Volume 2 – Arco 7
Capítulo 183: Sacrifícios
Um de frente para o outro, Percatuum e Nosferatu consideravam suas futuras ações, com cautela e calma; o menor dos descuidos poderia custar caro ali.
O diretor traidor foi o primeiro a agir, ao enviar os recipientes com os olhos das diretoras para dentro do seu anel, o que, evidentemente, se tornaria o alvo dos adversários.
“Mas que miséria.” Percatuum mordeu os lábios.
A situação estava muito desfavorável para o traidor: diferente dele, Nosferatu não precisava dos olhos das diretoras; só de destruir o anel, já sairia no lucro.
“Onde está a Ira?” Ela poderia ter sido derrotada? Impossível. O diretor da Academia de Batalha Ziz nem tinha sinal de ter lutado direito.
— Ei, vamos deixar esse clima pesado de lado, o que me diz? — sugeriu Nosferatu, de braços abertos e relaxados. — Nós já fomos companheiros de trabalho, afinal.
— Diga logo o que quer.
— Haha! — Apesar da risada, Nosferatu perdeu o tom leve de antes e foi incisivo em sua fala: — Como você se beneficia, no final? Estou curioso com isso.
Foi a vez do traidor cair na gargalhada.
Era evidente qual o objetivo de Belzebu, mas o que um majin ganharia com a destruição do seu próprio mundo?
— Ah… Eu esperava que você já tivesse algo em mente, velho. — Com o polegar direito, Percatuum apontou por cima dos ombros, para a porta do cofre atrás de si. — Você sabe muito bem pra que aquela belezura serve.
— Acumular e multiplicar energia de forma exponencial — refletiu o velho diretor. — Essa é a relíquia dos tenjins.
Produzir um portal irregular custava bastante energia, mas em posse do Santo Graal, os novos portais custariam uma quantidade ínfima de energia, além de serem muito mais devastadores que os anteriores.
— Mas os portais não são o objetivo final, apenas o meio para alcançá-lo, estou correto? — Enzo e Samantha, que estavam ao lado do seu diretor, o encararam surpresos, diferente de Percatuum, que bateu palmas.
— Isso mesmo. Na verdade, o que eu quero é a energia negativa gerada pelo desespero do caos. — Com aquela informação, Nosferatu juntou as peças que faltavam. — Isso mesmo que você está pensando, velho: transcendência.
1) Gerar a energia negativa como consequência dos portais irregulares;
2) Acumular e multiplicar essa energia com o Santo Graal;
3) Produzir um elixir capaz de transformar um humano em demônio de alto nível.
Com um corpo transcendente e imortal, Percatuum nunca mais sucumbiria à doença que o atormentou no passado e quase levou todos os sentidos dele embora. Aquele majin se tornaria poderoso e viveria em um plano de existência superior, livre das amarras e limitações humanas.
— Eu adoraria que o seu desespero me servisse de alimento, velho, infelizmente… — esbravejou enquanto dava um pisão no chão — você vai morrer aqui!
Toda a terra ao redor de Nosferatu e do duo eclodiu, fechando o campo de visão dos três, além de atacá-los na forma de mãos de barro enormes, de todas as direções.
— Deixa com a gente! — Samantha tomou a frente e cuidou de usar o machado eletrificado para destruir o maior número possível de obstáculos. — Vai, diretor!
Nosferatu apontou uma esfera escura na direção de onde o inimigo estava e a disparou, abrindo o restante do caminho até o traidor, que segurava um dispositivo em mãos.
— Esse truque já está manjado. — Com um pequeno favor que pediu a Trevor, e a ajuda de Enzo e Samantha, o diretor tratou de bloquear os teletransportes para fora daquela área. — Aqui é uma viagem de vinda, sem permissão para saída.
Nosferatu avançou na frente, enquanto duas paredes de raios azuis e vermelhos faziam a sua proteção lateral, o que deixou Percatuum sem rotas de fuga.
Os punhos do diretor se mostraram tão pesados quanto o traidor esperava, no entanto Nosferatu sentiu a falta de sons dos ossos se quebrando.
— Tomem cuidado! — alertou os jovens logo atrás dele, quando deu um soco que jogou o oponente contra a porta do cofre. — Esse é falso!
Com um sorriso largo, os dentes de Percatuum se dissolviam em areia; o traidor obteve êxito no queria: já que não podia fugir, bastava enrolar a luta até conseguir uma boa oportunidade.
— Ui! — Antes que Samantha reagisse, o parceiro dela foi mais rápido e a puxou, antes que ela fosse atingida por um braço de areia perfurante de um Percatuum, que brotou do chão, atrás deles. — Enzo!
— Argh! — Com seu ombro perfurado, no lugar do da parceira, o rapaz segurou o braço do clone de areia e eletrocutou até explodir-lo em vários pedaços.
Apressando-se em curar o ferimento, Enzo teve a garota se colocando na retaguarda dele, para que nada o atrapalhasse.
— Sinto muito, mesmo — desculpou-se a menina. No entanto, o problema era maior do que ela esperava.
Das paredes, chão e teto, vários clones de areia surgiram, rindo; dezenas de Percatuum apenas da cintura para cima.
