O Nefilim Primordial Brasileira

Autor(a): Ghoustter


Volume 2 – Arco 7

Capítulo 182: Condicionada

Ao contrário de Luxúria, que não parava de sorrir, por ser socorrida pela amiga; Alícia e Esteban sentiram o coração pulsar com a presença de outra Patrona do Pecado.

— Eu cuido daquela Luxúria — sugeriu o rapaz, vendo que a compatibilidade de sua parceira com ela era horrível. — Você lida com a que acabou de chegar.

Alícia assentiu, fazendo o seu melhor para focar na Inveja; cair nos encantos de Lilith mais uma vez seria problemático. Nunca amaldiçoou tanto o seu Fruto da Luxúria.

Dentre os quatro combatentes, o primeiro a tomar uma ação foi Esteban, ao eclodir três grandes plantas do chão e fazê-las disparar um raio de energia verde, cada.

Mesmo que tenha falhado em acertar as adversárias, conseguiu o que queria: as duas se separaram, uma pra cada lado.

— Então você também me quer? — Com uma adaga tocando seus lábios, Luxúria apontou a outra em direção ao garoto, enviando um beijinho para ele. — Olha que eu sou perigosa.

— Eu sei disso. — Embora falasse aquilo em um sentido diferente do proposto pela adversária. — Mas eu dou conta.

Esteban avançou por entre as plantas, que buscavam prender a garota em um casulo de novo, e, com a distração, criou uma lança de madeira e conseguiu chegar perto o suficiente para atacar.

A lança de madeira trocou algumas palavras de amor e ódio com as adagas da Patrona, que saltou para o alto, sem esperar que alcunha raiz a segurasse pelos pés.

— Eita, quanto vigor. — Encarou o adversário de cima. — A gente podia usar esse vigor todo de outra forma, sabe?

— Eu passo! — O rapaz pulou, acompanhado por um conjunto de plantas, mas não sem antes esconder algumas flores entre os escombros.

Abusando da agilidade da sua Classe de Batalha, a Luxúria cortou e desviou das investidas determinadas do tenjin. No fim, bastava segurar a luta por apenas um pouco mais, e ele estaria beijando os pés dela logo, logo.

Faíscas incandescentes e sons afiados adornaram a escuridão daquela noite iluminada pelas chamas da destruição.

— O seu tipo é aquela menina, né? — Esteban mal piscou, e o aumento de velocidade da Luxúria fatiou os braços e os ombros dele. — Eu sabia, haha!

— Ur-Urgh! — A dor além da conta quase o fez soltar a lança e ficar desarmado mais uma vez.

Com os braços praticamente inutilizáveis, Esteban usou os feixes de energia das plantas gigantes para obrigar a garota a ficar desviando e mantendo distância.

De certa forma, conseguiu o que queria, porém de uma forma pouco desagradável, já que a Patrona gostou da ideia de tocar no assunto de Alícia, ainda mais por ter conseguido dar um breve beijo na garota.

— Ela tem uma boca bem gostosinha, isso eu posso te garantir — a infeliz provocou enquanto escapava com maestria. — Tudo bem dividir ela comigo um tiquinho só?

— Tsc! — Só a ideia já fazia o sangue dele ferver.

— Vamos lá — sussurrou bem no rosto do rapaz, que arregalou os olhos — deixa de ser tão egoísta. É só por uma noite.

— Cala a boca! — Esteban desferiu um corte para cima que apenas rasgou a blusa e tirou um filete de sangue da barriga da garota.

— Tarado. — Fingiu raiva e escondeu o sutiã vermelho, com as partes soltas da blusa. — Ah, então é isso.

Esteban pareceu confuso a princípio, quando a Patrona cedeu e abriu a blusa para ele, expondo o que antes escondia.

— Você quer ter nós duas, né?

— V-Vai se ferrar! — xingou, mas corou.

Lilith riu, sem perceber as pequenas flores dos Campos Elíseos que brotavam discretamente no solo, logo abaixo dela.

