O Nefilim Primordial Brasileira

Autor(a): Ghoustter


Volume 3 – Arco 1

Capítulo 193: Águas de Sangue

Pelas ruínas do que um dia foi um refinado restaurante de iguarias marítimas, um crocodilo mutante de couro vermelho fazia a sua própria refeição: o corpo ensanguentado de uma mulher, já sem cabeça, e, com a mordida do monstro, agora sem um dos braços.

Do lado de fora, humanoides de pele verde, com membros extras e deformados, rondavam as ruas, alguns sem rumo, outros desfrutando dos produtos pescados no Oceano Índigo, já que ninguém mais compraria aquelas mercadorias.

Nos destroços das embarcações, ao menos as que ainda flutuavam nas águas de sangue escaldante, tubarões negros, com babartanas de metal afiado, nadavam pelas redondezas à procura do sinal de mais alguma carne que pudessem comer.

Até então a Cidade do Oceano havia se tornado, para todos os efeitos, a Cidade dos Monstros, o lar de criaturas deformadas que, pouco a pouco, se espalhavam para os territórios vizinhos, fossem em terra, fossem nas águas avermelhadas.

De um instante para outro, os monstros pararam o que estavam fazendo, uma calmaria que, em pouco tempo, se tornou uma algazarra sem pretendentes; nem as águas do oceano escaparam da agitação das criaturas que saltavam para o céu.

Flutuando acima, teletransportados pela Habilidade Inata de Trevor Foster, centenas de duos da Academia de Batalha Ziz se encontravam a postos, prontos para o combate contra as aberrações aquáticas.

— Como esperado. — Trevor ativou as suas runas faciais e, com a visão aprimorada, sondou o cenário geral da catástrofe. — Sigam a estratégia estabelecida.

Todos concordaram com um “sim, senhor!” e se dividiram em três grandes grupos: 

O primeiro grupo seguiu o duo Top 4 Rank S, Enzo e Samantha, para lidar com a ameaça dos monstros em terra, dentre eles estavam Andrew e Valentina.

O segundo grupo, liderado por Klaus e Eirin, ficou com a responsabilidade de dar conta das criaturas marítimas e conter o avanço delas para os outros oceanos.

O terceiro grupo, na verdade uma dupla, era composto apenas por Trevor e Sophie, que assumiram o peso de limpar o interior do portal aberto no meio das águas.

— Só pode estar lá dentro, né? — refletiu Sophie, lembrando-se de quando ela investigou a antiga onda de portais irregulares. — A Pirâmide de Hórus. — O dispositivo que gerava os portais.

A loira fitou a estrutura espacial que, mesmo ao longe, ainda se mostrava como imensa; com certeza, o maior portal que ela havia visto ao longo da sua vida.

— Huh? — Sentindo a forte concentração de um denso poder abaixo de si, Sophie se afastou de Trevor, movimento imitado pelo nefilim, a tempo de escaparem de um jato de energia vermelha, que subiu aos céus. — Isso é…

Contaminando o ar, tornando-o inapropriado para que qualquer ser vivo o respirasse, o jato de energia, ou melhor, de pura radiação se esvaiu aos poucos.

— Ei! Ei! — chamou Eirin, ao longe, com um aceno. — Lidar com esses bichos do mar é trabalho nosso. — A garota fez um movimento de espantar animais, com a mão. — Vão embora, vão!

Sophie assentiu com um pequeno riso. Aquilo não era um mar como a amiga disse, era um oceano; mas tudo bem.

— Mantenham a comunicação — orientou Trevor, por meio do canal do MIC, antes de partir para o portal. — E acima de tudo, sobrevivam.

— “Sobrevivam”? — Partindo ao meio o primeiro crocodilo mutante que avançou para cima dela, Samantha limpou a lâmina do seu machado. — Hah! Com quem o nosso líder pensa que tá falando?

Aquelas pessoas eram, de longe, as melhores no que faziam — matar monstros — que haviam na Academia de Batalha Ziz; no entanto, diferente da garota, o parceiro dela se manteve atento a cada movimento das criaturas e dos duos ao redor.

— Mas só por precaução, pessoal. — Samantha deu uma conferida naqueles que ela sabia que corriam maior risco ali. — Veem se não morrem, tá?

O peso das vidas de cada um daquele grupo estava nas mãos dela; era a sua responsabilidade guiá-los a um resultado sem baixas; não carregaria a culpa pela morte de nenhum dos seus companheiros de novo, nunca mais.

— Hã? — Pouco a pouco, grunhidos repletos da baba molhada das criaturas humanoides saíram das casas abandonadas. — Podem aos montes. — A garota eletrificou seu machado e entrou em posição de batalha. — É bom que eu levo todos num golpe só.

Samantha, já a ponto de arremessar o machado, viu de canto de olho uma gosma azulada envolvendo o cadáver do crocodilo mutante que ela havia matado havia pouco tempo.

Sem condições de interromper a inércia, a garota concluiu o seu movimento, e os raios vermelhos varreram uma parte das criaturas, junto a uma boa parte das construções; no entanto, o restante teria que ficar para os duos de Rank A.

Rasgando o vento com um silvo agudo, um tentáculo da gosma azulada serpenteou pelo ar, em direção à garota, até ser estourado pelos raios azuis do machado de Enzo Grace, que se pôs no caminho.

— Tudo bem? — questionou o rapaz, para a parceira que dava umas palmadas no tecido fumegante da blusa do uniforme.

