O Nefilim Primordial Brasileira

Autor(a): Ghoustter


Volume 3 – Arco 1

Capítulo 202: Os que Sobraram

No que Klaus apertou a sua lança de fogo e se aproximou do majin, Luke suspirou enquanto aceitava a morte, mas salvava a vida da irmã; entretanto, o que ele recebeu foi uma pancada forte na sua cabeça, o que fez ele perder as forças do seu corpo, então mole e indefeso.

— Klaus…? — A passos lentos, Eirin observou o parceiro abaixar o próprio rosto devagar, inspirar e expirar com força.

— Congele eles — pediu o nefilim, enquanto a lança de fogo se despedia das mãos dele. — Vamos levar os dois como prisioneiros — sugeriu. — O seu gelo deve manter eles inertes até o pessoal da Academia usar as Gravuras de Atlas neles.

Com a piedade do nefilim, talvez fosse possível conseguir algumas informações das bocas daqueles dois, embora ele reconhecesse que fosse um pouco de covardia poupar a vida dos irmãos Lasker, quando eles certamente tinham matado muita gente.

— Você é mesmo uma pessoa gentil, meu cavalheiro — elucidou Eirin, conforme os majins eram aprisionados em caixões de gelo e ela abraçava o seu parceiro, por trás. — Eu amo isso em você.

— Haha! — Com um sorriso modesto, Klaus pôs as suas mãos sobre as da garota, que estavam ao redor do abdômen dele. — Você é uma namorada e tanto, sabia?

— Claro que eu sei. — Abraçou-o com mais força, dando tchau ao Purgatório.

Retornando para o espaço aéreo do oceano Índigo, alguns duos ficaram surpresos por vê-los aparecer do nada, com os irmãos Lasker congelados, ainda por cima.

— Peço desculpas por passar muito tempo ausente — pronunciou-se Klaus. — Qual é o estado do cenário atual? — Era uma pergunta padrão, mas cuja resposta levou o nefilim e a sua parceira a gelarem.

A Aberração Nuclear ceifou a vida de muitos deles, e de forma brutal; Sophie, ao que parecia, havia perdido a sua Habilidade Inata; e Enzo e Samantha correram para dentro do portal de sangue.

Klaus respirou pesadamente e olhou para a espiral vermelha no oceano. Trevor seria necessário para transportar os irmãos Lasker com rapidez para a Academia; mas, naquele estado, teria que esperar um bom tempo.

“Enzo e Samantha já estão lá.” A vontade de ajudar os amigos também era grande, mas o dever de orientar os duos fora do portal era pesado demais. — Vamos fazer isso.

Como estilhaços de vidro, o interior do portal de Stormhold liberava pequenos pedaços brilhantes semelhantes a pó.

Uma chuva de flechas de energia verde avançou por entre as árvores rachadas e ameaçou as costas da Patrona da Ira, o que de nada adiantou, apenas permitiu que Trevor visse a sua parceira e a teletransportasse para perto dele e do outro duo.

— Vamos sair lo… — Ainda com o pedaço de uma pequena pirâmide de aço, Sophie sentiu o seu braço travar, assim como os outros três. — De novo…

— Eu odeio você! — Feroz, Elesis avançou com o machado para cima de Sophie, que só conseguiu sair ilesa por causa da proteção espacial do parceiro, que desviou o ataque. — Porra, Trevor!

Se não fosse pela pressa de sair dali, antes que todo o local se tornasse um completo vazio, Elesis cuidaria de acelerar a rotação da arma o suficiente para passar pelo espaço; mas, naquele momento, apenas manteve os inimigos paralisados e voou a toda velocidade para a saída.

— Que técnica mais… chata! — reclamou Samantha, irritada a princípio, para que ficasse surpresa depois. — Ah, obrigada.

Sem sinais de estilhaços ao redor, os dois duos, teletransportados, viam o portal de sangue, no entanto, agora pelo lado de fora; a tempo de ver Elesis saindo também.

A Patrona arregalou os olhos logo de cara, mas, então, sorriu logo depois: os seus adversários voltaram para o seu campo de visão e tiveram o vetor velocidade nulificado na hora, e ela já não tinha mais a pressa de escapar de um vazio espacial.

O machado de Elesis rotacionou ao redor do seu próprio eixo, sugando o ar com violência, potente como uma turbina ensurdecedora, até que, congelando, perdeu a lâmina afiada.

— Tsc! — De testa franzida, a Patrona encarou uma menina de cabelo curto, como o dela; porém rosa, em vez de preto.

