O Nefilim Primordial Brasileira

Autor(a): Ghoustter


Volume 2 – Arco 7

Capítulo 186: Troca Equivalente

Vendo as ramificações do futuro, Ophelia entendeu que, mesmo estando dentro do alcance do horizonte de eventos daquele monstro cósmico, ela nunca seria afetada pela gravidade incomensurável.

“Eu tenho que destruir essa coisa logo.” A pequena nem esperou os conselhos de Absalon, usou a Foice do Abismo sem Fim o quanto antes, na base de um reflexo que nem mesmo ela sabia que tinha.

O que a gravidade daquele quasar puxava não era a matéria, mas sim as técnicas do inimigo; no entanto, se Ophelia atacasse com a Foice do Abismo sem Fim, ela poderia cortar tudo o que quisesse.

“Você foi lenta demais”, comentou Absalon. “Não. É aquela menina que consegue ver o mesmo que você”.

— Hã? — Chocando-se com a escuridão absoluta do buraco negro, a Foice do Abismo sem Fim liberou faíscas mais intensas que a luminosidade do disco de acreção que circundava o Espaço Dimensional. — Essa proteção…

Partindo de um ponto primordial, o futuro se ramificava em várias possibilidades que, por sua vez, continuavam a se ramificar, gerando uma gama de infinitos cenários.

Para alcançar um dos futuros onde a vitória se encontrava para ela, Ophelia deveria destruir o Horizonte de Eventos antes que a adversária abrisse mão “daquilo”.

O Manto de Ziz, que antes revestia o corpo de Petra, passou a cobrir a extensão de todo o Espaço Dimensional da garota, dando a ele resistência aos cortes da arma da lolita gótica, ao menos até certo ponto.

Veloz, e apenas com a proteção da sua Veste Divina padrão, Petra cortou a distância que a separava de Ophelia e traçou um corte perfeito no vestido preto, que foi manchado de vermelho.

— Uhh! — A lolita buscou se afastar, mas a pressão imposta pela adversária mostrou a diferença que havia entre as duas, quando se tratava de combate. “Droga!”

Só desviar para o lado era inútil; o futuro no qual ela caiu se ramificava em vários cenários, sendo um pior do que o outro.

A espada de Petra, que descia rente ao peito da lolita, tremulou em meio ao percurso e reapareceu na horizontal, à beira de alcançar o pescoço da menina.

“Desvie, Ophys!” E assim a lolita fez, curvando o corpo para trás e dando de cara com a espada de Petra, que retornou para a vertical, do nada. “Mais rápido!”

A Bellatrix beijou a garganta da menina, que arregalou os olhos negros, incrédula de ter conseguido colocar a ponta da sua foice no caminho a tempo.

Na colisão das armas, uma rachadura estalou no espaço, dando lugar a um Vazio Existencial, que levou Ophelia a tentar negar as suas feridas.

“Não!” Exclamou Absalon; mas já era tarde, o quasar fez sua primeira refeição, para a infelicidade da pequena lolita gótica, que só escapou com a cabeça no lugar por causa do Vazio Existencial que havia no caminho.

“O que eu faço pra sair disso?!” Petra desapareceu da visão Ophelia, o que indicava a ramificação que ela havia escolhido. — Aqui! — A lolita se virou para trás e encontrou o nada. — Hã?

A dor veio de cima para baixo, rasgando as costas e o vestido da pequena. Ardência e dor foram a recompensa por cair na armadilha da adversária, que escolheu uma ramificação que demoraria mais tempo para chegar nela e a enganou.

“Continue colidindo as armas”, aconselhou o dragão, embora a proteção do Manto de Ziz já tivesse recuperado o dano do Vazio Existencial. Manto de Ziz, Foice do Abismo sem Fim, duas bênçãos opostas e equivalentes. “Faça até obter um atraso”.

Seguindo a orientação, Ophelia entrou na defensiva e fez o possível para rebater os cortes seguintes com a lâmina ou a haste da foice.

Rachaduras se espalharam de forma irregular pelo Horizonte de Eventos, sendo fechadas rapidamente pelo Manto de Ziz.

Era necessário aumentar a velocidade, e assim Ophelia fez, tendo que lidar com alguns teletransportes de Petra e mudanças repentinas na trajetória da lâmina dela através do espaço.

Difícil, mas estava dando para lidar.

No fim, para Petra, faltava experiência com o domínio da sua Chave de Goétia, e ter que abdicar do Manto de Ziz, para manter o Horizonte de Eventos a deixava bem mais vulnerável.

A princípio parecia uma troca favorável: Petra perdia em capacidade de defesa, enquanto Ophelia perdia em poder de ataque; no entanto, nem tudo era perfeito.

Com a imensa quantidade de rachaduras no Espaço Dimensional, o Manto de Ziz começava a sofrer atrasos que passavam despercebidos a uma percepção comum.

— É agora! — Naquele pequeno intervalo em que o Horizonte de Eventos estava abalado, Ophelia gritou: — Big Bang!

Petra, inundada por uma luz de cegar, recebeu em seu corpo a maior liberação de energia, matéria e expansão de espaço e tempo que um universo poderia ver.