Pedaços do tentáculo da criatura chegaram a cair sobre Samantha e queimaram como se fossem ácido; porém, para a surpresa da garota, nada na pele dela ardia ou sequer doía, nem haviam manchas ou traços de vermelhidão, apenas os buracos que marcavam a blusa dela.

— Qual é a dessa ameba?! — O monstro em questão escorreu do cadáver e se contorceu até tomar a forma do crocodilo, porém com tentáculos afiados no lugar dos espinhos agudos da criatura morta.

— Um slime. — Em resposta a Enzo, o crocodilo mutante azul gelatinoso rugiu pedaços da gosma da sua boca, o que só ficou atrás do perigo dos ataques cortantes dos chicotes, que fatiaram as casas que estavam nas costas do duo.

Tendo escapado para cima, junto de Samantha, um pedaço da coxa de Enzo ficou exposto após a fumaça da gosma azulada se esvair da sua calça.

— Vamos acabar com isso logo. — Antes que a criatura assimilasse o cadáver de algum monstro mais poderoso. “Antes que eu acabe pelado”.

— Ah, cê tá de brincadeira! — Ao ter um pequeno objeto pontiagudo surgindo na sua frente, semelhante a uma agulha fina, que tinha um líquido esverdeado dentro, a Patrona da Ira bateu o pé no chão. — De tantos portais, aquela menina tinha que vir logo pro meu?!

Ao lado dos irmãos Lasker, no topo de uma colossal pirâmide antiga, Elesis pegou o objeto agudo com força suficiente para fazer as veias da sua mão incharem e o guardou dentro do seu anel.

— Então, parece que o nosso ócio acabou. — Abraçando o irmão pelas costas, que se mantinha calado nos degraus da longa escada de pedra que levava ao topo da pirâmide, Milene suspirou. — Eu só queria voltar logo pro nosso quarto, Luke.

— Ih! — Elesis se arrepiou da cabeça aos pés. Tendo em vista o grude que Milene tinha com o irmão, ela nem queria imaginar o resto. — Credo. Vão logo embora.

— A gente até iria, mas… — Apontando um dedo para a entrada do portal, onde duas silhuetas tomavam forma, Milene caçoou da menina esquentadinha. — Como é que a gente vai passar por eles?

— Só vão! — Sem dar tempo para os recém-chegados reagirem, a Patrona zerou o vetor velocidade dos dois, o que deu tempo para que os irmãos Lasker passassem por eles sem problemas. — Enfim, livre dessas nojeiras.

O duo arregalou os olhos ao notar que Elesis também já estava ao lado deles, ou melhor, a garota estava do lado de Trevor; e um machado afiado, do lado de Sophie.

Energizando o seu braço com uma lâmina de Energia Espiritual, tão rápida quanto o movimento do seu machado, a Patrona cortou o espaço onde os pescoços dos adversários deveriam estar… deveriam.

— Eu sabia que esses aqui iam ser chatos de matar. — Se havia uma razão para Trevor e Sophie não ocuparem a posição de Top 1 Rank S, mesmo tendo poder suficiente para tal, era a presença de Raizel na Academia de Batalha Ziz. — Mas eu também não sou pouca coisa, só pra vocês saberem.

Um globo ocular carmesim se abriu na nuca da garota de cabelo curto e piscou para os adversários, agora nas costas dela, antes que eles tentassem algo.

No momento do primeiro ataque da Patrona, Trevor foi veloz o suficiente para se teletransportar com a sua parceira para um lugar seguro, enquanto Sophie cuidou de reverter o estado de vetor nulo no qual os dois se encontravam.

O primeiro embate foi curto, mas Elesis já havia confirmado quem era o seu maior obstáculo, a sua maior pedra no sapato, aquilo que mais lhe gerava estresse.

Com o machado em mãos, a Patrona se virou para a mira de um arco e flecha temporal, ao passo que o nefilim examinava o interior do portal: ruínas do que pareciam uma civilização antiga, com várias pequenas pirâmides, além da maior, que se encontrava no centro de tudo, espalhadas por uma densa floresta.

“Nenhuma dessas é a que a gente procura.” A Pirâmide de Hórus nunca se encontraria tão visível, afinal. — Seria bom se você dissesse onde está.

Elesis sorriu.

Era óbvio o objetivo do duo ali, mas ela nunca, jamais iria colaborar.

— Tenta adivinhar, vai — sugeriu, em tom provocativo, a Patrona — se você for bom mesmo, claro.

Ajudando um duo de Rank A a escapar do ataque de um bando de tubarões de três cabeças, Eirin constatou que, apesar de congelar as criaturas, era difícil dizer o mesmo daquelas águas de sangue, que pareciam ferver a trocentos graus.

— Só um monstro pra viver dentro disso. — Uma pessoa comum preferiria mil vezes pular no magma de um vulcão em erupção do que tomar um banho no Oceano Índigo, ao menos naquele dia. — Huh?

Vendo duas figuras, uma masculina e uma feminina, saindo do portal no meio das águas, tanto Klaus quanto Eirin pensaram, em um primeiro momento, no porquê dos seus companheiros já estarem retornando.

Por outro lado, Luke e Milene, vendo-se na mira do olhar do duo Top 3 Rank S da Academia rival, amaldiçoaram a sua sorte.

— Ah, sério — praguejou a jovem majin, maneando a cabeça para o lado. — Vocês estão de marcação com a gente, só pode.


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