— Cê pensa que tá fazendo o quê? — questionou Eirin, ao longe. — Esses aí são os nossos amigos, ô sua louca!

— Enfia merda na sua boca, patricinha! — Puta da vida, Elesis deu um chute no machado e quebrou a massa de gelo grossa; ao mesmo tempo, Eirin e Klaus ficaram paralisados. — Morra todo mundo!

A Patrona disparou sua arma, enquanto que, no susto, Eirin criou vários obstáculos de gelo, os quais serviram apenas para serem despedaçados pelo machado.

— Ai! — exclamou a Princesa do Gelo, fechando os olhos, o que a impediu de ver o portal circular que se abriu na sua frente e engoliu a arma da adversária. — Huh?

Elesis se voltou para o Trevor paralisado e fez cara feia; uma veia ficou saliente na sua testa, enquanto a moça se segurava pra não dar um tapão na cara dele.

Foi então que a Patrona perdeu parte do seu fôlego: ela realmente estava se esforçando pra não matar alguém que estava causando estresse pra ela?

— Que seja! — Balançou a cabeça. Podia ser uma desvantagem de seis contra uma, mas estavam todos paralisados. — Volte!

Desobediente, o machado da Patrona não voltou a se materializar em sua mão; aí a ira por Trevor voltou a crescer; aquela arma já havia sido destruída dentro de alguma estrela perdida no universo.

— Não vai ficar assim. — Antes que o nefilim também acabasse por jogar ela dentro de algum portal que a levaria pra algum lugar ruim, Elesis devolveu o movimento de todo mundo. — Eu vou tomar algo de você também.

Surpresos, todos voltaram a se mover, apenas para ter a direção dos seus movimentos alteradas para um lugar em comum, além de uma velocidade maior.

— Mas o quê…? — Trevor gelou ao perceber que ele e os outros estavam todos sendo direcionados para a entrada em colapso do portal. — Faça parar, Ira!

Tão rápido quanto pôde o nefilim teletransportou os seus amigos para longe, mas apenas voltaram a ser direcionados para a entrada do portal de sangue.

— Abram! — Pequenos portais circulares tentaram salvar os duos, mas os seis foram movidos no ar e, contra a sua vontade, se desviaram dos portais de Trevor. — Ah!

— Você é mesmo incrível — observou-o Elesis, enquanto o nefilim realizava outro teletransporte. — “Mas é melhor eu deixar as coisas mais difíceis, antes que você decida algo como teletransportar todo mundo pro outro lado do planeta, né?”

A Patrona abriu os braços e encarou a imensidão do céu, enquanto, vindos de todos os cantos, os duos de Rank A e os monstros também foram adicionados ao jogo, até mesmo os irmãos congelados.

“O que me diz?” Sorridente, a Ira aproveitou que o nefilim estava ocupado demais tentando salvar todo mundo e subiu para os céus, em alta velocidade. “Você acha que consegue salvá-los, Trevor?”

— Ahhhh!!! — Com toda a sua atenção voltada para aqueles que ficavam mais perto da entrada do portal de sangue, o nefilim fazia o possível para salvar o máximo que podia, no entanto, vindo de cima, um disparo de energia o distraiu e alguns duos caíram para a morte. — Ira!!!

— Eu tô bem aqui. — Descendo para as costas do nefilim, a garota falou baixinho, antes de usar um dispositivo que a levaria direto para as instalações da Perpetuum. — Você desativou a Distorção Espacial.

Para selar a desgraça, uma grande esfera de energia caiu do céu, no entanto, em vez de causar uma grande explosão destrutiva, o que ela fez foi causar uma explosão de brilho, o que feriu os olhos de todos, inclusive os daquele que estava salvando todo mundo.

Perdido durante um frenesi de duração incalculável, Trevor acreditou que iria morrer, ao menos até que se chocou com as águas ferventes do oceano Índigo; acordou no susto e saiu daquele caldeirão infernal o quanto antes, com algumas queimaduras.

— Mas… como? — O portal de sangue havia sumido, ou melhor, terminado de se fechar, como se nunca tivesse existido.

Devagar, o nefilim moveu o seu rosto — as queimaduras sarando — para sondar os poucos duos que sobraram vivos.

— So… phie… — Trevor logo levou uma mão ao seu peito; a Ressonância estava calma; a sua parceira estava bem. — Klaus! Eirin!

