Volume 2 – Arco 7
Capítulo 181: Coliseu
Por ter sido obrigado a servir de cobaia para os experimentos de Arklev, no projeto de criação dos Patronos do Pecado, Romulus ganhou as propriedades de uma besta imparável e quase indestrutível.
Com um corpo tão forte e resistente, o uso de Energia Espiritual ou Bestial se tornou desnecessário em combate; ainda assim, seria um grande desperdício deixar tanto poder sem algum tipo de utilidade.
Seu Espaço Dimensional, o Coliseu, bloqueava a liberação de energia das pobres almas ali entregues à boca do leão, no entanto, isso dependia da quantidade de poder que era cedida aos domínios do campo de abate.
Dia após dia, Romulus alimentava o Coliseu com a sua Energia Espiritual, e a quantidade de energia dos inimigos que poderia ser bloqueada só aumentava.
Com exceção de seres como Raizel e Alícia, que podiam alcançar níveis exorbitantes de energia, com a morte de seres vivos, ninguém conseguiria usar uma gota de poder dentro do Espaço Dimensional do Patrono do Pecado do Orgulho, independente de quantas pessoas estivessem ali, já que o bloqueio contava de forma individual.
“Isso é ruim, ruim demais.” Carelli recuou um passo. Sem Energia Bestial, nem mesmo a Leitura Mental dela podia ser ativada. — De todas as coisas…
— Haha! — Ainda que suando frio, Baltazar permaneceu focado no adversário. — Isso vai ser louco.
— Hã? — A parceira dele o viu correr para cima do Patrono, com o Machado Impetuoso Gram em mãos, e atacar apenas com a força de seus braços. — Ahh!
Romulus escapou sem grandes dificuldades, apesar do sangue que esguichou de suas pernas feridas, por causa do movimento repentino e intenso.
— Esse louco… — Carelli abaixou a cabeça e disfarçou um sorriso. — Tinha que ser o idiota do meu parceiro.
Sem ter a menor previsão mental de qual seria o próximo movimento do Orgulho, a garota contornou o embate dos dois grandalhões e notou que o Patrono evitava entrar em contato com a lâmina de Gram.
— Urgh! — Baltazar recebeu mais um encaixe perfeito da manopla de Romulus em sua barriga. — Cê é bom de briga… mesmo.
Foi então que o draconiano agarrou o braço do Patrono, em carne viva e ensanguentada, e o manteve preso naquele lugar.
Logo os dois foram atingidos por uma onda psíquica do machado Fúria de Ego de Carelli e grunhiram de dor.
No fim, as habilidades das armas não eram afetadas pelo Coliseu, exceto as que exigiam o uso do poder do usuário, como a Supernova Dracônica; Carelli reparou nisso quando o Patrono evitou a lâmina de Gram.
“Agora!” Baltazar forçou os limites de sua mente e forçou seu corpo a se mover, antes que o Patrono se recuperasse do abalo mental, para cortá-lo com o machado.
Romulus escapou para o lado, deixando o chão do Coliseu se abrir, em fenda, com a potência do impacto de Gram; mirou um soco na garganta de Baltazar, que só não o atingiu por causa de uma segunda onda psíquica.
A garota, que havia mantido distância, se aproximou com uma sequência de cortes que, embora tenham arrancado sangue do inimigo, foram incapazes de dilacerar a carne já exposta e debilitada dele.
“Por que tinha que ser tão resistente?!” O corte seguinte entrou em contato com a manopla de Romulus e tiniu, que começou a sair do atordoamento e passou a reagir.
Carelli girou o Fúria de Ego no ar e atacou o rosto do Patrono com o cabo e a parte de baixo com uma onda psíquica; no entanto, mesmo abalado, Romulus encaixou um gancho de esquerda no queixo dela.
— Uh?! — Os pés de Carelli deram adeus ao chão, e a visão dela escureceu, enquanto seus ouvidos zuniam. “Com só um soco?”
Como Baltazar tinha ficado consciente depois de receber tantos aqueles golpes? E por falar no dito cujo, sua parceira tinha que agradecê-lo, se tivesse a oportunidade no futuro.
O punho do adversário a alcançou de novo, porém com uma força muito inferior à que deveria; na verdade, faltou o encaixe perfeito de antes.
— Tsc! — Com o braço decepado pelo Machado Impetuoso Gram, o Orgulho cuspiu na cara de Baltazar, por ter agido como um zé costinha. — Vai lutar feito um covarde?!
— Pela minha parceira. — Arrancou a arma do chão e subiu-a contra o rosto do inimigo. — Não me importo de ser covarde!
Ao cair no chão, a garota se surpreendeu mais pelas palavras do companheiro do que pelo fato do Patrono ter segurado a arma dele pelo cabo, antes de ser atingido.
— Se esse é o seu limite enquanto guerreiro… — Romulus forçou o machado e os braços de Baltazar para o lado, e deu um chute na barriga dele. — Deixa que eu me livro dela pra você!
— Não! — Abrindo mão da arma, Baltazar se agarrou à perna do adversário e o empurrou para trás, derrubando-o e se prendendo a ele. — Carelli, agora!
Ainda levemente atordoada pela pancada que recebeu, a garota levantou o Fúria de Ego e liberou a maior onda psíquica que conseguia no momento.
Que Baltazar a perdoasse por aquilo. Não, ela o recompensaria pela dor que o faria sentir ali. Trataria cada ferimento depois. Aturaria a chatice dele e cuidaria dele bem.
— Ahh!!! — A destruição arrasou corpo e mente dos dois combatentes, que foram arrastados para longe e pararam imóveis.
Carelli correu até eles e deu atenção especial para o parceiro, enquanto o Patrono sangrava pelos orifícios de seu rosto, igual ao pobre Baltazar.