— Explodam tudo! — ordenou Nosferatu.
De imediato, tanto Enzo quanto Samantha concentraram seus raios vermelhos e azuis e liberaram a potência feroz da eletricidade, sem se importar com a porta do cofre do Santo Graal ou qualquer outra coisa.
Na verdade, eles agradeceriam se aquela maldita porta pudesse virar pó junto com as construções ambientes, que foram engolidas pelo estrondo estremecedor.
Da poeira, que mais parecia uma tempestade de areia, o diretor e seu duo saíram para as alturas, onde Nosferatu começou a preparar uma imensa esfera negra.
— Desapareça no colapso da matéria — anunciou o diretor, enquanto a esfera de antimatéria se chocava com o solo e liberava um extenso pilar de energia para as alturas.
Alcançando além das nuvens, o pilar se expandiu em uma área circular que limpou tudo o que existia em seu domínio, exceto a porta do cofre dimensional, a qual permanecia intacta a qualquer dano.
Quem diria que a estrutura construída para guardar os maiores tesouros deles, um dia, se tornaria um grande empecilho em suas vidas?
— Esse é o nosso diretor — refletiu Samantha, pensando se ela precisava mesmo estar ali. — Eu nunca disse que o senhor era velho, nunca, nunca mesmo.
Enzo riu baixinho em seu canto. Aquela menina mentia muito mal.
— Mantenham-se atentos ao cofre — alertou o diretor.
— Mas aquele cara pode ter sobrevivido àquilo? — Mesmo que cumprindo a ordem, a garota julgava bem difícil. “O que um punhado de terra pode fazer contra a antimatéria?”
Apesar da vantagem aparente, Nosferatu, enquanto os olhos dele vasculhavam o ambiente, mantinha em mente que o jogo poderia mudar de uma hora para outra.
“Onde está?” Percatuum poderia muito bem ter se mesclado com a terra e fugido, mas aquele homem ganancioso recuaria sem levar o Santo Graal, mesmo estando tão perto de obtê-lo? “Morreu? Enviou algum pedido de ajuda?”
A última possibilidade era a mais preocupante, principalmente se aquela manipuladora de vetores desse as caras de novo.
— Ele ainda está por aqui. — Apontando para o alto, Nosferatu começou a carregar uma esfera de antimatéria com a maior potência possível, algo que deixou os dois ao lado dele tentados a esquecer do cofre.
“Diretor?” Enzo tremeu ao sentir a pressão imposta pelo próximo ataque de antimatéria. “O senhor quer matar todo mundo, por acaso?”
“O velho endoidou”, cogitou Samantha.
O que estava fora da linha de pensamento dos dois jovens era a aparição repentina de algumas dezenas de globos oculares gigantes, feitos de areia, que dispararam raios de energia contra o diretor deles.
Rápido como um raio, o duo tomou a frente e criou um escudo esférico de energia ao redor de Nosferatu, então avançou com machado e lança em mãos, na busca pelo extermínio dos olhos de areia.
“Então, essa era a sua intenção.” Fazendo bom uso das capacidades atléticas de lanceiro, Enzo deixou belos rastros de eletricidade para trás enquanto destruía os olhos de areia. “Isso me assustou, diretor.”
Ao iniciar o processo de carregamento de um ataque que dizimaria toda a Academia de Batalha Leviatã, Nosferatu obrigou o covarde a mostrar que ainda estava ali.
No entanto, tal ação só funcionaria se o blefe fosse convincente, o que, se tratando daquele diretor, era bem efetivo.
Percatuum sabia que Nosferatu era bem capaz de sacrificar a vida de todos aqueles duos em prol de pôr um fim definitivo aos planos da Perpetuum.
Perder o Santo Graal poderia resultar na destruição do mundo; perto disso, a vida de todos ali era muito pouco.
“Maldito velho!” Escondido no solo dizimado, o traidor contemplava o poder do ataque de Nosferatu aumentar a cada segundo. “Ele realmente vai lançar aquilo?!”
Uma densa tempestade de areia se espalhou pelo lugar, com uma velocidade capaz de fazer aqueles minúsculos grãos parecerem uma chuva de balas agudas.
Dada a quantidade descomunal de areia, o escudo que protegia o diretor foi perfurado em questão de instantes, assim como Enzo e Samantha, que se viram perdidos e sem condição até mesmo de respirar algo que não fosse areia assassina.
Foi então que, mesmo ensanguentado, Nosferatu mostrou que aquele blefe nunca foi de fato um blefe, e a esfera de antimatéria despencou rumo ao chão.
— Seu desgraçado! — A voz de Percatuum se fez audível em meio aos ruídos da areia frenética. — Nosferatu!
Que as almas de cada pessoa sacrificada naquele dia o perdoasse por agir de uma forma tão egoísta. Que Sapphire o perdoasse por ele ter que faltar ao jantar que prometeu a ela.
Se Nosferatu entregaria a vida daquelas pessoas em prol do bem do mundo, nada mais justo do que a vida dele ser uma das primeiras a desaparecer da face daquele planeta.
Continua no Capítulo 184: Promessa Quebrada
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