O Nefilim Primordial Brasileira

Autor(a): Ghoustter


Volume 2 – Arco 7

Capítulo 185: Amor Verdadeiro

A menina, que até então havia se escolhido em seu lugar, agora fitava Petra, enquanto segurava a Foice do Abismo sem Fim, entregue por Absalon.

“Nem preciso dizer que é uma péssima ideia ser atingida por aquela arma.” A voz do Guardião dos Céus soou na mente da jovem Petra, que segurou a Bellatrix com força e suspirou, em posição de defesa.

“E o que acontece se ela me acertar?” — Sem tempo ou espaço para receber uma resposta decente, a garota arregalou os olhos, ao ver que Ophelia sumiu das vistas das suas íris douradas. — Hã?

Um ruído estridente se fez audível, quando Petra se virou e — se por sorte na dedução ou por pura inocência da pequena lolita gótica — defendeu o corte voraz da foice, que devorou, sem qualquer piedade, o espaço, o tempo e as moléculas de ar que haviam pelo caminho.

— Nada mal — elogiou-a Ophelia, enquanto se vangloriava. — Mas e agora?!

Diferente do que Petra esperava, as armas que deveriam se repelir pela potência do impacto foram atraídas uma para a outra.

— Alteração de Leis, se você quiser saber. — A lolita sorriu, mantendo as armas firmes. — E tem mais.

Presa, em todos os sentidos, Petra se espantou ao sentir seus braços e pernas sendo apertados por correntes negras, que logo assumiram uma coloração dourada.

— As Cadeias de Abaddon? — A jovem sempre soube que seu parceiro nunca foi o único portador daquelas correntes, mas vê-las em posse de Ophelia…

Não. Deveria ser óbvio que a menina teria aquela arma em seu arsenal: o criador daquelas correntes, Abaddon, as idealizou como cadeias para demônios; mas ao se tornar um anjo caído e o braço direito de Absalon, uma versão oposta da sua criação conheceu a escuridão do abismo.

“Reaja!” Impôs o Guardião dos Céus. “Negue o evento, rápido!”

Como se saindo de um breve transe, o Duplo Arco Celeste nas costas de Petra brilhou mais rápido do que a lâmina da Foice do Abismo sem Fim.

De um instante para outro, as Cadeias de Abaddon sumiram dos membros da jovem, e ela pôde barrar o avanço inimigo com a agilidade de sua katana.

— Repulsão Celestial!

De armas grudadas, para separadas, a pequena lolita gótica foi puxada para trás por uma intensa força gravitacional, a qual logo se tornou visível na forma de um caixão preto, que se fechou com ela.

“Manipulação de Gravidade vai ser inútil aqui”, explicou o Guardião dos Céus. “Aquela foice…”

Um movimento de cima para baixo, da arma da pequena, e um largo rasgou surgiu no Caixão de Gravidade, no qual nenhuma força de atração existia mais.

“... Tudo o que ela toca é enviado e selado na prisão do Abismo sem Fim.”

“É como um portal, então?” Petra pôde ouvir que Ziz assentiu positivamente.

Uma espécie de portal para o Domínio de Absalon, um plano de existência superior onde, sem a permissão daquele dragão, o que estava dentro não poderia sair, e o que estava fora não poderia entrar.

Se o Plano Físico possuía quatro eixos dimensionais, contando com o tempo, o Domínio de Absalon possuía nada menos do que incríveis dez eixos dimensionais.

O Abismo sem Fim, um lugar onde até mesmo o pai de Raizel, que já serviu como braço direito de um Arcanjo, estava selado desde o nascimento daquele nefilim.

“Eu vou fazer o possível para protegê-la com o meu Manto de Ziz.” O Guardião dos Céus deu seu último alerta. “Mas não exagere, ou os danos serão irreversíveis”.

— Você já entendeu do que a minha foice é capaz. — Saindo do mais puro espaço, as correntes demoníacas cercaram a pequena e fizeram companhia à outra arma. — Eu esperei a minha vida toda só pra usar ela contra você, a minha rival.

O semblante de Ophelia acendeu de novo; enfim, toda a atenção de Petra estava voltada para ela, sem empecilhos e desvios, como uma rival deveria fazer.

“Sim, eu nunca fui a vilã má, né, Absalon?” Sem esperar a resposta do dragão, a lolita se teletransportou para a esquerda de Petra, enquanto as correntes atacaram pela direita. — A mocinha sempre alcança um final feliz na história.

Petra negou as Cadeias de Abaddon mais uma vez, no entanto, diferente do que ela esperava, a lâmina da Bellatrix cortou apenas o vento de onde a lolita estava.

Trocando de lugar com as correntes, Ophelia se encontrava agora nas costas da adversária, que moveu o rosto levemente para o lado em que a lâmina da Foice do Abismo sem Fim rasgava o espaço.

Uma distância ínfima em sua essência. Um intervalo de tempo pequeno demais para ter escapatória. Um fim certo e inevitável.

“Chaves Maiores da Goétia, uma fonte de poder ilimitado.” Uma das falas de Raizel, durante o treinamento de Petra, piscou na mente da garota. “Pense que você pode tornar real tudo o que conseguir imaginar”.

Como poderia imaginar uma forma de escapar daquela situação? A ponta da lâmina já estava tão perto do olho dela; parecia se dividir em duas.

Parar o tempo? Inútil. Aquela arma com certeza rasgaria o conceito do tempo, assim como fez com a gravidade.

