O Nefilim Primordial Brasileira

Autor(a): Ghoustter


Volume 3 – Arco 1

Capítulo 201: Furacão Elesis

Metálico e estridente, o atrito entre a espada de Trevor e o machado de Elesis deixava faíscas que se perdiam na efemeridade daquele curto espaço de tempo; o tempo, algo que uma garota afastada não era mais capaz de controlar.

— O que aquela agulha fez exatamente? — Passando uma mão na sua nuca, onde a picada da agulha já não se fazia mais presente, Sophie reparou que as suas runas e a Veste Divina ainda estavam ativadas. — Afetou apenas a minha Habilidade Inata, então?

Menos mau, ainda assim a pergunta mais preocupante era: aquele efeito de quebra era permanente ou apenas momentâneo? Ironicamente, só o tempo poderia dizer.

Com um segundo para respirar, Sophie segurou o seu arco e dedicou a atenção dos seus olhos de arqueira e runas faciais para procurar uma brecha na defesa da Patrona do Pecado da Ira, que seguia frenética na disputa contra Trevor.

O nefilim se teletransportava em alta velocidade de um lado para outro, ainda assim sempre havia um olho escarlate atento aos movimentos dele.

“Sem pontos cegos.” No ar, o nefilim l, que subia, teve o sentido do seu vetor invertido, sendo jogado para baixo; com o aumento no valor do módulo, a velocidade cresceu exponencialmente; o impacto foi potente e quase instantâneo. “Que… problemática”.

Com a quantidade de olhos que a Patrona poderia criar em qualquer parte do seu corpo, a melhor estratégia seria furar todos eles para gerar algum tipo de ponto cego, mas como fazer aquilo, estando sempre no alcance da mira dela?

Trevor expurgou a poeira ao redor de si, com um tapa, e logo deu de cara com o escarlate da íris da adversária, que aproximou uma mão do rosto dele, mão que teve o seu trajeto mudado pela ondulação do espaço, indo para o lado.

— Deixa de ser chato — pediu a moça. — Eu só quero tocar em você, vai.

— Tenho um pressentimento ruim quanto a isso. — Até mesmo o fluxo sanguíneo do corpo dele poderia ser um vetor; se aquela garota decidisse pará-lo ou invertê-lo, os danos seriam mais do que ruins.

Um sorriso se formou nos lábios de Elesis; o seu adversário era bem interessante mesmo. Agora ela podia entender o porquê da Luxúria ter gostado daquele nefilim.

Uma flecha de energia pura cruzou as árvores e buscou alcançar a Patrona, no entanto parou no ar e teve o seu sentido invertido, voltando para Sophie.

— Aquela sua namorada é bem chatinha. — O olho da nuca estreitou-se, a ponto de xingar a arqueira. — Como você aguenta passar um dia com ela? Eu já teria matado.

— Eu… — Trevor corou de leve. — Eu amo ela e cada momento ao seu lado.

— Já eu odeio. — Elesis deu as costas para o nefilim, sem qualquer preocupação. — Essa gentinha intrometida.

A Patrona fez menção de correr atrás de Sophie, a fim de acabar com a distração, para que pudesse, enfim, desfrutar da coisa boa do seu adversário.

No impulso, mesmo sob o olhar da nuca da Patrona, Trevor energizou sua espada e avançou para cortar, o que foi ruim; o movimento da lâmina parou e, como ele teve que se desfazer da Distorção Espacial para atacar, ficou vulnerável a um som cortante e giratório vindo das suas costas.

— Huh?! — Com o machado de Elesis cravado nas costas dele, as pernas do nefilim cederam ao chão. — Fique… aqui. — Retomou a defesa da Distorção.

— Nops! — Saltando de galho em galho, a Patrona seguiu o seu novo objetivo. — Se preocupa tanto assim com a namorada; você é mesmo um doce. — E por falar na loira, lá estava ela avançando apenas com um arco e algumas flechas inúteis. — Venha!

Sophie disparou as flechas, que Elesis fez questão de retornar para ela, até que a loira sumiu da sua visão, ou melhor, daquele espaço, até onde Trevor estava.

— Que ódio! — Teria que fazer o trajeto de volta todinho de novo. — Por que, Trevor?!

Ouvindo os gritos da adversária, o nefilim teve o machado removido das suas costas pelas mãos da parceira; sem mais nada entre as vértebras, a regeneração foi feliz.

— Deixe comigo a responsabilidade de lidar com ela — pediu Trevor, enquanto ainda se levantava. — É melhor assim.

— Mas… Trevor… — A garota mordeu o lábio inferior, ignorou o machado que se desfazia em sua mão e retornava para a sua dona original. — Eu ainda posso ser uma distração… ou até…

— Fora de questão. — Ele nem queria ouvir o restante daquela sugestão, por outro lado, tocou o rosto da parceira com as duas mãos e quis manter contato visual, diferente da garota que desviou o olhar para o lado. — Milady…

Runas, Veste Divina, flechas, ataques físicos ou de energia, de que essas coisas serviriam contra os vetores e os vários olhos da Ira? Sem a Manipulação do Tempo, Sophie sabia que a sua utilidade ali havia se esgotado.

— A Pirâmide de Hórus — sussurrou o nefilim, o que trouxe a atenção da parceira de volta para ele. — Eu vou te mandar pra dentro da barreira da pirâmide central; encontre o dispositivo e destrua ele.

