O Nefilim Primordial Brasileira

Autor(a): Ghoustter


Volume 3 – Arco 3

Capítulo 217: O Caído do Abismo

— Jogar fora? — questionou o Dreison, o único com ousadia ou loucura suficiente para engolir o temor e encarar o imponente anjo caído com ar de superioridade. — Que tipo de autoridade você pensa que tem sobre mim pra me dar alguma ordem?

Lucius, em seu canto, se mantinha quieto e atento ao desenrolar do conflito iminente. Ainda que destituído de regalias celestiais, aquele ser era um anjo; e tenjins sabiam reconhecer bem o poder de um.

Em nenhum registro do povo tenjin, houveram relatos de algum anjo que fosse fraco. Só de se opor ao caído, Dreison já estava morto e não sabia.

— Não importa a era, o mundo ou o universo… — Com uma voz tão vagarosa quanto o movimento da sua mão, o anjo apontou o dedo indicador para o majin. — Desde Babel, vocês, seres humanos, nunca entenderam onde é o seu lugar e o quão pequenos são.

Lucius arregalou as vistas, ao passo que Dreison, só sentiu o impacto em sua mão quando a Retalhadora de Sombras já havia sido acertada a muito tempo; claro, muito tempo na perspectiva do anjo caído.

— Ah!!! — O majin cambaleou um passo para a frente, enquanto a sua arma jazia no chão sem a existência de uma mão direita que a segurasse mais, pelo contrário, a katana estava sendo manchada pelo sangue que pingava. — Seu…! Seu…!

“Luz… Escuridão…” Lucius engoliu a saliva como quem engolia uma esfera de chumbo. Os relatos eram verdadeiros: nunca houve um anjo fraco. “Um disparo de escuridão… na velocidade da luz”.

Ao reparar na feição de medo da Luminas, Perséfone abraçou o pescoço dela e aproximou os seus rostos, com o sorrisinho que já estava dando agonia para a tenjin, e com um certo tom avermelhado nas bochechas.

— Ah, que tristeza é ter que descartar uma bonequinha tão boa que nem você. — Ao soar daquelas palavras, Luminas tentou afastar o seu rosto, mas a Marionete de Sangue a manteve travada ali. — Não seja uma menina má. Você é uma tenjin.

Naquele ponto, Luminas já sentia até o ar da voz da adversária em seus lábios e gostaria de ter sido o que Perséfone chamou de menina má, mas acabou com o beijo que a majin roubou.

Se uma fechou os olhos, a outra abriu o máximo que pôde. Lucius, vendo uma cena daquelas, iria ter um treco; mas a Ressonância já havia decretado que o retorno dele era improvável… e o retorno do Dreison também.

— Huh?! — Perséfone, que iniciou tudo, se afastou de repente e se virou para onde os meninos deveriam estar lutando. — O que tá rolando por lá? — A majin nem viu a outra cuspindo a saliva alheia da sua boca.

Dreison estava em perigo e uma terceira presença se sobressaía a dele e a do Lucius. Era sombria, mas com um teor divino. Celestial? Demoníaca? Uma mistura delas?

Apenas um segundo, e Dreison tombou com o eco dos seus joelhos no chão. O mundo girava enquanto o majin suava frio. Toda a confiança exagerada desapareceu de um instante para outro.

— Hu-uf…! Hu-uf…! — Ofegar era tudo o que o pobre diabo podia fazer. Foi apenas uma mão estourada, mas a repercussão dos efeitos foi muito maior que a devida. “O que esse maldito… tá fazendo comigo?”

— O que eu fiz não foi diferente de plantar uma semente — respondeu o anjo caído aos pensamentos do antigo soberbo. — Uma semente de medo e covardia.

— Huh? — Era piada. Só podia ser. Alguém como Dreison Asimorph jamais se acovardaria diante de um inimigo. Seria muito menos humilhante morrer. — Que bes-bes… — Os seus lábios tremeram. — Huh?

— “Besteira”? — caçoou o anjo enquanto caminhava a passos lentos até aquele de joelhos. — Então se levante com essas pernas bambas. — Deu mais um passo. — Mas faça isso antes de eu chegar até aí.

