o contemplavam de perto.

Sem saber o que dizer para o Arcanjo, o menino devolveu o olhar de análise para o indivíduo bem maior que ele. O avatar do Miguel tinha uns dois metros de altura, chutando por baixo. Fazia sentido os nefilins defeituosos se tornarem gigantes.

— Você… — Enfim o Raizel pensou em algo para verbalizar. Se o Príncipe dos Anjos estava ali, havia apenas um motivo: — Você veio acabar com a gente?

— Ah, sim! — Igualmente reflexivo, porém acerca dos Olhos do Todo-Poderoso que se apagavam e retornavam para as íris roxas comuns, o Arcanjo voltou a sua atenção para o menino em particular. — Faria bastante sentido se fosse esse o caso.

— Não é? Mas… — O menino virou a bolota de carne nos seus dedos. Ainda se lembrava bem do que tinha acabado de ver e de passar. — É o que nós merecemos.

Como se retomasse as suas capacidades de movimentação, a bolota se soltou da mão do Raizel e flutuou até o Arcanjo, que a segurou com o polegar e o dedo indicador. Em seguida, amassou ela.

O sangue esguiçou e foi queimado por uma chama dourada até que sobrasse nada. Os Gigantes podiam ser imortais, mas apenas em vitalidade e regeneração. Se fossem destruídos até o último átomo, o retorno seria impossível para eles.

— Você acredita que merece esse tipo de morte também? — perguntou o Arcanjo, deixando o pequeno vidrado nas chamas que se apagavam no ar. — O que me diz?

— “É mesmo um monstro.” — O Raizel colocou uma mão na cabeça e relembrou o que os algozes disseram para a mãe dele após o parto. — “É um deles. Matem ele aqui mesmo”.

— Não foi o que eu perguntei. — O menino fitou o Arcanjo de repente, com um “hã” bem audível da sua voz. — Me escute, pequeno.

O Miguel andou devagar em direção ao nefelim. Se abaixou e aproximou uma mão com cuidado, como quem se preocupava ao interagir com um animal ferido e assustado que teve experiências ruins com donos abusivos anteriormente.

O Raizel podia ter dez anos de idade, mas apenas uma semana de vida e conhecimento. Toda a compreensão de si vinha das memórias de quem o enxergava como algo a ser exterminado. Uma praga.

— Isso é o que as vozes dizem sobre você. — O Arcanjo afagou o cabelo bagunçado do nefelim e foi mais preciso na pergunta. — “Você” acha que eu deveria te matar também?

— Eu… — Olhos fechados, e em busca da resposta sem a interferência das memórias dos outros, o Raizel encontrou um silêncio profundo na sua cabeça. — Eu não sei.

Um sorriso leve foi formado nos lábios do Príncipe dos Anjos. Era uma mudança mínima, mas já era um começo. Além disso, a proposta de assassinato era bem ousada, mesmo para ele. O menino possuía tipos de imortalidades muito peculiares para serem destruídas.

Regeneração avançada. Vitalidade ilimitada. Além disso, o Raizel estava ligado ao próprio conceito de morte, e o regente era o Arcanjo Azrael. Acima de tudo, ele era um dos singulares Fragmentos do Fundador.

“A instância da Criação.” Tirando a mão do cabelo do menino, os dois se olharam. “A causa primeira da existência de todas as coisas”.

— O que você veio fazer aqui então?

— Sim, isso. — O Arcanjo já tinha divagando demais, então suspirou com calma e se acomodou no chão, ao lado do garoto. — Eu vim pôr “ordem” na casa, se assim eu posso dizer.

— Hã?

— Eu estou aqui para que as coisas sejam como devem ser. — Deixando uma perna solta mais à vontade, o Miguel colocou um cotovelo sobre o joelho da outra. — É pra esse tipo de coisa que eu existo, afinal.