Alícia buscou reduzir a distância do combate corpo a corpo, coisa que Inveja impediu com êxito, mantendo a vantagem do alcance da sua lança, ao tornar o piso escorregadio, exceto nos pontos que ela mesma pisava.

— Ah! — A nefilim escorregou e caiu sem jeito, suscetível a ter sua garganta perfurada pela inimiga. — Dullahan!

Atento ao chamado de sua mestra, um chicote de vértebras se envolveu e puxou a arma da Patrona para o lado.

Como se ainda fosse pouco, Yuna teve que escapar do coice de um corcel morto-vivo, que correu furioso para cima dela.

— Obrigada. — Alícia acariciou o animal, cujos cascos racharam o chão liso e se abaixou para ela o montar.

Inveja, por outro lado, franziu a face ao ter que assistir o gesto de afeto genuíno da adversária, para uma simples invocação.

No entanto, o tempo para desperdiçar com aquilo era inexistente, uma vez que o leal Cavaleiro da Morte, Dullahan, a atacou com aquele maldito chicote de vértebras.

— Para de atrapalhar. — Segurou a arma da invocação. Sua mão sangrou, mas o chicote começou a se desintegrar logo em seguida. — Seu saco de ossos.

A caveira que Dullahan segurava ficou de queixo caído ao notar como a Energia Espiritual da Patrona começava a subir.

“Quanto maior a inveja, maior o poder.” Alícia refletiu sobre a informação entregue por Petra. “Mas do que ela teve inveja aqui?”

Sem desperdiçar tempo com o Cavaleiro da Morte, que poderia ser trazido de volta, Inveja apontou um dedo para a oponente e disparou várias lanças perto dela.

— Hã? — O corcel morto-vivo nem viu necessidade de desviar; as armas erraram de propósito. — Essas não explodem.

Diferente das criações de Raizel, a matéria gerada por Inveja era verdadeira. Embora fossem lanças normais, isso só ocorreu até assumirem uma cor verde e radioativa.

— Corre! — Comando imposto, o corcel obedeceu, ao menos até que seus cascos afundaram no chão, junto às pernas, e ficaram presos na matéria, que ficou mais rígida que antes. — Ei! Ei!

Enquanto Alícia se preocupava com o estado do animal, o mesmo relinchou para que ela escapasse sozinha do contágio radioativo, já que Dullahan se pôs no caminho da inimiga deles.

Vendo-se sem opções, a garota saltou para longe e desfez a invocação do corcel, então ergueu a mão para receber o grimório que flutuava no alto.

— Sinto muito. — Ao segurar o Necronomicon, Alícia cambaleou. O mundo girou a sua frente, e bateu uma vontade de vomitar ali mesmo. — Invocação Número… 10: Sacerdote… Argh!

O servo se manifestou na frente dela e começou a curá-la dos efeitos negativos da radiação antes mesmo de receber algum comando ou ordem.

— Minha senhora, você fique bem.

— Obrigada, Sacerdote. — Alícia sorriu para a criatura, sentindo seu corpo bem mais leve, livre da radiação hostil.

O Sacerdote também sorriu para ela, ao menos da forma que um morto-vivo poderia fazer, até que o rosto dele foi forçado para trás, por uma lança que voou em alta velocidade e se fincou no chão.

— Sacerdo…

— Qual o sentido disso, afinal?! — esbravejou a Inveja, enquanto terminava de desintegrar o corpo de Dullahan com a palma da sua mão esquerda. — São só invocações descartáveis ou recicláveis!

“Descartáveis”? “Recicláveis”? Alícia encarou o Sacerdote que, apesar da situação que se encontrava, persistia em livrá-la da radiação; ela nunca o chamaria daquelas coisas.

— Eles sempre me ajudaram quando eu precisei. — Segurou o Necronomicon na mão esquerda, a espada na direita, e se levantou. — Eles são meus companheiros.

