O Nefilim Primordial Brasileira

Autor(a): Ghoustter


Volume 3 – Arco 3

Capítulo 226: Entre Alívio e Preocupação

Em Shadowfen, as ruas arruinadas estavam repletas das carcaças das criaturas mortas e dos cadáveres de duos. Monstros ou pessoas, quando suas vidas acabavam na batalha, apenas carne rasgada, ossos quebrados e sangue ficavam para trás.

Vista de cima, onde a jovem nefilim apareceu após sair do seu Espaço Dimensional, a cidade estava sem cor e sem vida. A ameaça maior se foi, as bestas mais poderosas já não existiam; ainda assim, Alícia lamentou as baixas sofridas pela Academia.

Entre as vítimas, era certeza que o Esteban havia escapado, a Ressonância transmitia isso, assim como a aproximação dele, que era acompanhada pelo Lucius e pela Luminas.

— Pessoal — falou com alívio a voz cansada. Os amigos, por sua vez, eram os que mais estavam aliviados de vê-la bem, em especial a Luminas, que se agarrou a ela.

— Meu Deus! Eu tava com medo de nunca mais te ver! — A tenjin apertou a outra com força, tomada pela emoção que só diminuiu quando ouviu Alícia soltar um grunhido de dor. — Ah, desculpa. Cê tá bem? Deixa que eu te curo.

— Haha! — A nefilim riu, o que destoava da feição exausta, mas era o suficiente para diminuir a preocupação da amiga. — Eu tô bem. Só um pouco cansada mesmo.

Luminas encarou a outra, com olhos de lupa, atenta a qualquer traço de ferimentos; mas, quanto a isso, as runas da nefilim haviam trabalhado bem, embora ainda sofresse com a dor dos ferimentos causados pelo poder abissal.

— A gente já resolveu o pior por aqui — pronunciou-se o Lucius, ao lado de um Esteban calado que observava a parceira com certo pesar. — Você pode descansar agora.

— Mas...

— Você sobreviveu ao embate contra um anjo caído — prosseguiu o tenjin. — Tenho certeza que foi quem mais trabalhou aqui.

A Luminas concordou com um balançar de cabeça na vertical, em seguida colocou na mesa a pergunta que pairava na cabeça de todos ali: como ela derrotou o Abbadon?

— Er, bem... Aconteceram muitas coisas. — Muitos fatores. Muitas peças tiveram que se encaixar. Explicar em pouco tempo seria bem difícil. — Eu posso contar depois.

— Tá bom. Mas eu quero saber como a nossa amiga derrotou o Anjo do Abismo sem Fim. — Luminas abraçou o braço do Lucius e chamou ele pro trabalho. — Vamos terminar isso logo. Eu quero ouvir a história.

O jovem tenjin suspirou, mas ele sabia que o tempo que os dois podiam gastar ali no alto era curto. A parceira estava certa. Era hora de trabalhar. Eles eram os Top 1 Rank S, afinal.

Com a saída, ou melhor, a descida dos companheiros, o Esteban foi o único que permaneceu um pouco mais ao lado da nefilim. O rapaz ficou calado por um pouco mais de tempo, o que deixou a parceira meio desconfortável.

— Er, Esteban... — A Alícia podia imaginar o que se passava pela mente do parceiro. Quando as coisas apertaram, ela correu o risco maior sozinha, e a Ressonância devia ter martelado a alma dele aquele tempo todo.

— Eu fico tranquilo que você conseguiu voltar, Alícia. — O tenjin sondou o estado em que a parceira se encontrava, e o que mais o preocupava não estava no ambiente externo. — Você parece meio triste.

Então, foi a vez da moça ficar em silêncio. A Lucy ainda estava na prisão do Abbadon, e isso era algo difícil de ignorar, principalmente pelo tempo que a antiga amiga estava lá. Como poderia resolver isso? Talvez a Espada do Fim dos Tempos fosse útil?

E por falar em espada, algo também preocupava a mente da nefilim: mesmo após a execução do avatar do Abbadon, a Espada do Fim dos Tempos não havia retornado para o seu "dono".

— Aconteceram… muitas coisas.

No quarto da Patrona do Pecado da Luxúria, a Lilith estava jogada na sua cama, usando um pijama composto por um short leve e uma blusa de alça. De barriga para cima e com um braço na frente do rosto, o umbigo da Patrona estava visível.

Alguns dos Patronos ficaram de fora dos três portais apocalípticos, já que os duos Top Ranking da Academia Leviatã iriam participar. Não que Lilith achasse ruim. Era bom aproveitar a folga, mas sem a Yuna ali, aquela instalação era puro tédio.

Foi então que o click do acesso ao quarto da garota foi emitido, e a Luxúria se levantou num salto repetindo. Além dela, só uma pessoa tinha livre acesso ao seu quarto, e a dita Yuna entrou.

Sem muitas palavras, para a surpresa da dona do quarto, a Inveja caminhou até a cama e abraçou ela, como uma criança que precisava ser consolada pela mãe.