Intangibilidade, talvez? Fora de questão. Se aquela foice já cortava o tempo, de que valeria se tornar intangível?

Negar o evento? Não. Depois de ferida, uma simples Negação de Eventos não teria serventia contra o Abismo sem Fim.

— Ahh!! — Com o rosto ardendo e os seus olhos cortados na horizontal, Ophelia deu alguns passos sem direção definida. — Ai! Ai! — A menina levou uma mão ao rosto ensanguentado. — Tá doendo… Tá doendo!

Assim como a lolita fez com as Cadeias de Abaddon, Petra inverteu a posição das duas, encontrando, na ação da adversária, a solução para o seu problema.

“Funcionou mesmo.” Era a primeira que usava uma Habilidade Inata diferente da Manipulação de Gravidade, sem a interferência ou auxílio do Ziz. “Incrível”.

Ophelia, por outro, continuava a agonizar e a choramingar, o que, de certo modo, fez Petra perder parte da empolgação de sentir o poder do Guardião dos Céus como sendo parte do dela própria.

Bateu uma certa pena da pequena, além de ser possível notar que ela possuía pouca ou quase nenhuma experiência em combate; aquela dor, aquele estado, era só o básico do campo de batalha.

“Negue a existência do ferimento, pequena.” Aconselhou o Retentor do Abismo. “Esse é o momento que você tanto aguardou. Recomponha-se”.

A menina parou de se debater e engoliu o choro. O coração ainda pulsava forte, e o sangue pegajoso parecia que nunca iria parar de jorrar de sua cara, ainda assim…

— Negar. — Petra arregalou as vistas ao contemplar a primeira técnica que Ziz usou por ela, agora, nas mãos da adversária. — Desculpe por isso. Vamos continuar, tá?

— Que cruel da sua parte, Guardião dos Céus. —  Gargalhou Absalon, fazendo sua voz reverberar aos ouvidos de todos ali. — Por que não instruiu a sua garota a matar a Ophys enquanto ela estava atordoada?

Mais surpresa do que a lolita, ao ser chamada de "Ophys” por Absalon, Petra esperou por uma resposta de Ziz, que se manifestou com um completo silêncio.

— Você já deveria saber o motivo, garota. — De fato, Petra sabia, mas se recusava a acreditar sem antes ouvir do próprio Ziz. — Essa luta tem que durar até que o moleque já esteja morto, e seus motivos para ir até ele desapareçam.

“Use a Visão do Futuro para planejar melhor os seus movimentos e se defender dos próximos ataques” sugeriu o Guardião dos Céus, embora já devesse ter feito isso bem antes. “Sobreviva dessa vez”.

— Como assim “dessa vez”? Eu nunca morri — contra-argumentou Petra. — O Rai nunca me deixaria morrer, e eu também não posso deixar ele…

— Ele deixou, sim! — Mais do que apenas forte, o tom de voz do Ziz mudou de forma drástica, cheia de rancor. — Mesmo na sua antiga vida como Karen Necron, você só morreu por causa do ego exacerbado dele!

— Hã…? — Petra se viu perdida, fora do foco da luta; e Ophelia, também. Diferente das meninas, Absalon esboçou um sorriso largo. — Quê…?

Mesmo vendo a adversária perdida em sua própria mente, a pequena Ophys não fez a menor menção de aproveitar a chance.

“Um amor que cruzou vidas”, pensava a menina, com certo brilho no olhar. “Existe mesmo… Um amor verdadeiro”.

— Agora você entende? — prosseguiu o Guardião dos Céus. — A cria infame do Azriel só traz desgraça por onde passa.

— Já deu, Ziz. — De cabeça baixa, Petra segurava a katana com as duas mãos, a ponta tocando o chão. — O Rai pode deixar passar, mas pra mim já chega de ouvir vocês falando dele assim.

Petra sabia melhor do que ninguém que não era do feitio de Raizel se incomodar ou revidar quando insultavam as origens dele.

Aquilo doía nela, não por tratarem ele mal, mas porque, no fim, o próprio Raizel tinha aquela mesma visão sobre si mesmo.

— Como pode defender quem te deixou morrer e vai te levar para a morte mais uma vez?! — Aquele cenário caminhava para um futuro ruim. — Responda, Karen!

— Karen Necron… — A pronúncia soava estranha em sua boca naquela hora. — Você sabe como o Rai ficava triste toda vez que escutava esse nome? Como ele… Como ele parecia se culpar tanto por isso?

Mais do que nunca Petra queria encontrar o seu parceiro. Mesmo que ela fosse só uma alma em branco, queria poder abraçá-lo e dizer que o perdoava, que ele não precisava carregar aquela culpa.

— Mesmo que eu não tenha nada do que eu fui antes, mesmo depois de ter passado tanto tempo, ele me amou de novo. — Foi impossível conter um sorriso bobo. — Isso me deixa bem feliz, sabe?

Petra buscaria a vitória com aquilo que ela criou sob a instrução do seu parceiro, ao lado dele. Nunca havia posto aquilo em prática antes. Contra a Chave de Goétia do Retentor do Abismo, era hora de brilhar.

— Petra! — Interveio sem sucesso, o Guardião dos Céus. Com a espada direcionada ao chão, sua protegida fez o ambiente mudar por completo.

— Espaço Dimensional: — Nos domínios de um colossal quasar, Petra se fez absoluta. — Horizonte de Eventos.


Continua no Capítulo 186: Troca Equivalente

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