O Nefilim Primordial Brasileira

Autor(a): Ghoustter


Volume 3 – Arco 4

Capítulo 230: Gigante, Elioud e Nefelim

Passada uma semana após a fatalidade que seguiu o seu nascimento, o menino já possuí uma idade biológica de dez anos. Longe de toda forma de vida, o pequeno se isolou no fundo de uma floresta deserta, onde os troncos estavam secos ao seu redor.

Abraçando os joelhos, a criança já havia perdido a conta de quanto tempo ela havia passado no chão de terra, sentada no pé de uma árvore morta. Apesar do rosto enfiado nas pernas, os olhos ficavam sempre abertos. Qualquer indício de fechar as pálpebras trazia as memórias dos mortos para a cabeça dele, fosse em sonho ou não.

Por sorte, poderia ficar sem dormir todo aquele tempo sem problema algum. Por sorte, poderia ficar sem comer e beber durante cada um daqueles dias, já que ninguém ousaria chegar perto para alimentá-lo. Por sorte, ou quem sabe azar, ninguém era capaz de tirar a sua vida e afogá-lo na paz da morte.

Passos amassaram algumas das folhas secas à frente do garoto, que levantou o seu rosto pela primeira vez naquele dia. Um jovem alto, bem acima do padrão da época, parou para observar o menino à certa distância. As suas roupas eram feitas de couro, melhores do que os trapos que o Raizel usava.

— O filho da morte — comentou o indivíduo mais para si mesmo do que para o menino. — Hum! Devo dizer que eu esperava mais da criança que vem matando tudo por onde passa. — Com exceção da cor dos olhos e do cabelo incomum, nada chamava muito a atenção.

— Poder divino... É pouco. — O Raizel devolveu a análise do rapaz alto, reconhecendo o seu "semelhante". — Muito pouco. Mas eu sinto.

— E você parece ter bastante. — Frente a frente, elioud e nefelim, o híbrido com o menor grau de divindade e o com o maior, os dois eram os que possuíam a aparência mais próxima a de um humano.

Além do grau de divindade, existia outra característica relevante entre os dois, e o pequeno podia observar muito bem graças à sua natureza Inata da morte: o elioud era mortal, apesar de possuir uma vitalidade além dos parâmetros comuns.

— Ficar perto de mim pode ser perigoso pra você — alertou o menino e, em seguida, aconselhou: — É melhor ir embora.

— Ah! Infelizmente, é impossível. — A mente dos nefilins podia acompanhar a evolução física, mas o menino parecia não enxergar o que se desenrolava na sua frente. — Eu, Baraque, filho de Baraquel, estou aqui para matá-lo.

O Raizel observou o algoz em silêncio, então balançou a cabeça para os lados. — Baraque, filho de Baraquel — decretou o menor — você veio morrer.

— Uma criança vai me matar?

Mais uma vez o menino balançou a cabeça negativamente e corrigiu o elioud: — Ele vai.

— Ele quem...? — Um tremor a princípio leve alcançou os pés do Baraque e se tornou cada vez mais intenso com os galhos das árvores respondendo ao estímulo. — É possível que…?

Um rugido bestial pôde ser ouvido ao longe pelos dois nefilins. Àquele ponto, qualquer criatura viva já teria fugido do local, isso se houvesse alguma: todos os animais já haviam se afastado por causa do menino.

As pernas do elioud tremeram ao que os seus olhos contemplaram a figura imensa de um Gigante deformado que podia ser visto à distância, mesmo com os obstáculos proporcionados pelas árvores.

“O menino sentiu antes de mim?” Baraque se virou para o Raizel por um segundo. Além da percepção mais ágil, havia outra coisa que diferenciava o garoto dele: a calma, ou apatia. “Como pode ficar sem esboçar reação nenhuma com aquela coisa vindo pra cá?!”

— Você vai correr? — perguntou o Raizel ainda sentado na terra. — É bom ir logo.

— Tá brincando comigo?! — Atrás, troncos eram quebrados para dar passagem à criatura irracional, atraída apenas pela densa emanação de poder divino das redondezas. — Eu sou um elioud! Um descendente dos anjos!