Enquanto o Sacerdote arregalou os olhos devagar, Inveja fez o mesmo, rápido, e, por alguma razão, explodiu de raiva.

— Não fode comigo! — Mais uma vez a energia da Patrona passou por uma elevação, e quando ela levantou um braço, a outra pressentiu um mau presságio.

Rasgando a escuridão da noite, uma imensa esfera verde reluzente surgiu no céu e começou a pegar grande velocidade enquanto caía para a colisão.

Aquela historinha de Alícia era papo furado, ao menos Inveja desejava que fosse; caso contrário, caso contrário…

Por que ela era a única que não conseguia estabelecer uma relação verdadeira?

— Só morre!

De todos os lugares da Academia de Batalha Leviatã, as pessoas temeram o impacto radioativo. Muitos morreriam ali, e os que sobrevivessem cairiam pela radiação, que contaminaria todo o lugar, por décadas ou até séculos.

Uma grande sombra roxa surgiu, de repente, nas alturas, e dela saiu a cabeça de um dragão colossal que, para o alívio dos espectadores, engoliu a esfera e sorriu para uma certa pessoa lá embaixo.

— Hã…? — Inveja observou a causa da sua falha no Necronomicon aberto na página da Invocação Número 50. — Mentira… Diz que é mentira.

A Patrona soltou sua lança e levou as duas mãos até a cabeça, uma oportunidade de ouro para que Alícia a derrotasse.

— Essa garota… Ela…

— Agora, minha senhora — alertou o Sacerdote da Morte.

— O que fizeram com ela? — A invocação calou-se ao reparar nas feições tristes da sua mestra. — O que você fez, Arklev?

Ao ouvir o nome do cientista louco, Inveja encarou Alícia, assustada. De onde ela tirou aquele nome? Nenhuma informação de Arklev foi exposta, nenhuma.

Mas Alícia sabia. Mais do que apenas o nome, ela sabia como era ser uma cobaia dos experimentos daquele homem vil e sem qualquer escrúpulo.

Para que a habilidade de Yuna funcionasse direito, ela precisava se sentir injustiçada no maior número de cenários possível, e para isso, desde pequena, foi condicionada a ter uma saúde emocional fraca.

“Já vieram salvar outras crianças, mas ninguém virá por você.”

— Lilith! — Nem mesmo a própria Inveja sabia porque chamou a Luxúria pelo nome verdadeiro, apenas caiu de joelhos e desintegrou todo o chão ao redor, com o toque das palmas de suas mãos. — Lilith…

Por uma extensão difícil de contar, construções, árvores e pessoas, que estavam em contato com o chão, viraram pó de uma hora para outra, incluindo as flores dos Campos Elíseos que Esteban estava criando em segredo.

Alícia escapou por pouco. Por sorte, já sabia o que um toque das mãos daquela garota era capaz de fazer, ainda mais naquele estado emocional instável.

— Ei, tá tudo bem — sussurrou uma voz carinhosa, nas costas da Inveja, enquanto dois braços envolviam o pescoço dela com cuidado. — Eu te disse que nunca ia te deixar só, senão você ia quebrar, lembra?

— Por que… tá aqui? — soluçou.

— Você me chamou, lembra? — Inveja negou, com um balançar de cabeça choroso para os lados. — Além disso, eu já terminei a minha parte lá.

Sentindo seu peito pulsar, forte, na mesma direção em que a visão da Luxúria apontava, Alícia via seu parceiro zonzo e com feições de muitas dores.

Os Feromônios da Luxúria foram além do que Esteban conseguia suportar. Naquele ponto, os sentidos dele estavam uma verdadeira bagunça e a dor era imensa.

— Esteban! — Alícia voou o mais rápido que pôde, para o impedir de cair do alto.

Infelizmente aquela luta havia acabado para o rapaz, e se Alícia — que já havia passado um tempo perto de Lilith — recebesse mais Feromônios da Luxúria, tudo estaria acabado para ela também.


Continua no Capítulo 183: Sacrifício

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