O Nefilim Primordial Brasileira

Autor(a): Ghoustter


Volume 3 – Arco 2

Capítulo 205: Proposta Infame

Deixando o seu parceiro para trás, Tília avançou sozinha contra Kaiser e Lilya, sendo recebida por uma investida perfurante da lança do majin.

Bloqueada pela grande lâmina do machado que a semi-humana pôs na frente, a arma de Kaiser soltou um tinido, e as flamas negras da sua haste se desprenderam.

— Hah! — O majin sorriu ao contemplar a garota sendo engolida pelas suas chamas, embora tenha sido um grande desperdício ter que se livrar dela tão cedo.

O machado da Tília girou de repente no, e correntes elétricas foram espalhadas para todos os lados, o que levou o majin a se afastar rápido, mas não sem antes receber uma bela queimadura no ombro.

— Argh! — Se ele grunhiu e rosnou como um cachorro raivoso, a reação da guerreira só se tornou aparente quando ela saiu das Chamas Infernais. — Mas como…?

— Uma armadura de eletricidade. — Lilya esclareceu o ocorrido para o parceiro infame: como Tília sobreviveu sem uma queimadura sequer. — Ela cobriu todo o corpo com eletricidade… eu imagino.

De fato, o fogo do Kaiser continuava a queimar no ar, como se devorando uma casca vazia, ao menos até se expandirem para tentar pegar a guerreira outra vez.

— Morre! — Mas o que Tília fez foi voar para cima e, então, para o lado e para baixo, atraindo, como um mágico, a atenção das chamas e do duo inimigo.

Uma vez com o foco da plateia sobre o mágico Tília, quando o participante Kaiser tentou um ataque, ele teve suas costas perfuradas pelo truque de flechas executado pela ajudante do mágico, o arqueiro Eslly.

— De novo por trá…! — Criando vórtices de vento desde os ferimentos, as flechas agrediram o corpo do majin com espirais cortantes que o fizeram arder; daquela vez não foi de ódio, mas sim de dor. — Argh!!!

— Isso foi patético — comentou Lilya, que, ao contrário do parceiro, havia protegido as suas costas com uma camada de cristais. — Como vai me servir em combate, se for tão inútil? — O acordo entre eles seria um desperdício de comprometimento e dedicação.

Levantando uma mão aos céus, a majin deu forma a uma grande pirâmide de base quadrada feita de puro cristal, um lindo prisma que fisgou a visão daqueles que o observaram, até que a refração da luz solar agrediu os seus olhos na forma de feixes luminosos multicoloridos.

Eslly, em especial, com os seus olhos de águia, soltou um “argh” como se suas retinas fossem queimar a qualquer hora.

— Agora, o trabalho é todo seu. — Foi o que Lilya disse, embora tenha criado estacas de cristalização para ceifar os adversários. — Huh?

O céu voltou a brilhar mais uma vez, no entanto com eletricidade liberada por Tília, uma vez que a guerreira já imaginava o que Kaiser iria fazer naquele momento de vulnerabilidade dela e do seu parceiro.

— Você perdeu a sua chance — lamentou Lilya, tendo que desviar dos raios que estralavam enquanto se espalhavam como raízes pelo ar, uns atraídos para as nuvens; outros para o solo.

— Eu não perdi… chance… nenhuma! — Atingido por mais uma rajada elétrica, no corpo já ferido pelas flechas de vento que expuseram suas costas e coluna, Kaiser curou-se de imediato ao recorrer ao seu trunfo: — Sacrifício Sangrento!

Energia Demoníaca e sangue se misturaram em um vórtice obscuro que devorou as descargas elétricas da guerreira e logo se tornou em chamas.

— Queimem! — As flâmulas negras tomaram conta do espaço aéreo, engolindo qualquer coisa que fosse considerada um elemento do Plano Físico, até em seus insignificantes átomos.

— Essa não! — Ciente do aumento cavalar de poder demoníaco, Tília transfigurou seu corpo em eletricidade e desceu para o solo na forma de um trovão retumbante. — Eslly! — Apenas o parceiro ainda estava com a visão desnorteada no ar. — Sai daí!

Consciente do problema, Eslly até estava; mas, sem conseguir ver direito, restava-lhe apenas a alternativa de escapar sem rumo, como um cego em meio a um tiroteio.

Quando enfrentou Nathan, o Arqueiro sem Visão, no Sojourner, Eslly achou o oponente admirável e, posto naquela situação, ele viu o quanto o outro arqueiro foi incrível ao ler o campo de batalha com tanta precisão, mesmo sem os olhos.

Onde Nathan acertou, Eslly errou.

Descendo a toda velocidade, o arqueiro fez a sua aposta. Ardente, uma perna e uma mão, além das costas do rapaz foram pegas no mar aéreo de chamas.

Eslly gritou de dor, e o som da sua voz foi quebrado pelo impacto do seu corpo contra o chão, também aquecido, pelo portal.

— Urgh… Argh! — Deixando o arco para lá, o jovem semi-humano rolou de um lado para o outro a fim de apagar o fogo que assolava a sua carne e a sua mente. “Não apaga! Não apaga! Ahh!!!”

Aquelas labaredas estavam longe de ser um simples fogo comum. Sem o apelo de poder divino, algo que faltava para Eslly no momento, seria impossível se livrar dos danos físicos e mentais causados pelas chamas do majin infame.