Indiferente à e exaltação do Baraque, uma grande sombra cobriu a área em que ele e o Raizel estavam, conforme os tremores de terra paravam, e o menino direcionava o seu rosto para cima, para o deformado.

— Um descendente dos anjos — refletiu sobre a fala do seu irmão elioud. — Ele também é.

Baraque se virou para a criatura imensa que salivava para o menino, como quem encarava a sobremesa mais deliciosa da sua vida. Na Terra, nada era capaz de saciar o apetite voraz de um Gigante: animais, pessoas ou o que mais aqueles monstros vissem.

Dependendo da fome, até mesmo outros Gigantes se tornavam opções no cardápio. Evidentemente, alguém tão cheio de Energia Divina como o Raizel acabaria por atrair a atenção de alguma das criaturas.

— Monstro imundo! — esbravejou o Baraque enquanto fazia força nas pernas e pulava rumo ao rosto da criatura. — Ele é a minha presa! Suma daqui!

O Gigante reparou na existência do elioud da mesma forma que alguém repara em uma mosca e rebateu a investida do Baraque com as costas da sua mão esquerda, o que gerou um estalo que lançou o indivíduo para longe.

Com mais um passo para frente, a criatura rosnou igual uma besta fera que babava e se abaixava para agarrar o pequeno Raizel que mal fazia menção de fugir ou revidar, quando uma árvore recém-arrancada, ainda com terra fresca nas raízes, atingiu o ouvido do monstro e furou o seu tímpano.

Um grito forte saiu da boca do Gigante, que balançou a cabeça para os lados. A dor só aumentou, então o monstro pôs as mãos nos ouvidos e acabou por arrancar a árvore na base da ignorância. Sangue voou do alto e manchou o chão, mas o que continuou na pele retornou para dentro do machucado que se recuperava e devolvia a audição.

A besta então deixou de ignorar a presença da mosca irritante, que já arrancava outra árvore para o próximo ataque, e partiu em disparada para cima dela. O impacto das pisadas ficou abaixo apenas do rugido de fúria.

A segunda árvore passou pelo ar e atingiu a língua do alvo. O Gigante avançou de boca aberta com aqueles gritos bestiais, estava praticamente implorando por aquilo, ou era o que se passava pela mente do elioud Baraque.

— Agora vão ser os olh… — O dano causado foi minúsculo demais para que interrompesse o avanço do monstro, e o filho de Baraquel se viu obrigado a pular para o lado, mas o Gigante se jogou de braços abertos e uma mão bateu nele.

Outra vez Baraque foi arremessado, embora a uma distância menor e com uma trajetória menos organizada. No entanto, o pior foi que o monstro continuou a se jogar pelo chão, arrastando o terreno.

Apenas o eco dos troncos se quebrando e da terra sendo arrastada anunciou a proximidade do Gigante para o elioud que mal conseguiu reagir antes de ser preso na mão fechada do seu predador.

Essa foi a vez da mosca gritar, ainda mais quando notou que a criatura ia enfiar a mão dentro da sua boca. A voz do Baraque foi abafada, e com o movimento da mandíbula e a árvore que ainda estava dentro da boca do Gigante era difícil diferenciar a quebra da madeira e o estalar dos ossos triturados pelos dentes.

Diferente do nefelim e dos Gigantes, os eliouds seriam conhecidos futuramente como “herois de época”, dada as proezas realizadas pela sua força física. Entretanto, o Baraque não estaria mais entre eles. Essa utilidade foi o que o poupou na infância. Provar o seu valor contra o seu irmão nefelim acabou com a sua vida.

Aperitivo devorado, o monstro se voltou para o objetivo principal, o menino que assistia a cena sentado e que enfim começou a se levantar. O Gigante rugiu como um animal e correu a toda velocidade, para ver o pequeno abrir uma palma para ele, quando se jogou.

— Suma daqui. — A palma do Raizel emitiu um brilho roxo que se transformou num potente disparo de Nether que cobriu toda a criatura e devastou a área à frente com o som agudo da energia e o eco caótico da destruição.

