O Nefilim Primordial Brasileira

Autor(a): Ghoustter


Volume 2 – Arco 7

Capítulo 184: Promessa Quebrada

Na sala do diretor da Academia de Batalha Ziz, a vice-diretora Sapphire de Leroy cuidava de alguns documentos pendentes, deixados para trás por Nosferatu durante o dia.

Ainda que tarde da noite, a ansiedade consumia o peito da jovem mulher por dentro, e o trabalho se apresentava como a maneira mais prática de resolver o problema interno.

— Aquele homem. — Sapphire largou alguns papeis sobre a mesa e apoiou os cotovelos na madeira lustrosa; o rosto entre as mãos. Nosferatu nunca foi de deixar documentos pendentes. — Por que ele não podia ser sincero comigo ao menos uma vez na vida?

Por mais que ela tenha insistido em fazer parte do combate iminente daquela noite, o diretor se negou que sua sucessora mais capacitada corresse o risco de sucumbir no campo de batalha.

Sapphire mordeu os lábios. Aquele velho realmente pensava que estava tudo bem ele correr risco de vida, enquanto que ela ficava se roendo de ansiedade?

A reserva para o jantar na noite do dia seguinte já estava feita, mas a incerteza pairava sobre o coração da mulher: dividiria a mesa com o diretor ou nem iria para o restaurante?

— Eu já escolhi a roupa pra amanhã… maldito Nosferatu.

Fosse Enzo, Samantha ou Percatuum, todos ficaram espantados quando a imensa e densa esfera de antimatéria desapareceu do nada, a um fio de cabelo de tocar o chão.

— Como? — Nosferatu vasculhou os arredores, de olhos atônitos, quando então o movimento do seu pescoço começou a perder velocidade. — Por que… está aqui?

— Eu matei aqueles dois, claro — expôs a Patrona da Ira, pouco depois de surgir, aparentemente do nada, nas costas do diretor. — E isso me deu uma paz danada.

Nosferatu esbugalhou os olhos, embora fosse deixar o luto para depois; afinal, naquele momento, nem ele sabia se teria a oportunidade de lamentar a fatalidade.

— Eu tive que enviar aquela bola negra pra dentro do meu Espaço Dimensional. — A garota baixa suspirou. — E eu ainda quase fui pega na explosão, sabe?

Foi então que o diretor sentiu a pressão da palma direita da menina tocar suas costas, e um arrepio gelado tomou conta da sua espinha.

Enzo e Samantha sofriam do mesmo mal da baixa velocidade de movimento e nada podiam fazer em prol do diretor deles; independente do quanto tentassem aumentar a velocidade, o módulo estava travado naquela mixaria.

— Ele é meu — decretou Percatuum, que enfim se sentiu à vontade para se expôr e flutuou até próximo de Nosferatu e sacou um pequeno frasco transparente, o que fez a Patrona se afastar rápido.

A princípio o diretor da Academia de Batalha Ziz não sentiu nada com a quebra do frasco, pelo contrário, se surpreendeu por ainda permanecer vivo.

— Pensei que seria o mesmo veneno que usou para matar as diretoras. — Riu na cara do inimigo. — Mas parece que me enganei.

— É apenas uma versão incompleta. — Mesmo com a ajuda de Arklev, foi difícil completar uma segunda dose daquele veneno. — Leva mais tempo para agir, mas não possui um antídoto para ele!

Percatuum vangloriou-se de braços abertos. Mesmo que aquela fosse uma mera versão incompleta, ele ainda era imune aos efeitos do veneno.

— Agora, se me dá licença. — Deixou o velho diretor entregue à morte certa e começou a descer em direção ao cofre dimensional. — O Santo Graal me espera.

— E o que eu faço com esses dois? — Com um olho de seu braço em cima de Enzo e Samantha, Ira ainda se preocupava mais com o Nosferatu moribundo.

— Faça o que quiser com eles. — Fora o Graal, nada mais importava para o traidor.