O garoto continuou encarando o Arcanjo da mesma forma de antes da resposta. Sem entender nada. De fato, ainda era cedo demais para o menino compreender os deveres do líder dos Arcanjos e a natureza profunda de outro Fragmento.

— Seres como os nefilins nunca deveriam existir neste mundo — explicou-se o maior, levando o garoto a abaixar o olhar. — Então, eu vou mandar vocês pra um lugar mais adequado. Sim. Assim será feito.

A princípio, a ideia proposta pelo Azrael era mesmo exterminar a raça que nunca deveria ter visto a luz da existência, sendo ele o executor. Mas o Miguel ficou grato por ter assumido a frente do assunto. Agora, possuía um objetivo para os nefilins, até mesmo os mais imperfeitos.

— Eu conheço um mundo onde vocês podem se encaixar melhormente. — Calisto, um planeta no mesmo universo, que tinha passado por uma catástrofe havia algum tempo. — Então, o que você acha? 

— Outro mundo… — O pequeno encarou o chão arrasado. Não havia ninguém na Terra que o desejasse ou a quem ele estivesse apegado, mesmo assim dava uma sensação estranha na barriga quando pensava em ir pra outro lugar e nunca mais voltar. — Eu não sei. É melhor assim?

— Esse mundo também está lidando com o surgimento de novas raças, os tenjins, os majins e os semi-humanos — explicou o Arcanjo. — É um caso diferente do seu, mas é um bom lugar pra você e os Gigantes.

— Você também tá pondo ordem na casa de lá?

— Haha! De uma forma um tanto diferente. — As novas raças de Calisto surgiram a partir de alterações na Lei do Mundo advindas de um conflito interno atiçado por uma certa mosca. Já os nefilins, eram uma profanação da divindade. — A mudança também faz parte da Ordem.

Depois de encarar o indivíduo com mais uma feição confusa, o Raizel parou com as perguntas. Quanto mais o Arcanjo falava sobre Ordem, menos o menino entendia o que ele queria dizer. De qualquer modo, ao pequeno restava apenas uma escolha, se realmente tivesse uma em suas mãos.

— Tá. Eu vou.

— Só mais uma coisa. — O Arcanjo levantou o dedo indicador. — Aqueles Gigantes serão jogados num continente isolado onde tem monstros iguais a eles.

— E eu…

— Eu vou pedir pra alguém cuidar de você e te ensinar a como usar as suas habilidades da forma correta. — O menino mordeu o lábio e se atentou para as árvores que perdiam a vida perto dele. — Por agora, eu posso desativar essa habilidade de Morte Passiva, se você quiser.

— Quero.

O Miguel riu por um momento. O menino nem hesitou. Dava pra ver o quanto aquilo o incomodava já que havia custado a vida de muitas pessoas; uma delas, a mãe dele.

— Espere só mais uma semana, enquanto eu preparo tudo para te receberem em Calisto. — O Arcanjo se levantou e sacudiu a terra da sua roupa. — Pretende continuar isolado por aqui?

Da esquerda para a direita, o pequeno sondou os arredores. Aquele lugar estava arruinado, e a destruição poderia ser ruim. Ainda mais se outros Gigantes fossem atrás dele. Seria perigoso ter alguém perto.

— Eu vou ficar em algum lugar sem gente.

Passado o tempo estabelecido pelo Arcanjo, o Miguel se encontrava no topo de uma montanha da qual era possível enxergar a cidade academia do norte do Continente Hervron, a Academia Ziz.

Ao lado do Príncipe dos Anjos, o garoto se encontrava já na faixa de uns doze anos de idade. Quanto mais envelhecia, mais lento o avanço da idade biológica ficava.

—  Antes de eu ir embora, há algo que eu quero te entregar — pronunciou-se o Arcanjo com a sua voz suave carregando um pesar pelo garoto ao seu lado. — Eu espero que você faça bom uso dela.