— Cê bateu a cabeça? O que aconteceu no portal? — indagou Lilith. Ter a amiga fazendo uma visita já era incomum o bastante; pedir consolo era mais raro ainda. — Vai, fala. O que aconteceu?

— Só me abraça. — A Yuna fechou as pálpebras e se negou a aceitar que a outra sequer tentasse se afastar, o que Lilith nem tentou fazer. — Eu tô triste. Só isso.

— Até parece. — Carinhosa e receptiva, a Luxúria acariciou o cabelo castanho da moça tristonha, quando um bip foi emitido da sua pulseira. — As baixas dos portais já foram totalizadas?

Ao ouvir aquilo, a Yuna soltou a companheira e vasculhou a tela de energia da pulseira. Lá estava o nome da Preguiça e dos irmãos Lesker, mas Alícia Necron não se encontrava na lista.

“Ela tá viva?” Aquilo poderia ser mesmo possível? A Yuna tinha que conferir com mais precisão. — Eu tô de saída.

A Inveja tentou se levantar, mas ignorou que quem estava na cama com ela era a própria Luxúria entre os Patronos do Pecado, que a puxou de volta pelas costas.

— Ei! Pra onde pensa que vai?

— Me solta — pediu a Inveja, enquanto a outra ficava por cima dela.

— Você disse que tava triste. — Lambeu o lábio inferior e, abaixando o rosto, beijou o pescoço da amiga. — Agora, eu vou consolar você… direitinho.

Após ser derrotado pela nefilim e retornar para o castelo do Abismo sem Fim, o Abbadon pensava que o Absalon brincaria com ele e faria piadas com a sua desgraça, mas nunca passou pela sua mente que o problema seria a Ophys.

— Pirralha? Quem é a pirralha aqui? — reclamava a pequena lolita gótica enquanto se agarrava nas costas do anjo caído e atacava ele, como uma besta selvagem. — Vai! Fala, Abbadon!

— Em minha defesa, eu nunca falei tal atrocidade, minha pequena senhorita — defendeu-se, levemente inclinado para a frente e segurando as pernas da Ophys, com cuidado para que a menina não caísse. — Com certeza, houve algum engano.

— Mentiroso! A gente tava assistindo. — Puxou o cabelo preto do anjo, que pouco expressou dor ou incômodo. — O pai tá aqui de prova.

Sentado na sua poltrona de couro, o Retentor do Abismo, que assistia o pequeno conflito entre sua filha e seu braço direito, apenas se divertia com o showzinho proporcionado pelos dois.

— De fato, você afirmou que ajudava na “criação de uma pirralha”. — O Absalon pôs mais lenha na fogueira. — Foram as suas palavras.

O Abbadon grunhiu. Nunca poderia contar com a ajuda daquele dragão abissal quando se tratava da filha querida dele. E o pior era que o anjo realmente tinha dito aquilo.

— Que seja. — Sem rota de fuga, aceitou a segunda derrota do dia. — Como eu poderia me redimir, minha pequena senhorita?

— Um lanchinho. — Aplacando a sua ferocidade, mas ainda agarrada às costas do grandão, a menina aplicou a multa para o transgressor. — Mas você perdeu o seu avatar, vacilão.

— Eu posso te levar pro Plano Físico quando o novo avatar estiver pronto.

— Vai demorar! — Puxou o cabelo e a cabeça do indivíduo para trás. — E você ainda disse que estava tudo bem se perdesse o seu avatar!

Em condições normais, o Abbadon realmente dava pouco valor, embora ele estivesse com uma pequena vontade de retornar para o Plano Físico e ter um certo encontro com uma certa majin.

— Se é o caso, você viu que eu encontrei uma moça com olhos quase tão bonitos quanto os seus, pequena senhorita.

— Muito bem dito: “quase”.

— Creio que ela ficaria feliz de te fazer companhia no meu lugar. — A menina o encarou com as sobrancelhas unidas de dúvidas. — E eu também ficaria feliz se você entregasse um recado meu a ela.

— Pronto. Não era pra você tá sendo punido? — contestou a ideia do anjo e virou o rosto para o lado. — Agora quer me fazer de pombo correio.

— Mas, você vai?

— Vou, mas só por causa do lanche.

Na desolação dos instrumentos quebrados, Raizel permanecia sentado com as costas na parede. Sem o menor ânimo para se levantar, mantinha os olhos fechados e a respiração sutil.

Os seus momentos finais se aproximavam. Ao menos, no fim de tudo, conseguiu definir um novo portador para a arma do Arcanjo, alguém que teria a chance de usá-la para enterrar as ambições malditas da Organização Perpetuum.

O som do trinco da porta da sala de música chegou aos ouvidos do nefilim incapacitado, e as suas íris voltaram a ver a luz e o mesmo tom de cabelo prateado da sua parceira; porém, os olhos, em vez de azuis, eram verdes.

— É uma visita inusitada, eu devo dizer. — A vida poderia deixá-lo morrer em paz, mas nem naquele momento pegaria leve com ele. — Não acho que você veio me prestar as suas condolências. Estou certo, Caspian Lavour?


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