O Nefilim Primordial Brasileira

Autor(a): Ghoustter


Volume 3 – Arco 2

Capítulo 204: Inferno e Paraíso

Passando por cima das cabeças de um bando de gigantes barbudos, cuja pele se assemelhava ao verde das plantações que ainda restavam, os duos se dispersaram e começaram a executar o seu trabalho de limpeza.

— Exterminem todos eles — orientou Vínia ao pequeno grupo que se lançou à tarefa de exterminar o bando de trolls. — Os demais espalhem-se pela cidade e passem a peixeira em qualquer coisa que se mover, entenderam?

Todos assentiram positivamente.

Visto que, por ali, parecia ter muitas criaturas ligadas à natureza, ou à sua destruição, até uma simples planta poderia ter a capacidade de devorar eles.

— Tília, Eslly, vocês cuidam de qualquer coisa problemática aqui. — A líder Top 2 prosseguiu em seu trabalho. — Eu e a Grete vamos procurar aquela tal Pirâmide de Hórus dentro do portal.

— Entendido. — Munido do seu arco, Eslly acatou as ordens, porém sem direcionar os seus olhos de águia para a superior, por outro lado, disparou um tornado violento em forma de flecha para o centro da cidade. — Podem ir.

Em menos de um segundo, o projétil do arqueiro explodiu ao longe, ou seria mais correto dizer que foi ele que foi explodido pelo arremesso de uma lança envolvida pelas chamas negras mortais de um majin.

Inclinando o seu pescoço para o lado, Eslly recebeu apenas o ar superaquecido e o crepitar das flâmulas obscuras em seus tímpanos; mirou mais uma vez, agora três flechas simultâneas entre os dedos, e se preparou para o próximo round.

— É aquele cara da Leviatã? — indagou-se Grete, atenta ao olhar fixo do seu companheiro de Academia. — Seria melhor a gente te ajudar aqui? — Cuidou de evitar más interpretações. — Sem querer dizer que você não consegue sozinho.

O arqueiro riu, estreitando as vistas.

— Podem ir. A gente dá conta — assegurou o rapaz. — O trabalho de limpar a cidade dessa imundície é nosso, certo?

Confiante das habilidades do seu duo Top 3 Rank S, Vinía tomou a parceira pelo braço e puxou ela para o portal de fogo sobre as suas cabeças; pensou em se despedir, mas quando Eslly disparou o tornado triplo, achou melhor não interromper a concentração dele.

As flechas se separaram durante o trajeto até onde Kaiser estava, voltando a se encontrarem em uma colisão triangular entre si mesmas, o que levou ao surgimento de uma espiral caótica de ventos cortantes, que puxou tudo ao redor e alcançou o céu.

— Ei! Deixa eu participar também. — Com o machado elétrico em mãos, Tília carregou os raios amarelos, mas antes que pudesse se juntar à festa, os ventos do ataque do Eslly se tornaram negros. — Aquele majin… Tá de brincadeira.

Queimando as moléculas do ar, as Chamas Demoníacas saíram triunfantes, e o Kaiser, de braços abertos, sorria para os olhos de águia do semi-humano.

Era comum baixar a guarda ao se sentir tão superior ao adversário, entretanto, para alguém que não possuía uma visão tão apurada quanto um arqueiro que detinha os olhos de uma ave de rapina, era difícil reparar, daquela distância, que o machado havia acabado de sumir das mãos da Tília.

— Hã?! — Quando Kaiser ouviu a violência das faíscas elétricas, que haviam dado a volta na cidade e giravam como um disco luminescente, a arma já estava bem nas suas costas. — Que mer…!

Boom!

O brilho chamou a atenção de todos, humanos, monstros e os híbridos entre as duas raças. O ressoar do impacto, forte como um trovão, se alastrou por todas as direções, e a descarga dos raios varreu o que encontrou pelo caminho, ameaçando englobar até os duos na destruição.

— O resultado? — inquiriu Tília ao seu parceiro, ainda atento ao caos 

— Alguns quarteirões destruídos e uma fenda que está soltando eletricidade remanescente. — Preparou mais flechas.

— Então acho que foi pouco pra derrubar aquele cara. — A resposta se fez visível quando o resplendor do ataque de Tília sumiu e o que restou foi o brilho tênue de uma esfera de cristal que protegia o majin infame.

— Sinto informar, Tília. — Os cristais da Lilya podiam ser um problema tão ruim quanto o Fogo do Inferno. — Mas o dano foi nulo.

E para piorar a situação, os seus inimigos haviam se cansado de brincar à distância e se aproximavam; Eslly cogitou disparar as flechas, mas, uma hora ou outra, o conflito teria que ser encurtado, além de que a sua parceira era da Classe Guerreiro.

— Tília…

— Já entendi. — A moça materializou o seu machado novamente e se preparou para tomar a linha de frente. — Pode deixar comigo.

Em contraste à atmosfera decadente do lado de fora, que mais poderia ser chamada de inferno, o interior do portal de fogo tinha a forma de um vasto e calmo jardim, intocado por qualquer chama.

Os pássaros entoavam um canto suave e harmonioso, uma orquestra natural e pacífica; transmitia o relaxante ar de um lugar de repouso, um paraíso.

Frutíferas eram as árvores verdes; de todas as cores eram os frutos. Por um momento, Grete deixou os seus músculos relaxarem e bocejou, com uma mão em frente à sua boca.

— Ei! — Vínia deu uns tapinhas rápidos no ombro da parceira, para a despertar, e a fitou com um ar suspeito. — Deixa pra dormir na nossa cama, tá?

