O Nefilim Primordial Brasileira

Autor(a): Ghoustter


Volume 2 – Arco 7

Capítulo 187: Segundo Round

Ainda apreciando o sabor único da mais saborosa refeição que fizera ao longo de toda a sua vasta existência, Baal lambeu os lábios enquanto descia rumo à arma divina caída no chão.

Cravada como uma lâmina lendária em uma pedra, a Espada do Fim dos Tempos jazia solitária, sem a presença dos habituais traços da energia roxa de Raizel, nada mais que um pedaço afiado de ferro preto.

— E o vencedor leva tudo. — Cheio de si, o Príncipe Infernal agarrou a espada, com a mão esquerda, e a puxou em vanglória da pedra. — Huh?!

De um instante para outro, a Espada do Fim dos Tempos sumiu do mais puro nada, apenas para reaparecer perfurando o peito do Senhor das Moscas, pelas costas dele, com um movimento veloz que não existia em futuro nenhum.

— Quarto Ato: — Sem dar oportunidade para o demônio se recuperar do choque, tanto por ter sido pego de surpresa quanto por ouvir a voz dele de novo, Raizel executou a sentença de morte absoluta.  — Juízo Final!

As chamas roxas se espalharam desde o ferimento no peito do Senhor das Moscas, e a existência da Criação, nos arredores, foi engolida pelo fogo e desintegrada até restar nada mais do que apenas cinzas escuras.

A partir das cinzas remanescentes, pedras, oxigênio e demais partículas presentes no ar retornaram ao seu estado de origem, exceto pelo corpo do Príncipe Infernal, do qual já não restavam traços da sua existência.

— Um já foi. — Suspirando, com a Espada do Fim dos Tempos de volta em sua mão, o nefilim apreciou a vastidão do céu azul de Calisto. — Deve ser agora que dá aquela tal “merda”, não é, Miguel?

Como um reflexo do cosmos, as íris roxas do rapaz exibiam uma projeção perfeita da imagem da Criação do Fundador.

Ninguém que viu aqueles olhos universais viveu para contar a história, assim como aquele Arcanjo havia pedido. Mas Baal era só um avatar de Belzebu; o verdadeiro ainda estava vivo, e Raizel falhou naquele ponto.

No entanto, sem recorrer ao seu último recurso, Raizel nunca seria capaz de burlar a Visão do Futuro e a percepção dos sentidos de um dos Sete Príncipes Infernais.

Diferente de Ophelia, que, naquele ponto, ainda seria possível enganá-la, levando-a a crer que ela alcançou o futuro da vitória, Belzebu era um caso diferente.

Detentores de uma experiência oriunda desde os primórdios da Criação, Príncipes Infernais nunca cairiam em truques convencionais; Raizel sabia bem disso.

— Então, é agora que começa o segundo round? — O nefilim se virou em direção a uma grande pedra, logo atrás dele, sobre a qual o motivo que o impedia de descansar aliviado o fitava com um olhar raivoso de fazer inveja ao calor do inferno. — Zebub.

Diferente do Baal, aquele avatar possuía dois pares de asas com penas negras, em vez de asas de morcego; no entanto, a presença e o poder eram, sem sombra de dúvidas, equiparáveis.

Zebub, um segundo avatar, um privilégio que apenas o Senhor das Moscas possuía entre os Arcanjos e os Príncipes Infernais.

— Huh?! — Ao contrário da forma que o próprio Zebub esperava reagir, ao cruzar seus olhos demoníacos com os de Raizel, a voz pareceu faltar na garganta. — Como você…?

— Haha! — O nefilim conseguiu rir. Apesar do sentimento ruim que rondava a mente dele, os dentes brancos insistiram em se mostrar. — Ah… Vai merda mesmo.

— Impossível… — Aqueles olhos, Zebub jamais os esqueceria, ainda que só tenha visto eles uma única vez antes em toda a sua vida. — Por que você tem eles?

— Quem sabe? — Raizel deu de ombros, uma vez que nem ele mesmo entendia os mistérios por trás daqueles olhos direito. — Desde que eu nasci, talvez?