Uma bela notícia para a Patrona, que veio acompanhada pelo som ensurdecedor de um trovão e uma chuva repentina de raios.

— Nops! — Estatísticos frente às palavras de Ira, como raios incandescentes, os raios chiavam suspensos no ar. — Deixem de resistência inútil e só morram mesmo.

Só alguém que tinha acabado de conhecer a Patrona da Ira pra pensar que daria um jeito de pegar ela com a guarda baixa; nem mesmo Nosferatu tentou lançar alguma técnica, mentalmente, na frente dela.

— Ei, Enzo. — Samantha chamou o parceiro, já prevendo o que sucederia à aproximação da menina de cabelo curto. — Desculpa todas as vezes que eu te dei trabalho. Eu sei que posso ser meio…

Sentindo a velocidade dos movimentos do seu corpo voltar ao normal, a garota de cabelo vermelho cacheado se viu em meio à sala de Nosferatu, na Academia de Batalha Ziz.

— Você dizia algo? — perguntou Enzo.

— E-Eu disse? — A garota virou o rosto corado para o lado. — Cê tá imaginando coisa.

— Ar-Argh! — De joelhos, Nosferatu cuspiu sangue, roubando a atenção do duo para ele. — Eu… falhei… Eu…

Os jovens logo tentaram fornecer algum suporte para o diretor, mas a porta da sala foi aberta com força, atrás deles, da qual uma bela, com olheiras do trabalho exaustivo, os observava, atônita.

— Vice-diretora — mucitou Samantha.

— Nosferatu! — Ignorando a fala da menina, bem como a presença dela e do rapaz, Sapphire correu até o homem, que se contraía de dor. — O que houve? Por que você está assim?

— Nós… falhamos — explicou com dificuldade, o diretor. Dentes, nariz, olhos e ouvidos, por tudo, escorria sangue. — Perpetuum… O Graal… Perdemos… tudo.

Aquele teletransporte, foi o único registrado como exceção na área preparada por Trevor, uma medida que Nosferatu esperava usar para escapar com o Graal assim que o tocasse.

No fim, seu recurso só conseguiu salvar a vida de duas pessoas, já que a dele se esvaía a cada segundo passado. No entanto, até quando aquele duo ficaria vivo? Como seria a nova onda de portais irregulares? O mundo ficaria de pé?

— O que estão esperando?! — reclamou Sapphire, para os dois jovens, enquanto as mãos dela emanava luz, mas os danos no corpo de Nosferatu se recusavam a sarar. — Me ajudem a curar ele logo!

O duo se mexeu do lugar, mas já estava óbvio que aquele veneno possuía algum componente capaz de negar cura.

Era difícil para os dois estarem ali sem poder fazer algo que ao menos aliviasse a dor do diretor, principalmente para eles que estavam lá na hora do envenenamento.

— É inútil… Sapphire. — A mulher mordeu os lábios.

Os olhos dela estavam molhados pelas lágrimas, mas deviam ter sido os ouvidos que escutaram errado, ou a dificuldade que Nosferatu estava tendo para tecer falas longas; ele raramente se referia a ela sem o “vice-diretora” antes de seu nome.

— De que importa a vitória agora? — A mulher abraçou o corpo debilitado do companheiro, que cedeu aos braços dela. — O jantar… Você me prometeu.

— Desculpe… — Aquela era uma promessa que ele teria que quebrar.

— Saiam, vocês dois. — Samantha ficou em dúvida quanto à ordem da superior, em parte pelo tom melancólico, incomum a Sapphire de Leroy. — Vão!

Enzo pôs uma mão no ombro da parceira e seguiu o caminho da saída, cabisbaixo, acompanhado pela garota, que segurou o choro e fechou a porta.

— Você nunca teve a oportunidade de se deitar no meu colo. — Seria vergonhoso fazer aquilo na frente dos jovens. — Aqui, descanse do seu árduo trabalho.