Para além do que o Espaço Dimensional conseguiria suportar, o ambiente alcançou dimensões que romperam sua extensão e o colapsou até não sobrar nada, ou foi o que Ophelia pensou ter alcançado.

— Heim? — Estava tudo inteiro, enquanto Petra usava novamente o Manto de Ziz em sua Veste Divina. — Impossível… Você…

— Horizonte de Eventos: — Sem o Manto de Ziz, o Espaço Dimensional estava vulnerável à foice que Ophelia sequer teve a oportunidade de usar. — Buraco Branco.

O poder do Big Bang, antes usado contra Petra, foi cuspido com toda a força na cara da lolita gótica, pelo quasar, que perdeu sua escuridão e brilhou como nunca.

Foi arriscado, isso era certo. Se Petra errasse por um milésimo de segundo sequer, seria o fim; mas ela conseguiu assumir o Manto de Ziz de volta antes de ser alcançada pela explosão do Big Bang.

Se sua resistência não retornasse para a capacidade máxima, ela seria desintegrada até o último átomo; no entanto, essa era a melhor forma de driblar a Visão do Futuro.

Viva, bastou reescrever o acontecimento, de modo que o mesmo ocorresse um segundo atrasado, e a liberação de energia do Big Bang fosse engolida pelo quasar, podendo ser devolvido pelo buraco branco.

Uma vez que o jato quase sem fim de energia parou de castigar a pequena Ophelia, Petra se aproximou da garota caída, que caiu, fumegante, no chão transparente.

— Sinto muito, Ophys. — A foice se desfez em escuridão e retornou para o Abismo sem Fim, marcando a derrota da menina. — Acho que isso não conta como o duelo lendário que você me pediu.

Sem conseguir levantar a cabeça, Ophelia encarou os olhos gentis de Petra apenas porque a garota se abaixou para vê-la.

— Nem eu, nem você consegue usar o máximo que essas Chaves de Goétia tem a oferecer — explicou, com uma voz calma — ao menos, não ainda.

— É claro que eu… ia perder. — Fechando as pálpebras devagar, a pequena aceitou que o seu corpo se afundasse numa poça de escuridão, que surgiu no chão. — Uma história de amor verdadeiro… A mocinha sempre vence… Injusto.

— Ophys…

Antes que Petra tivesse a oportunidade de falar algo a mais, o Guardião dos Céus entrou em cena e a teletransportou para o Domínio de Ziz, onde os dois ficaram cara a cara mais uma vez.

De expressões distantes, a bela mulher permaneceu em silêncio, sentada à mesa com alguns biscoitos e chá quente.

Para quem dizia se importar tanto com sua protegida, Ziz sequer parecia ter a intenção de parabenizar a garota pela vitória.

— Quando aquele Arcanjo te entregou aos meus cuidados, o Guardião dos Céus, a Besta Sagrada da Proteção — falou com peso e morosidade — nunca cogitei que eu falharia com você da mesma forma que aquele Neblim também falhou.

— Sinto muito, mas as coisas devem estar bem difíceis no Plano Físico agora. — Nunca foi a intenção soar hostil com Ziz, mas a hora era de urgência. — Por favor, me mande de volta para lá.

A mulher virou o rosto para o lado. Petra já deveria saber que, naquele momento, ela conseguiria retornar sem a ajuda de terceiros, ainda assim ela pedia.

— Sou eu que deveria te pedir desculpas. — A garota gelou ao entender o que o Guardião dos Céus queria dizer, mas ao sentir algo sumir do seu dedo era impossível negar. — Você foi incrível, Petra, mas fui eu que venci.

Desfazendo-se em várias partículas de luz roxa e dourada, o desaparecimento do anel de ressonância marcava o fim da ligação que havia entre as almas de Raizel e Petra, uma vez que a do garoto havia sido totalmente digerida por Baal.

Em silêncio, a jovem encarava as mãos trêmulas, a leve marca residual circular em seu dedo anelar direito e o fim dos pulsos de alerta da ressonância em seu peito.

— Rai… — Os olhos de ouro se tornaram uma fonte de lágrimas silenciosas, em seu princípio, mas que ganharam um som melancólico, quando ela cedeu de joelhos.

O Guardião dos Céus se levantou para caminhar até ela, mas parou ao contemplar o chão úmido pela tristeza da menina, que, mesmo naquele estado, não gritou com ele e nem o culpou pela dor que sentia, ainda que Ziz soubesse que era o culpado.

Puxar Petra para aquele domínio antes de que ela fosse direto para o Plano Físico era o melhor a ser feito, mas, ao vê-la naquele estado, era difícil, para a Besta Sagrada, evitar se sentir um ser cruel.

— Quão dramáticas vocês são. — Aquele dragão maldoso, até numa hora como aquela fazia a voz dele soar nos ouvidos das duas mulheres. — Abram os olhos e vejam por si mesmas.

Por mais desagradável que fosse ser o porta-voz da notícia, principalmente para Absalon, que era uma Besta Sagrada do Volume Demoníaco da Goétia, depois da vitória de Petra ele se sentia na obrigação.

— Aquele Baal já está morto.



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