— Tília! — clamou pela garota que já corria em direção a ele. — Corta!

— Quê?! — A humana pensou ter ouvido errado, ou até enxergado errado, já que sua visão ainda estava voltando ao normal, mas Eslly realmente estava oferecendo os membros em chamas para ela cortá-los. — Tá… Sinto muito!

Em dois movimentos do machado da guerreira, o braço e a perna direita do seu parceiro se despediram do corpo dele.

— Ah… — A nova dor chegava a ser um alívio para o rapaz que caiu sentado, mas livre do tormento das Chamas Infernais.

Sem espaço para respirar, Tília continuou os movimentos do machado, entretanto com um novo alvo, as estacas de cristal lançadas para cima dela e de Eslly.

Para o arqueiro, cuja visão sensível estava demorando mais para se recompor dos danos, apenas as faíscas elétricas e ruídos de cristais estourados foram ouvidos.

“Sou grato, Tília.” Pondo a mão restante no rosto, o arqueiro soube que devia sua vida àquela menina. Se as estacas de Lilya acertassem ele, além de queimar, Eslly iria virar um souvenir cristalino, duas experiências desagradáveis no mesmo dia.

A guerreira se pôs na frente do parceiro, que começava a criar membros de ar condensado, a fim de repor a perna e o braço que fariam muita falta.

— Isso é ruim. — Tília deixou o lamento escapar da sua boca ao testemunhar Kaiser descer como um meteoro flamejante. — Isso é péssimo de ruim.

O chão tremeu e se derreteu, por causa do calor escaldante do fogo negro com o qual o majin fez questão de envolver todos o seu corpo; um manto que desintegraria qualquer ataque que fosse dirigido ao seu ponto cego; ele já tinha levado muito por trás.

— Já tá na cara que vocês vão morrer, hein? — Fincando a lança ao seu lado, Kaiser abriu os braços e criou chamas atrás de si; então, conectou as suas mãos, apontadas para a adversária, e as chamas traseiras assumiram a forma de um pássaro. — Mas eu sou um homem bondoso e vou te fazer uma proposta, moça bonita.

— Eu recuso. — Tília nem precisava esperar pra saber o que sairia da boca daquele majin. — Prefiro morrer.

— Tsc! E eu aqui a fim de deixar o cara aí atrás de você vivo. Eu não tenho interesse em homens, sabe? — Simulando o “pow!” de uma arma, com as mãos apontadas, Kaiser disparou o pássaro de fogo contra os adversários. — Que desperdício!

A ave flamejante soltou um grito agudo enquanto evaporava a umidade do ar e reduzia a cinzas uma barraca de flores, que se encontrava no caminho até Tília.

Em resposta, a guerreira jogou o machado eletrificado o mais rápido que pôde, além de uma corrente de raios trovejantes que emanou um brilho amarelo intenso, logo substituído pela sombra da escuridão.

— Huh?! — Agarrada pela cintura, Tília teve o seu corpo empurrado para longe, quando Eslly se jogou nela e a tirou do epicentro da catástrofe. — Argh!

Queimando os elétrons dos raios, o pássaro de Chamas Demoníacas alcançou o antigo lugar onde o duo estava e se converteu em um tornado espiral que ascendeu aos céus, com o que parecia gritos de lamentos em sons de fogo.

O que deveria ser sólido foi derretido e, então, se transformou em vapor quente, o que fez Tília agradecer pelo pensamento rápido, ou melhor, pela experiência do parceiro que teve até o seu vento queimado.

“O Fogo do Inferno…”, expressou-se Eslly, com o ardor da garganta ressecada. “Tem algo que ele não possa consumir?”

— Então, ainda querem lutar? — Fazendo acrobacias despreocupadas com a lança, Kaiser caminhou em direção aos inimigos silenciados pelo seu poder. — Eu posso fazer muito mais que isso. Eu posso reduzir essa cidade e os seus duos a nada além de cinzas, em apenas um instante, então…

Escaneada de cima a baixo, Tília sentiu um arrepio frio se espalhar pela sua espinha, mesmo em meio a tanto calor. 

De fato, lembrando do mar de chamas que Kaiser criou no céu, se ele desejasse, seria muito fácil matar todo mundo ali, a menos que a guerreira aceitasse ouvir a proposta que ela recusou antes.

— Huh…

“Isso, aceite.” Possuir uma moça que se doou às suas garras em prol de um bem maior, quão maravilhoso seria. “Se entregue por si só, desta vez”.

— Er, eu… — Eslly segurou a mão da parceira, com a que a ele criou usando o vento, e a apertou com firmeza.

Então, o chão começou a tremer, fazendo Kaiser perder o domínio das manobras que realizava com a lança, quase deixando-a cair e ficando desarmado por um instante.

— Eslly…? — A guerreira encarou o parceiro, admirada pelo ímpeto de raiva que assolava o ambiente; no entanto, vendo surpresa no rosto dele, Tília entendeu que aquele abalo sísmico não vinha do arqueiro.

Em contrapartida, Kaiser estalou a língua; e Lilya, que ainda flutuava acima, foi quem teve o privilégio de contemplar a razão da frustração do parceiro.

— Justo quando você estava para conseguir o que queria — comentou a majin cristalina — alguém tinha que dar um jeito de acordar aquela coisa, hein?


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