Do ponto em que o menino estava até quilômetros de terra arrasada, o que antes era uma floresta se tornou um verdadeiro deserto arruinado em formato de um V perfeito.

Apenas nuvens de poeira restaram para cobrir a área e se espalharem pelos arredores. E, também, um brado estrondoso da voz da criatura. Era difícil visualizá-la no meio da poeira, mas dada a ausência de tremores, o Gigante estava parado.

— Imortal. — O Raizel abaixou o braço que usou para o ataque e esperou pelo próximo movimento da criatura. — Mas doeu, né? O Nether.

Um estrondo ecoou do alto como se o céu estivesse para desabar sobre a cabeça dos nefilins. Sem nuvens escuras, o céu azul ficou amarelo e, de repente, raios dourados caíram sobre o local em que o Raizel estava, cobrindo uma área muito maior do que a do ataque do garoto.

Ao longe, muito distante dali, trabalhadores que aravam os campos se jogaram no chão e cobriram os ouvidos. Era como se um desastre caísse sobre eles. Os raios eram visíveis de lá e pareciam que nunca iriam parar. Restava para os pobres seres humanos implorar por misericórdia.

A área de efeito era vasta demais, e nem mesmo o Raizel saiu a tempo, sendo atingido e sentindo a sua carne em convulsão fritando a cada segundo. Ao final, o menino caiu sobre o terreno que ainda soltava faíscas elétricas, sem conseguir movimentar os membros cheios de marcas semelhantes a raízes.

O chão voltou a tremer com a aproximação do Gigante, o único ileso ao efeito dos Raios Celestes. Pegou o menino imóvel e a terra ao redor dele com uma mão e jogou tudo dentro da sua boca. A melhor refeição que logo se tornou a maior indigestão.

O nefilim colossal sentiu o seu estômago se remexer; e quando colocou uma mão na barriga, vários feixes de Nether vazaram do seu interior, alguns até furaram a mão. A criatura grunhiu de dor até que do nada o ataque do menino parou.

Finalmente o nefilim minúsculo foi dissolvido pelos sucos gástricos do poderoso Gigante? Em partes sim. O colosso podia sentir o seu poder aumentar com a refeição bem sucedida, e a emanação do poder divino do Raizel havia desaparecido por completo. Nada sobrou.

— Aquilo foi bem agoniante — confessou uma voz jovem, no ombro do Gigante. — Fui derretido todo. Bem rápido. Mas não deu pra acabar comigo. Eu ainda tô vivo.

O colosso arregalou os olhos. Podia ouvir a voz, mas o seu tato falhou em detectar o contato do Raizel com o seu ombro. O menino nem parecia existir, mas o Gigante sentiu o estômago se revirar de novo, agora de medo.

O Raizel abriu a palma da mão para o rosto do seu “semelhante”, e a visão daquela palma e dos Olhos Universais do pequeno foi a última coisa que aquele Gigante contemplou enquanto todo o seu corpo se comprimia em uma espiral de carne e ossos e se tornava uma pequenina bolinha que cabia facilmente na mão do nefelim.

Sem mais problemas, o menino desceu e se sentou no terreno devastado. O Raizel teria retornado para a mesma posição de antes, se houvesse uma árvore para que repousasse as costas. Só abraçou as pernas e segurou a bolota. Quando pôs o queixo nos joelhos notou alguém.

— Isso foi algo inesperado — declarou um homem de longos cabelos loiros que fitava com atenção os olhos peculiares do menino. — Raizel, o filho do Azriel.

O nefelim ficou sem reação num primeiro momento. Aquele indivíduo exalava a maior presença divina que ele já havia sentido na sua curta vida. Porém o mais importante era que pela primeira vez alguém olhava para ele sem desprezo. Por outro lado, parecia… admiração.

— Acredito que devo me apresentar primeiro — assumiu o indivíduo loiro e fez um breve cumprimento com o corpo inclinado para a frente e um braço na frente da cintura. — Eu sou Miguel, o Príncipe dos Anjos. — Uma curta pausa, então sorriu. — É uma honra.


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