O Nefilim Primordial Brasileira

Autor(a): Ghoustter


Volume 3 – Arco 2

Capítulo 203: Portal de Fogo

O vento percorria os seus rostos tensos, cada músculo contraído, as feições fechadas; ainda assim, refrescante, o ar insistia em promover algum frescor.

Alinhados, fossem à frente ou atrás, acima ou abaixo, os duos da Academia de Batalha Absalon seguiam rumo à cidade de Thornfield, tendo Vínia e Grete, as Top 2 Rank S como suas líderes primárias.

Era inegável que todos gostariam de ter o duo Top 1 ao lado deles, entretanto, ter enfrentado o Patrono do Pecado do Orgulho pouco tempo depois de uma árdua luta contra os Top 1 da Leviatã, custou danos gravíssimos a Baltazar e Carelli.

“Assim eu fico toda seca”, comunicou-se Vínia, por meio do canal do MIC para a sua parceira. “Eu sou o que, um pneu step todo surrado de segunda opção? Ah, credo!”

“N-Não fala assim, Vínia.” Ajustando os óculos de grau adquiridos há alguns dias, Grete evitou olhar para os companheiros. “Eles não fazem por mal… você sabe”.

E, no fim das contas, nem era por causa do Baltazar, aquele draconiano dava mais trabalho do que ajudava; mas ter o suporte firme da Carelli, capaz de pôr certo juízo até no Baltazar, tranquilizaria bastante.

“Ah… Até você pensa assim.” Virando as costas para os campos de milho abaixo de si, Vínia fechou os olhos para o céu e fez um travesseiro improvisado com as mãos. “Parabéns! Agora tô me sentindo tro-ca-da!”

“Vínia”, contestou a outra, como pôde. “Não é assim”.

Alheios à discussão telepática das garotas, os outros duos encararam a usuária de Manipulação do Medo voando tranquilamente como se estivesse deitada em plumas, o que não combinava com as feições de descontentamento.

Eles realmente ficariam bem nas mãos da ousadia da Vínia e timidez da Grete?

Quem se mantinha em estado de foco total e deixou o chamado da garota ao seu lado passar batido foi o arqueiro do duo Top 3 Rank S, o semi-humano Eslly Bornelli.

— Os seus olhos podem até ser de águia, já os ouvidos… — provocou Tília.

— Ah, sinto muito. — O jovem pareceu recobrar os sentidos, ainda que em partes; sua mente permanecia no passado. — É só que, bem… — Aquele maldito dia.

— Hmmm! — Era meio óbvio para ela o que se passava na mente do Eslly; só havia algo que deixava ele tão pra baixo. — Nem que eu morra, eu nunca deixarei você perder uma parceira de duo de novo.

— Mas se você morrer, eu vou perder a minha parceira. — As íris âmbar do jovem se moveram para os campos verdejantes abaixo; se descesse, poderia sentir o ar gostoso das plantas úmidas. — A sua determinação foi uma luz pra mim, naquele dia que eu te vi arriscar a vida para proteger aquela cidade sozinha.

— Huh? — Tília desviou o olhar e passou a observar os rastros das plantações que ficavam para trás, assim como o parceiro.

“Você é a minha luz; se essa luz se apagasse…” Eslly suspirou; um dia soluçou pela perda. “Eu nunca mais seria capaz de escapar do abraço da escuridão”.

Diferente da Tília e do Eslly, que comunicavam as suas intenções mais profundas de modo interno, Vínia abraçou Grete em pleno ar e choramingou o quanto todos estavam sendo injustos com ela.

“Sério, Grete, eu só tô tentando fazer o meu trabalho.” Com seus corpos tão colados e a forma com que a semi-humana, que não possuía nenhum traço bestial, se movia, tornava difícil para Grete voar direito. “Eu nem estaria aqui se não fosse pela obrigação. Vamos, voltar, vamos!”

“Ví… Vínia.” As duas começaram a perder velocidade, sendo ultrapassadas por uns duos que se perguntavam o que diabos elas conversavam através do MIC.

Então, fora do canal telepático, a que deveria ser a mais tímida entre as garotas soltou um gemidinho que, para o alívio dela, foi abafado pelo vento do voo.

— Aqui não, Vínia… — Rubra, cochichou, enquanto a outra prendia ela pela cintura e atacava o seu pescoço com os lábios cheios e a língua molhada. — Vão ver…

— Shiii! Sem fazer barulho, tá?

Já um tanto distante dos outros duos, mas ainda perto o bastante para fazer parte do grupo, Vínia invadiu a blusa do uniforme da parceira, pelas costas; a pele suave.

— Pode não parecer, mas eu tô bem tensa, sabe? — Enfim, mostrava suas garras. — Só quero relaxar um pouco.

De todos os lugares e horas, tinha que ser logo ali? Grete teve um calafrio, fosse pelos dedos marotos da parceira ou pelo ventinho safado que aproveitava o caminho criado pela mão boba dela.

— Tá. — Relutante, a tímida cedeu. — Mas só um pouco, entendeu?

A boca de Vínia saiu do pescoço para os lábios da parceira e por lá permaneceu com ternuras e carícias — por vezes umas mordidas — até que um cheiro forte, um intruso, levou as duas a torcirem.