O avatar respirou pesadamente, fosse pelo apagamento da existência do Baal ou pelo par universal de olhos que o encarava, Zebub examinou o nefilim com cautela, coisa inédita naquele embate.

“Sumiu tudo mesmo?” Como as Habilidades Inatas e as técnicas ficavam registradas na alma, o avatar entenderia se Raizel perdesse elas após ter a alma dele devorada, mas ele duvidava do que via naquele momento, ou o que não via.

Quando os dois se encontraram pela primeira vez, aqueles olhos não apareciam entre os poderes do moleque, o que indicava que eram eles que estavam escondendo todas as técnicas do nefilim dali pra frente.

Até mesmo a emanação da Energia Divina de Raizel havia desaparecido, tornando impossível saber o quão forte ele estava naquele momento; mas, para matar Baal, fraco era algo que o nefilim estava longe de ser.

Embora a resposta do moleque tenha sido vaga, Zebub teve noção de como o garoto foi capaz de enganar Baal, ou seria melhor dizer que ele o nunca enganou?

— Um futuro inexistente. — Era fato que Raizel perdia em todas as ramificações do futuro, exceto em uma que não existia.

— É, talvez seja algo do tipo. — O rapaz sentiu a Espada do Fim dos Tempos sumir de sua mão; que hora ruim. — O que eu fiz foi trocar uma derrota garantida por uma vitória incerta… nada mais que isso.

Incerteza era a palavra que pairava sobre os dois, uma vez que se tratando de um futuro inexistente, ninguém era capaz de ver uma única ramificação sequer.

— Mas que azar o seu, moleque! — Zebub pulou da pedra e aterrissou de frente para o adversário. — O futuro pode ser incerto, mas a vantagem ainda é minha!

O demônio sabia que era mentira, mas ainda invocou a Amálgama Antagônica e apontou a Lâmina da Gula para o nefilim, que se via fatalmente desarmado.

— Usar o Juízo Final custou muito caro pra você. — Nisso o infeliz estava certo, e Raizel apenas podia lamentar.

Um nefilim, mesmo sendo um primordial, nunca foi um Arcanjo. Raizel costumava usar apenas o Primeiro Ato, com foco na destruição de almas e imortalidades.

O Segundo Ato podia destruir conceitos, assim como Baal fazia; entretanto, reduzia o tempo que Raizel poderia usufruir da arma, sem precisar de uma pausa.

Era óbvio o que aconteceria caso ele forçasse o uso do Quarto Ato, para a  destruição da existência do avatar Baal.

— Um custo alto, mas necessário. — O garoto fechou o punho direito e o fitou.

Belzebu nunca colocaria Zebub em cena enquanto Baal já fosse mais do que suficiente para lidar com um inseto, o que levava Raizel a ter que matar o primeiro avatar, e depois o segundo, ou correr o risco de ter que enfrentar os dois ao mesmo tempo.

— Sendo assim. — O reflexo da Criação brilhou, intenso, nas íris roxas de Raizel, o que marcou uma aproximação repentina dele até Zebub. — Vou fazer valer a pena.

O avatar esbugalhou as vistas, com reação suficiente apenas para pôr a Amálgama Antagônica na frente do soco do nefilim, envolvido pelas Cadeias de Abaddon.

A colisão foi brutal, e a haste da arma de Zebub tremeu, assim como o tecido do espaço, que rachou e se quebrou, com o som de cacos de vidro se despedaçando.

Com o avatar do Príncipe Infernal sendo empurrado para dentro da rachadura dimensional, um vencedor foi definido no primeiro embate do segundo round.

— Moleque filho de uma puta! — Lançado para o vácuo do espaço sideral, Zebub se viu prestes a colidir com o parachoque de um Fusca brilhante gigantesco.

Foi então que o demônio passou feito um feixe de luz por um vazio imenso no parachoque do veículo; ficou claro que aquela estrutura imensa era uma galáxia.

Estrelas, planetas e sistemas solares inteiros se espalhavam por onde a visão era capaz de alcançar; sujeitos a outra lei natural, um novo universo.