— Finaliza… ele — verbalizou o draconiano, vendo apenas o vulto da garota — rápido.
Era apenas um pedido feito no desespero, já que Baltazar mal tinha noção de como as coisas se encontravam ao seu redor.
Independente do quão forte e resistente fosse o corpo de alguém, sem um cérebro em bom estado para o controlar, ele jamais seria uma grande ameaça para Carelli.
Deixando o parceiro, com cuidado, no chão, a garota caminhou com o machado, elevou ele e desceu-o com todas as forças em direção ao pescoço do inimigo caído.
Ela sabia que seria difícil concluir a decapitação, mas tentaria duas, três, quatro vezes, até que conseguisse arrancar aquela cabeça fora.
— Argh! — Carelli cuspiu sangue ao ser golpeada na barriga, pelo infeliz que se aproveitou da abertura e reagiu a tempo. — Cê tá… de brincadeira.
Romulus nunca a atacaria de uma forma que ele mesmo considerava covarde, e Carelli teve certeza disso ao constatar os olhos fechados e sem consciência dele.
Alguém que pensa com os músculos.
— Era… literal? — A garota gastou um segundo que não possuía e falhou em se defender dos chutes e socos do único braço restante do Patrono, que atacou de uma forma frenética e sem interrupções. “Sem… chance!”
A Academia traidora era a Leviatã. O pessoal da Ziz nunca deixaria uma informação tão importante quanto aquela no subentendido, tão pouco a esconderia.
Ainda assim, uma hora Romulus teria que parar de se mover. Uma hora aquele corpo alcançaria seu limite. Tinha que alcançar.
A questão era se Carelli conseguiria ficar viva até a exaustão do Patrono chegar.
Crack!
— Argh! — Mesmo ativando as escamas dracônicas que obteve da ressonância com Baltazar, a garota sabia que apenas teria o mesmo fim que ele. — Ego!
As ondas psíquicas fizeram pouco efeito, afinal o cérebro já estava fora de cena; por outro lado, Romulus deu uma rasteira nela e ficou por cima, socando-a sem parar.
Sangue se espalhou para todos os lados enquanto o Patrono rugia como uma besta descontrolada, e a garota insistia com os as liberações das ondas psíquicas.
Se ela fosse cair ali, ao menos causaria o maior dano possível ao cérebro inativo de seu adversário; garantiria que ele nunca mais realizasse nenhuma sinapse.
— Ca… relli. — A ressonância pulsava forte no peito de Baltazar, que fazia o possível para se levantar e ir até ela. — Vem brigar com alguém… do seu tamanho… merda!
E de fato, junto às ondas psíquicas, os punhos do Patrono cessaram. A garota mal respirava, e seu algoz sumiu de cima dela, aparecendo de frente para Baltazar.
— Eu sabia. — O draconiano via a silhueta borrada do adversário. Aquele cara só queria enfrentar gente forte. — Você é como eu…
Pé elevado, pé decido, e a cabeça de Baltazar afundou no chão.
Os três estavam inconscientes, mas apenas um permanecia de pé enquanto o Espaço Dimensional cuspia todos de volta para o salão de premiações na Academia de Batalha Leviatã.
O corpo do Patrono cambaleou, mas podia sentir o poder elevado de tantas pessoas à sua volta. Tanta garra. Tanto espírito de luta.
Ainda era cedo demais para cair.
Aos pés de uma grande porta circular, em uma área privada da Academia de Batalha Leviatã, Nabuco Donosor — ou melhor, Ekron Percatuum — tirou os olhos das duas diretoras de dentro de seu anel.
Seguros e preservados dentro de quatro recipientes esféricos e transparentes, os globos oculares estavam prontos para uso.
— Esperei muito por esse dia. — Junto aos seus próprios olhos, teria os três pares necessários para abrir o cofre dimensional até o Santo Graal. — Enfim, será meu.
Foi quando o homem arregalou as vistas, e uma tempestade de raios vermelhos e azuis tomou conta do ambiente, eletrificando e destruindo as paredes em volta.
Contudo, os raios falharam em alcançar o que desejavam: os olhos das diretoras.
— O que vocês fazem aqui? — indagou Percatuum, do meio da poeira eletrificada.
Aqueles dois deveriam estar fechando um portal de Rank S em uma cidade distante dali, o Duo da Eletricidade, os Top 4 Rank S da Academia de Batalha Ziz, Enzo Grace e Samantha Arganov.
— Eu sabia que esse ataque surpresa ia falhar — lamentou a garota.
— Mas era você que estava empolgada pra fazer isso — ressaltou o rapaz ao lado dela.
— E-Eu não tava, não! — Por um instante, Samantha quase perdeu o foco do traidor, que aproveitou a brecha para fazer a terra sob os pés dela e os de Enzo ficar mole e os engolir. — Ei!
Percatuum deu as costas e voltou para o seu objetivo. Ele já imaginava que Nosferatu teria alguma coisa tramada para aquele momento, mas aquilo o decepcionou.
— Vocês fizeram bem, minhas crianças. — Ao ouvir a voz do velho desgraçado, Percatuum se virou rápido, a tempo de ver o duo estourar o chão, com raios, e se libertar da prisão. — Eu levaria um tempo a mais para chegar aqui, obrigado.
Tanto com Enzo quanto com Samantha havia um pequeno dispositivo programado por Trevor para teletransportar Nosferatu até eles, quando a hora chegasse.
— O que mais você aprontou? — indagou Percatuum, com uma veia saliente na lateral de sua teste e com uma desvantagem de três contra um. — Velho maldito.
Continua no Capítulo 182: Condicionada
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