Direto do próprio tecido do espaço, uma espada longa em uma bainha prateada com entalhes dourados surgiu na mão do Miguel. O guarda-mão da arma eram quatro asas: duas asas viradas para o cabo e duas voltadas para a lâmina.

— Essa é a… — O menino se viu com o olhar fixo na arma que irradiava um forte poder divino, digno de um Arcanjo.

— Agora ela é uma espada sem nome. — Dando uma última vislumbrada na arma que o acompanhou por muito tempo, o Miguel se despedia dela, que ganhava uma missão muito especial e decisiva para o futuro.  — Nomeie-a como desejar.

Por alguma razão, o garoto hesitou em pegar aquela arma. Um certo sentimento de angústia inundava o seu coração. Ele já sabia bem para o que aquela arma servia. Aqueles dois anos a mais já o permitiam sentir o quão sério seria aceitar a oferta.

— Você sabe que até mesmo eu não consigo empunhar esta espada. — disse o garoto enquanto olhava pesadamente para a arma. “Uma arma que pode trazer o fim dos tempos”.

— A maior parte das habilidades dela estão seladas, ao menos, até o dia em que o novo portador consiga usá-la em sua plenitude.

Cinco atos, fora a capacidade natural de cortar o espaço e perseguir um alvo que ela já tenha ferido até qualquer lugar, fosse universo, dimensão ou plano superior. Embora, nas mãos do Miguel os cinco atos nunca existiram, sendo algo natural da arma e executados todos em um só corte.

— Isso só pode ser brincadeira.

— Longe disso, minha criança. — Segurou a espada horizontalmente com as duas mãos e a ofereceu para o garoto. — Use-a somente quando necessário. Empunhá-la por muito tempo é perigoso demais pra você agora.

Raizel direcionou o seu olhar para baixo. Sério que justo ele receberia aquela arma? O poder de um Arcanjo nas mãos de um nefilim? Uma honra ou um instrumento de suicídio? Talvez rompesse as suas muitas imortalidades junto da sua existência.

— Eu imagino o que esteja pensando, mas não deixe que o seu passado se torne um fardo que você tenha que carregar no presente, muito menos, no futuro.

— Um futuro vazio. — Lábio mordido, o menino estreitou os olhos enquanto os dedos tremiam entre aceitar ou recusar a arma.

— Ainda é um futuro.

Resistir seria inútil. A arma era tentadora demais e o próprio Raizel desejava tê-la em sua posse, mesmo que a espada tenha perdido os traços dourados e prateados, assim que tocou na sua mão e se tornou posse dele. Agora, preta e roxa… vermelha. A Armageddon escondeu o Nether junto do menino que passou a usar cabelo e olhos vermelhos.

— Eu torço para que você encontre a resposta para aquela minha pergunta — relembrou o Arcanjo. — Os Gigantes merecem a morte. Você também?

O menino fechou as pálpebras e respirou fundo, enquanto a espada retornava para o vazio do espaço. As vozes das lembranças ainda sussurravam, mas ele esperava ser capaz de responder aquilo com a sua própria voz e consciência.

— Adeus, Miguel.

— Até um novo encontro, Raizel. — Pondo uma mão na cabeça do nefelim, o Arcanjo se preparou para ir embora. — Só mais uma coisa. Um conselho.

— Mais um?

— Aqueles Olhos Universais, nunca mostre eles pra ninguém — enfatizou bem, agora sem o tom mais melancólico de antes. — Nem pro diretor que vai te treinar.

— Mas por quê?

— Aqueles olhos… — O Arcanjo ponderou por um instante. O quanto seria adequado falar para aquele menino tão jovem? — Você pode criar tudo a partir do nada. Um poder que lembra o Criador. Se seres problemáticos virem isso em posse de um nefilim…

— Mais um problema, hein? — Virando-se para focar na vista distante da Academia, o nefelim falhou em evitar um friozinho na barriga. — Eu quero encontrar a resposta para a sua pergunta, Miguel. Mesmo se for ruim.


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