O majin encarou cada movimento de perna do seu algoz. Cada passo parecia cobrir uma distância surreal. Cada pisada era como um trovão estrondoso junto às batidas constantes do coração da vítima.

— Vamos. Levante-se — pediu o anjo, inclinando a cabeça para o lado a uns três passos de alcançar o majin. — Eu tenho coisas mais importantes pra resolver aqui.

Diante de uma situação de extremo estresse, as pessoas podem reagir das mais variadas formas: há quem congele. Há quem chore. Há quem fuja. E há aqueles como Dreison, os que, sem saber como, apenas avançam no desespero.

— Ahh!! — Pegando a Retalhadora de Sombras, o majin partiu para cima do anjo, que interrompeu o grito da sua boca, agarrando sua garganta e tomando a katana da sua mão, a qual enfiou na sombra do próprio Dreison. — Argh!

Tomada pelo vermelho, a camisa do majin foi umedecida pelo seu sangue, o que em tese deveria ser impossível. A Longinus nunca anularia a energia do Lucius, e a Retalhadora de Sombras não deveria ferir a sombra do seu usuário, a menos que…

“Esse anjo tem influência sobre as Leis Demoníacas?” Sem perder mais tempo, e com o foco do caído sobre o majin, Lucius assumiu a forma de luz e partiu embora dali. — Urgh! — Suas partículas de luz foram aprisionadas por correntes negras.

— Seja uma boa minhoquinha e faça o seu papel de isca direito — enfatizou o anjo, enquanto o tenjin retornava para a forma física do seu corpo e as correntes assumiam uma cor dourada, travando a Energia Divina dele. — Já você, réplica mal feita de demônio… — Fitou o segurado pela garganta. — Você não tem utilidade nenhuma para mim.

O anjo caído apertou o pescoço do majin com mais força, deixando-o mais roxo do que uma berinjela, até que percebeu a aproximação de mais duas pessoas: uma moça de cabelo preto e outra loira, tendo a segunda às mãos e os pés retorcidos.

— A minha segunda isca e… — Naquele ponto, o anjo se atentou ao olhar de êxtase da garota majin, que juntou as mãos de empolgação. — Intrigante.

Não só o cabelo, mas os olhos da majin também eram de um preto profundo e quase absoluto. Em termos de semelhança com a escuridão do abismo, só ficariam atrás dos olhos da Ophelia Abyss.

“Ah! Santo lúcifer!” Perséfone mal podia segurar a emoção de enxergar o soberbo Dreison enforcado como um ninguém. — Uhum! Uhum! — A assassina limpou a garganta e fez o possível para retomar a sua postura, já que até Luminas estava encarando ela de forma estranha.

Era frustrante ter que intervir na surra que o Dreison estava tomando, mas dava pra ver que o adversário dele era um anjo caído, e dos brabos. Se aquilo continuasse, o majin acabaria morrendo em um piscar de olho. Seria mais frustrante ainda.

— Hmmm! — Perséfone levou uma mão à boca, reflexiva e sem fazer menção de movimentos hostis. “Acho que o melhor é dar o pé daqui.” O Arklev não tinha falado nada de um caído. Qualquer coisa, era só colocar a culpa no cientista louco.

De um segundo para outro, veloz como a assassina que era, Perséfone já estava com uma mão no ombro do parceiro e com um dispositivo de teletransporte pronto para uso, além de ter espetado Luminas com uma certa agulhinha problemática.

— Huh?! — De veloz à estática, Perséfone gelou ao notar que os olhos do anjo ainda estavam fixados nela. “Ele acompanhou cada um dos meus passos?”

— Eu acompanhei até os seus pensamentos e a sua vida, menina — respondeu o anjo.

— É… fudeu.

Diante daquela reação, o anjo caído deu uma boa gargalhada. Só de encarar o passado da majin, era notável que ela não estava nenhum pouco preocupada com o parceiro imundo; pelo contrário, de olho no futuro, seria mais agradável deixar o infeliz na mão dela.