— Ei! A gente tá bem — respondeu a Princesa do Gelo, pelo MIC. — Mas… os outros…

Vivos, livres dos obstáculos mais perigosos do portal de Stormhold, mas sem qualquer vontade de comemorar e ainda com alguns monstros remanescentes para finalizar e concluir a limpeza da área.

A vitória veio, mas a que custo?

Cabisbaixa, Sophie encarava suas mãos, sob a incerteza do que seria da sua Habilidade Inata; foi despertada quando ouviu Trevor chamar por Enzo e Samantha, para distribuir a liderança dos grupos, entretanto nenhum dos dois respondeu.

Perdidos em meio ao vazio que engolia o que restava do interior deteriorado do portal de Stormhold, alguns lamentavam, outros choravam, outros já se rendiam.

— Haha! — Com uma mão no rosto, Samantha estava entre os que já haviam se rendido ao seu cruel destino. — Acho que é um fim apropriado pra alguém que falhou em proteger os seus aliados.

— Eu penso diferente. — Sentando-se ao lado da garota, no chão que se desfazia em finos cristais de luz, Enzo sorriu. — Você foi uma grande líder e seria ainda mais.

O rapaz estava para falar algo a mais quando reconheceu duas pessoas abraçadas sob uma árvore, as quais deveriam estar congeladas: os Lasker.

Ainda com alguns cristais de gelo em seu cabelo, Luke encarou o inimigo, mas deu pouca bola e logo focou na irmã, deixando claro que não queria mais confusão.

“Entendo”, refletiu Enzo. “Congelados, eles eram os mais fáceis de cair aqui”.

— Eu falhei no fim. — Fazendo carinho no cabelo da irmã, Luke sentia o sangue gelado começar a escorrer do seu nariz. — Era pra eu ter morrido, e você vivido.

— Hum! Hum! — negou a garota. — E como eu ia viver sozinha, sem você?

O irmão ficou em silêncio, já que, em qualquer cenário, ele sempre acabaria por causar dor a ela; no fim, o majin só queria punir a si mesmo por ter chegado tarde naquela noite infeliz; mas Milene se recusava a permitir isso.

— Eu posso mesmo, ao menos desta vez, estar ao seu lado?

A irmã sorriu, também sendo afetada pelo vazio e começando a verter sangue pelos seus olhos, abraçou o pescoço dele e ficou com os seus rostos bem pertinhos.

— Agora e para sempre. — Aproximou os seus lábios e os tocou. — Juntos.

Levemente corada, Samantha assistia o beijo dos irmãos, com os seus olhos sangrando, literalmente, então espiou Enzo, de canto, que evitava assistir a cena.

— Enzo — chamou-o — posso pedir algo?

O rapaz se virou para ela, sem reação, ao presenciar a parceira se desfazer da sua armadura, não da de guerreira, mas da disciplina a que ela sempre se forçava.

— Me beije também. — Foi Samantha que pediu e também foi ela a se aproximar primeiro. — O nosso tempo já tá acabando, então se apresse.

O chão da floresta começava a se perder na escuridão, quando Enzo tomou a parceira pela cintura e sussurrou para ela: — Eu sempre quis isso, mas sem essa pressão toda, entende?

Samantha riu antes de provar os lábios dele, pela primeira e última vez.

— Então, pra gente, acabou assim. — Sentado no piso empoeirado, com as costas na parede, Raizel analisava a lista de perdas da sua Academia no portal de Stormhold. — E tudo caminha a favor daquela gente, heim?

Fechou os olhos ao terminar de verificar a lista e constatar que nenhum dos seus amigos estava entre os nomes vermelhos; ao menos eles sobreviveram.

Se aqueles quatro não fossem tão altruístas, poderiam usar a Habilidade Inata do Trevor para dar o fora daquele planeta, talvez para a Terra ou qualquer outro mundo. Não valia a pena entregar as suas vidas por uma bola de rocha que vagava perdida pelo universo.

Foi então que uma poça roxa se formou na frente do nefilim, o que levou ele a abrir os olhos e contemplar a silhueta de uma figura que ele tinha visto já havia um bom tempo, começando a sair e tomar forma.

— Você… — As feições do Primordial se fecharam ao ter certeza de quem se tratava. — O que veio buscar aqui?


Saudações, primordiais!

Chegamos ao fim de mais um arco, então já viram, certo? Nos vemos na próxima segunda-feira, com uma pequena pausa de um capítulo.

No mais, não esqueçam das suas interações e comentários, sempre tão bem-vindos, e de compartilhar a obra com aqueles amigos noveleiros, afinal nada supera o bom e velho boca a boca, não é?



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