“O que diabos foi aquilo?” Raizel havia se movimentado de um modo que parecia um fantasma, sem presença nenhuma. Até mesmo durante a colisão com a Amálgama, Zebub falhou em sentir o punho dele.

Diversos portais dimensionais brotaram por todos os lados, deixando o avatar perdido, por completo, quanto a qual seria o próximo movimento do moleque.

— Hah! — Zebub foi rápido em se mover ao notar uma breve silhueta atrás dele, no entanto a Lâmina da Gula passou limpa pela miragem de um Raizel, que se desfez em fumaça. — Manipulação de Ilusões?

Contando com os portais dimensionais, já seriam duas Habilidades Inatas que o nefilim usava sem o intermédio dos servos do Necronomicon; contudo, parar para pensar sobre aquilo no meio da luta era um privilégio que Zebub havia perdido há um bom tempo.

O impacto na cabeça foi brutal, e o avatar sentiu sua visão escurecer; apenas o vulto do sapato do nefilim, envolvido pelas correntes, ficou marcado na visão debilitada de Zebub.

— Fique parado! — Ordenou o avatar, com ímpeto, ao tempo, que obedeceu e cessou o movimento de cada astro cósmico daquele universo, com exceção de Raizel, que desapareceu dali. — Como é?

Se o garoto havia se tornado invisível ou se teletransportado, era difícil de dizer com precisão, a única certeza era de que uma estrela rebelde, no formato de um disco vermelho brilhante, avançou contra o demônio, que rangeu os dentes ao vê-la.

— Eu mandei ficar parada! — Brandiu a lâmina verde, a da Podridão, e levou a pobre estrela a derreter em tristeza até o fim de sua infeliz vida. — Porra!

— Lutar sem conseguir enxergar o futuro — sussurrou a voz do nefilim, no pé do ouvido de Zebub — deve tá sendo um saco, né?

— Huh?! — O avatar cortou com a lâmina da Gula para a frente, mas o corte saiu nas costas dele, onde Raizel deveria estar. — Consegue produzir som no vácuo?

— Você pensou que era o único aqui capaz de se sobrepor às Leis da Criação? — Num ponto mais alto, em relação à cabeça de Zebub, já que no espaço sideral não existia em cima ou embaixo, o garoto se exibia ileso ao ataque da Amálgama. — Mas você realmente parece surpreso.

Mais do que surpreso, estava irado. Todo aquele universo estava parado no tempo, menos a única pessoa que deveria estar estática e morta.

— Foi um erro — lamentou Zebub, a ponto de rosnar como um animal raivoso. — Baal deveria ter devorado a sua existência com a Amálgama, em vez de apenas comer a sua alma e o seu conceito de imortalidade.

— E eu agradeço por isso. — Raizel ergueu o seu braço direito, com a mão simulando uma lâmina afiada, e o imbuiu com Nether.

— Um ataque direto? — Claro como a luz do dia, até mesmo a direção do corte, na vertical. — Você duvida de que eu consiga escapar, por acaso?!

— Antes eu tinha minhas dúvidas. — O nefilim respirou fundo e desceu seu braço, em um estrondo, veloz como a luz. — Neste momento, sinto que sou capaz.

Poderia ser apenas um blefe, Zebub já deveria ter conhecimento. Raizel poderia mudar a direção do corte, talvez? Viria por trás? Viria por cima? Viria… de frente.

Cortado de cima a baixo, na vertical, de olhos esbugalhados, o avatar de um Príncipe Infernal falhou em escapar do ataque.

— Então… foi assim? — A ficha enfim caiu.

Quando Baal foi dizimado, Raizel, além de invalidar a Visão do Futuro e usufruir da sua existência indetectável, recorreu a outra coisa para ter certeza de que acertaria o Juízo Final com o ataque furtivo de antes.

— Maldito… filho da puta!

Um ataque sem possibilidade de escape; um corte que ignorava tanto o conceito de desvio quanto o de defesa, um corte que dividiu Zebub em duas metades perfeitas.


Continua no Capítulo 188: Fragmento da Criação

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