— Gostei de você, menina dos olhos negros como o abismo. — O anjo soltou o Dreison, que caiu sem consciência. — Como você me trouxe a segunda isca, vou deixar esse pobre diabo pra sofrer na sua mão.

Nem Perséfone entendeu o ato do inimigo, apenas ficou abriu bem os olhos e os ouvidos. “Menina dos olhos negros como o abismo”, nunca tinham elogiado ela daquele jeito antes; o seu coração até deu um pulinho.

— Assim, obrigada. Eu vou indo. — Pegou o belo adormecido do chão e já tentou ir antes que o anjo mudasse de ideia.

— Antes disso — pediu o inimigo, no instante em que a moça ativou o dispositivo de teletransporte, que não funcionou, claro. — A Gema Espectral, entregue-a para mim.

A assassina se virou para a arma do companheiro. O Arklev prezava muito pelas suas criações, ia ser difícil justificar a perda daquele ítem. Ainda assim, ela sairia viva e o Dreison ia ficar todo putinho por ter perdido aquilo. Era uma troca excelente.

— Negociação feita. — Perséfone jogou a Gema Espectral do Pseudoleviatã para o indivíduo, que sorriu para ela. — Até mais, senhor anjo pecaminoso. — Acenou a moça antes de usar o dispositivo de novo. — Quem sabe a gente se vê de novo qualquer dia.

— Abbadon — apresentou-se o caído, com um certo tom galanteador, enquanto a assassina sumia dali e, mesmo já estando na Perpetuum, a voz do anjo ainda continuou a falar na mente dela: “Eu me chamo Abbadon”.

Deixando o parceiro cair de qualquer jeito, Perséfone ficou parada por um momento. Até no fundo da sua alma, o nome do Anjo do Abismo sem Fim batia com uma ardência nunca antes sentida.

— Caramba. — A majin levou uma mão até o peito esquerdo. O coração batia de forma frenética. — Que coisa mais estranha.

Se a Perséfone poderia respirar aliviada após receber bondade do Abbadon, Lucius, que foi jogado com as correntes para cima da Luminas não podia sentir o mesmo. Após ouvir o nome do anjo, o tenjin entendeu o motivo da sua Energia Divina ter sido selada pelas correntes.

— Abbadon… o Anjo dos Selos. — O jovem tenjin buscou se levantar, mas suas pernas foram amarradas em sequência.

— Já tem uma eternidade que não me chamam por esse título de merda. — Sem nenhum remorso, o anjo caído apertou a Gema Espectral na sua mão e, após o som de vidro quebrando, a soltou no ar na forma de um pó brilhante de valor baixo.

Fosse pela menção ao seu antigo título ou por puro capricho ameaçador, o agora Anjo do Abismo sem Fim elevou o pó da Gema Espectral às nuvens, que se retorceram em um tom ainda mais macabro que o anterior, e o portal circular se alongou, assumindo a semelhança do abismo de onde ele veio.

Agora sim, sem mais nada que o incomodasse, Abbadon poderia seguir com a sua verdadeira intenção ali: atrair o coração de São Rafael Arcanjo e reduzi-lo a nada menos que um punhado de carne podre.

— Ah, veja só. A menina majin dos olhos escuros soube ser útil em cada ação. — O caído atentou-se para Luminas que, embora livre da Marionete de Sangue e das correntes, não conseguia usar nenhuma probabilidade. — Eu devo retribuir a ela de forma adequada, algum dia.

Luminas pensou em curar suas mãos e pés, mas as Cadeias de Abbadon restringiram a sua Energia Divina antes que ela colocasse o seu plano em prática.

— Aprenda a ser útil também, menina tenjin — recomendou o Anjo do Abismo sem Fim, com uma expressão tão sádica quanto as que Perséfone fazia. — Vai ser muito mais impactante se, quando o coração do Rafael chegar, ela te ver nesse estado miserável.

A uma curta distância dali, Alícia voava acompanhada pelo Esteban e por uma Patrona do Pecado um tanto indecisa quanto ao que fazer quando desse de cara com os majins da Perpetuum, isso até perceber que os dois já haviam sumido.


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