— Er, bem… — A mais baixa desviou o rosto para o lado, rubro. Que erro de principiante, abaixar a guarda e quase cochilar dentro de um portal. — Tá bem.

Vínia cessou os seus passos de repente, enquanto que a distraída prosseguiu duas passadas até estranhar e parar também.

— Hã? — Grete levantou o rosto em direção a um pomar que se destacava em meio às demais árvores do jardim.

Se alguém um dia já desejou provar o sabor de uma maçã dourada, essa com certeza seria a pequena mocinha que escancarou a boca de sono, encostada no tronco do pomar de frutos peculiares.

Uma grande píton, enrolada em um dos galhos, arrancou um dos fruto com cuidado para não contaminá-lo com o veneno não natural das suas presas agudas.

Sem desconfiança ou medo, a menina recebeu a maçã dourada e a mordeu. Sem sombra dúvidas, pelas descrições, a Patrona do Pecado da Preguiça.

“Que bonitinha.” Para Grete, era impossível deixar tal pensamento não rondar pela sua mente; independente da forma com que ela observasse Trívia Ignai, a Patrona, seria só uma menininha vulnerável e indefesa.

A Preguiça encarou as visitantes, com as vistas semi-abertas — as pálpebras se fecharam por um instante — enquanto ela se alimentava inocentemente.

— Ih! — Vínia teve um calafrio, até tremeu todinha. — Onde a gente se meteu?

Por alguma razão, ver aquela menina em meio a um jardim comendo uma maçã entregue por uma cobra causava uma sensação levemente desconfortável.

— Ahh… Trabaalho… — Deixando a maçã mordida cair, a menina também caiu para o lado. — Pra miim… Ahh… — Antes que terminasse de cair, a Preguiça foi segurada pela sua píton. — Samaeel…

— Credo. Dá preguiça só de ouvir ela falar — comentou Vínia, mais para si mesma. — Mas nem pense que vai enganar a gente com essa aparência. Eu sei o perigo que você… que você…

Se observasse com um pouco mais de atenção a cena da Patrona abraçada à serpente, até seria possível enxergar um “zzz” flutuando sobre a cabeça da menina.

— Ela dormiu? — Grete virou o rosto para a sua parceira, em dúvida: elas matariam uma criança em meio ao sono? Bem, não que as duas não possuíssem uma técnica semelhante, mas contra uma criança…

O bichinho de estimação da Preguiça sibilou, mostrando suas presas para quem ousasse ameaçar a vida da sua dona; e, em resposta, o cântico dos passarinhos foi interrompido, então substituído por ruídos caóticos de gargantas rasgadas.

— Tinha que ter algo de ruim mesmo. — Indo para as costas de Grete, que materializou suas adagas, Vínia revelou sua lança. — É o interior de um portal, no fim das contas.

O ambiente se tornou escuro, e, daquela escuridão, uma chuva de flechas caiu sob as cabeças das garotas, que se protegeram com um escudo de energia.

Com pífios estalos, algumas flechas das ricochetearam no escudo e acabaram por colidir contra as que apenas circundaram a proteção da dupla, liberando um líquido viscoso e verde, que escorreu pelo escudo.

— Veneno? — Aquela era a Habilidade Inata da Preguiça, afinal. — Mas quem…? — E a resposta para o questionamento de Vínia veio no aparecimento de um grupo de homenzinhos ruivos que tinham os pés virados para trás. — Curupiras, hein?

Com um balançar da sua lança, Vínia desfez a proteção de energia e, fixando a base dos seus pés, arremessou a arma contra uns dos curupiras que a cercavam.

As criaturas saltaram, deixando apenas galhos balançando para trás, ou era o que esperavam; gargalhando no ar, não se deram conta de que, quando a arma da semi-humana perfurou o chão, várias lanças de energia pura brotaram do solo.

— Irgh! — Os curupiras nem chegaram a pôr os seus pés invertidos em terra firme, ficaram presos no ar com as barrigas atravessadas pelas hastes das lanças brilhantes de energia.

Grete, por sua vez, desapareceu como fumaça e voltou a dar as caras já em cima das outras criaturas, no entanto, sendo dez Gretes, o que assustou as vítimas das suas adagas afiadas.

Assustados, os curupiras correram dali, deixando marcas de pegadas como se, na verdade, estivessem fazendo o contrário, mas as suas adversárias jamais cairiam naquele truque depois de ver os seus pés invertidos.

— Assim pareceu fácil. — Abaixando-se para pegar sua lança de volta, Vínia nem precisou usar a Indução do Medo nas criaturas, elas morreram já no primeiro golpe. — O que achou, Gre…? — Quando estava para se virar, sentiu uma picada na sua nuca. — Ai! Mosquito?

Só ao passar a mão na área ferida que a semi-humana notou que o ela tirou não era um mosquito, mas sim uma agulhinha tão pequena quanto um espinho.

— Cê tá bem? — Vendo que as pernas da sua parceira bambearam de leve, todas as Cópias Ilusórias da Grete se viraram para ela, e a verdadeira reapareceu, no mesmo lugar em que havia sumido na forma de fumaça, e correu até a Vínia. — Ei! Ei!

A humana segurou a outra pelos ombros e perdeu a voz ao constatá-la com um semblante pálido, incomum para Vínia.

— Acho que deu merda… — Sentindo a sua Manipulação do Medo acenando em despedida, a vítima ouviu o bocejar da Patrona que acordou a pouco. — Você…!

— Uááá! — De braços abertos e olhos sonolentos, a menina mostrou que uma preguiçosa sempre buscaria o caminho mais fácil de cumprir uma tarefa dada a ela. — Habilidaade… quebraada…


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