— Cof! Cof! Mas o que é ago…? — A semi-humana sentiu o seu corpo esquentar, e não era pelos amassos com a Grete, o ar estava de fato queimando. — Estamos chegando, hein?

No horizonte, banhadas pelos raios solares, as nuvens imitavam a aparência de um mar de chamas; apesar de que o verdadeiro ardor se encontrava abaixo.

Em terra, saraivas e mais saraivas caíam do portal de fogo no céu e se espalhavam pelas plantações e campos floridos de Thornfield, a até então Cidade do Cultivo e da Agricultura.

Sem se incomodar com os elementais de fogo que rodavam o perímetro ou com algumas eventuais pedras flamejantes que ameaçavam cair sobre a sua cabeça, Kaiser Profenius permanecia deitado sobre o alto de uma torre que podia desabar a qualquer hora e sob o menor dos movimentos.

Para um usuário de Fogo Demoníaco como o Top 3 Rank S da Academia de Batalha Leviatã, aquele lugar era um paraíso em forma de inferno.

— Primeira coisa boa que aquele Percatuum fez por mim foi me mandar pra essa cidade. — Abriu os braços e esticou as pernas; uma alongada gostosa. — Só faltou umas mulheres pra passar o tempo.

Flutuando ao lado da torre, sem a intenção de dividir o mesmo espaço que o traste do seu parceiro de duo, Lilya permanecia com a mesma cara de pastel de sempre.

— Quando a gente chegou ainda tinham algumas vivas. — relembrou-o Lilya, ainda que sem esboçar qualquer remorso pelas vítimas. — Mas você se enjoou fácil.

— Haha! Enquanto elas choravam e se debatiam, estava muito bom! — De êxtase para tédio, Kaiser suspirou e mudou de deitado para sentado. — Mas quando perdiam a voz e a vontade de viver, o melhor era deixar esses monstros aí se alimentarem mesmo. — Ele podia ter se saciado, mas a fome dos monstros não.

De braços cruzados, Lilya pouco deu importância ao estado de ânimo do parceiro; focou nos ossos quebrados da última sobrevivente, cuspidos lá embaixo; fechada em seu mundo, quando o infeliz fez o maldito favor de requisitar a atenção dela.

— Vem. Senta aqui. — Kaiser deu uns tapinhas em seu colo. A garota o encarou de relance e depois fitou o estado decadente da torre. — Esse é o momento em que você cumpre a sua parte do contrato, belezinha.

Frente ao olhar mundano e à língua que deslizou pelos lábios profanos do majin, Lilya flutuou, devagar, até ele como uma ovelha que pouco se importava com o abate.

— Isso, assim mesmo. — Passou o braço pela cintura da garota que se sentava sem resistência, ainda assim a puxou com força e a apertou contra o seu peito. — Você é a minha predileta, Lilya.

— Ah… é? — Pendeu a cabeça para a esquerda, já o majin aproveitou para colocar o cabelo dela de lado e sentir o cheiro do pescoço.

— Eu sei que você ficou com ciúmes quando me viu fodendo as outras, mais cedo. — Passou a mão por entre as coxas dela. — Confesse.

— Nenhum um pouco. — Nada de mentira.

— Acha que me engana, Lilya? — Com a mão que estava livre, segurou o pescoço dela. — Ninguém nunca te fodeu como eu.

— E eu nunca tive um orgasmo com você. — Por mais incrível que pudesse parecer, a inexpressiva Lilya esboçou um leve riso.

— Eu te fiz gozar! — E a mão que segurava o pescoço da garota o apertou com força suficiente para interromper a passagem de ar até os pulmões.

— Não é… a mesma… — expressou como podia — coisa. — O parceiro sabia daquilo, ainda assim o que importava era que ela assumisse, ainda que mentisse.

O majin bufou de raiva e empurrou a garota sem ar do seu colo, fazendo ela desabar de joelhos à sua frente, exemplo quase seguido pela torre, que balançou; pequenos pedaços se soltaram e, em queda livre, foram de encontro ao solo.

— Se queria me estressar, conseguiu. — Kaiser se levantou e pegou a parceira pelo cabelo; puxou para cima, mas a garota não soltou um “ai”, ela nunca gemia pra ele, fosse de dor ou de prazer. — Fui gentil demais com você. — Um erro, então apontou para o seu cinto, com os olhos. — Agora mande esse meu estresse embora, Lilya.

— Me recuso.

— Como… é?! — Puxou o cabelo dela com mais força e fitou aqueles olhos sem vida diretamente. — Temos um contrato.

— E agora é a sua vez de cumprir a sua parte. — Um leve movimento de cabeça para o lado e a garota indicou a direção de onde uma horda de duos da Academia de Batalha Absalon se aproximava. — Hora de dar o seu tempo de vida por mim.

— Tsic! — Kaiser fitou aquela gente, pronto para tostar cada inseto miserável nas suas Chamas do Inferno. — Não posso nem foder em paz… — Foi quando um sorriso maldoso se formou no rosto do maldito exemplo de majin.

Havia todo tipo de semi-humana entre os dous da Academia de Batalha Absalon, correto?


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