Com cuidado, Sapphire ajudou o homem a se deitar e acomodar a cabeça dele no colo dela. Sem se incomodar com o odor do sangue, que tomava conta do lugar.

— Eu sou indigno… de morrer… assim.

— Eu te admirei tanto, Nosferatu. — Por um momento a respiração do diretor parou, mas logo um sorriso fraco surgiu no rosto dele. — Me perdoe por só falar isso agora.

— Você é mesmo… uma grande mulher… — O diretor fechou os olhos na escuridão enquanto seus batimentos cardíacos e respiração se esvaíam, com a tranquilidade de entregar a Academia nas mãos dela. — Sapphire.

De frente para as adversárias, mas sempre pensando em manter distância, além de se preocupar com o estado de Esteban, Alícia se via com uma faca em seu pescoço.

Aquela distância era algo que a Patrona da Luxúria poderia quebrar quando ela bem entendesse, e só de ficar seguindo Alícia já seria suficiente para chegar na vitória, com os Feromônios da Luxúria.

— É tudo ou nada. — Seria um tiro no escuro, para Alícia, disputar a supremacia de um Espaço Dimensional com a Patrona.

No pior dos casos, Alícia teria que usar as runas e mostrar que era uma nefilim, para não agonizar até a morte, caso acabasse por perder a disputa e caísse no Salão do Sadismo.

— Espaço Dimen… — A Patrona também se pôs a postos, com as íris brilhando de empolgação, por poder se divertir com Alícia nos domínios do seu lugar favorito.

Mais veloz do que a reação da Luxúria, e como se quisesse estragar a diversão dela, o rugido bestial de uma criatura louca roubou a atenção das garotas, ao longe.

Devastando tudo o que ele encontrava pelo caminho, tudo o que parecia atrasar o encontro dele com Alícia, o Patrono do Orgulho roubou a diversão de Lilith.

— Ahhh! — Cara a cara com a menina, Romulus deu um pisão que fez tudo estremecer e socou a garota, que, já sabendo do problema que teria, desviou para o lado e tentou pegar distância.

Perseguida de forma incessante pela aberração deformada e de um braço só, Alícia correu para dentro de um prédio, que logo desmoronou pelo punho do Orgulho.

Poeira para o alto, a garota deu a volta e procurou o corpo do parceiro dela. Vencer contra dois seria difícil, contra três já estava fora de questão.

O chão tremeu com mais força que antes; um ruído rígido que só foi superado pelos rugidos ensandecidos do Patrono.

— O que deu em você, maluco?! — reclamou Luxúria, ainda segurando a amiga, que assistia tudo, de joelhos.

— Ele tá sem consciência — falou a outra, quase sem voz. — Nem adianta falar com ele.

Mais que aquilo: Romulus sangrava de todas as formas possíveis pela carne viva. Se continuasse naquele estado, as feridas iriam acumular muitas impurezas, e isso ainda era por causa da destruição que ele mesmo estava causando.

— Hã? — As duas Patronas ouviram um bip em suas mentes, seguido por um aviso e um comando muito objetivo. — Isso! Já tava mais do que na hora, heim?

Já Alícia, enfim encontrou Esteban, agonizando no chão caótico; quando, então, o Orgulho brotou, insano e feroz, nas costas dela e por pouco não a agarrou, sumindo dali em um piscar de olhos.

— Quê? — Cética quanto ao sumiço instantâneo do inimigo, a garota parou ao lado do Esteban inconsciente e vasculhou o cenário em busca dos inimigos, dos quais nenhum se fazia mais presente.

O que poderia parecer um motivo de paz, a princípio, logo fez o peito de Alícia gelar.

O objetivo da Perpetuum nunca foi o de destruir as Academias de Batalha, ao menos não naquela noite. Espalhar os Top Rankings, mantê-los ocupados e, acima de tudo, afastados do cofre dimensional era apenas para obter o Graal.

Se os Patronos do Pecado haviam recuado, o motivo era óbvio.

— Nós… perdemos?


Continua no Capítulo 185: Amor Verdadeiro

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