Claro, eles não tinham a obrigatoriedade de derrotar a Patrona, o objetivo era o dispositivo que dava forma ao interior do portal; no entanto, caso o portal se desfizesse de forma instantânea, como eles lidariam com o Vazio? Tomando danos contínuos, as runas os manteriam vivos, mas em ciclo constante de cura e danos.

— Tá bom — concordou com o plano e o risco, quando, então, Trevor se aproximou dela um pouco mais e lhe deu um beijo breve. — Se cuida, tá?

— Ihh! Cês podem parar com essa melação toda? — No galho de uma árvore, a Patrona fazia cara de nojo. — Por que todo mundo fica se pegando na minha frente?

A pegação durou pouco, já que Sophie desapareceu em um piscar de olhos, o que era até que um alívio para Elesis — a arqueira era um porre — ainda assim, um certo desconforto ficou em seu peito, principalmente quando se lembrava da visão do beijo da menina com Trevor.

— Sensação estranha. — Pôs uma mão fechada sobre o seu peito. — Eu tenho que matar aquela arqueira mesmo. — Tudo o que causava desconforto a ela tinha que morrer, afinal, para restaurar a sua paz e tranquilidade.

— Então. — Trevor apontou a sua espada para a adversária. — De onde paramos?

A sensação ruim que Elesis sentia sumiu, e a empolgação de uma luta agradável retornou. Fazendo o seu machado girar no ar, do seu lado, a Patrona aumentou muito a velocidade, até que a arma parecesse um disco disposto a cortar o espaço.

— Quem passar pela defesa do outro primeiro vence, né? — indagou a garota, mais para si mesma. — Né?!

Com um movimento intenso do seu braço, Elesis ordenou o ataque cortante, que obedeceu sem pestanejar; Trevor, por sua vez, manteve a Distorção Espacial com todas as suas forças.

O disco afiado se aproximou, e Trevor, por alguma razão, deslizou um pé para trás.

Veloz, poderoso, afiado, avançou; mas a defesa era o próprio tecido do espaço.

Não. Seria ingênuo pensar assim.

Raizel não cortava o espaço usando o Terceiro Ato da Espada do Princípio, um ataque baseado em pura velocidade?

“Impossível…” Teletransporte. Ele tinha que se teletransportar. “Até que ponto ela consegue aumentar o valor de um vetor?”

Tudo ficou claro, e com o retumbar de um relâmpago, toda a área ao redor do nefilim foi estourada, arrasando uma extensa área de árvores, inclusive a que a Patrona do Pecado da Ira se encontrava.

— Parece que a gente fez bem em vir ver como as coisas estavam por aqui. — Recolhendo a mão que usou para disparar o ataque elétrico, Samantha observou a cena, do céu. — Ele tá bem, né?

— Sim, estou — respondeu Trevor, dando um susto na garota, por ter aparecido do nada ao lado dela e do Enzo. — Agradeço.

Apesar da expressão cortês, era notável que o nefilim estava com o coração na mão; presenciar alguém, além de Raizel, sendo capaz de cortar o espaço foi surreal.

O duo recém-chegado tinha muito o que perguntar: onde estava a Sophie? Por que ela havia perdido a capacidade de controlar o tempo? Quem era a maluca que Trevor estava enfrentando? Muitas perguntas, e todas ficariam para depois.

— Mas que sacooo!!! — Uma forte pressão de Energia Espiritual tomou conta do lugar, ao som dos berros de fúria de Elesis Hiratus. — Ahh! Vão tomar no cu!!!

Os recém-chegados tiveram que proteger os seus rostos com os braços, uma vez que, além das rajadas de energia, pedras e árvores foram arremessadas em alta velocidade contra todos eles.

“Ela perdeu a cabeça de vez!” Veloz, Trevor protegeu a todos com a Distorção Espacial, já que eram destroços demais vindo para cima do seu pessoal. — Ira…

Certa vez Trevor ouviu Klaus brincar com a ideia de que todo furacão sempre levava o nome de uma mulher; não era bem verdade, tinha até um que carregava o nome do Andrew, um amigo deles; no entanto, a raiva que a Patrona tinha naquele momento certamente era digna de dar nome a um furacão: o Furacão Elesis.

Quando enfim a Sophie saiu de cena e parecia que a Ira poderia se divertir a sós com o Trevor, mais gente tinha que aparecer pra meter o nariz onde não era chamada.

Os fortes vendavais rodopiavam em espiral, puxando qualquer coisa que encontrasse em seu caminho, ao passo que as íris da Patrona irradiavam um vermelho mortal, no olho do furacão.

— Pra mim já deu…! — Transformaria até os pensamentos daqueles intrometidos em vetores e os aceleraria até que os cérebros dos dois fritassem, então, só então teria o Trevor apenas para si. — Espaço Dimensional…

A ideia de disputar o território de um Espaço Dimensional com o Trevor era perigosa, mas quem ainda tinha cabeça pra pensar em tal coisa?

— Transmuta…

O espaço realmente começou a mudar, o que deixou todos em choque, até mesmo a própria Elesis; aquilo não era a transição para o Transmutador Vetorial, era o interior do portal se rachando, inclusive a entrada.

— Como é? — Na força do ódio, a Patrona virou o rosto em direção à pirâmide central, onde Sophie estava. — Aquela puta!


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